P.O.V's Newt

Depois de Gally ter nocauteado a Fedelha, todos entraram em conflito. Provavelmente queriam judiar mais da garota. Sorte dela ter desmaiado. Tá, quase sorte, mas foi melhor. Gally sorria vitorioso por ter a derrubado. Mas devo dizer que ela resistiu bem, no começo achei que cairia de primeira. Mas o mais hilário foi Gally ter sido vitima do primeiro ataque. Ah! Essa eu irei me lembrar eternamente! A garota já havia sido levada a ala do Socorristas. Essa ruiva gosta mesmo de lá! Os garotos pareciam decepcionados, mas Gally não. Gally ria maldosamente. Olhei para Alby, que estava um pouco afastado da multidão que antes se aglomerava em volta da arena. Caminhei até o garoto moreno e sorri cinicamente, afinal, foi ele quem causou isso tudo.

–Ei Alby! Esta feliz agora?- Perguntei cínico. Por mais que Alby fosse meu amigo, ele ainda precisava superar esse lance de Katharina ser uma garota. Ela estava sofrendo em suas mãos apenas por isso. Olhei para ele sério.- Cara, você tem que parar com essa paranoia! Essa garota não lhe fez nada. Talvez no passado, mas nem ela nem nós lembramos de nada. Se ela lhe fez algo, foi no passado e ela não é mais a mesma pessoa. Porque querendo ou não, todos mudamos quando perdemos nossas memórias, perdemos nossos ideais, mudamos nossa maneira de pensar. Pegue leve com a garota, cara. Se você não quiser falar com ela, tudo bem. Mas não a maltrate, porque querendo ou não ela é uma de nós agora.

Alby assentiu com a cabeça. Acho que ele percebeu. Mas isso é realmente o que penso! Eu posso ter sido uma pessoa terrivel no passado, mas eu não me lembro dele. Eu posso ter sido inimigo desses garotos no passado, mas não me lembro. No momento em que perdi minhas memórias, perdi também a razão de ser inimigo de algum deles. Porque estamos no mesmo barco agora, e só irá nos trazer discórdia brigar aqui dentro. Alby já havia saído do lugar e estava indo se divertir com os outros garotos. Fui até a cabana dos Socorristas ver como a garota estava. No rosto não havia quase nada, apenas um corte na boca. Por outro lado, suas costas estava avermelhadas em alguns pontos e roxas em outros. Não achei justo ela ter tido que lutar com Gally, mas eu não tinha muita coisa a fazer. Katharina ainda estava desmaiada, ou dormindo. De qualquer jeito estava segura de olhos fechados. Falei para os dois garotos que cuidavam de Katharina que poderiam ir curtir a festa, que eu ficaria cuidando dela para eles. As vezes a garota se movimentava um pouco e murmurava algumas coisas incompreensíveis. Então de repente ela começou a se debater e acordou gritando. Katharina se sentou com dificuldade na maca e olhou para mim. A garota ruborizou. Cheguei mais perto dela.

–Eu e-estava me afogando. Todos me dizendo uma mesma frase: CRUEL é bom. Repetidamente a mesma frase. Você estava lá. Os garotos estavam lá. O Labirinto...- Ela dizia ofegante. Depois me observou com certa curiosidade.- O que você esta fazendo aqui?

–Estou vendo se você não morre.- Disse calmamente para ela- Você foi uma das únicas que conseguiu acertar o primeiro soco no Gally, e ainda desviou do dele!

–É, mas eu perdi.- Ela disse frustrada- E eu desmaiei. Eu não consideraria isso legal.- Sua feição ficou séria.- Newt, eu vi o Labirinto... Lá dentro, eu vi números de um a oito. Como se fossem áreas.

Eu gelei nessa hora. A garota havia chegado há um dia e já tinha todas essas informações! E ela as conseguiu por lembranças. Nenhum de nós conseguiu recuperar lembrança alguma. Mas talvez não fossem lembranças, talvez fossem sonhos. Mas não imagino outra forma de ela ter descoberto isso, até porque ela nunca entrou no Labirinto. E a Casa dos Mapas esta bem escondida. Ela me olhava confusa, provavelmente pela reação.

–Você deve estar cansada. Deveria dormir- Falei para ela sorrindo fraco.- Se precisar de mim, estarei aqui.

Ela não concordou em eu ficar aqui por ela, mas eu precisava. Afinal, eu liberei os Socorristas, e não fazia diferença alguma para mim. Ela se deitou novamente, com uma careta de dor. Caramba! Desde que essa garota chegou aqui ela só se machuca. Sentei em uma poltrona que havia lá e observei a garota adormecer lentamente. E novamente voltei a pensar no porquê de estarmos aqui, presos. Mas logo peguei no sono involuntariamente.

...

P.O.V's Katharina

Acordei com meu corpo totalmente dolorido. Ah, que ódio de Gally! Malditos garotos que insistiam em brigar. Bando de chatos! Eu tinha que desmaiar! Mas ainda me resta uma gota de felicidade por ter acertado um soco na cara daquele saco de merda. E tambem tem o sonho, aquele sonho estranho. Era como flashes de memorias, acho. Não sei bem se eram memórias. Lentamente fui me levantado até ficar sentada. Avistei Newt dormindo em uma poltrona, com certeza passou a noite aqui. Eu não queria causar preocupação a ninguém, muito menos Newt, vice-líder que já tem os próprios problemas! Sai da maca e fui até ele, que ainda dormia e o cutuquei. Nada. Que horas esse garoto foi dormir? E por que ninguém o chamou? Dessa vez o chacoalhei fortemente. Ele se levantou de supetão e me empurrou para longe. Cambaleei para trás e não cai apenas por causa da maca atrás de mim. Ele esfregou os olhos e olhou para mim assustado.

–Desculpa.- Ele me observou e chegou mais perto.- Eu te machuquei?

–Não, tudo bem.- Disse- Temos que descobrir que horas são... Acho que os portões já se abriram.

–Tudo bem, hoje a maioria dos garotos não trabalha- Comentou abrindo a porta, logo depois se virou sorrindo- Está chovendo.

Andei lentamente até a porta para observar a chuva. E era verdade, estava chovendo, e muito. Sorri. Eu gostava da chuva, por mais que não me lembrasse de ter visto antes. Coloquei minha mão para fora da parte que cobria a enfermaria. Os pingos eram gelados e refrescantes. Me lembrei de que não havia tomado banho depois da luta. Na verdade, eu não fiz porcaria nenhuma depois da luta. Olhei para Newt sorrindo. O garoto devolveu o sorriso.

–Precisamos sair daqui.- Falei para ele.

–Teremos que correr na chuva.- Ele disse- E você não consegue correr.

–Olha, não me importo de ficar molhada. Apenas quero roupas limpas e um banho. Se você não quiser se molhar eu entendo, mas eu preciso disso.

–Bem, se você quiser, as roupas estão aqui e tem um banheiro tambem.-Ele olhou para a porta.- Me espere aqui. Voltarei com alguma coisa que nos proteja da chuva, okay?

Assenti com a cabeça e ele saiu correndo. Comecei a procurar em um armário algumas roupas e toalhas. Procurei as menores roupas possíveis naquele armário que só tinha roupa gigante. E as menores ainda ficavam grandes para mim. Entrei no pequeno banheiro que havia lá. Tinha vários kits de primeiro socorros. Tranquei a porta e tirei as roupas que eu estava vestindo. Entrei de baixo do chuveiro e me lavei. Sai do chuveiro, me sequei e coloquei as roupas limpas. Meu estomago se apertou. Eu não havia comido nada desde ontem à noite. Sai do banheiro penteando meus cabelos com os dedos. Newt já estava lá com um guarda chuva nas mãos. Ele me ajudou a caminhar até o refeitório, que era coberto, e jogou o guarda chuva em um canto. Peguei um iogurte e algumas frutas e me sentei em uma mesa com Minho, Alby, Jeff, Clint, Newt e mais alguns garotos. Alguns garotos olhavam para mim e riam, outros apenas sorriam amigavelmente. Comi algumas frutas e tomei o iogurte. Sai da mesa e caminhei até um pilar que apoiava o refeitório. Me apoiei nele e fiquei observando a chuva, caindo. De algum modo a chuva me atraía, como se fosse uma amiga. Eu a achava grandiosa e incrível. Logo algum ser iluminado me tirou de meus devaneios. Pra melhorar, era Gally, com seu sorriso sarcástico. Só de olhar para aquela cara dele já me dava ódio. Ah, como eu queria o socar até a morte. Suspirei irritada.

–O que quer?- Perguntei seca.

–Quero falar com você, ruivinha.- Ele falava com todo o sarcasmo possível.- Será que não posso?

–Não, Gally, você não pode.- Respondi calmamente- Será que você não tem nada pra fazer não, Gally? Aliás, como está a sua cara?- Perguntei sarcasticamente. Se é assim que vamos fazer, então entrarei na brincadeira- Parece que o soco que você levou te estragou. Ah não! Você é feio assim mesmo.

–Olha aqui garota.- Ele disse irritado me pegando pela gola da camiseta- Não ouse fa-

–Gally!- Era Newt. Gally me soltou e eu acabei caindo no chão. Se eu não estivesse tão acabada, eu me levantaria.- Vocês não estão mais na arena! Deixe a garota!

Gally saiu emburrado de lá e foi incomodar outros garotos. Newt me ajudou a ficar em pé. Eu estava mal, e era isso. Eu queria sair de lá o mais rápido possível. Gally era o tipo de pessoa que incomodava os outros apenas por não ter o que fazer. E isso me deixava extremamente irritada. Como uma pessoa pode fazer isso? Ele não tem desculpa alguma. Ta, tudo bem que eu o irritei, mas apenas porque ele ia me irritar se eu não fizesse nada. Olhei para Newt, que ainda estava me segurando, com um olhar inquieto.

–Você pode, por favor, me tirar daqui?- Pedi com a voz um pouco baixa. Ele assentiu com a cabeça e se virou para pegar o guarda chuva. Mas eu não queria evita-la, eu queria senti-la, nem que fosse correndo. Toquei em seu ombro, automaticamente ele se virou. Sorri divertida.- Vamos na chuva.

E então saímos naquela chuva gelada. Do nada Newt me pegou no colo e saiu correndo até a Sede, que também era coberta. Eu estava rindo, verdadeiramente. Apesar de estarmos nesse lugar, digo, a Clareira, não podemos nos lamentar. Porque, o que seria de todos aqui se apenas se lamentassem. Antes de ontem, eu me perguntava o porquê das pessoas aqui rirem. Mas no fundo eu sabia que era, na verdade, uma escapatória da depressão. Se ficarmos nos lamentando por estar aqui iremos apenas perder tempo. Nós estamos aqui e ponto final! Não tem outra alternativa, não agora. Ou somos fortes, ou choramos até ficar sem lagrimas, e eu escolho ser forte. Desci do colo do loiro e me sentei em um dos bancos, e ele se sentou ao meu lado olhando para mim, olhei em seus olhos negros.

–Por que você quis vir na chuva?- Ele me perguntou curioso.

–Porque eu queria senti-la caindo em mim.- Eu disse sorrindo- Eu não me lembrava da sensação.

Newt soltou uma risada rouca. Abracei meus joelhos e me encolhi. Tudo bem que eu gostei de correr (ser carregada) na chuva, mas o tempo ainda estava frio. Senti braços me envolvendo. Me assustei a principio, mas depois voltei ao normal. Estávamos quietos, pois as palavras não eram necessárias ali, naquele momento. Eu não me lembrava de quase nada, apenas de Newt. Na primeira vez que o vi, o nome dele veio a minha mente, era minha mente se expandindo a seu respeito. E eu falei que me lembrava dele SIM, porque realmente era verdade. Eu não me lembrava de onde conhecia ele, ou de como eu tinha o conhecido. Apenas me lembrava dele e de seu nome, juntamente com a conexão que tínhamos. Era intrigante o fato de eu me lembrar apenas dele, mas eu não tinha o que fazer. Mas também tinha o sonho que eu tive, que me mostrava o Labirinto e os outros, mas é claro que ter visto os garotos naquele momento não iria mais me ajudar. Mas o Labirinto, eu nunca entrei no Labirinto, não que eu me lembrasse. De repente a ideia de sair daqui veio a minha mente. Eu queria muito sair da Clareira, do Labirinto, saber o que o mundo real nos reserva, nosso futuro, o futuro de todos aqui. Vasculhei minha mente procurando alguma informação sobre o mundo lá fora, mas minha mente foi bloqueada, memórias bloqueadas.

P.O.V's Newt

Estávamos abraçados por causa do frio. A Fedelha queria chuva, então fomos na chuva. Ela queria sentir. Eu não podia dizer nada, até porque eu também gostava da sensação dos pingos de chuva. Seus cabelos ruivos faziam cócegas em meu nariz. Ficamos ali até a hora do almoço. A chuva já havia parado e alguns garotos estavam trabalhando ou jogando algum jogo. Até todos nos recolhermos para almoçar. Caçarola havia feito purê de batata com frango. Peguei minha comida e me sentei junto com Minho e Alby. Estávamos afastados dos outros, para que não ouvissem nossa conversa. Que obviamente iria ser sobre o Labirinto e sobre como ainda não achamos nada que insinuasse uma saída e etc.

–Então, Minho.- Alby disse- Algo que não saibamos sobre o Labirinto?

–Não, cara.- Minho disse frustrado- Está a mesma mértila de sempre. Corremos por aí em um dia e esta de um jeito, no outro esta diferente. Mas são apenas os padrões, e desde que chegamos aqui eles não mudam. Sempre os mesmos padrões.

–E você, Newt?- Minho perguntou- Algo novo vindo da ruivinha?

–Não- Menti. Eu não queria que os sonhos da garota virassem motivo de Conclave.- Ela tem as mesmas reações de quem chegou aqui, apenas não chora muito... E acertou um soco no Gally.

–Cara, essa eu não vou esquecer!- Minho disse rindo, todos rimos.- A primeira investida bem sucedida foi da Fedelha!... Tudo bem que ele venceu, mas a gente esquece isso.

Eu gostava de Minho por causa disso. Nos momentos de tensão ele consegue ser hilário, e nos momentos sérios ele também consegue ser sério. E cara, isso alegra qualquer um! Além disso, Minho é o rei da ironia, se ele quiser argumentar com alguém, ele vai ganhar. Mesmo que seja insultando e mandando indiretas para a pessoa, mas ele vence. Ficamos mais algum tempo conversando sobre a Clareira e seu desempenho. Até porque no começo nada disso era organizado, era um caos. Dias de desgraça, mas com um pouco de tempo conseguimos organizar. Eu fui o terceiro a chegar. Primeiro foi Alby, depois um garoto que morreu, e depois eu. Logo depois vieram mais e mais garotos. Quando terminei de comer, fui mexer com a horta e raciocinar um pouco. São nesses momentos que a calma reina em mim e eu penso melhor. Pensei em Scott, que saiu para o Labirinto por causa das lembranças. As pessoas mudam sim depois do Soro da Dor, mas não a ponto de se suicidar. Scott deve ter se lembrado de algo terrível. Algo a ver com Katharina, com o passado, e imagino que ele tenha se lembrado de algo sobre como é o mundo lá fora. Mas não acho que isso tenha sido motivo suficiente para ele se suicidar. Sei lá. Parei de mexer com a horta quando os muros se fecharam e escureceu um pouco. Eu precisava de um banho. Peguei minhas roupas, entrei no banheiro e tranquei a porta. Tirei minhas roupas e entrei na agua fria. Fiquei lá por um bom tempo. Quando sai, me sequei e vesti roupas limpas. Sai do banheiro e fui procurar Katharina. Eu precisava ver se a ''ruivinha'' não havia feito cagada. A encontrei observando os muros, o Labirinto. Cheguei perto dela sem fazer som algum e me aproximei de seu ouvido.

–A ruivinha precisa de ajuda?- Ela deu um pulo tão grande que se eu não a segurasse pelos ombros ela caia. Eu estava rindo.- Então, você precisa de ajuda?

–Não me chame de ruivinha. E não, eu não preciso de ajuda.- Ela respondeu brava, com um biquinho. Dei de ombros e me virei para ir embora.

–Boa noite, então. Ruivinha.

Ouvi alguns xingos vindos dela e depois um "boa noite" baixinho e murmurado. Fui para a minha rede rindo. Algum tempo depois todos os garotos já estavam em suas redes prontos para dormir. Eu estava com pensamentos demais na cabeça. Sobre o Labirinto, Scott, a ruivinha e mais. Mas acabei adormecendo.