Life is good,

Life is good,


As cortinas de renda branca movem-se lentamente, graças ao vento leve que sopra por entre as portas da janela parcialmente aberta. Já é manhã e, na mesma medida em que os passarinhos cantam a chegada de um novo dia, a luz suave adentra o recinto modesto. Esta se deixa cair delicadamente por cima de uma cascata de cabelos claros e cria reflexos dourados que adornam todas as superfícies sobre as quais recaem. Parte destes encontra-se até mesmo fora da cama, devido ao seu comprimento, mas a dona deles não se importa. Repousa num sono profundo, com um leve rubor a tingir a tez clara em seu rosto.

Parece até uma boneca, pensa um certo japonês ao adentrar o quarto, e se pergunta que tipo de sonho a moça loira experimenta no momento. Se ela sonha com doces, com sua amada mãe, com sua vida antiga na caótica Europa – a qual, ele tem certeza, ela daria tudo para poder esquecer –, os sonhos de cada dia constituem apenas mais um dos mistérios que cercam a loira de figura frágil. E ele se aproxima do leito onde ela descansa, caminhando passo após passo na ponta dos pés, prendendo a respiração para tentar não fazer barulho e perturbá-la.

Contudo, a loira ainda é a mesma da época em que o conhecera. Crescera alguns centímetros, adquirira algumas curvas, os olhos se tornaram menos frios e o rosto tornou-se mais maduro, mas ainda se trata da mesma Victorique, a Fada Dourada da Biblioteca. Ela grunhe ao levantar-se lentamente na cama, esfregando os olhos verdes como esmeraldas, enquanto ele arrasta a cadeira mais próxima para perto dela e se senta.

– Kujo – murmura, a voz extremamente sonolenta. Levanta os olhos e o observa, tirando alguns cabelos loiros da frente. – Que horas são?

Ele sorri gentilmente para ela, como tem feito sempre nos últimos anos.

– São sete e meia – pousa o olhar nas cortinas. – Quer saber o que tem pro café da manhã?

Ela fica em silêncio por tanto tempo que ele começa a se perguntar se teria dormido sentada.

– Kujo – repete. – Eu quero doces. Quero que você me traga doces.

– Só depois do café da manhã. Vai estragar seu apetite se ficar comendo entre as refeições – e ele nem sabe por que é que está dizendo isso, já que Victorique é dura na queda quando se trata de algo que ela realmente quer.

Os cabelos áureos balançam um pouco ao que ela passa a mão por eles. Seu rosto fica um pouco mais corado e até parece que ela vai começar a chorar de raiva ou dar-lhe um sermão, mas não. Ela apenas para, olha fundo nos olhos negros de Kujo e, com um suspiro profundo, desiste.

– Que seja. Mas você vai ter que arranjá-los de um jeito ou de outro.

O japonês levanta-se da cadeira e demonstra que consente com um aceno de cabeça, aproximando-se da cama.

– Como quiser, Victorique – e lhe deposita um beijo suave na testa depois de tirar a franja dourada da frente. Caminha em direção à porta e sai dos aposentos no instante posterior.

Ela não consegue evitar que uma onda de calor lhe suba à face, mesmo depois de todos os anos de convivência com ele, mas não se incomoda com isso. Victorique de Blois se deita novamente, sabendo que não vai mais dormir naquela manhã, e se preocupa apenas com prestar atenção no som das árvores, do vento e da vida do lado de fora.

E não tarda até que ela sinta o cheiro da comida quentinha se aproximando de seu quarto e veja seu marido lhe trazendo café na cama mais uma vez.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.