Levantei com relutância da cama e caminhei em direção ao quarto de Ivan. Ou o que eu acho que é caminhar, porque eu esbarrei em tudo o que estava no meu caminho.

O quarto ficava no mesmo corredor, de frente par ao quarto de Marina – ou melhor, nosso quarto.

Tentei fazer o menor dos ruídos para não acordar ninguém, e mesmo na escuridão da noite, pude distinguir o caminho.

Abri a porta semiaberta do quarto e me aproximei.

– O que foi, meu amor? – Deitei ao lado de Ivan e beijei sua testa. Percebi na hora que ele estava com febre.

– Não tô bem, mãe.

– Eu sei, meu lindo. A mamãe vai pegar um remédio, ta?

– Não, mãe. Fica comigo? – Disse segurando a manga da minha camisola branca. – Não quero ficar sozinho.

Sua vozinha e seu rostinho de cachorro abandonado me cortaram o coração. Não queria deixa-lo mas, também, tinha que pegar o antitérmico.

Então, uma ideia me surgiu.

Peguei Ivan no colo e refiz o caminho, tomando cuidado com os móveis maldosos que entraram no meu caminho outrora.

Pousei Ivan na minha parte da cama e o cobri. Num piscar de olhos, Ivan se aconchegou nas costas de Marina, que acordou. Ela se virou lentamente e me olhou com os olhos semiabertos.

Aquela cena me divertiu. Me deixou com um sorriso tão bobo.

Marina retribuiu o sorriso virando-se com cuidado e ficou de frente para o rapazinho.

– O que o senhorzinho tem? – Perguntou ao passar a mão em sua testa. Ao perceber sua situação, olhou para mim.

– Ele tá com febre e não quis ficar sozinho. Então eu o trouxe. Tem algum problema?

– Claro que tem. Agora ele não vai mais sair do meu lado!

Marina brincou com o doente Ivan, que não resistiu, sorrindo de volta.

Deixei os dois no quarto e desci até a cozinha, direto para o local aonde estavam os medicamentos.

Atravessei o estúdio, a sala de jantar e enfim cheguei na cozinha. Ao ligar a luz, gritei de susto e meu coração pulou pela minha boca.

– Que isso, gente? – Era Vanessa.

– Desculpa. Eu não sabia que você estava aqui. Caraca, que susto!

– Eu vim tomar um gole d’agua. Garganta seca.

Vanessa sorriu maliciosamente para mim, mas não entendi o porquê. Também, depois daquele susto, eu não entenderia nem uma conta de adição.

Segundos depois Flavinha apareceu na porta.

– Vamos, amor? Você tá demorando muito. – Flavinha me lançou o habitual piscar de olhos.

– Só vim tomar um pouco de agua. Fiquei até sem folego. Toda descabelada. – Vanessa tirava vantagem de algum assunto. Um assunto que só Flavinha sabia.

– É, bebeu todas e depois vomitou o chão da boate.

Sem querer, ri junto de Flavinha, deixando Vanessa com uma cara engraçada.

Deixei as meninas na cozinha depois de pegar o antitérmico. A pouca luminosidade que chegava da cozinha era o suficiente para enxergar as escadas e não tropeçar.

Ao chegar no quarto me deparei com a cena mais linda da minha vida. Meus dois amores dormindo como se fossem anjos, sem preocupações e sem medo. Ivan tinha a cabeça por cima do braço esquerdo de Marina, que o abraçava maternalmente. - Na verdade, eles estavam na mesma posição de quando eu deixei o quarto.

Eles estavam tão lindos!

Após acordar Ivan e lhe dar o remédio, sentei na cama deixando Ivan no meio. Não tinha a menor vontade de voltar a dormir. Só fiquei observando os dois travessos.

Tão moleques.

E o pior de tudo era Marina. Tem dias que parece uma louca, correndo pela casa com ele, brincando de carrinho, de bonequinho. Dando doce escondido para ele – antes de jantar, lógico. Até conselho amoroso ela dá!

Marina...

A lembrança do nosso primeiro beijo inundou minha mente. Antes de Ivan me acordar, eu estava sonhando com aquela dança, sentindo a batida lenta inundar o meu ser.

Quantas vezes eu não sonhei com aquele dia? Quantas vezes não me peguei lembrando do beijo? Do toque? Do cheiro?

“...Marina tinha uma expressão serena. Como um anjo retratado em um quadro.

Eu sorri para ela quando me afastei.

Ela - por outro lado – fechou os olhos e encaixou novamente seus lábios os meus. Todo aquele momento me inebriou. Eu sentia uma onda de choque.

Eu a queria tanto. Eu a queria tanto e por muito tempo.

Nunca tive a coragem de me declarar. De falar o que eu sentia quando estava perto dela. Quando ela me olhava ou quando me falava coisas que me desconsertavam.

Ao mesmo tempo que eu estava feliz, estava triste.

Naquele momento eu tinha muito mais do que eu poderia querer. Mas estava sendo desleal. Estava sendo injusta com uma pessoa. Aquele que me amou e me acompanhou uma parte da minha vida.

Nosso casamento não estava indo bem, mas isso não era desculpa. Me afastei de Marina, sem olhá-la nos olhos, com uma lágrima irritante caiu do meu olho sem a minha permissão. Ela segurava meu rosto, me perguntando o que acontecera. Foi apenas olhar para mim que ela soube.

Ela franziu o cenho, mas entendeu. Não sei como, pois eu não falei nada – nem uma palavra. Ela apenas sabia e me reconfortou em um abraço.

Olhando para ela agora, me sinto tão diferente de antes. Não sou mais aquela mulherzinha boba e insegura.

Ela realmente me mudou.

Aquele primeiro beijo me afetou de um jeito tão bom. Mas logo em seguida, Cadu passou mal e eu tive que recuar.

Que engraçado. Sempre vou me lembrar disso e vou sentir a mesma coisa!

Como aquele dia, dias após o termino do meu casamento com Cadu, onde eu estava um pouco chateada – preocupada – em como contar para Ivan a minha nova situação.

Lembro claramente de chegar no estúdio e ver minhas preocupações irem embora assim que eu vi Marina. No som, uma música inusitada, atraente, da qual só ouvira uma vez tocando no estúdio.

"Marina estava de costas para mim, digitando em seu notebook. Me aproximei devagar.

'E scusa se ti amo e se ci conosiamo da due mesi o poco piú...'

Ah! Ao ouvir o refrão da música, lembrei de quem era. Uma música que gostava muito.

'E scusa se non parlo piano, ma se non urlo muoio...'

Estávamos engatando um relacionamento mais sério, desde a minha separação. Ela me ajudou tanto nesse tempo, me deu tanto apoio e, acima de tudo, teve tanta paciência. Esperou pelo tempo que eu pedi.

Envolvi Marina com meus braços e beijei sua nuca. Ela me olhou de soslaio e me deu um sorriso triste. Ela estava triste, preocupada com a situação financeira do estúdio.

'ti guardo fisso e tremo allidea di averti acanto...'

– Oi, meu amor. – Disse ao se virar.

– Oi. Eu vim pra ficar um pouquinho com você. Acabei de deixar o Ivan na escola. – Dei um leve beijo em seus lábios.

– Huum... Assim eu fico mais contente.

– Ai, Marina... Não pensa nisso agora, meu amor. Vamos resolver essa situação. Você só tem que continuar trabalhando. O dinheiro vai entrar naturalmente.

– É, eu sei. Mas isso me deixa tão nervosa que... – Peguei seu rosto com as duas mãos e a beijei, fazendo com que se calasse. Não deixaria que palavras tristes saíssem da sua boca.

Marina ficou sem jeito, escondendo seu rosto ao me abraçar. Pediu que eu a acompanhasse até o quarto, pois precisava de um banho para esclarecer a mente.

Subimos e eu deitei na grande cama, enquanto escutava o som do chuveiro.

Minutos depois, Marina apareceu do lado direito do quarto coberta apenas com a toalha. Seu cabelo estava preso em um coque e algumas gotas de agua eram visíveis em algumas partes do seu corpo. Estava diante da cômoda de roupa, decidindo qual iria vestir.

– Ai, eu não sei se pego algo pra dormir ou pra ficar em casa.

– Fica sem nada. – Foi tão rápido o que eu disse, que não tive tempo de me calar. Marina me encarava com a boca semiaberta e com as sobrancelhas arqueadas. Eu nunca dissera algo assim. Era até compreensível o riso que ela deu ao ver minha cara de vergonha.

Marina cerrou os lábios, tentando desfazer o sorriso e sentou do meu lado. Eu a olhava sem esboçar qualquer reação – não sabia se ria, se chorava, se me levantava... argh!

Naturalmente eu abri meus braços num gesto convidativo e Marina deitou sua cabeça no meu ombro. Eu a abracei, molhando minha mão nas gotículas de agua que ficaram no seu corpo. Sentia o nariz dela passear no meu dorso, e logo em seguida tive meus cabelos afagados por uma mão delicada e branca.

Levantei seu queixo dando pequenos beijos - apenas leves toques, enquanto tomava mais consciência de Marina.

Engraçado porque, mesmo com os meus olhos fechados, podia ver Marina deitada em meus braços, com o corpo deficientemente seco e coberta apenas pela toalha.

Nosso beijo ficou mais urgente – pouco, bem pouco. Era lento e ritmado. Sentia sua língua procurar a minha.

Sentia na palma da minha mão seu corpo molhado. O cheiro de banho era predominante naquele quarto.

Marina deitou-se sobre mim – o que foi uma surpresa, pois ela veio mas a toalha ficou – , molhando meu Body preto. Senti a rigidez de todo o seu corpo, dos seus seios. Eu estava deitada sob Marina, completamente sem reação. Apenas a beijava e a beijava mais. Suas mãos passeavam pela minha coxa, pela minha lateral, pelo meu seio, até chegar no meu rosto.

Totalmente tomada pela sensação daquele toque, acariciei suas costas e desci até sua cintura. Desfiz seu coque, o que fez seu longo cabelo cair em meu rosto me fazer cocegas. Arrisquei olhar para ela e vi seus grandes olhos castanhos. Em sua boca – um sorriso que me derreteu.

Marina me ergue de modo que eu me sentasse de frente para ela. Eu comtemplei seu lindo corpo nu. Vi como o seu cabelo caia lindamente sobre seus ombros, como sorria. Marina me pedia com os olhos algo que eu não decifrei. – Sua expressão era contida. Tão... feliz? – Comecei a tirar minha roupa, entendendo o recado daqueles olhos, enquanto era observada. Ri comigo mesma daquela situação. Eu estava parecendo uma garotinha.

Tímida!

Recebi beijos na orelha que desceram pelas minhas costas e subiram até a outra orelha. A respiração dela me marcava e me arrepiava.

Mordi meus lábios ao deitar junto dela outra vez.

Mãos – mãos por todo o meu corpo – era o que eu sentia enquanto era beijada.

O que eu faço agora?

Ter Marina passeando perigosamente pelo meu corpo me deixou louca! Em um certo momento, sua mão passou sobre minha coxa e ao invés de subir ou descer, foi para o lado. Eu não sabia o que esperar – acho que sabia, sim – mas quando ela me tocou... Quando ela me tocou, eu senti uma onda de choque. Como um Tsunami de choque por sentir Marina tão intima.

Ela era delicada. Com movimentos leves, massageava uma parte de mim que me dava tanto prazer...

Sentir aquele toque com seus beijos deixavam minhas mãos dormentes. Minha orelha pegava fogo.

Involuntariamente eu gemia. Gemia e Marina ofegava.

Por vezes nos olhamos e fechamos os olhos em sincronia.

Sentia tanto prazer naquele toque que coloquei minha mão por sobre a dela – e a convidei a ir mais fundo.

Um gemido prazeroso saiu de meus lábios quando Marina entendeu o recado. Arqueei meu corpo tentando dissipar o calor e encostei mais ainda no corpo ao lado. Sentia os seios rígidos e excitados tocarem minha pele. O calor do seu corpo era intenso em minha consciência. Ela se encaixava perfeitamente em mim.

Tê-la naquelas circunstâncias, daquela forma, me fazia suar frio.

Eu me movimentava em sincronia com o seu toque – do qual estava me enlouquecendo. Seus movimentos eram lentos, sem pressa – pelo menos, era o que eu achava. Já não tinha mais a noção do tempo.

A sincronia aumentava a medida que seu toque tomava conta de mim e sua boca beijava meus pequenos seios e pescoço.

Sinceramente não sei quando aconteceu, mas eu estava sentada, e aumentei o ritmo no colo de Marina. Seus dedos nunca me pareceram tão deliciosos – Eles? Estavam me enlouquecendo.

Definitivamente um encaixe perfeito, Marina aumentou a pressão. Mordi forte meu lábio inferior e coloquei minha mão sobre a dela, pressionando ainda mais.

Fazendo pulsar ainda mais.

O mundo, ou o que restava dele, era só nosso. Naquele instante eu só via e sentia Marina.

Ela balbuciava palavras por entre os meus gemidos, me beijava e me dominava enquanto aumentava a sua presença em mim.

Em um certo momento se desvencilhou de mim e aproveitei para agir. A sentei em meu colo e a toquei como fui tocada. Marina estava molhada de prazer – prazerosamente molhada. O que me fez tremer. Seus olhos semiabertos e suas bochechas rosadas pelo calor me fizeram pulsar mais um pouco.

Sem saber quando, eu estava dentro dela. Sentia o calor do seu corpo junto ao líquido que molhava a cama.

Se estava bom? Delicioso!

Acho até que nossos corpos pulsavam em conjunto entre os nossos gemidos.

Eu tinha meus cabelos bagunçados por uma vacilante Marina, que sugava meu pescoço. Seu balanço seguia em uma dança sensual, com as batidas dos nossos corações – que podíamos ouvir a quilômetros.

Mais uma vez Marina falou e eu não consegui ouvir por conta do sangue pulsando em meus ouvidos. Olhar sua face rosada me entorpecia demais. Sua pupila estava tão dilatada, que o castanho era apenas um anel fino ao redor da imensidão negra. Seu hálito quente aquecia meu rosto enquanto eu dava rápidos beijos em sua face suada. Até o seu gosto era diferente.

Ao que pareceu ser o final, fui deitada delicadamente por Marina, que sorria lindamente para mim. No instante seguinte, sua imagem sumiu do meu campo de visão seguida de uma sensação maravilhosa. Senti a úmida língua de Marina em mim, subindo e descendo devagar. Não aguentava – e nem queria – segurar os gemidos. Sua língua explorava sem restrições o meu íntimo. Beijos tomavam minha coxa e logo voltavam pro ponto de origem. Cada vez mais sentia Marina me lambuzar. Segurei gentilmente sua cabeça entre minhas pernas, movimentando o meu quadril no sentido oposto de sua língua. Minutos deliciosos se passaram e nós não nos importávamos.

Ao fim, Marina subiu e deitou-se ao meu lado, ofegante, e me beijou.

Sentia o meu gosto misturado ao dela – tinha como eu ficar mais extasiada? Não, mesmo.

Sorri para a mulher mais linda do mundo e recebi mais um beijo, enquanto eu colocava uma mecha de cabelo castanho atrás de sua orelha.

– Eu amo você. – Consegui ouvir.

– Eu amo você. – Consegui dizer.

Minhas bochechas doíam de tanto que eu sorria. Massageei minha mandíbula numa tentativa.

Pela persiana da janela, vi os primeiros sinais de que o Sol nascia. Os feixes de luz entravam pela janela e aqueciam o quarto. Assim como Marina, que era o meu sol – me aquecendo. Me fazendo bem a qualquer momento. Como na nossa primeira vez. Como em todos os momentos difíceis que seguiram até agora.

Beijei meu filho, depois Marina e me deitei.

Olhei o relógio, descobrindo que tinha 30 minutos de sono.

"Boa noite, mundo."

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.