P.O.V. Titus.

O vestido que ela escolheu, com certeza não era algo que esperasse.

Tinha mangas com renda e transparência, era justo porém longo. Seus cabelos estavam cacheados duma forma que eu nunca vi.

—Gostei do cabelo.

—Cachos vitorianos. Ela os fez com presilhas.

—O seu povo me enganou. Me vendeu um instrumento musical que não funciona!

—O piano? Porque não funciona?

—Eu não sei. Ele não obedece. Mando ele tocar, mas ele não toca.

Ela riu.

—Piano não é computador.

Ela amarrou o cabelo com uma fita de cetim e começou a dedilhar na parte inferior do instrumento. O som era maravilhoso, não era como nada que eu já tivesse escutado em todos os meus muitos milênios.

Todos os convidados pararam para ouvir a melodia que saia do instrumento.

—É realmente maravilhoso.

Disse Kalique.

Eu senti lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas e eu não era o único a chorar.

—Como fez ele te obedecer?

—Para o piano funcionar, precisa de alguém que saiba tocar.

Respondeu Diana, soltando o cabelo.

—É um instrumento manual.

—Correto.

—Como pode algo tão primitivo produzir um som tão belo?

—Eu não sei.

—Que melodia foi aquela?

—Uma canção de ninar. Meu avô Edward, escreveu para minha vó Bella.

—Onde arrumou este vestido?

—Eu fiz.

P.O.V. Diana.

Um simples vestido preto sereia com mangas rendadas transparentes, cachos vitorianos e eles estão tão impressionados.

O salão era diferente de tudo o que eu já vi. O chão era duma pedra vermelha que parecia mármore, mas não era. Haviam estátuas de cães douradas acho que feitos de ouro que pareciam guardar a entrada.

Uns seis degraus de escada logo na entrada. A porta era redonda e não tinha uma porta.

Os convidados usavam roupas bem diferentes, vestidos com coisas penduradas e arcos em volta do pescoço. Anéis nos dedos, colares.

Era tudo tão extravagante. Que eu me senti fora de contexto.

P.O.V. Kalique.

As unhas e os lábios dela pintados de vermelho. Suas unhas mais pareciam garras. Apesar de ter feito aqueles cachos enrolando e prendendo o cabelo, seus cabelos eram como se fossem feitos de ouro e estavam muito mais belos que os meus.

Sua pele era alva, não havia uma imperfeição nela. Era como se ela fosse uma boneca de porcelana.

—Porque a sua água é azul?

—Isto não é água.

Ela sentiu o cheiro.

—Não tem cheiro de nada. Se não é água, o que é?

—Abrasax puro.

—Abrasax?

—Experimente.

Ela tomou um gole.

—Conheço essa sensação. É como... me alimentar, só que menos. Aquela gente que morreu. Morreu por causa disso.

—Á muito tempo, minha família descobriu como trocar células velhas por novas. Hoje é fácil como trocar uma lâmpada.

—Vocês assassinaram aquelas pessoas inocentes... por isso?! Por células? Porque não usar clones?

—Clones não tem plasticidade genética. Uma praga causada por clonagem quase destruiu a humanidade.

—Sou mais humana que você. E eu nem sou humana.

Ela colocou a taça na mesa.

—Implacável, sem sentimentos, vazia. Oca.

Diana não disse mais nada, simplesmente saiu da sala.

P.O.V. Diana.

Eu posso ter que me alimentar de sangue para viver, mas eu nunca tirei uma vida. Eu tenho disciplina, compaixão, humanidade.

Peguei o meu diário que era mais um livro de histórias do que um diário e escrevi a história da Hollow. Me deitei na cama e acabei pegando no sono.

P.O.V. Titus.

Eu a encontrei no seu aposento e ela estava adormecida. Porém vi um caderno e decidi ver o que ela havia escrito naquele caderno.

No título estava:

The Hollow.

A história começa mil anos antes da cidade de Nova Orleans ser fundada, duas tribos rivais decidiram combinar seu poder, dois bruxos poderosos se unindo para criar um Coven unificado. Um casamento cerimonial, como o dos meus avós Renesmee e Elijah. Eles pensaram que se unindo em paz entrariam numa nova era de harmonia. E esse casamento gerou uma criança. Por nove meses os anciões da tribo visitaram a mãe, usando sua magia para conceder a criança grande poder, na esperança de que o recém nascido se tornasse um símbolo de paz e prosperidade, mas eles não faziam a menor ideia do que estavam trazendo para este mundo.

Ela foi chamada de Inadu, logo ficou claro que ela era mais forte do que qualquer um poderia imaginar e ela tinha uma terrível fome por mais poder ainda assim.

E foi assim que a Hollow nasceu.

—Hollow.

Continuei lendo.

—Com o tempo ela cresceu e desejou mais Poder. Inadu costumava canalizar a vida em todas as suas formas. Seu povo a conhecia como implacável, sem sentimentos, vazia. Até que esta se tornou a qualidade que a definia e eles começaram a chamá-la de The Hollow. Mas, tudo começa e acaba na linhagem. Quando sua maldade tornou-se demais para suportar, as tribos se uniram para derrotá-la. Muitos morreram, porém os anciões das tribos conseguiram capturá-la usando nós místicos. E mesmo com todo aquele poder... Inadu era muito forte. A morte pareceu ser a única solução. Quatro dos mais fortes anciões, cada um embebeu parte de sua magia em um machado encantado. Quando a arma ficou pronta, eles confiaram a sua mãe, aquela que lhe deu a vida... para ser aquela que lhe tiraria a vida. Entretanto, antes que ela pudesse matar sua filha, Inadu lançou um feitiço final. Um empoderado pela sua própria morte. Uma maldição que recaiu sob todos aqueles que estavam presentes naquela noite. Ela a atou á lua cheia, condenando-os a uma vez por mês se transformarem na mesma besta que usaram para caçá-la.

—É uma bela história de terror.

—É a verdade. A Hollow criou a maldição do lobisomem.

—Lobisomem?

—Eles se transformam em lobos na lua cheia.

—Está me dizendo que todas as histórias que escreveu neste livro são reais?

—Exatamente.

—E todas essas criaturas existem na Terra?

—Isso.

—Magnífico. E você conhece algum lobisomem?

—Eu tenho uma irmã lobisomem e um tio meio vampiro, meio lobisomem.

Podia ver as pernas dela, mas seus braços estavam cobertos.

P.O.V. Diana.

Estou usando um cardigan creme de linho, mas estou de short doll.

—Vai me falar o seu nome ou vou ter que adivinhar?

—Titus Abrasax.

—Diana Herondale.

Ele usava dois anéis grandes e extravagantes nos dedos. Eu só tinha um solitário de lápis latzuli que é meio que a pedra da minha família e um pingente de coração.

—O senhor Saltzman deve estar louco atrás de mim. E os meus pais também.

—Você parece bem aqui.

—Mas, tenho que voltar pra escola. Eu quero voltar e espero não ficar de castigo por muito tempo. Onde estamos?

—Orus.

—Hórus. Como o deus egípcio?

—Não conheço nem um deus egípcio.

—Sei. Aquele tal Lorde Balem é sempre tão rude e antipático?

Ele riu.

—É.

—E os seus pais? O que houve com eles?

—Meus pais morreram. Foram assassinados.

—Eu sinto muito.

P.O.V. Titus.

Ela sentia muito que meus pais foram assassinados?

—Porque?

—Porque eu não imagino como seria minha vida sem os meus pais.

—Você é tão... doce e inocente.

—Não entendo como você pode ter doppelggangers. Quer dizer, você é humano, é matável.

—Doppelggangers. Versões humanas de um imortal.

—Isso.

—E como sabe que eu tenho Doppelggangers?

—Minha mãe os conheceu e eu acessei as memórias dela. Eu já vi o seu rosto... em alguém que não era você. Ele era um Príncipe, Romeu.

—Quantos anos você tem?

—Dezessete. Eu sou uma caminhante dos sonhos e caminhante do tempo, como a minha mãe. Posso viajar para o passado e para o futuro. Você, Titus é a primeira versão de você, mas então vieram Romeu, Charles e muitos outros. Conheci todos.

—Recorrências.

—Tanto faz. Eles eram exatamente iguais a você, só que mais humanos. Eles estavam vivos, eles viveram... mas você? Você está morto.