Le Téâtre Imaginaire.

Porcelain innocence.


A casa era muito grande para uma garotinha sentir-se confortável enquanto sozinha. Tinha muito espaço vazio, e cômodos assustadores. Era inegável que aquele mausoléu gigantesco escondia segredos, em algum lugar. Fazia um ano que Mary estava morando lá com seus tios depois da trágica morte de seus pais, e até agora ela não tinha entrado em todos os quartos. Até agora não tinha pronunciado uma única palavra. Até aquele presente momento, apesar de sua gentileza para com as pessoas, ela não havia feito nenhum amigo. Apesar de ter seus treze anos, Mary era bem esperta. Tinha uma aparência angelical, lisos cabelos negros que batiam na cintura e grandes olhos azuis claro contornando uma pele alva e macia. Tinha uma estatura menor que a das garotas de sua idade, e seu corpo era pouco ou mesmo quase nada desenvolvido, dando-lhe aparência de ser ainda mais jovem do que era.

Ela se sentia terrivelmente solitária. Antes estivesse com a sua irmã mais velha, Verônica, que estava estudando em outro lugar distante daquele. Sentia falta de tudo, e tinha somente todas as coisas que ela mais odiava a sua volta. Ninguém para confiar, não tinha mais família.

... Não tinha para onde fugir, a não ser sua própria mente...


Seus tios não eram a mesma coisa que seus pais, só sentiam tanta falta deles como ela mesma sentia. Principalmente seu tio Christian, irmão de sua mãe que trabalhava muito fora e sempre trazia várias bugigangas que Mary adorava e infestava seu quarto dessas coisas. Sua tia Eleanor passava seu tempo satisfazendo suas necessidades consumistas e sociais. Ela era jovem e bonita. Assim como ele.

Na escola ela não se enturmava, e muitas crianças diziam que ela não era normal, e como podem ser cruéis a tal ponto de falar de seus pais... Os pais de Mary, como se os conhecesse. Ela fora suspensa diversas vezes por agredir física e psicologicamente mais de um colega, por justamente fazerem o mesmo com ela, porém na vez dela dar o troco o efeito era em dobro. Apesar da terrível fama de anormal, ele era um o amor em pessoa. Havia gentileza em suas veias, ela se doava para uma causa positiva sem pensar duas vezes. Apesar de ser tão jovem... Apesar de tudo.

O tempo passou e ela cresceu. Cabelos curtos, olhar distante. Coração ferido.

Mary calou-se de vez, já não fazia nada mais daquilo que gostava de fazer. Trancava-se em seu quarto a maior parte do tempo. Suspirando, choramingando. Sentia vontade de fugir para bem longe daquele lugar, para um onde pudesse ter paz em seu coração. Mas era só uma criança... Ela era somente uma criança sentindo-se a mais sozinha do mundo, pois nem todos aqueles brinquedos satisfaziam sua necessidade de felicidade, de amor... Tudo era escuro, tudo era ódio, tudo era tristeza. E então uma luz... Apareceu.

Das profundezas de seu triste coração vazio surgiu algo belo, que aparentava humanidade. Exceto por seus olhos vermelhos que o denunciavam.

Sua tristeza o alimentava. Seu comportamento autodestrutivo o fazia crescer.

Ele intitulava-se de Vincent.