O vento gelado batia furiosamente em meu rosto. A escuridão tomava conta da estrada. Inutilmente, eu encontrava postes de luz, às vezes fracos, ou sem luz alguma.

A neve não caía mais, porém eu sabia que em alguma hora, enquanto eu estivesse andando, ela me surpreenderia.

A estrada era longa, e ao redor dela, eu via apenas árvores. Uma verdadeira floresta.

Um hospital no meio do nada. Isso não fazia sentido para mim.

Um hospital no meio do nada, era o que eu precisava no momento em que Edward levou um tiro. Ou melhor, dois.

Eu deveria ter acatado a ideia dele de sairmos de lá pela manhã. Mas aquele lugar me dava náuseas. Fazia-me pensar apenas em mortes. O que, por sinal, era a única coisa que já me acontecera na vida.

Eu me encolhia dentro da minha blusa, ainda andando. Passos acelerados, embora eu soubesse que em alguma hora teria de parar, pois estaria cansada demais.

Meus pensamentos não largavam Edward um segundo sequer. A culpa, por tê-lo largado sozinho, e machucado, me consumia viva.

Muitas vezes já havia pensado em voltar para ver se ele está bem e sair apenas quando o sol nascesse.

Mas só de pensar em voltar àquele lugar, lágrimas brotavam dos meus olhos e escorriam pela minha face. Enquanto o vento as congelava e me obrigava a parar de pensar nisso.

Por alguns instantes, eu pensava em desistir de tudo e usar a arma que havia pego de volta. Afinal, estavam todos mortos, que diferença faria se eu também morresse?

A diferença, é que você é a única que resta da nossa família.

A diferença, é que eu era a única que restava da família.

Eu tinha que saber o motivo de Mark ter quase acabado com nosso sobrenome.

“Rose! Rose!”. Os gritos agonizantes de Alice, misturados com os de minha mãe, me fizeram desabar no chão.

Atualmente, minha mente conseguia reproduzir sons mais altos do que eu escutava.

Eu tentava sempre esquecer o que acontecera, mas era impossível.

Estava sempre me culpando, sempre colocando a culpa na minha própria existência.

Eu estava agora, deitada na calçada, ao lado de uma lojinha simples de conveniência de esquina.

Assim como antes, nenhum carro passava.

Estava exausta, mas tentei me levantar, para pelo menos ir pedir ajuda no posto de gasolina do outro lado da rua.

As únicas coisas que consegui foram um gemido e meu corpo me pedindo para ficar ali mesmo até que não estivesse tão cansada.

Havia um beco ao lado, e resolvi ficar ali, pelo menos até que meu corpo não desse sinal de exaustividade.

Engatinhei e me encolhi ao lado de uma lata de lixo. Eu nunca havia desejado tanto ter aquela “cama” de volta, que Edward possivelmente poderia estar dormindo confortavelmente nela.

Fazia um bom tempo que eu não dormia, mas o sono havia praticamente me abandonado.

Um medo inexplicável descia da minha garganta até meu estômago, e me embrulhava.

A rua escura, sem nenhum barulho, sem ninguém. Junto com Edward, isso nunca havia me dado medo. Porém eu escolhi estar sozinha.

Tinha que arcar com as consequências.

Levantei-me, e continuei a andar.

Às vezes ameaçava cair novamente, mas me lembrava de que depois teria de levantar de novo, com dificuldade. E isso não era nada reconfortante.

Olhando e fitando as janelas das casas. As luzes apagadas.

Crianças dormindo tranquilamente, enquanto suas mães se mantinham de olho aberto para caso escutassem um choro.

Adolescentes em suas camas, preocupados com o dia seguinte. Indecisas com que roupa usar para o encontro com a pessoa amada.

Desejei sempre ter uma vida assim, normal. Preocupar-me talvez se “aquela roupa me deixava gorda”, ou “será que exagerei na maquiagem?.

Cada um paga pelo que faz. E eu ainda tentava achar a parte em que errei para isso estar acontecendo comigo agora.

Uma casa, em especial, não continha nada. Uma casa abandonada.

- Perfeito. – murmurei para mim mesma. Um pouco satisfeita.

Não pensava em nada naquela hora, apenas um lugar tranquilo para descansar um pouco.

A porta da frente estava um pouco desgastada, assim como a casa toda.

Tentei abri-la, e para minha surpresa, nada me impediu.

Hesitei ao colocar o primeiro pé. Alguma coisa de ruim talvez pudesse me acontecer.

Porém nada passa da morte. E a morte parece ser a única saída pra mim até agora.

Mark também nunca me encontraria aqui. E isso seria ótimo.

Tentei fazer o mínimo de barulho possível, mas a madeira do chão parecia ser um pouco velha também, o que não ajudava.

Meus pés me guiaram ansiosamente até a cozinha. Minhas mãos rapidamente foram parar na porta da geladeira, nos puxadores dos armários. Nada.

Uma pequena pontada de decepção me fez estremecer.

Estava sem comer há muito tempo, motivo da fraqueza de meu corpo.

A escada rangia a cada degrau que meus pés tocavam. Parecia que até a sombra deles irritava a madeira.

Na andar de cima, existiam apenas dois quartos. Um estava totalmente bagunçado, e o outro, que achei um pouco maior, estava “habitável”. Um pouco mais arrumado do que meu quarto era, na realidade.

Deve dar pra noite, pensei.

Eu havia “examinado” a pequena casa para ver se não tinham sinais de alguém que tenha vivido ali por pelo menos três dias antes.

Fechei a porta, devagar. Joguei-me na cama, deixando a luz acesa. Como se fosse uma criança com medo do escuro. Coloquei o revólver no móvel que estava ao lado da cama. Deixara-o como se fosse meu anjo da guarda, já que Edward não estava aqui para exercer essa função.

Admito que aquela noite não foi uma das melhores. Mas era bem melhor do que dormir num lugar em que eu sabia que podia ser executada.

Quando acordei, ainda de madrugada, um pouco mais descansada, minhas mãos foram instintivamente procurar o revólver ao meu lado.

Relaxei por saber que ele ainda estava lá, intocado. Mas congelei por sentir um papel por cima dele.

Demorei um pouco para abrir os olhos, tateando ainda a fina camada do objeto que estava lá.

Sentei-me rapidamente na cama, pegando a folha com determinação, examinando cada centímetro de sua área.

Uma folha branca, de agenda.

Palavras quase ilegíveis escritas com a mesma caneta da câmera.

Meu nervosismo fazia o papel tremer, não me deixando entender as poucas coisas que estavam à frente de meus olhos.

Eu não havia deixado nada além da arma na cômoda. Muito menos um papel com letras que eu mal conseguia ler.

- Não deve ser uma coisa séria. – eu tentava me reconfortar.

Consegui parar de tremer, agora apenas deixando meus pensamentos percorrerem caminhos escuros para tentar encontrar alguma coisa relacionada àquilo.

Entendi primeiro as palavras do meio da frase:

HIM ALONE

IT’S BETTER

O próximo passo era tentar entender as outras palavras escritas com pressa por quem quer que fosse.

Constatei que nada estava escrito, apenas rabiscos ao redor das que faziam sentido.

Algumas letras, que serviam para marcar os dias da semana e os meses nas pontas da folha, estavam circuladas.

Tentei achar alguma razão para aquilo.

E só então raciocinei e comecei a juntas as letras.

Todas, juntas, circuladas ou não mais de uma vez, completaram a frase.

E fizeram meu coração disparar de vez.

DON’T LET HIM ALONE

IT’S BETTER FOR BOTH