Leah Goldwyn: Entre dois Mundos

O massacre dos lobos e uma história para assustar crianças


MAX

Max despertou num piso frio e marmóreo de um grande salão exótico. As primeiras coisas que pôde contemplar eram as extensas dimensões das paredes, tão extensas que ele não conseguia enxergar o teto, como um poço fundo virado ao lado oposto.

Levantou-se, mas assim que o fez, sua cabeça doeu fortemente, como se seu cérebro girasse em todos os ângulos ao mesmo tempo, tornando sua visão nebulosa. Max apertou as pálpebras, desejando estar perto de algum penhasco ou coisa do tipo, para que pudesse se atirar de uma vez.

Foi só abrir os olhos novamente que tudo piorou, uma dor extraordinária eclodiu atrás de seus olhos, que passaram a arder intensamente.
Com a última e pouca força que lhe sobrava, cambaleou para frente, feito isso, toda a dor desapareceu, como se nunca houvesse o afetado.

Examinou o lugar em que estava. Se fosse dar um título, seria “O Salão das Luzes”, o lugar continha uma luminosidade tão intensa, que sua sombra, e as de objetos e móveis, não podiam ser vistas nas paredes cintilantes. Ele tinha de semicerrar os olhos para poder ver o lugar sem que suas retinas não fossem afetadas pela quantidade de luz forte, mesmo com suas pupilas corroídas, não adiantava em nada.

Havia janelas muito compridas, permitindo que Max avistasse os gramados e jardins do lado de fora, que tinham uma luminosidade tão intensa que chegava a ser sobrenatural, mas o mais esquisito era que ainda assim o salão era mais fulgurante que seu exterior.

“Que diabos...” Max não pode completar o xingamento, foi interrompido por sons de passos agudos no piso de mármore alvo.

Um indivíduo passou pelas grandes portas duplas de madeira escura, grandes o suficiente para que um transatlântico fosse introduzido no salão. A pele do homem era ligeiramente bronzeada, ele possuía cabelos castanhos e lisos que roçavam nos ombros, olhos verdes, era bem alto, com estimativa de 1,95 de altura, contando essa característica com os braços longos e o bom físico. Poderia ter se saído muito bem como goleiro no futebol profissional, mas não com aquelas armaduras.

Ainda existia essa minúcia. As armaduras eram prateadas, a luz que as tocava refletiam com mais intensidade ainda. Max nunca fora um grande admirador de penumbra, mas toda aquela luz quase incinerava suas retinas, embora ele se espantasse por conseguir manter os olhos abertos num recinto como aquele.

Deu alguns passos para trás, escondendo-se atrás de um pedestal.

O homem continuou a trajetória à diante, direção para qual Max ainda não havia volvido. Lá havia três tronos, o central era de, no mínimo, 18 metros de altura, os outros dois que o ladeavam não pareciam ter sido feitos para o gigante de João e o Pé de Feijão, mas para pessoas comuns... Ou pessoas de alturas humanas.

O trono principal era de algum metal que Max desconheceu, ligeiramente azulado, e muito brilhante, trazia uma espécie de desenho de sol gravado onde deveriam confortar as costas de um rei, provavelmente.

Os outros dois eram quase idênticos, porém o primeiro tinha um aspecto mais vivo, e estava virado de costas, o último era mais para inerte — o quão inerte um móvel pode ser — como se não houvesse sido ocupado por séculos infindáveis.

O homem alto fez uma reverência a cada um dos tronos, parecendo mais receoso perante o último.

“Kurt” disse, diante do primeiro trono, o que permanecia virado de costas.

“O que quer Adrien?” disse uma voz vinda do trono. Se Max já não ponderasse a ideia de estar ficando maluco antes, diria que aquela voz era muito parecida com a sua, ainda que imperativa e fria.

“Onde é que está o pai?”

“Foi encontrar-se com Hemera, por que almeja saber?” respondeu Kurt “Eu não já lhes disse isso ao alvorecer?”.

“Éris não vai gostar disso.” Resmungou. “Já faz muito tempo que não o vemos...” começou Adrien.

“Está desconfiando de mim? Ou pior, está desconfiando do pai?”

“Não, claro que não, eu...”.

“O que queria dizer a ele?”, perguntou Kurt, virando o trono para frente com um único gesto. O corpo de Max gelou ao ver do que se tratava. Ele via a própria imagem ali, porém um ou dois anos mais velho, e de alguma forma intimidante e temível. Os olhos pareciam faiscar.

“Tenho sinais dele”.

De repente a atitude autoritária de Kurt pareceu oscilar, os olhos intensamente azuis foram tomados pelo pavor unido ao rancor por um breve momento.

“É feio escutar conversa alheia” disse uma voz feminina, logo atrás de Max.

O rapaz se virou, deparando-se com uma moça de longos cabelos castanho-claros e olhos extremamente azuis. Devia ter dezenove anos e era muito bela. O mais curioso era que Max sentia uma familiaridade absurda com uma pessoa que desconhecia.

Ela arregalou os olhos ao o ver, em seguida voltou os olhos a Kurt, tornando a encarar Max.

“Você é... igualzinho ao meu pai”, disse ela, espantada.

Max franziu a testa. Kurt deveria ter dezessete anos, e tinha uma filha que parecia mais crescida que ele.

“Como é o seu nome?” perguntou ela.

“Max... Max Stone” respondeu.

A garota arquejou, levando as mãos à boca.

“O que...” começou ele, confuso em relação à forma de reagir da garota.

“Angel, você está aí?” a voz de Kurt ecoou pelo salão.

A garota fez menção de tocar a testa de Max com as pontas dos dedos.

Max abriu os olhos, sentando-se num pulo, sua respiração estava ofegante, e, a cada vez que arfava, seu peito ruía, como se ele tivesse alguma dificuldade respiratória. Seu corpo todo doía, e assim que ele encontrou foco, a dor alucinante que sentira nos olhos durante seu o sonho voltou. Fechou as pálpebras com força.

— Max? — escutou a voz de Claire chamando-o. Sentiu seus dedos abundantemente frios tocando-lhe o rosto.

Ela o tocava com cuidado demasiado, como se temesse que ele desmantelasse diante de seus olhos. Max estremeceu sob suas mãos. Não sabia se era a temperatura das mãos de Claire que estava baixa ou a de seu rosto estava alta.

— Chame Rick — disse ela a alguém.

Max quase franziu a testa. Com quem ela falava? Por que usava um tom tão aflito? Quem diabos era Rick? Ele só sabia que não podia ficar ali, tolerando a dor que fazia parecer que ele olhava, de cima de um monte, diretamente para o sol.

Desvencilhou-se de Claire, tentando levantar-se, mas percebeu que estava preso por tubos conectados em seus braços. Arrancou-os, franzindo o cenho ao sentir pontadas nos locais em que os canais estavam ligados.

Levantou-se e cambaleou até o corredor, ouvindo Claire alertá-lo de que não podia sair.

Max amparou-se numa parede, fechando os olhos firmemente. Seu corpo todo parecia em combustão. Quando abriu os olhos, notou que dois rapazes o observavam na varanda da Casa Grande.

O asiático disse ao ruivo:

— Olhe ele ali.

Max estava tão mal-humorado que não se importou em ser educado com eles.

— Quem são vocês? — grunhiu.

— Eu sou Yuri e ele é Aiden — disse o asiático de cabelos pretos, aproximando-se.

Max fez um sinal para que ele se detivesse.

— Perguntei quem são vocês, não seus nomes. — murmurou, rude.

Yuri e Aiden não se espantaram, como se já aguardassem tal comportamento.

— Ok. Eu sou Yuri, filho de Plutão e legionário da Quarta Coorte do Acampamento Júpiter. Ele é Aiden, filho de Júpiter e, hã, meu cúmplice.

Max o encarou. Aiden parecia desconfortável com a expressão que Yuri utilizara.

— O que estão fazendo aqui? — perguntou Max, um pouco mais sossegado.

— Desejamos algumas respostas sobre a “catástrofe” da Corrida de Bigas — especificou Aiden.

Max voltou a enfadar-se.

— Eu não sei de nada. Não sei que porcaria era aquela que me atacou e não sei por quê.

— Tudo bem, disso estamos cientes. Podemos ajudá-lo a descobrir o que foi. — objetou o filho de Júpiter, tranquilizante. Yuri o encarou, descrente.

— Podemos? — indagou.

— Podemos. — confirmou Aiden.

Max seguiu o olhar de Aiden para Yuri e de volta para Aiden.

— Então diga logo, merda! — esbravejou, pressionando as têmporas.

Aiden engoliu em seco. Max cerrou os punhos.

Dylan apareceu no mesmo instante, com o passo acelerado, ao lado de um dos curandeiros. Um de cabelos ruivos com matiz levemente dourada.

Deu batidinhas nos ombros de Max e enunciou:

— Eles só querem ajudar, Maxie. Vamos, tem de voltar para a ala médica.

Max percebeu que estava agindo de maneira acirrada, concordou em voltar para a enfermaria. Sentou-se na cama. Claire estava em uma cadeira ao lado.

O sonho inusitado que tivera ainda ocupava seus pensamentos de forma que chegava a incomodá-lo. Quem era Angel? E Kurt, que tinha o mesmo rosto que o seu? Que lugar era aquele e por que merda ele havia sonhado com aquilo? As opções eram escassas. Ele estava ficando biruta ou só alucinado mesmo.

— Beba devagar — Rick ofereceu um copo com néctar para Max e saiu.

Max fez o que ele disse, sentiu as dores desaparecerem aos poucos, embora ainda se sentisse ridiculamente débil.

— Como estão os outros? — perguntou.

Dylan e Claire trocaram olhares inquietos.

— Muitos saíram feridos, mas não tão gravemente quanto você. A maioria já deve ter retornado aos chalés.

Max não se lembrava nitidamente do que havia acontecido em seus últimos instantes de consciência, longe disso. Sua cabeça parecia girar, mas ele estava aliviado por Claire e Dylan estarem bem.

— Lembra-se de Reyna, certo? — inquiriu Dylan. Max franziu a testa, desconfiado e pego de surpresa pela questão, mas assentiu, recordando-se de ter conhecido Reyna quando esteve no Acampamento Júpiter. — Acho que ela pode nos dizer o que aconteceu, bom, ela nos enviou aqueles dois porque almeja informações.

Claire olhou para o irmão, surpresa.

— Acha que devemos falar com ela? — perguntou. Dylan assentiu. Saiu da ala e voltou acompanhado por Yuri e Aiden.

— Reyna vai me dizer algo na Principia esta noite — explicou Yuri. — Acho que é algo que pode estar relacionado a todas as coisas esquisitas que aconteceram recentemente.

— Coisas? — indagou Max.

— Sim. O ataque na Corrida de Bigas, a aparição de dois dos nossos campistas que vimos perecer...

Aiden entrelaçou os dedos das próprias mãos, sentado ao lado de Claire.

— O que Reyna gostaria de saber? Ela já tem ciência do que todos nós temos. — disse. Yuri olhou para ele, com uma expressão inusitada, como se tivesse pensado em uma ideia brilhante.

— Acho que já sei de quem ela esperava uma resposta. — os quatro olharam para ele, ambíguos. — Eu estava no Acampamento Meio-Sangue quando os magos vieram para cá. Max, o que Leah estava fazendo quando a encontrou?

Max o encarou, desconfiado, mas logo voltou o olhar para o chão.

— Estava sozinha... na floresta. — murmurou a última palavra vagarosamente, como se tentasse compreender.

Aiden olhou para Yuri, inquisitivo.

— Por quê? De que isso importa? — indagou Max.

Yuri contemplou o pôr do sol através da vidraça, pensativo.

— Já está quase na hora do jantar, acho que posso respondê-lo depois. — proferiu.

Uma garota loura apareceu próxima ao batente, ela pediu que os semideuses se retirassem, com a exceção de Max, que, de acordo com ela, precisava de descanso.

Max nem pensou em discordar. Sua cabeça latejava, deixando-o desnorteado, ele mal se amparava sentado e tudo o que desejava era dormir, sem sonhos esquisitos que haviam o acabrunhado mesmo uma semana antes de conhecer o acampamento. Deitou-se e fechou os olhos, sentindo a brisa morna tocar-lhe o rosto.

Quando quase adormecia, ouviu um som áspero vindo do lado de fora e um vento forte o atingiu, levantou-se e abriu as cortinas. O clima estava muito frio, o céu limpo. Max pegou sua espada, uma cimitarra, que estava ao lado da cama, no piso.

Pensou ser supérfluo, já que estava dentro do acampamento, que tinha a redoma fornecida pelo Pinheiro de Thalia, mas quando pensou em largá-la, ouviu um ganido vindo dos fundos da Casa Grande.

Sem pensar, pulou por sobre a cerca da varanda e caminhou até lá, evitando fazer muito barulho ao pisar no cascalho. Abaixou-se quando passou por uma janela e, quando chegou ao seu destino, viu um lobo choramingando sob as sombras das árvores. Ele era grande, seu pelo denso era cinzento, numa mescla de preto e branco, tinha olhos prateados e parecia sentir dor, contorcendo-se de forma agoniada.

Max caminhou até ele, largando a cimitarra e tocando seu pelo macio, buscando algum sinal de ferida. Deixou um arquejo escapar quando encontrou um corte dilatado e fundo nas costas do animal. Examinou-o atentamente, mas logo outro ganido distraiu-o. Ergueu o olhar e viu outro lobo descendo a rolar pela Colina Meio-Sangue. Quatro vieram depois dele.

Max notou que o lobo diante dele já havia falecido, caminhou até o outro, notando que a ferida era exatamente como a do primeiro. Correu colina acima, esperando encontrar o responsável por aquilo, mas não encontrou nada mais que seis lobos mortos.

Abaixou-se, buscando algum vestígio do que poderia ter sido. Viu um par de pegadas humanas, no formato exato de solas de coturnos. E o que o surpreendeu era que estava sob a proteção do acampamento.

Pelo fato de estar sobre a elevação, provavelmente o que havia feito aquilo não vinha de dentro, mas era um semideus, possivelmente. E de onde provinham aqueles lobos?

Max esperou que alguém o visse ali, mas ninguém apareceu. Desceu de volta à Casa Grande e entrou pela porta da frente, com afobação.

Quíron e o Sr. D estavam na sala de estar, acompanhados de Yuri, Aiden, Claire, Dylan, Annabeth e Percy Jackson. Os sete olharam para Max, impressionados.

— Você não devia estar na... — começou Percy.

— Enfermaria — completou Max — Isso não é importante agora. Tem quase uma dúzia de lobos mortos lá fora.

Todos — exceto por Quíron, que estava em sua cadeira de rodas — levantaram-se, atônitos.

— Lobos? — indagou Yuri.

— Ártemis os mandou há algumas horas, ela sabe que coisas estranhas têm acontecido pelos bosques de Long Island. — explicou Quíron.

— Ela bem que podia fazer algo mais favorável. — resmungou o Sr. D, bebericando sua Diet Coke — Que é que pode ser tão insolente para resistir a Ártemis e suas caçadoras?

Percy revirou os olhos enquanto saíam da Casa Grande. Quando se aproximaram do local em que o primeiro lobo jazia, Annabeth agachou ao lado do animal, examinando a ferida em seus flancos.

— Foice — murmurou, unicamente.

— Tem mais — disse Max, conduzindo-os até a Colina Meio-Sangue, com Quíron já fora da cadeira de rodas.

Peleu, o dragão que resguardava o Velocino de Ouro, roncava pesadamente sobre um tronco do Pinheiro de Thalia. Annabeth cutucou-o com o dedo, mas ele não reagiu.

— Parece que foi enfeitiçado — proferiu. — Temos de ser gratos por estar vivo, ao menos.

Dionísio estalou os dedos e Peleu abriu os olhos, desorientado e quase escorregando do tronco da árvore.

Max abaixou-se ao lado das pegadas, que logo prenderam a atenção dos demais.

— Coturnos. — murmurou.

Percy e Yuri agacharam.

Max encaixou seu pé sobre a pegada. Equivalia perfeitamente, se a sola de seu coturno não fosse diferente, ele se avaliaria encurralado.

— O tamanho é 9,5. — informou. — Só pode ser masculino.

Aiden recostou-se no Pinheiro de Thalia.

— Se alguém matou esses lobos é porque, muito provavelmente, pretende agir contra o acampamento. O desastre na Corrida de Bigas aconteceu há mais de seis horas. Isso pode significar que...

— Algo mais acontecerá. — completou Percy.

Quíron comprimiu os lábios.

— As atividades para hoje já foram cortadas. Vamos mandá-los para cama mais cedo, não haverá cantoria na fogueira esta noite. Também devemos bloquear o portal ao Acampamento Júpiter.

— Sem dúvidas. Quanto mais contido, mais simples de pegar o responsável — disse o Sr. D.

— Teremos de estar à espreita, só assim para descobrirmos do que se trata. — proferiu Annabeth.

Percy levantou-se e umedeceu os lábios, descontente.

— Vou falar com o Grace, o Valdez e os Stoll. Precisamos fazer algo depressa. — afirmou, fazendo menção de descer a colina. Annabeth o conteve.

— Chame Reyna e Piper — disse, Percy assentiu e desceu.

Os outros regressaram à Casa Grande.

Quíron e o Sr. D discutiam em voz baixa. Annabeth olhava o lado de fora através da janela. Yuri, Aiden e Claire conversavam abertamente sobre heróis contemporâneos que eram bastante populares, entre eles Thalia Grace, Percy Jackson, Luke Castellan, Leo Valdez e etc.

Dylan estava quase adormecendo num canto, sentado no chão com as costas apoiadas na parede. Suas pálpebras estavam fechadas e sua cabeça pendia ligeiramente para trás.

Max se esquivava quando os outros tentavam puxar assunto com ele, respondendo com poucas palavras. Sua cabeça doía e ele ainda se sentia fatigado. Ele também estava no chão, apoiado na parede e procurando descansar enquanto podia.

Percy apareceu mais de meia hora depois, escoltado de seis pessoas, amarrotando ainda mais a sala de estar.

Max já havia visto os Stoll e o Valdez diversas vezes pelo Acampamento Meio-Sangue. Travis e Connor Stoll eram uma dupla dinâmica, gêmeos e filhos de Hermes, tinham cabelos ondulados, olhos azuis e estavam sempre com um sorriso mal-intencionado no rosto, que lembrava aos demais a conferirem se continuavam com seus pertences. Travis era um pouco mais alto que Connor.

Leo Valdez era filho de Hefesto, um dos sete semideuses responsáveis por salvar o Olimpo e o mundo, derrotando Gaia, a terra. Seus olhos eram escuros, a pele morena e os cabelos cacheados eram castanhos. Assim como Travis e Connor, era aparentemente maroto.

Além deles veio Jason Grace, acompanhado de Piper e Reyna. Evidentemente Percy já havia relatado o motivo de estarem ali. Cumprimentaram aos outros.

Quíron foi quem primeiro se pronunciou sobre o assunto:

— Reyna, é uma honra recebê-la aqui, Yuri nos disse que você tinha algo a contar.

Reyna assentiu.

— Tenho especulações, mas não sinto que deva compartilhar com todos vocês.

Quíron entendeu o que ela expressava ligeiramente.

— Aiden, Claire, Dylan... — murmurou, somente. — Quando tivermos uma resposta chamaremos vocês.

Os três assentiram e se retiraram.

Max pensou que teria de sair também, mas ele não iria se fosse requerido. Aquela coisa havia tentado matá-lo.

Os outros ocuparam os sofás.

— Atena me contou uma história há algum tempo, eu e Reyna compartilhamos de tal conhecimento. — declarou Annabeth — Atena me disse que alguns flagelos aconteceram há centenas de anos. Houve três semideuses que bateram forças rebeldes que agiam contra o Olimpo.

— Eles se deram muito bem. Um deles se tornou um deus menor, outro obteve imortalidade e passou a servir e aconselhar sua mãe, o outro recusou as propostas para que pudesse viver com sua amada — completou Reyna, olhando, de soslaio, para Percy ao pronunciar a última frase.

— O primeiro vivia nos domínios de seu pai. No quarto século após Cristo, ele havia recebido a notícia de que sua mãe seria executada no fórum de Roma, acusada de praticar magia das trevas contra o Olimpo, ela seria jogada no Tártaro sem piedade. — disse Annabeth — O semideus se revoltou, tendo ciência de que sua mãe não havia feito nada do que fora decretado, afrontou ao pai e matou um dos próprios irmãos após não conseguir ajuda divina e nem consentimento do pai para se envolver no assunto. Como consequência, foi despejado do céu superior e morreu na queda.

Annabeth deu brecha para que Reyna continuasse.

— Após cerca de mil anos, houve especulações de que ele estava de volta, vigoroso e muito mais poderoso, planejando vingar-se de seu progenitor ao unir-se às forças opostas.

— O que aconteceu depois? — questionou Yuri, ansioso.

— Foi como história para assustar criança, pois nos anos seguintes ele estivera em silêncio profundo, não foi mais mencionado por muito tempo, porém os deuses não haviam o esquecido. — esclareceu Annabeth.

— O que liga os acontecimentos atuais a esta história? — questionou Jason, ajeitando os óculos no rosto.

O Sr. D remexeu-se, incomodado. Ele deu uma olhadela rápida para Max, como se aquilo explicasse tudo.

— O quê? — indagou Max, alheio à informação, os outros, exceto por Quíron, Annabeth, Reyna e o Sr. D também pareciam inquisitivos.

Quíron aproximou-se de Max, pousando a mão em seu ombro, solidário.

— No tempo certo saberá, não podemos lhe colocar a mercê de mais ameaça. — murmurou.

Max o encarou, questionador.

— Acredite, informação é realmente muito perigosa. — afirmou Percy, respondendo aos pensamentos de Max. Ele não estava sendo irônico.

— Podemos continuar esse debate depois — disse o Sr. D. — Tenho ocupações agora.

— Essas “ocupações” seriam uma novela da TV Hefesto? — perguntou Percy, sarcástico.

O Sr. D o fuzilou com o olhar, o rosto corado de raiva.

— Claro que não, Johnson!

Quíron sorriu.

— Está na hora do jantar — disse — E você, Sr. Stone, vai voltar à enfermaria.

Max bufou, mas não contestou. Aceitou a ajuda de Yuri para se erguer e escoltou os outros ao lado de fora, retrocedendo à enfermaria em seguida.

Quando lhe ofereceram comida, recusou de primeira, mas a enfermeira loura o encarou com tanta irritação que ele mudou de ideia.

Logo após, deitou-se novamente, sentindo as pulsações dolorosas na cabeça. Não teve tempo de pensar em tudo o que havia acontecido e em toda a história que havia escutado, pois o sono veio tão rápido e inevitável quanto à brisa.