Leah 2

Não Topem com Vampiros


Harry sabia exatamente dos efeitos que seus beijos causavam em Elena e esperava que isso lhe ajudasse durante a mordida, esperava que seu "feitiço lupino" amenizasse a dor de seu veneno, mas nada havia dado certo e seu plano B tornou-se um grande fiasco. A dor não pôde ser contida, Elena gritara devido ao veneno que a consumia e agora estava desacordada. Contudo, ele sabia que, apesar de inconsciente e de seu rosto inexpressivo, ela ainda podia sentir o queimar de seu corpo em seus sonhos.

O jantar daquela noite estava oficialmente cancelado e Harry não tinha palavras para se explicar à Lyssa, que observava a filha de forma pensativa.

― Coloque-a no quarto e vá para casa! – pede ela, ainda um pouco desorientada.

― Quero ficar, por favor, quero estar aqui quando ela acordar.

Lyssa permanecera em silêncio, apenas acenando afirmativamente com a cabeça, sem saber o que pensar sobre o acontecido.

O mestiço passa os braços por baixo do corpo de Elena, pegando-a no colo e apertando-a levemente contra seu peito, sentindo sua fera interior pulsar forte com aquela aproximação, bem mais forte do que de costume, como se tentasse lhe dizer que estava satisfeito.

No aconchego de sua cama, Elena dormiu por dois dias inteiros. Harry ia vê-la sempre depois da escola e permanecia ao seu lado, na cama, até o anoitecer, quando Lyssa o enviava de volta para casa antes que pegasse no sono. Poucas palavras foram trocadas entre eles, visto que o silêncio parecia dizer mais coisas do que qualquer outra palavra naquele momento. Porém, na manhã do terceiro dia, quando o Sol já estava a pino, Elena abre os olhos.

De início a claridade ofuscava sua vista, obrigando-a a fechar e abrir os olhos várias vezes, para se habituar. Ela olha ao redor um pouco atordoada, sentindo a secura de sua garganta, parando ao ver que havia alguém sentado no chão, ao lado de sua cama. Harry estava brincando distraidamente com os fiapos do tapete desde que chegará a casa das Noolan, e mal notara seu despertar.

― Harry – chama ela com voz rouca, sentindo a sede atrapalhar sua fala.

O mestiço levanta-se do chão com um salto, indo imediatamente para o lado da humana.

― Você está bem? Precisa de alguma coisa? – pergunta afobado.

― Água – resmunga com sua voz rouca.

Ele corre até a cozinha e retorna em poucos segundos, trazendo Lyssa consigo, que desejava saber o porquê de quase ter sido atropelada no andar de baixo e de Harry ter subido as escadas de três em três degraus. E qual não foi sua surpresa e satisfação, ao perceber que sua filha havia acordado.

― Precisa de mais alguma coisa? – pergunta Harry a analisando.

― Sim – responde depois de esvaziar o copo d'água, sentindo um grande alívio na garganta. – Preciso saber: o que aconteceu? Sinto como se um caminhão tivesse passado por cima de mim... Não me lembro de ter dormido e muito menos de ter retornado para o quarto.

Harry suspira profundamente e, pacientemente, conta tudo o que lhe acontecera, desde o seu estranho sonho, até o momento em que ficaram sozinhos e ela apagou completamente. Era possível notar o tom melancólico e culpado de sua voz, como se sentisse o peso de seu sofrimento sobre os ombros.

― E então eu a mordi – encerra ele, encarando os olhos arregalados de Elena.

― Você me mordeu? – exaspera-se – E nem sequer me contou antes? – esbraveja histérica, distribuindo tapas por toda a extensão de seu braço. – Eu poderia ter me preparado psicologicamente para isso, sabia? Você não pode fazer as coisas assim, tão de repente!

― Me desculpe, eu só queria protegê-la de mim mesmo...

― Você me pegou de surpresa!!! – continua a tapeá-lo, ignorando suas reclamações. – Me deu um susto enorme. Sem contar que aquela mordida doeu pra inferno, sabia?

― Ai, Elena isso machuca!

― É um alívio vê-la finalmente bem – murmura Lyssa, sentindo um alívio imenso invadir seu coração. – Vou deixá-los a sós por hora, já que possuem muito o que conversar. – diz, se retira para preparar uma boa refeição para a filha.

Elena nem sequer a escutara, concentrando-se apenas em punir Harry, que agora protegia a própria cabeça de seu ataque histérico. É claro que era de sua vontade se transformar numa lobisomem, mas esperava saber quando fosse a hora e, ser pega desprevenida daquela forma, a deixou com o humor bastante alterado.

― Você quase me mata do coração! – briga ela, ainda deferindo tapas, lembrando-se cada vez mais do evento, conforme pensava sobre ele.

― Ai, isso dói de verdade, dá pra parar?

― Como se meus tapas pudessem realmente machucá-lo – ironiza, finalmente parando.

Quando enfim se acalma, Elena pôde ver a vermelhidão no braço que Harry usava como escudo. Seu rosto, antes emburrado, agora expressava surpresa diante do que suas meras mãos humanas puderam fazer.

― Ai meu Deus, me desculpe, Harry – pede, abraçando-o de repente. – Não sabia que podia fazer isso!

― Não podia – comenta ele, alisando o próprio braço para dissipar o ardor –, mas agora pode. Você não é mais "apenas uma humana".

― Isso quer dizer que agora eu sou... – sussurra, engasgando antes de mencionar a última palavra.

― Sim, você é uma lobisomem.

Aquelas palavras soaram como música aos ouvidos de Elena. Harry realmente atendera seu pedido e agora ela não era mais uma caçadora, havia se tornado alguém como ele. Mas qual seria o próximo passo a ser tomado? Ela ainda poderia estar no planeta Terra, mas não pertencia mais ao mundo dos humanos e não sabia o que fazer quanto a isso.

Elena afrouxa os braços do pescoço do mestiço, alisando carinhosamente seu braço ainda vermelho, levantando os olhos em seguida, para encará-lo olhos nos olhos. Harry ainda parecia o mesmo, mas, será que havia algo de diferente nela?

― E agora? Já posso me transformar? Mudou alguma coisa em mim?

― Aparentemente, não mudou nada, continua a perfeita Elena de sempre. Fisicamente, já posso sentir sua força aumentar. – Coloca a mão no coração de Elena, fazendo-a trancar a respiração. – E interiormente, posso sentir que ela já está aqui dentro.

― Ela? – pergunta num fio de voz.

― Sua fera. – murmura, fechando os olhos. – Posso senti-la dentro de você. Ela já está ai, mas só poderá sair na próxima lua cheia, nem mesmo uma transformação voluntária é possível no momento.

― E até lá, o que acontece comigo?

― Acho que você apenas perceberá seus sentidos se aguçarem, assim como percebemos o aumento de sua força. Creio que nada de ruim vai lhe acontecer nesse meio tempo...

Harry segura as mãos de Elena e as levanta, unindo suas palmas, sentindo cada célula de seu corpo reconhecer que agora ela era como ele. O almoço em família, naquele dia, fora o melhor de todos os tempos, e Elena saboreava a comida de sua mãe com gosto e voracidade, deixando nítido o seu aumento de apetite.

Lyssa parecia não se importar com as novas condições de sua filha, contanto que ela permanecesse a salvo e bem, pois, por dentro, ela continuaria a ser sua querida filha Elena. Além disso, ela agora teria alguém forte o suficiente para lhe abrir os potes de picles, e isso nunca era uma coisa ruim.

― Vamos dar uma volta – sugere Harry após a refeição, ansioso –, sinto falta da sua companhia.

Elena sente algo se agitar dentro de seu peito com aquele elogio e prontamente aceita o convite, não podendo deixar de sorrir com tudo aquilo e com a perspectiva de definitivamente fazer parte do mundo de Harry.

Quase uma hora depois, após irem ao cinema e desistirem do entretenimento por não gostarem de nenhum dos filmes em cartaz, Harry estaciona o carro numa loja de conveniências, bem ao lado de um carro que parecia ser caro e de última geração. Elena salta do veículo alegremente, sentindo-se estranhamente bem-disposta e feliz, como uma criança que recebera um novo brinquedo.

Harry desce do carro em seguida, achando graça em toda aquela empolgação e tentando imaginar qual seria a cor de sua pelagem, quando enfim viesse a se transformar. Ele passa o braço pelas costas da Elena, estimulando-a a fazer o mesmo. Eles pertenciam um ao outro e nada mais os impediria de ficarem juntos.

― Espero que tenha dinheiro, Harry, trazer uma garota às compras é gasto na certa! – brinca ela.

― Estou vendo que sairei daqui mais pobre do que já sou – caçoa.

O casal se aproxima da porta de vidro da loja e Elena sente seu corpo ser segurado repentinamente por Harry, ainda do lado de fora. O mestiço estava tenso, porém, foi somente quando seguiu o seu olhar hostil, que ela percebeu a presença da família Cullen, do outro lado do vidro.

Edward e Bella encaravam lobisomem com a mesma tensão e hostilidade, visto que apenas uma fina camada de vidro os separava de uma luta entre inimigos mortais. Contudo, Elena parecia não se dar conta da gravidade da situação.

― O que houve? – sussurra confusa.

― Vampiros. – Torce o nariz. – Temos que sair daqui, agora!

Entretanto, antes que Harry pudesse recuar, Renesmee se aproxima dos pais e percebe a presença gratificante do Clearwater. A híbrida acena com evidente empolgação, fazendo toda a alegria de Elena sumir e a raiva surgir com igual rapidez.

― Vamos embora – diz Elena, puxando Harry pelo pulso e guiando-o até o carro, que estava a alguns metros de distância.

Nessie sai da loja apressadamente, mesmo sob as reclamações de Bella. Edward tenta segui-la, mas sabia não poder se aproximar do lobisomem, sem que isso causasse sua transformação e um conflito desastroso.

― Ei, Harry, espere! – pede a híbrida, segurando a mão livre do mestiço, fazendo-o parar. – Não vai me cumprimentar?

― Não – responde Elena em seu lugar. – Vocês são vampiros e não podemos ficar no mesmo recinto.

― Caso não tenha notado... – Sorri presunçosa. – Sou mestiça e meu cheiro não faz mal a ele. Somos muito parecidos em diversos pontos.

― Solte-me, tenho que ir embora – pede Harry tentando não ser grosseiro.

― Acabou de chegar, por favor, não vá embora – diz Nessie, entrelaçando seus dedos aos dele.

Harry sente seu corpo estremecer com aquele contato estranho, um tremor de desagrado e rejeição. Porém, antes que pudesse pronunciar ou fazer qualquer coisa, Elena se coloca em sua frente com evidente raiva, separando suas mãos.

― Já lhe disse que ele tem um imprinting, e que, consequentemente, tem uma namorada. Isso não quer dizer nada pra você?

― Não ligo! Você não significa nada para mim, e isso quer dizer que pode ser facilmente ignorada.

Elena sente a raiva crescer e saltar de seus lábios na forma de um rosnado, gesto este que causara certo espanto na híbrida, fazendo-a recuar alguns passos. Em outros tempos, ela poderia até sentir vergonha do ocorrido, mas aquele rosnado enchera seu corpo de energia e coragem, lembrando-a de que agora ela não era mais uma mera humana.

― Que nojo, que raio foi isso? – questiona Nessie com desdém.

― Não é óbvio? – diz Harry tomando a palavra, orgulhoso. – Isso foi um rosnado... O rosnado de minha companheira lupina.

― Lupina? – surpreende-se Edward de onde estava, temendo ainda mais pela vida de Renesmee. – Você a transformou numa lobisomem?

― Sim – Sorri Harry, vitorioso, enquanto Elena não retirava os olhos de Nessie. – Eu a mordi bem aqui – explica ele, retirando os cabelos da menina do pescoço e beijando o local onde lhe mordera.

Mais uma vez, Elena sente algo se remexer e se alegrar dentro de si, deliciando-se com o rosto incrédulo da meia-vampira. O mesmo sentimento de vitória parecia tê-la dominado, pois o sorrisinho presunçoso de Harry também estava estampado em sua face.

― Sabe o que isso significa, Renesmee? – pergunta Elena lentamente, enfatizando o nome da híbrida. – Significa que, se você se aproximar de Harry com as mesmas intenções da última vez, teremos uma conversa muito séria, de igual para igual, de ser mítico para ser mítico! – ameaça.

Neste momento, e, por um breve segundo, Nessie pôde ver um cintilar vermelho nos olhos de Elena, como se não fosse mais a humana falando, mas o monstro dentro dela.

Renesmee se retira rapidamente, sentindo uma mistura de medo e revolta em seu coração, mas acreditando que aquilo não seria o suficiente para pará-la. Nem mesmo a bronca de seus pais, que, com certeza, viria a seguir, seria capaz de fazê-la esquecer seu súbito interesse pelo mestiço.

― Que menininha corajosa você se tornou – sussurra Harry após entrarem no carro.

― Não me provoque, Harry, ainda estou com raiva daquela magricela esquisita. – Vira-se para olhá-lo.

Harry acha graça em seu nervosismo e pôde ver, também por um momento, a coloração avermelhada de sua lobisomem no profundo de seus olhos. Ele sorri de orgulho e empolgação, puxando-a repentinamente para mais perto e tomando seus lábios num beijo que ele sabia que a derreteria, mas que também passava a surgir o mesmo efeito sobre ele.