Legacy - Interativa

Capítulo 10 - Burning inside out


Capítulo 10 - Burning Inside Out

"Erros meus, má Fortuna, Amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a Fortuna sobejaram,
Que para mim bastava Amor somente"

Luís de Camões, trecho de poema

Marie abriu e fechou os olhos pela milésima vez em poucos segundos. Seu coração parecia feito de granito e sua cabeça girava com fúria. Subitamente, sentiu-se com seus quatorze anos de idade. Lembrou de como seus cabelos ruivos eram compridos e cheios e sentiu o peso da trança grossa sobre suas costas. Viu diante de si a antiga Rainha. Viu a forma como ela lhe lançou o pior de todos os olhares quando descobriu sobre sua gravidez. Lembrou de todas as palavras amaldiçoadas que tivera que ouvir naquele dia e como tinha medo de perder Thomás, mas ao mesmo tempo tinha medo de ficar em Portugal.

Voltar para a França já não era mais opção em tempos como aquele. O que dizer para seu pai? Apesar de tudo, o que ela carregava no ventre era o filho do futuro herdeiro de Portugal e isso iria cair como uma muralha sobre seus ombros. As pessoas iriam especular sobre sua vida e teria divisões entre aqueles que a apoiariam e aqueles que diriam que ela nada mais era do que uma mulher fácil e fútil que agarrara a oportunidade de se deitar com o príncipe herdeiro. Quem dera se naquela época todos soubessem suas reais intenções...

Marie chegou em Portugal muito nova. Veio acompanhada de outras dezenas de garotas na mesma faixa de idade. Certos costumes nunca mudavam, e, assim como estava sendo na época de Kai e Amelia, na época em que a rainha era jovem, as moças também vinham de vários lugares do mundo em busca de uma vida boa e um marido rico. Aquela menina ruiva, que nunca imaginou se tornar uma rainha, era uma dentre tantas belas moças. O rei ainda era príncipe e tinha apenas dezessete anos, três anos a mais do que ela. O destino dos dois se cruzaram coincidentemente já que, o tão dedicado e sério Thomás, nunca dava as caras em nenhum evento da Corte. Algumas línguas venenosas diziam que ele era estranho, mas no fundo, Marie imaginava que só gostava de quietude, e estava certa.

Thomás trocou olhares aqui e ali para Marie e ela sempre se lembra da forma como seus olhares se cruzaram pela primeira vez. Ou quando ela o viu descer as escadas com seu caminhar duro e severo. A sensação de ser olhada pela primeira vez era tão bom quanto ser tocada e ela não tinha dúvidas disso. Sentia seu corpo se aquecer e tinha que esganiçar a vontade de pular no colo do príncipe, pedir-lhe um beijo, ou, simplesmente dar-lhe um carinho no rosto. Apenas para sentir a tez de sua pele. E assim foi durante meses, o desejo a consumindo. Ia todos os dias se confessar na igreja, pois sabia que as vontades que sentia eram iportunas, mas nenhuma reza fez com que Thomás se distanciasse. Pelo contrário, ele se aproximou.

E os dois se apaixonaram.

E Marie, na idade mais avançada, percebeu que seria incapaz de respirar se Thomás a deixasse.

E, ao ver os olhos de Kai pousarem sobre o rosto da jovem Amelia, sentiu-se entrando para o passado e todas as emoções fortes a invadiram novamente.

Não soube dizer o que era, e, por isso, uniu as mãos em oração.