O Quartel General de Derek Noles, um dos maiores falsificadores da Inglaterra, ficava em uma rua movimentada de Lambeth, às margens do Tâmisa.

Derek Noles era um criminoso notável. Era pouco sucinto à violência. Suas falsificações não eram das mais variáveis. Ele se especializara no ramo de falsificação de identidades e qualquer coisa que envolvesse caligrafia. Diziam que Derek era um notável aluno da Academia de Artes, que fora expulso por chantagear um dos professores com uma carta falsificada. Obviamente, esta era uma lenda que ninguém poderia confirmar a veracidade. Não se sabe se isto, ou o péssimo comportamento, tinha expulsado Derek da Academia e o lançado diretamente ao Ateliê do Crime Organizado.

Curiosamente, Derek Noles fora informante de Holmes em um caso importante, ainda que de maneira inconsciente. O detetive simplesmente invadira sua casa em alta madrugada e pesquisara em seu caderno de clientes. Manter um caderno de clientes era uma maneira inteligente que Derek encontrara de evitar ser delatado. O cliente que requisitasse alguma falsificação simplesmente assinava seu nome. Isso evitava denúncias. Por isso Derek permaneceu sempre tão firme no negócio, jamais sendo citado à polícia, embora a Yard desconfiasse de suas atividades.

Holmes estava no bairro de Lambeth, em frente à casa de Derek. Era de lá que saíam as mais perfeitas falsificações que um criminoso poderia requisitar. Identidade, cartas, qualquer coisa que alguém poderia pedir, saíam dos dedos de Derek Noles, que por sinal vivia uma vida pacífica, com mulher e duas crianças, longe de aparentar ser um criminoso. Era justamente esse jeito disfarçado que fazia sua casa ser escassamente vigiada. Talvez porque era do conhecimento de pouquíssimos a exata localização do “Ateliê” do criminoso.

Holmes sabia que a porta de trás era pouco vigiada, e que a escada ficava apenas alguns metros. Essa era uma maneira de entrar, mas arriscada demais. A melhor maneira de acessar o ateliê era escalando as janelas.

Foi o que Holmes fez. Com agilidade, e também cuidado ao abrir a janela, Holmes teve acesso ao local. Uma pequena escrivaninha e uma cadeira adornavam o local, que também tinha prateleiras abarrotadas de pastas e, é claro, muito papel, desde envelhecidos a recentes, dividos por épocas. Havia papel até com envelhecimento de setenta anos, ideias para testamentos e propriedades falsas. Sobre a mesa, uma intensa variedade de tintas e penas. Lápis também eram extensos, além de papéis onde se via, claramente, que ele testava a caligrafia que iria copiar, tal como o rascunho de uma obra de arte dos tempos da Academia.

Ele encontrou, então, a gaveta trancada onde Derek mantinha seu caderno. O trinco era dos mais fáceis de abrir, e não tomou muito tempo de Holmes. Seus dedos suavam, diante da expectativa de saber, afinal, que as cartas de Siger Holmes eram falsificadas. Holmes já tinha plano de levar aquele caderno, ainda que isso custasse a ruína de muitos criminosos clientes do falsificador, e inclusive o próprio Derek, mas ainda assim seria insuficiente. Seria necessário também as cartas de seu pai.

Ele passou suas mãos por aquelas páginas e encontrou algo curioso.

Outubro, 1894. 12. Marjorie Eccles.

3 Cartas de 5 páginas, cada, em nome de Siger Holmes. P2CB

Marjorie Eccles. Onde esse nome lhe era familiar?

Ainda submerso em sua procura, Holmes continuou a procurar pelas prateleiras sendo guiado pelo código. Finalmente encontrou a pasta, na prateleira dois, coluna B, o que estava procurando.

Dentro da pasta, estavam as cartas de seu pai, Siger Holmes, mencionadas por Mr. Morgan. Holmes pôde distinguir claramente a caligrafia forte e floreada de seu pai, típica dos homens mais velhos. De fato, as cartas era extensas, e estavam envolvidas em uma página de couro, assim como todos os documentos arquivados. Provavelmente, era uma maneira de Derek Noles de preservar o documento de qualquer dano.

Sem pensar duas vezes, Holmes arrancou a página de couro, que continha as cartas de seu pai, e as colocou no bolso de seu terno, ainda dobradas. Enquanto estava se organizando para manter tudo em seu lugar, um estalo veio à mente de Holmes.

Fui até o Bank of Manchester, onde o gerente me deixou a par dos saques da conta 12.445-7, em nome de Armand Livington. Descobri que uma mulher chamada Judy Reinolds apresentou uma procuração e fez a abertura da conta, três dias antes do Colégio começar a depositar. Também descobri que a conta tinha apenas um movimentador autorizado. Você, Miss Violet Hunter.

–Ela se apresentou como... Marjorie Eccles.

Oh, Deus! Era a mesma golpista que ajudara Miss Hunter!

Ainda estático com sua descoberta, Holmes fora, de repente, pego de surpresa por uma mão, que juntamente a seu braço, cobriu-lhe a barriga e o empurrou para trás. Foram apenas alguns centímetros, mas o suficiente para que Holmes sentisse a lâmina de uma faca atravessar-lhe a barriga por completo. A dor do golpe fora intensa, a ponto de deixa-lo sem reação. Ele olhara apenas para baixo, enquanto a faca enterrava-se, sem hesitação, sobre sua carne na região das costas, até finalmente ele ver sair sua ponta, do outro lado de seu corpo. Olhara e vira o sangue que escorrera, incrédulo e paralisado com a dor, que parecia ter-lhe roubado a faculdade mental, mas não o suficiente para que ele se atentasse a uma coisa.

Uma mão feminina, envolvendo sua cintura. Seus olhos estavam trêmulos, mas ele sequer pôde imaginar o grau da dor que viera a seguir, quando o metal que atravessara seu corpo foi, finalmente, puxado sem o menor cuidado e rapidamente, dilacerando com maior gravidade seu ventre já injuriado.

Depois, tudo tornou-se negro a ele.