Na manhã seguinte, ela acordou assim que o despertador começou a tocar. Levantou sonolenta, colocou o uniforme, foi ao banheiro lavar o rosto, e prendeu seus cabelos ondulados em um rabo de cavalo. Passou um pouco de perfume e foi para a cozinha tomar seu café da manhã. Cida estava terminando de colocar as coisas na mesa, e seus pais não haviam descido ainda.

– Bom dia patroinha. – disse Claudia sorridente.

– Bom dia Claudinha! – disse Bianca, sorrindo animadamente.

– Hoje fiz panqueca, especialmente pra você!

– Ah Claudinha, você não existe mesmo! – disse Bianca com os olhos brilhando e sorrindo, ela amava panqueca.

– Que isso patroinha, não foi nada.

Bianca se sentou à mesa e começou a comer. Cida estava lavando alguns copos que estavam na pia.

– Meus pais estão demorando. – disse Bianca.

– Ah patroinha, seu pai saiu cedo, disse que tinha uma reunião em outra cidade, e sua mãe levantou cedo e foi caminhar na praia, daqui a pouco ela deve estar chegando.

– Minha mãe caminhando? E ainda por cima de manhã cedo? – disse Bianca desconfiada. – Ela não deve estar bem.

Ela e Claudia riram, e logo depois sua mãe chegou.

– Bom dia filha! – disse ela dando um beijo em Bianca e sentando ao seu lado.

– O que deu em você para ir caminhar mãe?

– Ah, eu não conseguia mais dormir, então resolvi sair para caminhar, aproveitei uma carona com seu pai até a beira-mar.

– Ok então. – disse Bianca rindo um pouco ainda.

Sua mãe apenas sorriu. Elas terminaram de tomar o café da manhã e Bianca foi escovar os dentes e colocar o tênis. Desceu as escadas e foi direto para o carro, sua mãe já estava a esperando. Ela a levou até a escola e novamente, parou alguns metros antes. Se despediu de sua mãe com um beijo e entrou na escola. Foi para a mesma mesinha que havia sentado ontem, só não sentou no mesmo lugar porque ele estava ocupado. Pegou seu livro e começou a ler, já estava nos últimos capítulos. De repente, sua leitura foi atrapalhada.

– Oi. – era uma menina loira de olhos claros, sorria simpaticamente.

– Oi – disse Bianca.

– Você é a Bianca não é?

– Sou sim. – disse ela um pouco confusa.

– Eu estou na sua sala, vi que você não fala com ninguém, então resolvi vir falar com você.

– Você está fazendo isso por pena? – disse Bianca.

– Não. – disse ela. – Estou fazendo isso porque também não converso com ninguém.

– Hm, tá. – disse Bianca. – Mas como você sabia meu nome?

– Eu ouvi você responder a chamada ontem. – disse ela.

– Ah tá. – disse ela.

– Bom, prazer Bianca, meu nome é Monique. – disse ela sorrindo, ainda simpaticamente.

– Prazer Monique. – disse Bianca sorrindo.

– Posso me sentar com você? – disse ela.

– Pode sim. – disse Bianca. – Mas eu vou ficar lendo, você se importa?

– Não me importo não, vou ficar aqui te fazendo companhia, qualquer coisa é só falar.

– Ok então. – Bianca sorriu, e voltou a ler.

Monique ficou em silêncio ao seu lado, ficava apenas olhando os alunos que chegavam, mas de repente, um aluno em especial a fez quebrar aquele silêncio.

– Ah, chegou o queridinho. – disse Monique, um pouco irônica.

Bianca olhou para cima e viu Justin chegando, novamente rodeado por vários garotos. Como ontem, eles se sentaram na mesa atrás da qual Bianca estava.

– Não vai me dizer que você também gosta dele? – disse Bianca.

– Eu? – disse Monique. – Não muito. O Justin estudava na minha antiga escola, nós até éramos um pouco amigos.

– E por que não se falam mais? – disse Bianca.

– Ah, a história é um pouco complicada.

– Pois pode contar, adoro ouvir histórias. – disse Bianca fechando seu livro e olhando para Monique.

– Ok, vou te contar. – disse ela. – O Justin está um ano na nossa frente, ele está no segundo ano do ensino médio. Quando ele estava na oitava série, eu estava na sétima. Como lá na nossa escola havia muitas turmas, as aulas de educação física eram feitas com duas turmas, e eu fazia com a turma dele. Um dia nós estávamos jogando vôlei no mesmo time, e em todas as aulas foram assim, e nós fomos virando amigos. Acontece que quando nós estávamos começando a nos aproximar mais, ele se afastou de mim.

– Como assim? – disse Bianca um pouco confusa.

– Digamos que o Justin não fale de ninguém além dele mesmo, se é que você me entende.

– Não entendo não. – disse Bianca.

– Ele não fala da família, entende? Não fala dos pais, dos tios, dos avós, de ninguém. Os únicos que sabem da vida do Justin são os meninos que andam com ele e mais ninguém. Ele é muito misterioso quanto a isso entende? Parece que tem vergonha, sei lá.

– Ah, vai ver ele só é reservado e não quer ninguém se metendo na vida particular dele. – disse Bianca.

– É, pode até ser, mas que é estranho, isso é. Quando eu perguntei sobre os pais dele, ele ficou até um pouco bravo e mudou de assunto, então resolvi nem tocar mais no assunto. Depois que ele saiu da escola nunca mais nos falamos, e eu nem fiz questão de correr atrás. Depois que ele entrou no blog, só dá atenção para as garotas e mais ninguém.

Depois de ouvir tudo atentamente, Bianca olhou para trás e ficou encarando Justin fixamente.

– Ele tem cara de misterioso mesmo. – disse ela, ainda o olhando. – Tem cara de que esconde muitos segredos.
De repente, Justin também a olhou e ela virou a cabeça rapidamente.

– Eu vou desvendar todos os segredos dele Monique, você vai ver.

– Vá em frente, mas duvido muito que você consiga.
Outra coisa que Bianca adorava, eram desafios. Esse com certeza seria o mais difícil, só que também o mais prazeroso.
O sinal tocou, Bianca e Monique foram para a fila. Ao chegarem na sala, Bianca percebeu que Monique sentava na segunda carteira da fila ao lado. A primeira aula foi matemática, e a professora era uma mulher, muito simpática por sinal. Ela começou falando sobre seus métodos de ensino e logo depois começou a passar matéria. As outras duas aulas foram história e português, e o professor de português se encantou com Bianca, por ver que uma aluna gostava tanto de ler e sabia tanto sobre literatura brasileira. Na hora que o sinal para o recreio tocou, Bianca pegou seu livro, uma folha de papel e uma caneta. Monique, que estava a esperando, sentou com ela na mesma mesinha de sempre. Alguns minutos depois, Justin e seus amigos sentaram na mesa de trás. Bianca começou a olhá-lo fixamente.

– Você está doida?! – falou Monique assustada.

– Não, por quê? – respondeu Bianca, que continuava o olhando.

– Se quer encarar o Justin, ao menos disfarce!

– Ah, ele nem vai perceber. Está ocupado demais falando besteira com os amigos dele.

Monique segurou os ombros de Bianca e a virou, fazendo-a olhar para ela.

– Ok, o Justin pode até não perceber, mas se qualquer outra pessoa ver você fazendo isso, vai espalhar para a escola inteira e vão ficar rindo de você e zoando com a sua cara!

– Mas Monique! Como vou desvendar os mistérios dele sem olhar para ele? É impossível!
Monique bateu de leve com a mão na própria testa e virou os olhos.

– Bianca, não estou dizendo que você não pode olhar para o Justin! Mas faça isso discretamente, e de longe!

– É, você está certa. – disse Bianca um pouco envergonhada.

Elas se olharam e então começaram a rir.

– Ai Bianca, você é doida. – disse Monique, ainda rindo um pouco.

– Acho que não sou muito boa nisso. – disse ela.

– Tudo bem, pelo menos você está tentando. – disse Monique piscando.

– Ok, vou começar minha investigação amanhã, aí sentamos em um lugar mais afastado, e eu observo ele de longe, sem ele perceber.E sabe o que você pode fazer também?

– Diga.

– Veja os posts dele no twitter,no blog,no facebook,fuce em tudo! E se você for corajosa, tente virar amiga dele!

– Amiga do Justin? – disse Bianca de olhos arregalados.

– E por que não? Eu já fui amiga dele, por que você não poderia? – disse Monique, encorajando-a. – O único problema é você arrumar um pretexto para falar com ele.

Depois de alguns segundos em silêncio, Bianca se lembrou do esbarrão.

– Já sei! – disse ela. – Ontem, na saída, eu dei um esbarrão nele! Ele fez minhas coisas caírem, a gente meio que se xingou. Quando ele estiver sozinho, posso pedir desculpas!

– Boa idéia! – disse Monique sorrindo.

– Mas ele nem vai lembrar de mim.

– Ah, isso é o de menos! Você estará sendo gentil, isso já vale.

– É, você tem razão. – disse Bianca. – Ok então, quando ver ele sozinho de novo eu vou falar com ele.

– Isso aí! – disse Monique sorrindo.
As duas continuaram ali sentadas, mas Bianca não estava mais olhando para Justin. Quando o sinal do final do recreio tocou, elas foram para a fila, logo a professora de geografia chegou e elas foram para a sala.
Aquela aula passou rápido, a última aula seria física. A professora passou matéria e também uma folha de exercícios. Enquanto a maioria dos alunos estava conversando, Bianca e Monique estavam fazendo os exercícios. Quando o sinal para o final da aula tocou, todos os alunos saíram da sala, mas Bianca ficou terminando os exercícios.

– Você não vem Bia? – disse Monique, que já estava na porta.

– Vou terminar os exercícios, não quero fazer em casa. – disse ela.

– Está bem então, eu vou indo. – disse Monique. – Até amanhã.

– Até. – disse Bianca sorrindo.
Cerca de cinco minutos depois, Bianca havia terminado os exercícios. Guardou suas coisas na mochila e desceu as escadas. Ao chegar no pátio, viu que não havia mais ninguém na escola, a não ser uma pessoa, que ia caminhando lentamente na sua frente. Era Justin.
Ela respirou fundo e tentou criar coragem para falar com ele, apertou o passo e estava a menos de três metros dele.

– Justin. – sua voz saiu meio que sem querer, ela chegou a tampar sua boca com a mão depois de chamá-lo.
Para sua surpresa, Justin parou, olhou para trás e sorriu, ela andou até ficar bem na sua frente.

– Ah, a menina que não olha por onde anda. – disse rindo um pouco. – O que você quer?
Bianca ficou chocada, Justin se lembrava dela. Apesar disso, ela não gostou nada do que ele havia dito.

– Não olha por onde anda? Quem esbarrou em mim foi você! – disse ela um pouco irritada.

– Ah claro, agora vai dizer que fui eu que esbarrei em você. – disse ele virando os olhos. – Que seja, fala o que você quer.

– Ah, deixa pra lá! – Bianca virou os olhos também e saiu andando.
Justin a segurou pelo braço e a puxou, fazendo eles ficarem centímetros distantes um do outro.