Let It Burn

Capítulo 40; Deathbat


[Da onde surgiu a idéia para o capítulo]

O logo oficial da banda é o Deathbat, uma caveira com asas. Foi originalmente criado por um amigo de escola dos integrantes, Micah Montague. Cam Rackam, outro amigo, também fez diversos tipos de Deathbats e algumas pinturas como o single da música Beast and the Harlot assim como Casey Howard que fez o design do logo para a Fall Tour com a banda Buckcherry em 2008, o Abraham Deathbat. C.Howard também fez os desenhos interiores do encarte do álbum Avenged Sevenfold de 2007. O símbolo aparece em diversos álbuns como Waking The Fallen e Avenged Sevenfold e em singles como Critical Acclaim e Bat Country. O Deathbat

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; MATTHEW SHADOWS;

Empurrei a porta com a perna e caminhei até a sala com os três pacotes de salgadinho preso nos dentes e um engradado de cerveja em uma das mãos e na outra eu levava um pacote de amendoins que sabia serem os preferidos de Cam.

- Mas ela é uma gostosa. – Ouço Cam dizer.

- Eu pegaria ela... – Responde Micah. – tipo, muito facilmente.

- De quem estão falando? – Pergunto.

- Da Leana Silver. – Dizem em uníssono. Em um ato impensado, ato cujo poderia ter sido feito por Jimmy com aquela cabeça rápida e impulsiva e não por mim que sempre penso antes de agir. Atiro o saco de amendoim na cabeça de Cam. Eu consigo acertá-lo e ele me xinga.

- Olha o respeito. – Falo irritado. – Leana é minha amiga, e namorada do meu melhor amigo.

- Isso não muda o fato de ela ser gostosa. – Cam devolve enquanto massageia a testa, onde o acertei.

- Mas muda o fato de eu expulsá-los ou não da minha casa. – Falo colocando o engradado de cerveja em cima da mesa de centro.

- Matt meu queridão, foi só um comentário. – Diz Micah inocentemente, arrancando uma das cervejas do arame que envolve as dez.

- Um comentário desnecessário. – Respondo controlando o tom de voz. – não tem nada a ver com vocês... É só que ter um pouco de respeito seria legal.

- Desculpa. – Cam levanta as mãos para o alto em gesto de paz. – vamos fazer o que? Além de beber e comer amendoim, eu quero dizer.

- Tenho uns DVDs do Metallica aqui. – Falo abrindo um sorriso. Brian realmente pira naqueles DVDs, certa vez pediu emprestado... Mas não emprestei. Eu e Jimmy fazíamos a mesma pegadinha de pegar emprestado e não devolver... Há anos atrás.

- Ah cara você não DVD pornô? – Pergunta Cam soltando um riso debochado.

- Cala a boca porra. – Respondo irritado, percebendo que a convivência com Jimmy vem deixando meu pavio cada vez mais curto. – quando você se tornou tão tarado?

Micah ri alto.

- Ele sempre foi assim, só que antes era mais inibido. – Diz Micah ainda rindo.

- Eu nunca fui inibido.

- Farei você voltar a ser rapidinho se não parar de falar putaria. – Falo enquanto ligo o DVD. Os dois riem.

- Matt sempre foi meio certinho. – Replica Micah. – além do mais é engraçado esse seu jeitão.

- É engraçado. – Concorda Cam. – mas os outros caras são assim?

- Que caras? – Pergunto fingindo não ter entendido. Eu meio que tenho fugido do assunto Avenged, ultimamente.

- Da banda, mané. – Diz Micah.

- Eles são piores do que vocês, quase. – Digo abrindo um sorriso de canto e colocando play no DVD.

- Queria tanto ter uma banda. – Cam diz e suspira. Eu por muito tempo dizia aquilo e às vezes chegava a conclusão de que eu não acharia uma banda por que talvez não fosse o que eu tinha que fazer da vida. Mas agora, mesmo depois do show desastroso, com aqueles caras eu sentia que nasci para aquilo.

- Bon Jovi? – Pergunto a mim mesmo quando aparece o inicializador do DVD.

- Caralho deixa aí, eu adoro. – Diz Micah euforico.

- Deve ser da minha mãe. – Falo estranhamente constrangido, mas rindo do meu próprio embaraço. – vamos jogar cartas.

Eles não dizem nada, mas pelo semblante que fazem sei que não querem. Pego o baralho na primeira gaveta do armário enquanto toca Bon Jovi e os dois cantam. Empurramos a mesa de centro e nos sentamos em um circulo. Distribuo as cartas e começamos a jogar 21.

Passou-se três canções ao vivo do Bon Jovi.

Micah abaixou as cartas, e respirou fundo.

- Odeio jogar baralho. – Disse irritado. – porra Matthew, não podemos fazer algo mais divertido? Conversar sobre o Avenged.

Micah era legal, eu adorava ele. Mas não queria conversar sobre a banda... O único motivo pelo qual chamei Micah e Cam para passarem à tarde comigo ao invés de Zacky, Brian e Jimmy, era não ter que me preocupar tanto com o Avenged. Eu não me sentia a vontade para falar sobre o assunto desde o show que fizemos, mesmo tendo se passado uma semana daquele dia.

- Cara, eu quero jogar baralho. – Falei de volta. – fazer algo normal.

- Tocar e cantar é normal. – Dispara Micah com os cabelos ruivos caindo nos olhos. – ter uma banda é tão foda.

- Eu quero fumar. – Cam diz de repente e se levanta.

Micah puxa a agenda telefônica do lado do sofá e a caneta que estava pousada em cima. Sem falar nada começa a rabiscar a primeira folha. Cam acendeu um cigarro do lado de fora de casa, e como as janelas da sala estão abertas, consigo sentir o cheiro.

O nervosismo me faz querer fumar também. Mas fico quieto, procurando controlar minha ansiedade antes que me torne um viciado, fumante, com os dentes tortos e um câncer nos pulmões.

- Vou fazer um logotipo para a sua banda. – Diz Micah rapidamente. E percebo que agora, após conseguir enfim a minha banda será difícil não falar sobre.

Micah é assim impulsivo, e ninguém consegue pará-lo.

Então acabo cedendo, soltando a respiração pesada e me sentando ao seu lado no sofá. A lareira está acesa como estivera no dia em que juntei os caras da banda pela primeira vez, e no momento em que penso isso, sinto saudade deles.

- Tipo assim, fica legal? – Ele virou para mim a agenda telefônica. Havia desenhado uma cobra com presas afiadas.

- Uma cobra? – Pergunto mordendo o lábio inferior. – o que isso significaria?

- Não tem significado. – Ele começa a rir.

- Quero algo que tenha. – Digo me curvando para ver direito o desenho e notar que seus traços ficaram fortes no olho do réptil, fazendo-os parecer negros e brilhantes.

- Qual significado, por exemplo? – Pergunta ele de volta, preparando a caneta para desenhar outra coisa no canto inferior da página.

- Não sei. Algo que mostre que nossa música é algo que quebre tabus. Que independente do que você tem por dentro, queremos que essa música chegue até você. – Digo enquanto penso. – Até sua alma, por que amamos estilos diferentes de musica, encontramos a beleza em lugares diferentes, mas por dentro ainda somos todos iguais.

Ele já estava desenhando, então vira o novo retrato para mim.

Uma cabeça de caveira meio de perfil, com uma língua de cobra saindo por entre os dentes sujos.

- Uma caveira? – Pergunto sentindo a ansiedade indo embora. – isso é tão clichê, Micah.

- Você quer mostrar que somos iguais por dentro, que por mais que a música seja de um estilo musical fixo, quer que essa música atravesse a alma da pessoa e atinja seu ponto. Caveira é clichê, mas todos somos iguais a partir dela. – Micah aponta o desenho enquanto fala. E ele desenha bem, até. – Depois da caveira, vem os músculos que podem ter em uma pessoa ou em outra não, depois a pele de cor diferente e enfim o restante que dificilmente é igual. A personalidade e tudo vai de pessoa a pessoa, mas a caveira dela não... Ela morre, e a caveira será igual. De branco, negro, ruivo ou loiro.

Fico boquiaberto com a percepção dele.

- Incrível... – Falo abrindo um sorriso eufórico. – mas qual é a da língua de cobra?

- É só um atrativo Matt, só a caveira não fica tão simbólico. – Responde ele enquanto retoca a língua bifurcada. – além do mais a cobra é um bicho. Quando está sendo ameaçado abre a boca em sinal de ferocidade. Mostrar que vocês estão prontos para envenenar o mundo.

- Não acho legal o lance da cobra. A idéia central de envenenar o mundo é bom, mas desenhar a língua não faz sentido. – Respondo.

- Então me fale mais sobre o sentido da banda. – Diz ele parecendo contente em falar no Avenged. – vamos mudar isso.

- Queremos expandir a música, sem limites, sem fronteiras. – Falo. – quebrar as barreiras, voar pelo mundo feito morcegos insanos. Sabe? Vivemos na escuridão, parecemos ruins, mas de certo modo somos inofensivos. Nossa música é a coisa mais obscura que vamos passar.

- Morcegos insanos. – Diz Micah enquanto dá risada. Ele vira a página.

Cam abre a porta e entra na sala.

- O que estão fazendo? – Ele quer saber.

- Um logotipo para o Avenged. – Diz Micah virando a agenda telefônica para mim.

O mesmo modelo de caveira, de perfil, com asas e orelhas de morcego.

- Ficou ridículo. – Diz Cam sentando-se de frente para nós. Fazendo-nos rir. – sério essa orelha trouxe um quê homossexual para a banda.

- Tira as orelhas. – Falo. Micah as risca.

- E a caveira de perfil traz a mensagem subliminar de que vocês não são capazes de encarar algo de frente. – Diz Cam rapidamente. – ela deveria estar reta, tem que parecer desafiador.

Micah já está desenhando a caveira de frente. Agora desenhava as asas de morcego um pouco maiores com traços rígidos fazendo-as parecer ameaçadoras.

- Faça a caveira com a boca levemente aberta. – Falo. – como se ela estivesse dando um bote. Pronta para envenenar o mundo.

Os dois riem, e Micah refaz o desenho. Ao encarar aquela caveira de boca aberta, com asas de morcego é como se o símbolo tivesse feito exatamente para nós. E foi mesmo.

Indicava que nossa música atravessaria corpos e atacaria o ponto central de cada ser humano que era exatamente igual um dos outros. Indicava que como morcegos, iríamos voar o mundo parecendo monstros, mas que no fundo a única coisa que queríamos era nosso espaço. E, sobretudo, como uma cobra pronta para dar um bote...

Nós... Os morcegos insanos da morte...

Iríamos envenenar o mundo.