Fui até a janela do lado do motorista, percebendo que ela estava sendo aberta.

O homem abaixou-a um tanto até eu poder ver seu rosto por inteiro.

Seu rosto tomou uma expressão de preocupado quando me viu.

– Graças a Deus! Moço, pelo amor de Deus, me ajuda! Meu amigo... ele foi baleado, e... eu não sei onde estou, que lugar é esse. - eu estava quase tendo uma crise de choro novamente. – Por favor, moço! Me ajuda!

O vidro do carro subiu. Meus ombros caíram, assim como minhas esperanças.

Percebi que estava começando a sorrir.

O motor do carro parou. A chave foi retirada da ignição. A porta estava se abrindo. E homem saindo.

Senti uma vontade imensa de abraçá-lo, mas isso só atrasaria.

Ele era um pouco magro, e usava óculos. Tinha ar de um homem inteligente, de negócios. Estava de terno, e percebi uma maleta no banco de trás do carro. Deveria ser um advogado ou coisa do tipo, não tive muito tempo para pensar.

– Muito obrigado moço! – eu não parava de repetir isso. – Venha, é por aqui! É por aqui!

Eu puxava seu braço, enquanto ele tentava arrumar seu terno que estava pequeno em seu corpo, deixando sua barriga aparecer de vez em quando.

Ele parou em frente ao homem que baleou Edward, e ficou o encarando.

– Esse é o seu amigo? – perguntou.

– Não. – eu tentei explicar a situação o mais rápido possível. - Meu amigo matou esse aí, ele estava tentando...

Não consegui terminar a frase. O rosto do homem que pensei que me ajudaria, tomou uma expressão de pânico. Ele começou a recuar, e a correr de volta para o carro.

– Não! Volta aqui! Por favor! – eu gritava.

Comecei a correr atrás dele gritando. Coisas do tipo “Não, eu não sou louca!”, “Volte, por favor!”. Mas nada disso funcionava.

Nervoso, ele abriu a porta do carro, entrou, e trancou-a.

– Abre moço! Por favor! – eu estava batendo na janela do carro loucamente enquanto gritava. - Meu amigo está precisando de ajuda! Por favor!

Depois de algum tempo revezando entre olhar pra mim e tentar ligar o carro, o rosto do homem tomou um ar de alívio quando o motor começou a funcionar, e o carro saiu da minha vista rapidamente.

– Moço! Por favor! Volte... Por favor...

Eu estava no chão, ainda chamando baixinho por ajuda.

Minha única chance de ajudar Edward e sair daqui havia sido desperdiçada.

Eu estava chorando de novo.

Me levantei com um pouco de dificuldade, e parei quando ia ultrapassar o homem que foi morto por um pedaço de vidro.

Recuei até ficar um pouco à sua frente.

Olhei para a arma que estava na mão dele, intocada.

Ajoelhei-me, e olhei em volta.

O sangue que era de Edward, ainda não havia secado. Ao lado dele, duas balas.

Duas balas.

DUAS.

Ele havia levado dois tiros? Não havia sido apenas um?

O caso dele era pior do que eu pensava.

Voltei a olhar para a arma. Mas dessa vez, ela estava na minha mão.

Verifiquei se ainda tinha balas. Seis.

Ela me dava algumas idéias, que não eram nada boas.

Outro carro parou na estrada. Olhei bem para ver se era o mesmo que tinha parado minutos antes. Mas não.

Era simplesmente o mesmo que me tinha sequestrado.

Recuei para trás do balcão onde tentei me esconder momentos antes de Edward ser baleado. A arma ainda estava na minha mão. Tinha seis balas se eu precisasse para alguma coisa.

Eu nunca havia atirado na vida, mas tinha que estar preparada para se alguma coisa acontecesse.

Ninguém saiu do carro. Mas a janela do motorista abriu-se, e de lá, foi jogada alguma coisa brilhosa, parecendo ser uma filmadora. E logo após o carro desapareceu novamente.

Esperei um pouco para ir verificar o objeto.

Quando cheguei perto, ainda hesitando, vi que era realmente uma filmadora.

Nela, havia letras escritas com caneta permanente.

Demorei um pouco para entender. W A T C H T H I S .

“A S S I S T A I S S O”.

Letras separadas uma da outra.

Tinta preta.

Coração parado.

Respiração pesada.

Medo.

“Abri” a tela da filmadora, e liguei-a.

Um vídeo, um pouco sem qualidade pareceu.

Aquelas cenas pareciam familiares para mim.

Uma mão, sempre aparecendo na tela, tentando aprender a manusear a câmera. Enquanto uma criança sorria para um bolo de aniversário cheio de velinhas. Ela e outra criança, um pouco mais velha, admiravam a beleza do bolo, enquanto a mais velha e a mulher da câmera cantavam parabéns para a pequenina.

O aniversário de Alice. A menina mais velha era eu. A voz da mulher atrás da câmera era minha mãe.

Resolvi deixar as lágrimas para depois. Continuei a assistir.

O vídeo foi cortado para uma parte em que minha mãe estava sentada na mesa, falando ao telefone. Ela provavelmente havia esquecido de desligar a filmadora depois do aniversário de Alice.

“O que? Um incêndio? Não... Todos mortos? Como... como assim? Não pode ser...”.

Sua voz estava trêmula. Ela havia recebido a notícia de que nossa família tinha morrido.

Uma menininha de cabelos loiros, de pijama, pulou no colo de minha mãe, com cara de sono.

“Por que você está chorando mamãe?”. “Não é nada filha, pode ficar despreocupada.”.

A fita fica preta a partir desse momento. Pensei que havia acabado, mas ainda faltavam mais vinte minutos a serem vistos.

Ela voltou a ficar normal, e Alice apareceu no vídeo. Era atual.

A filmadora estava de longe, mas consegui identificar o homem que estava chegando perto dela agora. Era Mark.

Alice estava assustada, com as mãos presas nas costas, e a boca tampada por uma espécie de fita.

Mark estava com uma faca na mão, o que fez Alice recuar.

“Não tenha medo, mocinha.”.

E ele riu logo após isso.

Para a surpresa de Alice, e minha, ele tirou as roupas dela.

Deixando-a completamente despida.

Ela estava totalmente em pânico, enquanto Mark apenas ria.

As cenas depois daquela me fizeram ficar paralisada.

Alice estava gritando, mesmo com a boca tampada.

Ela se debatia, mas cada vez que fazia isso, levava um tapa na cabeça.

Mark, agora apenas com a camiseta, ABUSAVA SEXUALMENTE da minha irmã. Os olhos dela ardiam com as próprias lágrimas, assim como os meus.

Depois de aquela cena de terror acabar, Mark pegou de volta a faca que estava no chão.

Alice recuou para a parede, tentando fugir daquele monstro, mas ele a pegou pelos cabelos, e a puxou para perto dele.

Ele mostrava a faca para a câmera, ainda rindo.

Alice tentava se rebater ainda mais, mas dessa vez Mark havia perdido o sorriso do rosto. E a paciência.

A faca foi parar no pescoço dela, e quanto mais afundava, mais sangue saia de lá.

Minha mão foi até minha boca, abafando um grito.

Mark agora estava serrando o pescoço dela. Decapitando-a. Com uma faca.

Parou na metade do trabalho, interrompido por outro homem que o estava chamando.

Ele rapidamente colocou as calças, largando a faca ainda no pescoço de minha irmãzinha.

“Veja Mark, nós trouxemos os corpos das outras mulheres.”.

Ele jogou o corpo da minha mãe no chão. Outro homem apareceu, e jogou o corpo de Anne junto ao da minha mãe.

“Muito bem, agora vamos embora. Alguém já deve ter ouvido os gritos dessa garota estúpida.”.

A fita acabou aí.

A filmadora caiu da minha mão.

Já estava acostumada com as lágrimas, agora mal as sentia escorrendo pelas minhas bochechas.

Uma mistura de ódio e tristeza formava meus gritos. Gritos tão horríveis quanto os de Alice quando estávamos na casa de Mark.

Voltei a pegar a arma. Verifiquei novamente a munição.

Preparei-a para atirar.

Ela já estava preparada para quando eu quisesse me suicidar.


Não faça isso, querida. Não é necessário tirar a sua vida. Isso não vai adiantar.


Eu estava sozinho, mas desde aquele incêndio provocado por Mark, nossa família veio me fazer companhia. E depois, veio sua mãe. Ela veio aqui me fazer feliz.

A notícia de Alice ter morrido daquele jeito também não me alegrou muito, mas agora estamos aqui, todos felizes, flutuando juntos.

Estaremos sempre com você, Rose. Sempre acima de você. Estaremos sempre te olhando, cuidando de você. Não se preocupe, meu amor.

Acredite, a morte não é a melhor saída.

Você ainda tem Edward. Ele é um bom rapaz. Tenho certeza que ele te ama muito, e vai conseguir fazer você superar isso, vai conseguir te fazer feliz.

Sim, você vai ser feliz.

Um dia, você vai ter uma família, Rose. Agora, você é a única aí, no mundo dos vivos, mas quando casar-se, vai formar uma família linda, e vai conseguir com que nosso sobrenome não suma.

Acredite no seu pai, querida.

Mesmo sabendo que você não vai escutar, eu acredito que isso de alguma forma te impedirá de se matar.