A mansão onde Gustavo residia em Monte dos Reis era conhecida como Castelo do Sol. Erguia-se majestosa em meio aos campos, suas paredes de pedras claras refletiam suavemente os raios do sol. Os jardins bem cuidados exibiam uma profusão de calêndulas e árvores mimosas, enquanto as grandes janelas de vidro deixavam a luz natural banhar os salões internos. Era uma residência de elegância e tranquilidade, onde o tempo parecia deslizar suavemente em meio à beleza serena do entorno.

Gustavo comprou a mansão antes de se casar com a mãe de Enrico. Ele tinha conhecimento do gosto da moça por jardins amarelos, sua preferência por uma moradia mais afastada e o hábito de se reunir mais com a família do que com conhecidos.

Depois da traição de Gustavo e do divórcio, Dora voltou para a mansão dos pais. Desde então, Gustavo deixou a residência fechada e passou a viajar frequentemente, raramente retornando a Monte dos Reis. Além disso, nunca procurou saber sobre a filha que teve fora do casamento.

Dora descobriu pelos parentes do ex-marido que a criança era uma menina e instruiu o filho, ainda na adolescência, sobre a irmã desconhecida. Enrico nunca fez questão de conversar com o pai sobre este assunto. Gustavo acabou se afastando do filho sem motivos aparentes, levando Enrico a preferir não mais procurá-lo.

Sem saber para onde o pai viajava, Enrico imaginou que ele tivesse saído de Monte dos Reis para viver com a amante e a filha nascida na Inglaterra, dando-lhes mais atenção do que à família deixada para trás. Enrico associou a tristeza da mãe a isso; além de sofrer com o diabetes, era evidente que Gustavo havia piorado a situação dela.

Gustavo não teve consideração sequer para dar uma explicação pelo seu desaparecimento; tudo aconteceu de forma repentina.

— Estão arrumando as coisas por aqui.

— Então ele está voltando mesmo.

Ettore saiu do átrio nos fundos da mansão, com o celular encostado no ouvido. Ele havia prometido passar na residência do pai de Enrico após sair da mansão de Eliane.

— Eu falei com a sua filha. Eliane não gostou muito que eu aparecesse. Deu para perceber isso.

Enrico expressou sua incerteza sobre como iria buscar a filha da mansão de Eliane. Considerava aguardar a chegada de seu pai para fazer-lhe uma visita e, então, partir diretamente para a residência de Eliane. Contudo, previa dificuldades com ela para retirar a filha de lá.

— Da próxima vez, seria melhor você deixar o seu número com ela. Ela poderia falar com você, sem que você precise ir até lá.

De fato, a decisão de manter o contato poderia ter sido mais prudente. De volta à mansão Villa Serenità, Gigi recolheu-se ao seu quarto e prontamente iniciou a arrumação de seus pertences nas malas. Sua urgência em deixar o local era evidente, não estava disposta a permanecer em nenhuma residência associada aos conhecidos de seu pai.

Ela sabia que Eliane não parecia ser uma pessoa confiável; frequentemente adentrava o quarto de forma espontânea, iniciando conversas com a intenção de bisbilhotar as atividades e conversas da garota. Eliane demonstrava estar atenta a cada detalhe, aumentando a sensação de desconforto e desconfiança de Gigi em relação a ela.

A garota aguardava ansiosamente que Enrico viesse buscá-la rapidamente; nessas circunstâncias, a tensão na relação deles se tornava irrelevante.

Não seria diferente depois que Gigi subiu para o quarto. Passou algum tempo até que a porta finalmente se abrisse. Gigi rapidamente largou o casaco dobrado na cama, enquanto a mala aberta nem deu tempo para disfarçar.

— Está desfazendo ainda as malas?

A garota tentou manter uma expressão neutra, mal conseguindo responder a Eliane. Seus olhos se moviam agitadamente, o que fez Eliane não desviar o olhar dela.

— Deixei algumas coisas dentro das malas.

Uma resposta simples não seria suficiente para satisfazer Eliane, pois ela suspeitava até mesmo das coisas triviais. A presença repentina do rapaz em sua mansão não agradou Eliane, indicando que algo havia sido mencionado a Gigi por Ettore. Eliane percebia que Ettore possivelmente representava um problema.

O envolvimento do rapaz, juntamente com Enrico, poderia acarretar problemas para Eliane. Enrico se opunha firmemente à ideia de Gigi ir para Monte dos Reis, e se ele descobrisse a verdadeira situação, provavelmente tentaria trazê-la de volta, sendo Ettore quem poderia facilitar esse retorno. Isso poderia interferir consideravelmente em seus planos. Eliane necessitava de uma garantia adicional caso o marido não obtivesse sucesso na votação, mas também precisava agir com cautela, pois a desgraça só seria considerada como último recurso.

Ao cair da noite, Pasini finalmente chegou em casa. Eliane ainda estava perdida em pensamentos, lembrando-se das palavras do marido sobre o almoço com os parentes e sua consideração em organizar um jantar em um dos seus restaurantes para os conhecidos.

Com a mão gelada pelo whisky, Pasini tocou no ombro da esposa, fazendo-a virar o rosto para ele.

— Luca veio até mim quando cheguei e pediu para ir para a casa dos primos por uns dias.

— Se ele for lhe ajudar em alguma coisa.

— Me disseram que Nicolas está para chegar na próxima semana. Um dos meus parentes se encontrou com Lorenzo e ele mencionou que possivelmente será durante o anoitecer.

— Davide deve ter dito isso a Lorenzo. Ele pode também se aliar a Nicolas para que você perca. — Pasini observou o indicador da esposa erguido com firmeza. — Mas se bem que ele está se mostrando mais neutro ou talvez não tenha ainda uma opção.

Pasini sugeriu conversar com Davide, mas Eliane logo o interrompeu, expondo uma ideia.

— Eu posso me resolver com Davide.

Considerando que Fiorella poderia estar próximo de um divórcio, Eliane não via problemas de garantir outra pessoa para a irmã. Estava determinada a fazer o que fosse necessário para extrair as verdadeiras intenções de Davide. Planejava encontrá-lo em algum momento para discutir esse assunto, mas também tinha a intenção de abordar a questão de sua irmã.

Desde os tempos em que o pai de Eliane ainda estava vivo, Davide raramente permanecia em Monte dos Reis. Desde jovem, ele viajava pelo mundo, dedicando-se aos estudos e empenhando-se para se tornar um bom economista.

Fiorella ainda não estava namorando Caius, mas como os outros, ela chegou a abrir-se para Davide. A moça tinha o hábito de colecionar paixões, apenas para, no fim, revelar um gosto duvidoso.

A escolha da moça foi justa; não foi um relacionamento baseado em interesses. Davide valorizava sinceridade, especialmente vinda de alguém que correspondia. Ele teve a mente aberta para aceitar a decisão dela.

Apesar de sua consciência madura, Davide ainda buscava saber notícias sobre a moça. Se encontrava com Eliane em bailes ou reuniões, sempre perguntava sobre sua irmã, mas nunca chegou a descobrir realmente a traição que Fiorella fazia de tudo para esconder.

Eliane tinha motivos para negociar a irmã, até porque, como confirmado por Pasini, Nicolas estava prestes a desembarcar na segunda-feira ao anoitecer. Seja Eliane ou qualquer outra pessoa, ninguém possuía informações concretas sobre ele. Embora não fosse muito ativo com os Rosa Azul, Nicolas sabia que sua família estava envolvida em atividades ilícitas.

Era praticamente um excluído por vontade, pois não tinha grande afinidade com pessoas. No entanto, possuía conhecimento em investimentos e atuava no setor bancário, o que poderia facilitar uma relação favorável entre ele e Davide após a sua chegada.

Eram suposições que passavam pela mente de Eliane. Ela ainda não estava totalmente convencida com a chegada de Nicolas, mas também não suspeitava que Davide, em algum momento, pudesse revelar a mesma índole de Lorenzo, demonstrando ser uma sombra manipuladora.

Poderia ser mais difícil envolver Nicolas nos planos e na manipulação. Ele não parecia ser alguém facilmente convencido por palavras vazias, não possuía habilidades retóricas, mas era astuto em agilizar situações com sua perspicácia. Poderia ser alguém que facilmente confrontaria Eliane, e se estivesse ciente da realidade do controle sobre a cidade, talvez levasse a sério a campanha pelos votos.

Na sexta-feira seguinte, ao chegar no átrio de trás da mansão, Eliane avistou Kadu encostado no balaústre e sinalizou para o rapaz se aproximar.

— Estou saindo hoje à tarde, e Luca também. Ele está indo passar uns dias com os primos. Resolveu aproveitar o fim de semana. Eu quero que você fique aqui.

Eliane olhou nos olhos de Kadu para firmar a informação.

— Fique de olho naquele rapaz. — Ela percebeu o rapaz um pouco confuso. — Você sabe de quem estou falando. Não quero ver Ettore andando por aqui. Se ele insistir muito, você já sabe o que deve fazer.

— A garota vai ficar sozinha?

Eliane tentou responder sem imaginar o mal-entendido.

— Eu estava falando da outra moça.

— Ela vai ficar na mansão. — Eliane cruzou os braços e olhou diretamente para Kadu. — Você parece desconfortável com isso.

— Não, eu só queria entender mesmo. Está tudo bem.

Uma reunião com os Rosa Azul foi marcada para sexta-feira à tarde. Pasini convocou alguns membros para se reunirem na Fortaleza de Prata. Os mais aguardados seriam a família Rizzo, os Maestrine e, como Eliane já suspeitava com certo descaramento, Lorenzo.

Ele era um rival indireto e declarado do seu marido para a votação. No entanto, até o momento, o assunto da reunião não seria a combinação de votos. Eliane havia proposto ao marido uma nova reunião entre os membros, com a intenção de expor as verdades de tudo o que vinha acontecendo.

Se os Rosa Azul precisassem realizar uma votação, deveriam estar cientes da verdade sobre o herdeiro de Vincenzo, a sua chegada quase clandestina a Monte dos Reis e todos os pontos que Eliane pudesse levantar sobre o mau-caratismo de Lorenzo e do cunhado, cujo plano haviam fracassado.

Reunidos em um dos salões de reuniões do castelo, a conversa prosseguia lentamente. Eliane manteve a postura firme em uma poltrona veludada, após ver Lorenzo se afastar da grande janela e procurar um assento entre os demais. Estava afiada para qualquer assunto que ele trouxesse.

— Esse assunto não é uma certeza absoluta.

Diante da conversa, quem se manteve um pouco irresoluto foi Gerald. Até o momento, ele continuava sentado ereto na poltrona, unindo os dedos, com a aliança em uma mão e um anel na outra, e cruzando uma perna sobre a outra.

— Há rumores, especulações, mas nada confirmado oficialmente. Se Vincenzo realmente quisesse dar continuidade ao poder da família, ele teria deixado a criança aqui em Monte dos Reis.

— Mas e se houver razões pelas quais ele não pôde fazer isso? — Melina se pronunciou bastante envolvida na conversa. Ela inclinou o cotovelo no braço do sofá Chesterfield, com os cabelos longos e escuros caídos sobre um dos ombros, enquanto um colar de pérolas grossas envolvia seu pescoço. — O motivo da morte de Vincenzo ainda não tem uma confirmação certa até hoje.

— Para mim, fica claro que alguém matou Vincenzo. — Lorenzo se pronunciou, inclinando-se para frente, sentado na ponta da poltrona, com as mãos unidas sob as pernas, expondo para todos a sua expressão de confirmação.

— Interessante que você tenha uma teoria para tudo, menos para justificar suas próprias ações.

Lorenzo sorriu forçadamente, um sorriso tímido se formando em seus lábios ao ouvir a resposta afiada de Eliane.

— Se não for incomodo lhe recordar, eu também ajudei a investigar a morte de Vincenzo.

— A sua bondade sempre costuma ter um antônimo.

— Engraçado ouvir isso de você. Parece que a sua honestidade também tem um lado bem sombrio.

Pasini se levantou da escrivaninha e foi para o meio dos demais, já na intenção de desviar a mulher de alguma discussão. Pasini pigarreou discretamente para retornar ao assunto da conversa.

— O que realmente importa é que o filho de Vincenzo está em Monte dos Reis. Não é mesmo, Eliane?

Eliane discordou que o marido lhe indicasse para explicar sobre o assunto. Ela sugeriu Lorenzo, já que a ideia de procurar o herdeiro de Vincenzo circulava entre ele e o cunhado.

Estava nítido perceber os olhares indiferentes nos presentes. Melina, sendo amiga de Eliane, abaixou a cabeça quando a amiga voltou a responder Lorenzo. Gerald já havia desviado o olhar para a janela com a cortina de brocado dourado afastada. Pasini, por sua vez, resumiu tudo em vergonha.

— Sempre é você que costuma colocar ideias nas cabeças dos outros. Você se lembra da minha irmã?

Lorenzo passou a língua nos lábios, entendendo, mesmo de forma discreta, a traição de Fiorella que Eliane levantava. Ele deu prosseguimento à conversa, ignorando a mulher.

— Foi Caius que falou primeiro do filho de Vincenzo. Enrico era o único que sabia onde estava a criança.

Melina questionou se Enrico sabia do assunto, e Gerald imediatamente retornou sua atenção à conversa.

— Foi Enrico que cuidou da criança.

— Vincenzo também supôs que a mãe da criança fugiu com o bebê da cidade. — Gerald ressaltou a suposição antiga, que também era bem conhecida.

— Esta era a versão que eu também conhecia.

— Não importa qual suposição seja verdadeira. — Eliane levantou da poltrona num salto, abrindo espaço para que sua voz predominasse no salão. — Mas não seria o que Vincenzo esperaria se tivesse deixado a criança em Monte dos Reis para assumir a família. Ele teve uma menina. Faz alguns dias que ela chegou em Monte dos Reis. E desde então, estava sendo feita de refém por essa coisa.

— Não é bem assim. — Lorenzo ergueu o indicador de forma firme, como um alerta, após ser apontado por Eliane.

Melina se intrometeu, questionando sobre a jovem que disseram ter visto com Lorenzo no baile. Por coincidência, no monte, encontrou a moça, e sua perspicácia a levou a perceber tudo.

Descontentamento: era a única palavra que descrevia o silêncio do salão.

Apesar das intenções, Lorenzo não fez os planos com muita lógica. Intimidou Enrico a dizer a verdade para a garota, sem pensar nas consequências. Para ele, o interesse era apenas se garantir com o poder vago de Monte dos Reis.

Por ele ser da família dos Valentini, uma das três famílias primordiais dos Rosa Azul, acreditou que isso facilitaria o controle da Sociedade. Além disso, não considerou necessário justificar uma reunião formal para decidir a questão de Caius.

Foi um plano que Lorenzo achou brilhante, mas, ironicamente, acabou falhando miseravelmente.

Eliane sabia compreender a mentalidade escassa de Lorenzo; aliás, qualquer um que se atentasse aos fatos perceberia sua grande incoerência.

Quando a discussão amenizou e o assunto já estava entendido, Eliane se aproximou de Lorenzo. Ele recolheu o licor da mesa gueridón afastada.

— Deveria ter ficado em casa, onde pelo menos sua dignidade estaria intacta. Faria que nem Davide, se preparando em receber o seu aliado.

— O seu rival, você quer dizer. — Lorenzo respondeu sussurrando, em parte devido ao licor levado à boca. — Seu marido pode começar a ter ciúmes de você comigo. — Enquanto falava, Lorenzo percebeu Pasini observando os dois de longe.

— Eu digo a ele que você está me assediando.

— Se você tivesse vinte e oito anos a menos, eu até aceitaria.

Eliane se virou discretamente para o marido, mas ele já havia desviado o olhar para os conhecidos.

— Seu pai costumava desejar boa sorte de outra maneira. Costumava dizer ‘na boca do lobo’, literalmente.

— O que isso tem haver?

— Sabe, Eliane, minha cabeça está nas suas mãos. Mas lembre-se, a sua também está nas minhas. Você pode me prejudicar com Nicolas, mas lembre-se, seu marido também será prejudicado. Se os Rosa Azul fizessem um raciocínio pelo tempo, em quem eles prefeririam confiar?

Lorenzo ficou brincando com a taça de licor bem próximo do rosto de Eliane, balançando o líquido suavemente enquanto observava suas reações. Eliane manteve a compostura, mas seus olhos estreitaram levemente, indicando que ela não se deixaria intimidar facilmente.

— Seu pai já quis fazer parte dos Marquese. Tentou arranjar um casamento entre você e Vincenzo.

— O que você realmente está insinuando? Que meu pai matou Vincenzo?

— Não, não estou dizendo isso. Mas a sua família tem um histórico de cometer coisas terríveis para conseguir o que deseja. E você é a prova disso. Você está tentando ganhar a confiança da filha de Vincenzo, pressionou seu marido para concorrer na votação, e agora está tentando acabar comigo. Se essa acusação começasse a circular entre os membros, quem seria prejudicado é o seu marido. Nicolas seria eleito facilmente.

Eliane voltou para a mansão em silêncio, perdida em seus pensamentos sobre a conversa com Lorenzo. A ameaça era clara: se ela tentasse manchar a reputação dele, Pasini também seria arrastado para o escândalo.

A ameaça de Lorenzo parecia ser mais séria, sugerindo que os Tarantino seriam os culpados pelo assassinato de Vincenzo. Ninguém nunca descobriu quem era o assassino de Vincenzo; houve investigações, mas nada levou o mistério adiante.

A acusação falsa poderia trazer consequências devastadoras, mudando o rumo da votação. Como Lorenzo havia mencionado, Nicolas não teria concorrentes; sendo um Marquese, ele não precisaria obter um consenso.

Eliane não negava que o jogo sujo de Lorenzo a abalou profundamente, mas ainda estava determinada a permanecer firme e apoiar o marido. Ela passou os dedos nas lágrimas que escapavam de seus olhos quando viu Pasini da penteadeira, retornando do closet. Não era uma tarefa fácil liderar em meio a uma guerra, e Eliane estava bem ciente disso.

Pasini se sentou na cama, e Eliane percebeu imediatamente que algo o estava incomodando. Ela já suspeitava que o assunto envolvesse Lorenzo.

— O que você estava conversando com Lorenzo?

— Nada de importante.

Eliane se escorou na penteadeira. Ela não demonstraria facilmente sua fraqueza para ninguém, mas era nítido que as coisas estavam se agravando. Era bem assim que a votação entre os Rosa Azul se iniciava.

— Tudo o que tenho feito foi pela nossa família. Agora não há como me arrepender de ter arriscado tudo nesta disputa. — Eliane sentiu a mão de Pasini segurando seu ombro com firmeza, transmitindo apoio silencioso. Ele se afastou da cama ao perceber o abatimento da mulher. — Tudo é válido para conquistar Monte dos Reis. — Ela já tinha a intenção de olhar para o marido quando tocou-lhe na mão, — Você deve ficar comigo.

— Você também deve ficar comigo, ou sou sempre eu que devo ficar com você?

Sem conseguir conter as emoções, Eliane permitiu que o sofrimento transparecesse nos braços do marido. A guerra por Monte dos Reis estava apenas começando. Era um caminho repleto de desafios e perigos, uma jornada que ela estava aceitando principalmente em honra ao seu falecido pai, que lhe ensinara que para alcançar os objetivos era necessário sacrificar até mesmo as coisas mais preciosas.

Ela já havia feito isso uma vez, renunciando ao amor de sua vida para honrar o legado paterno. Agora, envolvia toda a família numa disputa maliciosa para preservar sua herança e honrar a memória de seu pai. Não havia mais como recuar; a única opção era resistir na mesma medida que Lorenzo e qualquer outro que ousasse impor ameaças.

— Ela tem que saber a verdade. — Pasini deu mais importância aos olhos vermelhos da mulher. — Ela é que é a herdeira de Monte dos Reis. Estive sustentando este assunto, esperando uma oportunidade. Agora é hora de discutir o que precisa ser dito.

Ettore chegou a conhecer o tal batedor que trabalhava para os Bellini, Vela. Ettore tinha ingressado na máfia antes de Vela. Apesar de ser novato, Vela acabou traindo os Bellini, conforme os rumores indicavam. Ele se tornou um aliado dos Arma Branca e frequentemente causava confusão pelo centro de Monte dos Reis. Mesmo mudando de aliados, também mudou de posição na hierarquia da máfia.

As suspeitas dos assassinatos pela cidade recaíram sobre Vela. Tinha membros dos Rosa Azul que acreditavam que eram os rivais, a família Mazza, que dava ordens para o rapaz cometer as execuções na cidade.

Depois de mudar de lado, Vela passou a trabalhar para os Mazza, tornando-se um apagador confiável para a família.

— Reconhecemos ele por causa do cabelo enrolado. Estava entrando em um dos becos. Aquele estilo de cabelo é inconfundível.

Ettore desviou o olhar do para-brisa ao perceber a fumaça do cigarro de Gualtiero flutuando para fora da janela aberta do carro. Ettore dirigiu-se à cidade na mesma tarde para encontrar-se com Gualtiero.

— Mandei ficarem de olho no Torvelinho.

— É desta forma que você chama ele?

— É melhor do que arriscar com o óbvio de parecer com um ninho de passarinho.

Gualtiero observou o riso do rapaz, porém notou que se dissipou rapidamente. Ettore voltou a observar a rua através do para-brisa, enquanto mordiscava a boca por dentro, percebendo que Gualtiero o encarava.

— No que está pensando?

Ettore balançou a cabeça, porém decidiu expor o assunto.

— Você já ouviu falar do primo de Vincenzo?

— Se ninguém não têm muito o que falar sobre ele, não acha meio estranho? Mas se descobrir algo, me avisa. Vai que tem uma história interessante aí.

— Quem sabe ele seja só um cara tranquilo que gosta de privacidade.

— Ou talvez ele seja um agente secreto! Vai saber, né? — Gualtiero deu de ombros com as mãos no volante, soltando um leve riso descontraído.

O celular de Ettore tocou, interrompendo o momento. Ele pegou o aparelho e viu o nome de Enrico na tela. Sabia que seria mais algum problema. Atendendo a ligação, Ettore ouviu a voz levemente abafada de Enrico, que claramente estava no carro em movimento, pedindo urgentemente que ele fosse para a mansão de seu pai. Ao que tudo indicava, ele estava indo para Monte dos Reis.