Capítulo 5

Acho que não existe

um universo em que eu não

me apaixone por você

— de um jeito ou de outro. (Lothian Andrade)

Quando Jacob conheceu Leah achou-a irritante e com uma cara de quem comeu e não gostou. Depois ele percebeu que além de irritante, ela era tagarela. Leah o bombardeava de perguntas o tempo inteiro. Era como se ele fosse seu dicionário particular. Leah perguntava coisas como: Por que as pessoas sentem esse vazio na alma? Como seria um dia perfeito para você? Se pudesse voltar ao passado, o que faria de diferente? Com quem jantaria se tivesse a chance de jantar com qualquer pessoa? O que você faria se descobrisse que morreria amanhã? Como seria o paraíso? Com o passar do tempo Jacob começou a se adaptar aquela criatura tão esquisita. E passou a gostar de ser questionado sempre. Leah amava a noite e gostava também de caminhar. E o moreno descobriu que a sua mente era traiçoeira. Sempre que a noite chegava, a mente dele achava um jeito de trazer a garota à superfície. E Jacob se rende. Percebe que o coração não escolhe por quem vai acelerar. Só acontece. Assim, de repente. Quando percebeu já estava escrevendo mil poemas para ela, dedicando mil músicas em silêncio, salvando fotos inspirações do futuro casamento no Pinterest. Quando percebeu, já estava contando os minutos para escutar a voz dela. Quando percebeu, já estava fazendo o possível para se tornar parte da vida dela. Quando se deu conta, se encontrava sentindo calafrios quando ela compartilhava algo da vida pessoal dela com ele. O medo de perdê-la foi ficando mais forte. O que seria da vida dele sem Leah? Com certeza seria calma, mas também sem cores, sem vivacidade. Entretanto, sabia que Leah era importante demais para ele estragar tudo com seu sentimentalismo.

Em um dia qualquer de dezembro Leah partiu. Aqueles olhos tão curiosos e cheios de sonhos passeando pelo seu rosto, dizendo adeus. Jacob queria ela. Mas sabia que Leah precisava voar. Se encontrar. Seria um puta egoísta se não deixasse que o mundo conhecesse aquela mulher que ele conheceu ainda menina e acabou se tornando uma potência. O mundo precisava dela, e por mais doloroso que fosse, as pessoas precisavam dela. Queria que no meio de tudo ela se lembrasse dele e dos momentos que tiveram.

Durante um tempo Jacob conheceu uma dúzia de pessoas incríveis, inteligentes e elegantes. Porém, de vez em quando, principalmente quando ficava nostálgico, lembrava da garota tagarela e curiosa que conviveu por quase quatro anos, quando ele ainda estava descobrindo o mundo. Ele sorria. Por onde andará Leah? Morria de curiosidade sobre o paradeiro dela. O rompimento entre eles foi tão súbito que ele nem percebeu quando Leah sumiu de seus dias. Mas era uma época tão corrida. A vida sem piedade atropelava tudo e todos. Inclusive eles.

Eles voltaram a se encontrar em um sábado, no casamento de uma amiga em comum. Ele quase não a reconheceu. Leah era Leah, mas mudou muito, era outra pessoa. Uma pessoa da qual ele não tinha mais acesso. Não percebeu quando ficou triste por esse pensamento. Então eles conversaram, sorriram, dividiram histórias antigas e ele olha, pela primeira vez na noite, para os olhos da mulher à sua frente. Respira aliviado. Todo o seu corpo relaxa. Os olhos dela. Os olhos de Leah ainda são os mesmos. Sua garota está ali. E seu garoto interior também. Como era bom voltar para casa.

Jacob e Leah casaram em outubro do ano seguinte. Casamento pequeno, simples e cheio de amor. Leah ainda continua sendo a pessoa mais fascinante que o moreno conhecera. Ele mal podia acreditar. Aquilo era tudo tão irônico. Logo eles. Naquela noite, Leah pediu algo especial, em nome dos velhos tempos, andar de metrô e colocar a conversa em dia. Andaram sem destino, ela ao seu lado conversando sobre tudo e sobre nada. Ele conversava sobre os convidados e como ela ficou magnífica durante o discurso. E percebendo que ela estava quase dormindo, mesmo com o passar dos anos, Leah nunca perderá a mania de dormir durante as viagens. E antes que ela fechasse os olhos, Jacob disse:

— Lembra quando disse que não sabia como seria o paraíso? — Ela se aconchegou e colocou a cabeça em seu ombro. Sorriu para ele e voltou a deitar de novo. — Agora eu sei, o paraíso é qualquer lugar que você esteja comigo.