\"Tabalho durante o café\" _ era o que estava escrito no memorando, mas até aquela hora Bella não ha¬via comido nada. Colocou açúcar no café, procu¬rando acalmar-se antes de responder à pergunta agressiva de James May, o candidato potencial ao lugar de Aro.
— Sinto muito se você acha a campanha muito simplista, mas era o que Aro pretendia fazer— Bella falou com firmeza, tentando não reagir na defensiva.
Referiam-se à campanha feita para uma compa¬nhia aérea, um dos melhores clientes da Cullen´s.
— Isso é você quem está dizendo. — Daquela vez, James não se preocupou em disfarçar seu desdém.
— Está chamando a srta. Swan de menti¬rosa? — A pergunta foi feita ao acaso. Das oito pessoas presentes, Edward fora o que menos fa¬lara. Os poucos comentários foram curtos e discretos. Poderia saber pouco sobre propaganda, mas tinha um raciocínio privilegiado e administrava a reunião com sabedoria. Com certeza, estava atento à maneira como Bella respondia às ques¬tões ressentidas do executivo sénior.
— Estou dizendo que é suicídio basear nossa estratégia no que ela está dizendo. Bella é a única pessoa que afirma que Aro queria assim.
— Que motivo teria ela para mentir? — Edward observava o perfil tenso.
Bella se mostrava atenta à discussão, e a expressão não era nem um pouco hesitante. Edward admirou sua determinação.
— E, talvez mais importante, qual alternativa tem em mente, James? — A voz era suave, porém, com uma leve nota de autoridade. — Você e os demais cavalheiros aqui presentes repre¬sentam, mais ou menos, quarenta e três por cen¬to das contas da agência. Aro era responsável pelo restante. Como pretende persuadir os cin¬quenta e sete por cento a mudar de lado? Ne¬nhum de vocês merecia a confiança de meu tio. Por que eu confiaria?
James May empalideceu ao ouvir a calma argumentação.
— Se me permite, com todo o respeito, o senhor não tem experiência alguma neste ramo. É difícil para alguém que está de fora perceber...
— Percebo que está permitindo que a antipatia pessoal e a ambição desviem sua atenção do pro¬blema mais importante. Sua preocupação princi¬pal deveria se voltar para os acionistas, que se¬riam os primeiros a sofrer se esta agência falisse por desentendimentos internos. Acredite, James, que a srta. Swan tem todos os motivos para fazer o máximo para garantir que a Cullen´s con¬tinue a ser uma empresa forte e viável.

Edward esboçou um breve sorriso. Notou o olhar apreensivo de Bella antes de voltar a fixar-se nos demais presentes.Ela fora dominada por um conflito de emo¬ções quando Edward, sem muito esforço, dominara a reunião. Será que ele seria vingativo a ponto de revelar a todos que ela recebera um legado? Se fizesse aquilo, Bella não teria mais condições de trabalhar ao lado dos executivos seniores.
— Todos ficarão a par dos detalhes que a srta. Swan lhes transmitirá. Os contatos com os clien¬tes serão iniciados por ela, que já está familiarizada.
— Bella é apenas uma... — James hesitou, procurando a palavra certa.
Edward aproveitou a pausa e adiantou-se, de sobrancelhas erguidas.
— Pretende discorrer sobre o caráter da srta. Swan?
— No passado, ela acabou criando obstáculos em várias campanhas — completou James, após um breve silêncio. —Apenas um gerente de contas consegue entender a complexidade desta fase da tarefa. Isso se chama trabalho em equipe, e Bella nunca fez parte dela.
Várias pessoas concordaram com gestos de ca¬beça. Ao contrário de Bella, todos tinham cur¬rículos respeitáveis. O trabalho deles exigia uma mistura de inspiração artística, vivência comercial e o sangue-frio necessário para permanecer vivo em um campo tão competitivo.

Ela não se deixou abater pela incerteza. Aro acreditara nela, e ela não permitiria que os outros funcionários a diminuíssem na frente de Edward. Não deixaria que pensasse que era incompetente.
— Se vocês desejarem, podem consultar o pessoal da produção. Aro já os havia instruído a respeito desta campanha. Confirmem o que estou dizendo.
— Aro também não era adepto de projetos feitos em equipe, senhorita — disse Edward, surpreendendo-a.
— Seria ridículo comparar uma assistente de saias curtas com Aro Cullen! — reclamou James, impertinente.
— Cuidarei para que a srta. Swan não use mais saias curtas que possam desviar a atenção dos senhores — observou Edward. — Já que elas os incomodam tanto. O tom sugeria que o assunto estava encerrado.
Bella manteve a cabeça erguida, com orgulho, e fitou Edward de um jeito que dizia o que ele deveria fazer com sua disciplina. Ele podia estar pen¬sando que ela se preocupava com o rendimento de seu legado. O que não imaginava era que Bella não queria que a Cullen´s sucumbisse pelos rumores e especulações depois do falecimento de seu criador.
— Quanto à minha falta de experiência, senho¬res, embora não considere impedimento, informolhes que não tenho a intenção de controlar a rotina da empresa. Em meu lugar, pretendo deixar al¬guém devidamente capacitado. — Edward encarou um por um.
Todos fingiram indiferença. Embora Bella não estivesse nem um pouco preocupada com o que ele pretendia fazer, viu-se esperando, com os lábios tensos, o restante da informação.
— Imagino que conheçam Peter Llewellyn, o diretor administrativo de uma das maiores empresas de propaganda de Nova York. Ele aceitou minha oferta para trabalhar aqui, a partir do pró¬ximo mês. — Edward levantou-se e dirigiu a todos um pálido sorriso. — Bem, agora eu os deixarei para conversarem.Bella, quero falar com você... agora, por favor. Saiu da sala, sem voltar-se para trás, ciente de que ela o seguiria.
Bella se levantou, com toda a dignidade que a situação permitia. A animosidade à mesa já a estressara o suficiente, e, agora, teria de conversar com Edward Cullen. James May, de repente, bloqueou-lhe o caminho.
— Não demorou muito para se esgueirar para a cama dele, também, não é, querida? Ainda as¬sim, duvido que será tão fácil colocá-lo em uma coleira quanto foi com o velho.
— Você não sabe perder, James. — Bella fa¬lou alto o suficiente para que todos ouvissem. — Só porque está disposto a vender a alma por uma promoção, não assuma que todas as pessoas estão à venda, também. Pena que sua bajulação não tenha funcionado.
Vários rostos observaram a cena sem sinal de simpatia por James.

As aspirações dele não eram segredo, e seu estilo lhe rendera vários inimigos.
Bella seguiu direto para ao toalete para lavar o rosto com água fria. Em poucos minutos, retocou a maquiagem e ajeitou o penteado, dirigindo-se então até Edward.
— O chefe está à sua espera — Mary avisou.
— Estou morrendo de medo! — ironizou Bella. Antes que pudesse acrescentar algo mais, uma voz a interrompeu.
— Fico feliz em saber disso.
— Escutar atrás das portas é um péssimo hábito — ela observou, entrando no escritório.
— Por favor, sente-se.
— Prefiro ficar de pé.
— Você controlou a situação muito bem durante a reunião.
Aquele elogio inesperado fez Bella piscar vá¬rias vezes.
— Ficou surpreso? — Recusava-se a se sentir gratificada pelos comentários baratos de Edward, que já deixara bem claro o que pensava dela.
— Também me surpreende notar que esteve chorando — ele insinuou, como se aquilo o abor¬recesse. — O que James disse depois que eu saí?
Bella sentiu um nó na garganta ao observá-lo colocar-se em frente à janela.
— Não chorei.
Edward a fitou, impaciente.
— Há algo pessoal entre vocês dois, Bella? Ela franziu o nariz, com evidente nojo.
— Claro que não! Não que seja de sua conta.
— Por que a expressão ultrajada? — Colocou as mãos nos bolsos da calça e a olhou com ar pensativo. — Afinal, exerce um efeito peculiar nos homens, e não é aversa a usá-lo em seu próprio proveito. James pode muito bem ter sido um dos degraus de sua escalada. Se foi, posso entender a amargura do coitado. Quanto a ser de minha
conta, qualquer coisa que interfira no andamento da Cullens´s é de meu interesse.
—Já lhe ocorreu que posso ser uma boa profissional? Os homens nesta agência sentem-se amea¬çados ao terem seu território invadido. Se eu fosse um homem que houvesse alcançado algum sucesso, seria apenas um garoto prodígio, mas, por ser mu¬lher, dizem que usei minha capacidade de sedução. É óbvio que você nunca conheceu seu tio a fundo. Do contrário, saberia que Aro jamais toleraria uma incompetente, por mais bonitas que fossem suas pernas. — Com a garganta seca, ela parou para respirar. — Não que as minhas sejam, mas...

Aquele pensamento tardio ocorreu-lhe quando notou a direção do olhar de Edward.
— Acho estranho que esteja disposta a vender suas habilidades com tanta agressividade e, ainda assim, seja modesta quanto a seus atributos físi¬cos — afirmou, com ar cético. — Penso que, diante das circunstâncias, você pode abandonar esse papel de ingénua na minha frente. Sei que é uma mulher sensual, com apetite de adulto.
— Como conseguiu persuadir Peter Llewellyn a vir para cá em tão pouco tempo? — Bella tentava desviar o assunto.
— Somos amigos desde que estudamos juntos em Harvard. Sei que todos imaginam que não te¬nho a mínima noção sobre negócios, portanto, não espalhe essa informação. Afinal, muitas vezes, ser subestimado pode ser conveniente. — Havia um brilho bem-humorado nos olhos verdes. — Peter está cansado de ser apenas uma peça na máquina de outras pessoas. Procura um novo desafio há anos. Além disso, dei-lhe a opção de comprar mi¬nha cota de ações em três anos, se tudo der certo.
— Por que está me dizendo tudo isso?
— Bem, você, afinal, é uma pessoa muito dis¬creta, não é? — zombou ele.
Bella sentia-se confusa.
— Você não confia em mim.
— No plano pessoal, não. Mas no profissional... Só não posso me esquecer de que é uma pessoa ambiciosa, que joga com todas as cartas para che¬gar ao topo.
— Quanta bondade!
— Sempre tive um grande coração. Não gosto de mulheres como você, mas sei reconhecer uma pessoa talentosa quando a vejo. — Edward sen-tou-se, cometendo o sacrilégio de colocar os pés sobre a mesa de carvalho.
— Aro também sabia. Além disso, era para¬nóico quanto ao sigilo de seus negócios, como você deve ter percebido. Não queria ninguém cuidando de seus clientes, gostava de atendê-los ele mesmo. Também acho que ele até se sentia lisonjeado quando alguém pensava que eu era... — Bella parou de falar, sentindo o sangue subir-lhe às fa¬ces ao dar-se conta do que acabara de insinuar.
— Quer dizer que conseguia manipulá-lo como a um fantoche, não é? Muito esperta!
— Não sou responsável pela mentalidade sór¬dida das outras pessoas!
— Se soubessem da herança que meu tio lhe deixou, tenho certeza de que até os mais caridosos suspeitariam de sua integridade.

\"Como você...\", pensou ela, com amargura.
— E uma ameaça, Edward Cullen? Nada pedi a Aro, a não ser a chance de provar meu valor. Não tenho a mínima ideia de por que ele fez isso. Conhecendo Aro tão bem, Bella sabia que deveria haver algum motivo, pois ele nunca fazia nada à toa. Pensou no envelope marrom, que ain¬da não abrira. Não tivera coragem.
— Não sei por que não joga limpo comigo, Bella. Não estou interessado em seus princípios mo¬rais, apenas no bom desempenho da empresa.
— Essa é boa! Pois a mim parece que está in¬teressado demais em minha vida. Só porque passei uma noite com você, parece imaginar que me co¬nhece a fundo. Por que me julga uma devassa? Você também esteve naquele quarto, lembra?
Edward levantou-se rápido.
— Lembro-me de estava lá naquela manhã! Por falar nisso, tenho algo que lhe pertence. — Edward tirou um maço de notas da carteira e jogou-o na direção dela. — Não sou liberal o suficiente para permitir que uma mulher pague minha hospedagem.
Ela ignorou a oferta, considerando que não valia a pena afligir-se com tal criancice. Mas não pôde ignorar o brilho de pura raiva bastante visível nos olhos dele.
— Errei, Edward, antes até de saber quem era. Acha que teríamos dormido juntos se eu soubesse a verdade? Você sabia muito bem disso. De outro modo, por que teria prosseguido com a farsa?
— Foi você quem quis que eu fosse seu acom¬panhante e começou a farsa. Além disso, arruinou qualquer oportunidade que eu teria de remediar a situação quando fugiu, como um bandido, du¬rante a noite.
— Ah! Quer dizer então que teria confessado tudo? — falou com evidente desprezo.
— Escute: estou ocupado demais para continuar essa conversa inútil. Aguardo uma visita. Estou curioso de saber como será a reação de nossos clientes quando você contatá-los. Irei buscá-la para jantarmos juntos.
Bella estremeceu. Jantar e Edward eram uma combinação que ela sabia que devia evitar, ainda que o convite houvesse sido feito de um modo tão neutro.
— Não quero jantar com você.
— Então, pode ficar me olhando enquanto como. Estou com a agenda cheia, e só poderei vê-la mais tarde. Não tenho a mínima intenção de jejuar para atender a um capricho seu. Vejo-a mais tarde. Esteja pronta às oito.

Bella sentia-se tão ansiosa para deixar aque¬la sala que preferiu não contrariá-lo.
Ao sair, quase colidiu com uma morena alta. Ajei¬tou os óculos e murmurou um pedido de desculpas.
Em resposta, recebeu um sorriso radiante. A atenção da garota se concentrou em Edward, e Geórgia virou-se a tempo de ver a visitante jogar-se nos braços dele, com entusiasmo, dizendo:
— Ed, meu anjo, tenho excelentes notícias!

Bella ouviu a risada do chefe, um som de puro prazer que refletia a expressão no rosto dele.Então se afastou, sentindo uma imensa dor pulsar em suas têmporas e pressionar-lhe o peito.
Quando passou diante da secretária, endireitou os ombros e tentou assumir uma expressão alegre.
— Quem era aquela, Mary? — perguntou em tom casual.
— A sra. Alice Cullen.
— Ah, sei...

De que lhe importava se ele fosse? Claro que, se soubesse disso antes, Bella não teria dormido com ele. Edward era um traidor! Deus, será que tinha filhos?!

Para esquecer a raiva, ela tentou se con¬centrar, com tenacidade, no trabalho, e conseguiu adiantá-lo bastante. Por ironia, quanto mais rá¬pido atingia suas metas, mais perto chegava do momento em que não mais seria necessária à em¬presa. Bem, quanto mais cedo pudesse se ver livre de Edward, melhor!
— Ainda não está pronta?!

Edward estava lindo em um terno escuro e ele¬gante. Ela mordeu o lábio, odiando o fato de ainda conseguir considerá-lo atraente e desejando que seu olfato fosse insensível à fragrância almiscarada que exalava.
— Estou, sim — ela o contradisse, com fir¬meza. Vestia uma calça jeans surrada e a ca¬misa azul-clara.

Edward emitiu um som de impaciência e entrou sem ser convidado.
— A casa é sua — disse ela com sarcasmo, seguindo-o até a sala de estar.
— Tem dez minutos para se aprontar.
— Até tem poder para mandar em mim no es¬critório, mas não sou paga para suportar suas crises de ditador fora do expediente. — Cru¬zou os braços sobre o peito.
— Acredito em horários flexíveis — retrucou ele, em tom rouco. — Apronte-se, estou faminto. Se não o fizer, terei de ajudá-la.
— Nem pense nisso. Não quero sair com você. Não está se esquecendo de sua esposa?
Os olhos azuis se arregalaram. \"O crápula! Só se sente culpado quando é pego em flagrante!\", ela pensou, furiosa.
— De quem está falando?
— Muito engraçado! Mas duvido que Alice apreciaria a piadinha. Adultério não é, tampouco, minha ideia de diversão.
— Na verdade, combinei de encontrá-la para alguns drinques após o jantar. Pode vir também, já que está tão interessada em minha vida pessoal. — Edward sorriu, zangando-a mais ainda.
— Ela sabe sobre nós?!
— Nós... — Ele suspirou. — Bella, Trícia es¬tará acompanhada do marido, meu irmão, se é que isso faz alguma diferença.

Cunhada! Envergonhada, Bella sentiu as fa¬ces em brasa.
— Oh! Bem, foi um engano natural — defendeu-se. Nunca, em tempo algum, se desculparia.
— Natural porque você me tem em baixo conceito.
Bella franziu o nariz.
— Eu deveria ter imaginado que nenhuma mu¬lher seria tola o suficiente para se casar com você.
— Não disse que não era casado.
Ela engoliu em seco.
— E é? — Como ele não respondesse, Bella sentiu-se na obrigação de acrescentar algo: — Olhe, já foi ruim o suficiente ter dormido com você sem esse tipo de confusão.
— Isso a incomodaria tanto assim? — Os olhos dele tinham um brilho de curiosidade.
— Para dizer a verdade, sim.
— Então devo entender que acredita na santi¬dade do casamento e tudo o mais? — Edward zom¬bava dela, Bella percebeu, mas a expressão per¬manecia séria. — Posso lhe garantir que escrú¬pulos desse tipo serão um empecilho para sua car¬reira meteórica.
— Ainda não respondeu minha pergunta.
Edward estendeu a mãos e acariciou o rosto dela com o polegar.
— Sempre fui o padrinho, nunca o noivo. Estou surpreso com seus elevados padrões morais, so¬bretudo em sua crença na fidelidade. Pensei que as cicatrizes do casamento de seus pais houvessem curado todas suas noções românticas.
Bella corou, lembrando-se das confidências que fizera a ele.
— Sei que os homens são incapazes de se man¬terem fiéis.
— Não estaria generalizando?
— Minhas ilusões não lhe interessam.
— Se quer saber, somos ambos produtos de ca¬samentos fracassados. — Edward sorriu.— Surpreende-me que estivesse tão ansiosa em perpe¬tuar o erro, mas a história demonstra que as pes¬soas são incapazes de aprender com os próprios erros. Ou, nesse caso, com os erros dos pais.
— Não pretende se casar, um dia?
— Não para satisfazer um desejo primitivo de possuir uma mulher. Isso pode ser conseguido sem um contrato formal. —

Fitou-a com uma familiaridade insultante. — A escolha de uma parceira não deve ser conduzida pelos hormônios ou por razões sentimentais. Casarei com alguém que te¬nha as mesmas expectativas que eu.

\"E será que tal criatura existe?\"Bella estava satisfeita por, apesar de suas experiências senti¬mentais, não haver se desiludido. O que teria atin¬gido Edward de maneira tão profunda?
— Pretende ter filhos? Ou seria muito compli¬cado? — perguntou, sarcástica.

Bella estava assustada com o cenário estéril que ele pintara sobre o casamento. Será que um homem com capacidade de apaixonar-se ficaria satisfeito com tal arranjo?
— Esse seria o maior motivo para eu me casar.
— Espero que o emprego pague bem. De outro modo, vai acabar descobrindo que não aparecerão muitas candidatas o cargo.
— Agradeço muito pela sua preocupação, mas não pensei em você para isso.
— Estou arrasada...
— Sei que sou um tipo fascinante. Não ia se vestir?
Bella suspirou, frustrada.
— Posso fazer o relatório para você aqui mesmo. Muito embora pudesse entregá-lo amanhã, na pri¬meira hora.
— De manhã estarei partindo para a França. — Com uma expressão suspeita, o olhar dele va¬gou pela sala e, com ousadia, fixou-se na porta entreaberta do quarto. — Pensando bem, ficar aqui pode até ser agradável. Sabe cozinhar?

Uma risada rouca acompanhou-a quando Bella se retirou para o dormitório. Ao fechar a porta, encostou-se na parede para se recuperar. Estava com as pernas bambas. Sabia que Edward a pro¬vocava, mas o que ele não imaginava era como fora tentadora a ideia: cozinhar e degustar a re¬feição na cama estreita...

\"Estou ficando louca!\" Bella umedeceu os lá¬bios ressecados e passou as mãos trémulas pelos cabelos. Estar ao lado dele em público era muito mais seguro do que na privacidade do apartamen¬to, concluiu, abrindo o armário e escolhendo a rou¬pa que usaria. Não pretendia agradá-lo com a es¬colha. Optou por um discreto vestido preto, sem mangas, um pouco rodado. Costumava usá-lo em ocasiões mais formais.
— Se não estiver pronta em trinta segundos,
entrarei aí para ajudá-la.

A voz, vinda do outro cómodo, apressou-a maia ainda. Soltou os cabelos, passou uma leve camada de batom nos lábios e olhou-se no espelho. Como sempre, não ficou muito satisfeita com o visual. Correu para a porta com a intenção de, ao entrar na sala, evitar o olhar de Edward.

Foi difícil, pois o cómodo não era tão grande, e ele era um homem imenso. Tinha o dom de fazer os ambientes parecerem claustrofóbicos.
— Conheço muitas mulheres...
— Aposto que sim — ela o interrompeu.
— ...que a invejariam por conseguir atingir esse resultado em poucos minutos.

Bella piscou, balançou a cabeça e esqueceu-se de que não iria contemplar aquele rosto..
Edward admirava a imagem, em pé, diante dela, como se fosse uma obra de arte.
Como se acordasse de repente, ele fez um gesto rápido, apontando a saída:

— Vamos, já é tarde.

Ele a conduziu escada abaixo, até o carro. Durante o percurso, permaneceu perto dela, po¬rém, sem tocá-la.

— Aqui tem mais espaço para suas pernas do que no meu

Beetle — Bella observou, afundan¬do no stofamento de couro.
Era um veículo espaçoso, um lindo Volvo prata, daquele tipo que a maioria das pessoas considera inatingível. Bella lamentou haver se lembrado das pernas dele, longas, atléticas, musculosas.
Edward sentou-se à direção e não pareceu ter ouvido o comentário dela. Mas percebeu o olhar furtivo que Bella lançava para suas coxas.

— Eu também gosto das suas — disse ele, em um tom baixo e gutural.

Ela virou a cabeça para fitá-lo. Fora como estar à beira de um precipício. O coração batia acele¬rado, com medo da profundidade da fenda.Edward estendeu a mãos e traçou o contorno do decote discreto do vestido dela. Em seguida, acariciou o queixo e as faces de Bella.

— Não há necessidade de irmos a um restau¬rante — ele propôs, e o tom de sua voz diluiu cada partícula da resistência dela.

Em um instante, Edward iria beijá-la, e aquela antecipação era insuportável. O som da respiração ofegante de Bella era uma reflexo da agitação que envolvera seu corpo, na expectativa de sentir os lábios dele, de provar o sabor daquela boca. O ruído de um carro que se aproximava e a claridade dos faróis a despertaram, impedindo-a de entre-gar-se àquela insanidade.
Bella se endireitou, cobrindo a boca com as mãos.

— Pelo amor de Deus, ponha este automóvel em movimento! — implorou, sem olhar para ele.
Edward blasfemou, alto e bom som, mas obede¬ceu. Bella aprendia rápido a não superestimar seu poder de autocontrole.