Legacy - Interativa

Capítulo 6 - Say to them I'm ready


Capítulo 6 – Say to them I'm ready

“Espere o melhor, prepare-se para o pior e aceite o que vier”

Provérbio Chinês

Kai estava de costas, ajeitando a gola e as mangas já perfeitamente alinhadas da camisa branca. O cabelo pálido como uma manhã de dezembro havia sido penteado para trás com os dedos, a quietude do corredor já vazio o permitiu ouvir o tilintar sincronizado de pequenos saltos seguindo em sua direção. Era um ritmo apressado e preenchendo o silêncio. Quando chegou perto o suficiente, a princesa parou para cumprimentá-lo:

–Kai! – Amelia abriu um sorriso e inclinou a cabeça levemente para a direita. O chapéu rosa antigo que usava a deixava ligeramente mais alta e combinados com o batom claro, a princesa parecia mais madura, contudo, o olhar ansioso e a forma como apertava os lábios um no outro, denunciava a menina que ainda era – Estamos atrasados?

–Bem em tempo

–Perfeito.

Amelia enlaçou seu braço no de seu futuro esposo e inspirou o máximo de ar que conseguia, na esperança de buscar um pouco mais de energia e expulsar o nervosismo do corpo. Kai percebeu isso pela forma como suas pálpebras tremiam ao fechar os olhos e o peito, sempre em calmaria, ia e vinha mais depressa. Os dois percorreram o restante do correr em sintonia perfeita. A barra do vestido dela, flutuava, parecendo as vestimentas de um anjo contra o vento, tal suavidade entrava em constraste com a negritude das calças do jovem loiro.

Terminaram o percurso em silêncio, parando para que os guardas o recepcionassem com uma reverência simples e abrissem as portas para o mundo real. Kai estufou o peito e se preparou para os aplausos que se seguiram. Aplausos calorosos, receptivos, convidativos. Bem da porta do palácio, tinha-se uma visão periférica de vários pontos do evento. O príncipe viu seus pais, já acomodados em réplicas de tronos que pareciam muito confortáveis. Uma tenda vermelha e prateada se estendia sobre suas cabeças, protegendo não apenas os monarcas principais, mas também uma boa parte dos guardas e dos lordes que os rodeavam.

Mais para direita, mas ainda muito próximo da grande tenda, estava a sua irmã Teresa. Abusando de um vestido longo e pesado e joias valiosas. Parecia um enfeite do Vaticano. Dimas, como sempre, rondava sozinho. Parava para trocar algumas palavras com um grupo de pessoas e então seguia para o próximo. Sendo assim, amigo de todos e não criando laços com nenhum.

Haviam muitas pessoas ali. Ricos e pobres. Todos súditos, em geral. Kai estufou o peito e, novamente, varreu o olhar pelos súditos. Traços de tranquilidade e nobreza estavam tão definidos em seu rosto que foram capazes de calar alguns burburinhos aqui e ali. Amelia apertou seu pulso e pelo canto do olho, ele percebeu que a nuca da garota estava arrepiada. Ele gostaria de saber se era pela euforia de aparecer tão exposta diante dos portugueses ou se era pelo brisa fria que soprava. Ou pelo toque extremamente gélido das mãos de Kai tão perto dela. Ele a puxou para mais perto para tirar a prova completa e viu seus olhos cinzas de tempestade focalizarem em seu rosto.

A princesa engoliu em seco e mostrou um sorriso enorme, como se esse estivesse reprimido dentro de si. Soltou e ar, e virando o rosto, voltou a encarar as pessoas que os aguardavam. Suas mãos inevitavelmente subindo ao lado do corpo, na tentativa de um aceno discreto. Mais uma vez, os burburinhos foram diminuídos, diminuíram tanto que Kai tinha plena consciência dos dedos de Amelia em seu pulso, agarrados tão fortes que já estavam quase brancos. Era uma forma quase ciumenta, ou como se ela estivesse implorando um apoio, uma segurança. Quando tudo ficou em silêncio, ele pensou em deslizar sua mão, para que conseguisse segurá-la de uma forma melhor. Talvez pudesse passar a mão por sua cintura, sentir ela mais perto. O silêncio só colaborava para que a respiração dos dois fosse ouvida. O sangue batucava nas orelhas de Kai. Desejo. Sim.

Estava agarrado a essa esperança até que foi capaz de ouvir o som de milhares de rodas e cascos se aproximando em uma velocidade impressionante. Abaixou os olhos para os própios pés e riu pelo nariz. Impressionado e indignado consigo mesmo. Voltou a erguer a cabeça apenas quando viu que eles chegavam. A Corte aumentava.