CONTO # 1 — Jessica Jordan

3 anos atras.

Abro os olhos lentamente, me sentindo melhor do que nunca.

Me sinto revigorada, sem cansaço algum, como se eu tivesse dormido por anos. Também sinto que estou de bom humor no momento em que meus olhos finalmente conseguem focalizar alguma coisa.

Então percebo que algo está errado.

Eu não sei aonde estou. Estou em uma cama muito confortável, mas com certeza não é a minha, onde fui me deitar ontem à noite, e também tenho a plena certeza de que já não estou mais em meu quarto. Droga, não estou nem mais em Coast City pelo que posso notar. O cheiro no ar, puro e sem qualquer tipo de poluição me diz isto.

Apesar de tudo, não sinto medo. Não sei porque, mas não sinto que tenho algo a temer. Me sento na cama onde estou rapidamente, e olho para os lados, a procura de algo que me possibilite saber que lugar é este, e quase caio para fora da cama.

— Oi! — A criaturinha que me pegou de surpresa, me assustando um pouco, diz animadamente com uma voz gentil e amigável. — Tudo bem com você?

Franzo as as sobrancelhas, um tanto confusa. Olho mais atentamente para a criaturinha que fala comigo. Ele é baixinho, com certeza deve bater em minha cintura quando eu estiver de pé ( e caso queira saber, não, eu não sou muito alta. Tenho 1,65 de altura. ) e bem gordinho, coisa que lhe confere uma aparência nada assustadora. Sua pele é literalmente branca e há umas poucas linhas pretas que passam em seu rosto. Seu olhinhos miúdos são azuis e bondosos, e ele não possui nariz. Há uma espécie de causa saindo de sua cabeça, como uma trança única de cabelo, e sua não possui apenas quatro dedos. Ele veste uma roupa simples, e só de olhar para ele, sei que não estou mais na terra.

Você deve estar se perguntando porque eu não comecei a surtar ali mesmo. Afinal, acordar em um lugar desconhecido com uma criaturinha daquela ao meu lado perguntando como eu estou, não é normal.

Mas aí é que está, minha vida nunca foi normal.

Meu nome é Jessica Jordan e eu tenho dezesseis anos. Moro em Coast City com meus pais, Carol e Hal Jordan e frequento a escola local. Tenho meus amigos, faço parte de clubes na escola, e adoro aviões. Também amo ajudar meus pais na empresa da família, a Ferris aeronáutica.

Mas como eu disse, não sou normal. Minha família não é normal.

O que poucas pessoas sabem é que meu pai, Hal Jordan, é oficial da Tropa dos Lanternas Verdes, e além disso, é um dos membros fundadores da Liga da Justiça, e herói nacional de Coast City. Minha mãe, além de dona da empresa Ferris Aeronautics, também já fez parte de uma tropa de lanternas. Ela fez parte das Safiras Estelar, as lanternas lilás, por um tempo.

Meus melhores amigos são filhos de outros heróis e membros da liga da justiça, ou seja, meu melhor amigo é um velocista, a outro pode voar e queimar coisas com os olhos, e outra é uma princesa de verdade, de Atlântida.

Porém, eu mesma não tenho muito de especial. Não faço parte de nenhuma tropa de lanternas, não tenho super força, não tenho super velocidade. Eu sou só Jessica, a garota que acredita que a gentileza pode mudar o mundo, uma estudante. Uma garota quase normal.

Mas tenho a forte sensação de que isso irá mudar hoje.

— Ei moça? — A criaturinha me chama outra vez, me tirando de meus devaneios imediatamente. — Você tá me entendendo? Disseram que poderíamos nos comunicar sem problemas mas…

— Não eu… sim. Eu te entendo. — Respondo por fim, me lembrando do que meu pai me disse uma vez, sobre a comunicação entre seres de planetas diferentes. — E sim, eu estou bem.

A criaturinha me oferece um sorriso bondoso ao ouvir isso e este de sua mãozinha com apenas quatro dedos.

— O meu nome é Kuunga. E o seu?

— Eu sou Jessica. — Aperto sua mão. — Jessica Jordan.

— Jordan!? — Ele arregala os olhinhos miúdos. — Tipo o Jordan dos Lanternas Verdes?

Solto uma pequena risada, sentindo meu rosto ficar um pouco vermelho.

— Ele é o meu pai. — Digo me colocando de pé.

— É seu pai? Sério? — Kuunga se anima. — Não acredito! Eu conheço tantas histórias dele e do que ele fez no passado pela galáxia! Eu sou fã dele!

Abro um sorriso mas não sei o que responder ao certo. Então, já de pé, avalio mais o lugar, começando a andar para sair do que parecia ser a enfermaria, que está vazia.

— Onde estamos, Kuunga? — Questiono antes de abrir a porta.

— Estamos em Odym, é claro! — Ele responde, realizando a tarefa de abrir a porta para mim e assim que vejo o lado de fora, meu queixo cai.

Me vejo em um lugar lindo, mais lindo do que qualquer lugar que já tive a oportunidade de visitar ( sim, mais lindo até que a Disney ). A primeira vista parece ser uma floresta tropical, mas aos poucos percebo que há pequenas construções espalhadas pelo lugar. Ainda assim, há muito verde, rios com águas azuis cristalinas por todos os lados e vários pássaros e animais que eu nunca vi na vida, mas que não parecem nem de longe serem agressivos.

Me sinto como se eu estivesse em Pandora, daquele filme antigo, Avatar.

Ao longe, consigo ver em uma formação rochosa às margens da cachoeira, uma grande lanterna azul.

Então é isso mesmo. Odym é o lar dos Lanternas Azuis.

— Muito bonito, né? — Kuunga diz, também olhando para a paisagem. — Muito diferente de onde eu venho. Lá na terra é assim?

Nego com a cabeça.

— Sem chance. Lá na terra lugares um pouco parecidos como esse são raros. Nós humanos não temos muito talento pra cuidar de lugares assim.

Kuunga parece um tanto decepcionado mas antes que pudesse dizer alguma coisa, sentimos a aproximação de um outro ser.

Quando nos viramos, dou de cara com um ser que é idêntico ao Kuunga, só que mais alto, muito mais magro e mais velho. Ele está trajando um uniforme de lanterna azul e em seu dedo, o anel azul brilha. Ele oferece um sorriso amigável para nós dois.

— Seja bem vinda a Odym, Jessica Jordan. — Ele me cumprimenta. — Eu sou o Santo Andarilho. Um velho amigo de seu pai.

Não sei bem como me comportar a frente dele, por isso tento apenas não me enrolar nas palavras.

— Eu já ouvi muito sobre o senhor. Meu pai tem um grande respeito por você.

— O sentimento é mútuo, criança. — Ele então se vira para Kuunga. — Se imprima de ir chamar Z’hirrah? Quero que vocês dois se juntem a nós na bateria central em dez minutos, sim? Gostaria de ter uma palavrinha com três. — Agora ele se vira para mim novamente. — Quanto a senhorita, eu gostaria de conversar com você a sós por um momento. Já que foi a última a chegar, receio que deve ter perguntas em sua mente.

Kuunga assente rapidamente e logo me vejo sozinha com o Santo Andarilho. Meu pai já me contara várias histórias sobre ele. O Santo Andarilho foi o primeiro lanterna azul e sei que há alguns anos tornou-se também o líder deles.

Ele me conduz por um caminhos que logo imagino que nos levará para a bateria central, então, após alguns segundos de silêncio, eu faço a pergunta para a qual eu na verdade já tenho a resposta.

— Porque estou aqui?

— Não é óbvio, criança? — Ele diz pacientemente. — Um anel a lhe escolheu.

É claro que eu já sabia que aquele era o motivo e, não é surpresa alguma que eu tenha sido escolhida por um anel azul. Nunca tive grandes expectativas de me tornar uma Lanterna mas, quando eu era mais nova e via meus amigos se divertindo com a ideia de seguir os passos de seus pais na luta contra o mal, eu me permitia sonhar com isso também. Deste modo, sempre esperei que se acontecesse, eu seria escolhida para ser uma Lanterna Verde, assim como meu pai. Eles sempre me pareceram ser os melhores. Cuidam da ação de fato. Por mais que os lanternas azuis sejam mais fortes ( meu pai sempre ressaltou isso ) eu sabia que eles eram pacíficos demais. Eles eram muito bondosos e raramente se envolviam em uma luta. Além do mais, sem um lanterna verde do lado, o anel azul não tem muita coisa de especial. Só o básico.

Mas, à medida que eu fui crescendo e entendendo melhor as coisas, assim como me conhecendo mais, eu percebi que provavelmente, ser uma Lanterna Verde não seria para mim. E de repente, os Lanternas Azuis se tornaram mais interessantes. Confesso que passei a gostar mais deles. O jeito como eles agiam me agradava.

Por isso saber que fui escolhida por um anel azul não é uma grande surpresa. Parece quase natural. Mesmo assim, não consigo deixar de questionar :

— Porque eu?

— Você dispõe de uma grande esperança, criança. E bondade também, mesmo que não enxergue isso agora. Entendo que se sinta insegura no momento mas, se aceitar o anel, será uma grande Lanterna Azul, o que é uma grande responsabilidade. — Ele percebe que não respondo, então continua. — Sei que você provavelmente gostaria de seguir os passos de seu pai na tropa dos lanternas verdes, mas você pode fazer muito por nós, lanternas azuis.

— Não, não é isso. — Respondo rapidamente. — Houve um tempo em que eu escolheria a Tropa do meu pai, se fosse possível mas… estou feliz por receber o anel azul primeiro. Vejo que o mais velho deixa escapar um pequeno sorriso. No entanto, antes que ele possa dizer algo, eu faço uma pergunta. — Se o anel me escolheu, porque eu não estou com ele?

O Santo Andarilho sorri.

— A seleção dos Lanternas Azuis é um pouco…diferente das dos outros. Aqui, os anéis escolhem as pessoas dignas, mas somos nós, os mais experientes, que escolhemos os novos recrutas de fato. Gostamos de conhecer nossos companheiros, é por isso que ainda somos uma tropa pequena. Às vezes, o processo de seleção leva dias. Mas às vezes, como no seu caso, a pessoa se mostra digna rapidamente. — Percebo que chegamos bem próximo da bateria central azul, e também percebo que o santo andarilho me olha atentamente, com seus olhos astutos. — O que me diz, Jessica Jordan? Aceitaria fazer o juramento?

Apesar de minhas dúvidas anteriores, não hesito ao dizer.

— Sim, eu aceito.

Kuunga e Z’hirrah, uma garota roxa com longos cabelos vermelhos, chegam logo em seguida, e a mesma pergunta é feita aos dois, que não demoram a aceitar também. Mas antes de que possamos pegar os anéis, o Santo Andarilho nos explica como as coisas funcionarão.

— Aqui na tropa azul, costumamos treinar novos recrutas em trio. Valorizamos muito o trabalho em equipe e o exercício de companheirismo e confiança. Amigos são uma grande forma de esperança. Por isso selecionei vocês três, creio que podem aprender a trabalhar juntos. E eu serei o mentor de vocês. Após o juramento. Solicito que fiquem conosco por duas semanas, onde serão instruídos no uso correto de seus anéis.

Olho para meus dois novos companheiros e penso em minha família e amigos na terra. Por mais que eu queira voltar para eles, acabo aceitando a oferta de nosso novo mentor. Meu pai provavelmente já sabe onde estou, então não acho que eu precise me preocupar com isso. Quanto às minhas aulas…. pensaremos nisso mais tarde.

Os anéis são entregues a nós logo em seguida com as baterias, e quando vejo, lá estou eu, fazendo o juramento.

— No dia de horror, na noite homicida. — Eu começo, apontando meu anel para a bateria, em sincronia com Kuunga e Z’hirrah. — Com o coração aquecido, minh’alma ilumina. Quando a guerra da luz parecer perdida, a esperança brilha a s estrelas acima!

Assim que o juramento acaba, olho para mim mesma e vejo que agora trajo um uniforme idêntico ao de meu pai, só que azul. Meus colegas usam o mesmo uniforme, com algumas alterações.

— Cara, isso é muito legal! — Kuunga diz olhando para nós, como uma criança que acabara de receber o melhor presente de natal de todos.

— Sugiro que usem o dia de hoje para se conhecerem, meus jovens. — O Santo andarilho diz. — Amanhã começaremos nosso treinamento.

Com isso, ele me deixa a sós com meus dois novos amigos e, por mais que eu ainda não me sinta segura o suficiente para entrar de cabeça em algo como essa nova jornada, tenho o forte pressentimento que eles dois irão me ajudar. E não tenho medo de mudanças então, estou preparada para essa nova etapa da minha já não mais tão normal quanto antes.