Yousef queria ter vestido algo melhor para data do que apenas um macacão preto com ossos pintados que reproduziam um raio-X. Ele queria ter dito tempo de preparar algo que não fosse um completo desastre de falta de tempo, e jet lag de viagem, mas o rapaz sabia que não seria capaz de tal proeza apenas pelo fato de tudo ter dado errado naquele dia.

Por mais que as pessoas que ele conhecia não fossem muito adeptas do estilo de comemoração estadunidense de Dia dos Bruxas, ou até mesmo da data. Yousef queria tentar algo diferente para o seu retorno a cidade. Quer dizer, o mais diferente que um adolescente com a mentalidade como a dele conseguisse pensar. O rapaz checou mais uma vez a sua imagem no espelho, e desejou que, pelo menos, o seu cabelo não estivesse gritando em bom tom que ele acabará de passar horas dentro de um avião.

Yousef pegou o boné preto, comprado especialmente para a data, e colocou sobre os cabelos rebeldes enquanto terminava de caminhar para a porta do quarto. O som alto já invadia toda a casa, com uma playlist pop que ele tentou ao máximo deixar parecida com o tema da festa. O rapaz suspirou pesadamente mais uma vez, e abriu a porta, sendo recebido pelo som de passos, pessoas falando, e o cheiro de bebida extremamente forte no ar.

Enquanto descia as escadas, Yousef só se perguntava se Sana apareceria em sua festa improvisada. Ela era possivelmente a pessoa que ele mais queria ver, e a pessoa a qual ele mais sentiu saudade nos dias em que esteve fora. O rapaz não sabia explicar esse tipo de emoção em direção a alguém, mas sempre que pensava em Sana sorrindo, e nas suas bochechas coradas, o seu estômago fazia algo parecido com um giro 360 de montanha-russa.

Seus pensamentos foram interrompidos quando ele visualizou uma quantidade exagerada de cabelo loiro-branco. Noora. Ela vestia uma fantasia de noiva, com sangue saindo de sua barriga e caindo pelas coxas. Se ele fosse parar pra perguntar, talvez Noora estivesse usando a fantasia também como forma de algum protesto. Yousef decidiu por si ficar quieto.

“Noora, você sabe se a Sana vem?” Ele soltou em um suspiro de voz, tentando não parecer tão desesperado pela garota quando estava. Noora sorriu para ele, gargalhou na verdade. Sua mão estava coberta de anéis e pulseiras e segurava um grande copo vermelho com algo alcoolico dentro.

“Olá pra você também Yousef. Eu estou muito bem, obrigada por perguntar.” Ela sorriu novamente, tocando a ponta do nariz de Yousef com os dedos magros. “Ela não vem, aliás, disse que tinha algo que precisava resolver na noite de hoje.” Noora deu mais um gole em seu copo, enquanto piscava os olhos com sombra escura para Yousef.

“O que ela tem pra resolver em um sábado a noite?” Ele não queria parecer ciumento, mas obsessivo mas o desejo de ver Sana correria em suas veias de uma maneira que naquele momento, Yousef não pode controlar.

“Não sei, Yousef. Pergunte você mesmo.” Noora acenou por cima do ombro do rapaz, provavelmente avistando o namorado na parte do fundo da sala. Ela deu um último sorriso para ele, antes de tropeçar em seus próprios pés caminhando em direção a William.

Yousef se sentiu pequeno com a frase de Noora. Pequeno e infeliz em saber que a única pessoa pela qual ele esperava ver não estava presente na sua maldita festa de boas-vindas.

O rapaz caminhou até a cozinha em passos largos e pesados, desviando de todo e qualquer corpo que tropeçava em sua direção. Grande parte daquelas pessoas que estavam ali, ele nem ao menos conhecia, ou tinham trocado palavras de bom dia com ele. Yousef pegou um copo vermelho grande, como aquele que Noora, e grande parte da festa, segurava, e colocou uma quantidade absurda de vodka e suco de limão nele. Mais vodka, do que suco, ele observou mentalmente.

Sana, preciso ver Sana. Foi a última coisa que ele pensou enquanto despejava o conteúdo do copo pela garganta.

**

Ele não fazia ideia de o porque estava parado na rua de Sana, mas ele simplesmente estava. Seu cabelo estava apontado em todas as direções, e ele não fazia ideia de como havia perdido o boné.

Mas, uma coisa estava ainda mais fora do lugar do que Yousef parado na rua de Sana com nada além do que a iluminação da lua cheia sobre a sua cabeça. Sana, em pessoal, estava parada na sua frente. O vestido branco que usava caindo até os pés, arrastando sobre o chão molhado do sereno daquela noite. O seu hijab era em tom prateado, quase brilhante quando o luar tocava no tecido que ondulava pelo vento forte. Os lábios de Sana, sempre tão convidativos estavam pintados com um batom vermelho-escuro, quase vinho.

Ela não sorria para ele. Ou tinha qualquer expressão que fosse sobre a face. Para Yousef, naquele momento Sana se parecia mais com uma representação de uma estátua perfeita, do que a garota a qual fazia seu coração bater sobre a garganta sempre.

“Sana.” Seu nome saiu fraco pelos lábios do rapaz. Yousef sentiu seus pés se moverem no chão frio em direção a garota, que ainda estava parada o observando. Os pés descalços de rapaz faziam um barulho abafado quando se movimentavam sobre o pavimento da rua. Ele queria falar algo que não fosse o nome dele. Queria que sua boca formasse as palavras eu senti a sua falta, ou qualquer outra coisa que pudesse surgir efeito sobre a garota estranhamente parada ali. Mas tudo que ele conseguia reproduzir com as cordas vocais era um frio e sofrido: Sana.

A garota começou a se mover quando Yousef estendeu as mãos para ela. O frio correndo por todo o seu corpo, como se estivesse tentando penetrar em sua alma, fazer os seus ossos trincarem pela temperatura. O vestido branco de Sana se arrastou pelo chão quanto ela fez uma curva que a deixava de costas para o rapaz. O prateado de sua veste quase que fantasmagórico ao redor dela.

O rosto de Sana se virou de perfil para Yousef. Seus olhos tomando um tom de negro que fez o coração pulsante do rapaz se gelar dentro do seu próprio corpo. As costelas não poderiam proteger uma ameaça que vinha de dentro dele.

“Venha comigo, querido.” Ela estendeu a mão pálida, envolta nas mangas longas do vestido. Yousef pode ver diversos desenhos pelos dedos magros de Sana. “Deixe-me te arrastar até lá.”

Os dedos gelados de Yousef tocaram a mão pálida de Sana, a falta de calor no corpo da mulher lhe trazendo arrepios que não eram de frio. Ele queria interromper aquele momento, e beijar a mão da mulher, seguir os lábios pintados de vermelho até mesmo para dentro da escuridão. Yousef sentiu sua voz se transformar em um nó em sua garganta, como se nada pudesse a fazer sair dali em forma de palavras.

Sana sorria para ele, enquanto eles desciam pela escuridão total que era a rua agora. Seus lábios pareciam galáxias negras pintados do ângulo que Yousef poderia ver, não mais vermelhos como há instantes. Ela voltou a ficar de frente para ele, trazendo o corpo dela para junto do seu.

Pelo canto do olho, Yousef podia ver cinco mulheres em círculo ao redor dele. Os vestidos tão brancos quanto o de Sana balançando no vento forte que começara a envolver aquela noite. A rua foi consumida por uma escuridão mais forte ainda, até mesmo a lua estava coberta pelas nuvens que carregavam o céu naquela noite. O corpo de Sana parou de frente para o dele, e o rapaz conseguiu sentir cada curva que ele tinha mesmo sobre a roupa.

Yousef abaixou os olhos, olhando para a boca de Sana.

“Olhe o meu corpo, ele pede por você.” E assim o rapaz fez, olhando para o corpo que ele tanto desejava. Os mamilos expostos pelo vestido, pontudos sobre o tecido lhe encheram os olhos. A curva suave dos quadris de Sana que ele aguardava ansiosamente por colocar os dedos ali.

A garota subiu ambas as mãos para o peito de Yousef, colocando-as em paralelo.

As mulheres começaram a cantar ao redor deles.

Yousef queria beijar aqueles lábios de galáxia negra, queria sentir os pontudos mamilos sobre a sua língua quente. Queria sentir o interior das coxas de Sana sobre os seus dedos.

“Me beije.” Ela pediu em um sopro. E se Yousef fosse um menino com consciência naquele momento ele teria percebido que os lábios de Sana não estavam se mexendo. Sua voz estava dentro de sua cabeça, consumindo a mente dele. Mas Yousef não entendia mais nada do que estava acontecendo, e por algum bloqueio da sua mente, ele simplesmente não ligava.

O rapaz molhou os lábios com a língua, abaixando-se com pesar para beijar aqueles lábios negros brilhantes. Pela primeira vez na noite, Sana deu um sorriso grande, mostrando seus dentes, agora incrivelmente brancos, e afiados.

Quando Yousef tocou os lábios de Sana, ele sentiu a escuridão total tomar conta de si.

**

Quando Yousef abriu os olhos novamente, não era a Sana de sempre que estava ali nos seus braços. Era uma Sana diferente, com a pele pálida, e gelada. Ele suspirou pesadamente, sentindo o ar de seus pulmões ficarem comprimidos a cada batida que o coração dava.

“Elas disseram que pra continuar viva, eu precisava tomar a vida de quem amava.” A voz de Sana lhe informou, melodiosa, diretamente da sua mente. Os lábios ainda não se mexiam naquele rosto redondo. “Mas só daria certo, se você me amasse de volta.”

Sana.

Seu coração gritou em direção a ela.

A moça abriu as palmas da mão novamente sobre o peito do rapaz. As unhas perfurando a pele.

Yousef não sentiu quando Sana arrastou a vida de dentro dele.

Amor. As mulheres cantavam ao redor deles sobre amor.

É isso que você recebe em troca.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.