Laços

Capítulo 1 x 16


Beatriz

As férias de julho haviam terminado e Beatriz e Noah não haviam voltado a se falar. Ela havia tentado varias vezes ligar pra ele, porém ele recusava suas ligações. Beatriz não queria ligar pra ele para pedir desculpas, o que ela queria de fato era explicar a ele que tinha os seus motivos para fazer o que fez. Mesmo que esse motivo não fosse plausível.

Era manhã de segunda feira, Beatriz sabia que na volta das férias de julho no primeiro dia haveria uma reunião no auditório com os alunos tomando os dois primeiros tempos. Então ela podia aproveitar para ler um pouco, ou dar uma olhada no seu cronograma de atividades para aquele semestre. Assim que chegou a sala dos professores, reparou que a sala estava cheia com os seus colegas de trabalho. Ela saudou a todos com um bom dia e foi tomar um pouco de café.

O sinal tocou e todos os professores seguiram até o auditório, menos Beatriz que preferiu ficar na sala. 5min se passaram quando ela ouviu alguém dizer: hei! . Ela olhou para ver quem era e se deparou com Dimitry. Ela foi até a porta para ver o que o garoto queria.

– O que você quer Dimitry? – perguntou ela, sentindo a suave fragrância do perfume do garoto.

– Estou com saudades suas! – respondeu o garoto.

– Eu também!

– Que tal, aproveitarmos esses dois tempos para brincarmos um pouco? – perguntou Dimitry com um sorriso meio que demoníaco.

Beatriz não sabia se era racional ou irracional, fizer a pergunta que ela iria fazer, mais concluiu que era absolutamente irracional mesmo assim perguntou.

– Aonde iríamos brincar Dimitry?

– Me encontre daqui a 10min, no ultimo andar, virando a esquerda ultima sala do corredor à direita – instruiu Dimitry.

– Tá, agora vai!

Ela sabia que seria loucura, mais ela estava louca para transar com aquele garoto de novo. Eles não havia se visto durante todas as férias, pois ele havia viajado para Fortaleza com os amigos. Beatriz esperou passar alguns minutos, e em então foi ao encontro da loucura mais insana que já havia cometido. Ela subiu até o ultimo andar com cautela, sem que ninguém a visse.

Quando chegou a sala que Dimitry havia lhe indicado. Viu o garoto sentado sobre a mesa do professor mexendo no celular. Assim que ele a viu, guardou o celular no bolso do casaco e se levantou.

– Feche a porta. – pediu ele.

Beatriz fez o que ele pediu e reparou que havia uma fenda razoavelmente grande na porta e aquilo há deixou um pouco intrigada.

– Será que não vai vir ninguém aqui? – perguntou ela, preocupada.

– Está todo mundo no auditório. – disse Dimitry. – E seria muita falta de sorte nossa, alguém vir aqui justamente hoje.

– Eu não sei se isso é uma...

Antes que Beatriz pudesse concluir a frase, os lábios de Dimitry já estavam tocando os seus. Não tinha o que discutir, tinha apenas que se deixar levar. E foi exatamente isso que ela fez.

***

Naquele mesmo instante dois alunos que também estavam fugindo da palestra no auditório. A procura de um lugar onde pudessem fumar tranquilamente. Um dos alunos vestia uma toca nas cores da Jamaica e se chamava Robson e o outro que usava um casaco de moletom surrado e se chamava Natan. Os dois estavam seguindo para o lado direito do corredor quando um deles ouviu algo que lhe chamou a atenção.

– Cara você ouviu isso? – perguntou Robson como num sussurro.

– O que? – retrucou Natan.

– Som de gemidos abafados. – comentou Robson

– Será que tem algum aluno transando em uma dessas salas? – indagou Natan

– Vamos descobrir. – respondeu Robson.

Os dois garotos saíram procurando pelo corredor como hienas que ficam a procura de suas presas, sempre na espreita. Robson ouviu os gemidos estavam ficando mais próximos. Ele então se abaixou e olhou pela fenda. Embasbacado com a cena que via ele pressionou a palma da mão contra a boca.

Natan notou a reação do amigo, então deu um empurrão nele, para que também pudesse ver. Os olhos de Natan pareciam que iriam saltar pra fora.

– É a professora de História, Beatriz. – disse ele sussurrando.

– E o cara é o Dimitry, aluno do segundo ano. – comentou Robson

Natan pegou seu celular no bolso da mochila e colocou na opção gravar vídeo.

– O que você vai fazer? – perguntou Robson.

– Eu vou filmar essa professora vadia fudendo com o aluno. E vou espalhar o vídeo para a escola toda. – explicou Natan

– Cara você não pode fazer isso. – advertiu Robson.

– Não só posso como vou. – disse Natan. – Por causa dessa puta eu fui reprovado ano passado.

Robson viu que não tinha como argumentar. Então pegou sua mochila e deixou Natan sozinho. Natan não se importou com o fato de estar sozinho e começou a gravar.

***

Já era meio dia e Beatriz havia combinado de sair para almoçar com seus amigos, Helena e Gustavo. Enquanto passava pelo pátio da escola em direção a saída, percebeu que alguns alunos a fuzilavam com olhares de todas as maneiras possíveis. Alguns ainda a olhavam com o desejo, outros com nojo, outros com certa incredulidade.

Beatriz não deu importância aos olhares dos alunos. Mal sabia Beatriz que sua falta de sorte estava justamente nos olhares, pois num tempo onde a privacidade esta em certa escassez, e todo mundo fica sabendo da sua vida a um clique. Tentar manter a sanidade é uma boa opção, pois as pessoas não tinham mais medo de errar. Poderia se dizer que o errar, não é errado mais.

***

Assim que Beatriz voltou à escola na terça de manhã, enquanto procurava um lugar para estacionar viu o carro de Noah, uma Pajeiro prata 2009. Ela sentiu uma pequena pontada no coração só de saber que ele estava na escola. No entanto ela sabia que cedo ou tarde os dois iriam se esbarrar.

Enquanto ia passando pelo pátio da escola a fim de chegar até a sala dos professores ela olhou para o prédio da escola e conseguiu ver Noah em uma das salas e pelo visto já estava lotando o quadro com matéria. Quando chegou a sala dos professores, todos os professores a olharam de uma maneira como se ela sofresse de uma doença altamente contagiosa.

– Bom dia gente! – cumprimentou ela.

No entanto ninguém a respondeu. Ela achou estranhou, mas não deu importância. Ela apenas pensou se Noah havia contado a todos o que ela havia feito com ele. E se todos ali estariam tomando suas dores.

– Professora Beatriz? – chamou uma voz.

Beatriz se virou para ver quem a estava chamando, quando viu a Diretora da escola. Sonia era uma mulher alta de 45 anos de cabelos negros curtos.

– Sim Sonia. – respondeu Beatriz.

– Será que você pode me acompanhar até minha sala? – perguntou Sonia.

– Claro, vou apenas deixar minha bolsa aqui na mesa. – disse Beatriz

– Acho melhor você trazer as suas coisas consigo! – sugeriu a diretora.

Beatriz fez o que a mulher havia lhe sugerido e saiu da sala a acompanhado. A sala da diretora ficava no primeiro andar, num amplo espaço fora do prédio da escola. O lugar era decorado de forma onde pudesse ostentar o rústico e o moderno. Em dois anos que Beatriz estava dando aula naquela escola. Aquela era a segunda vez que entrava na sala da diretora.

– Por favor, sente-se. – disse a diretora lhe apontando uma cadeira.

– Em que posso lhe ajudar? – indagou Beatriz.

– Antes que possamos começar a nossa conversa que será breve. Eu quero que você veja isso. – disse Sonia, lhe virando o monitor do computador e dando inicio ao vídeo.

Os primeiros 55seg do vídeo mostrava pelo que parecia ser dois alunos discutindo e, um dos alunos parecia estar decidido a gravar algo e o outro era contra. E finalmente Beatriz viu sobre o que o vídeo realmente se tratava. Ela estava se vendo fazendo sexo loucamente com Dimitry. Beatriz olhava para o vídeo e para Sonia que a olhava com um olhar totalmente imparcial.

– Por favor, pare! – pediu Beatriz.

Sonia no mesmo instante parou o vídeo e voltou a por o monitor do computador em sua posição normal. E logo em seguida entrelaçando os dedos das mãos esperando que Beatriz pudesse dizer algo em sua defesa.

– Estou esperando você me dar alguma explicação para essa... Atitude totalmente inadequada. – falou Sonia quebrando o silencio.

Beatriz se sentiu totalmente acuada, pois ela não sabia o que dizer. Não estava encontrando forças para pronunciar uma palavra sequer. As palavras pareciam estar fugindo dela.

– Vamos professora, diga algo em sua defesa. – falou Sonia com a voz totalmente serena.

– Eu não tenho que me defender, eu procurei isso. – falou Beatriz com os olhos cheios de lágrimas, prontas para escorrer.

– Você nunca parou pra pensar nas consequências de seus atos? – perguntou a Diretora.

Beatriz então percebeu que toda a sua vida estava baseada naquela palavra consequência. Todos os anos de sua vida ela estava agindo sem se importar com o que as suas escolhas pudessem acarretar. Ela se deu conta de que era uma pessoa egoísta consigo mesma. Ela não se respeitava, no entanto exigia respeito. Ela não amava, mas queria ser amada. Ela queria ser feliz, mas não se dava a chance de ser. Beatriz viu que era uma pessoa que podia ter tudo. No entanto fazia questão de não ter nada.

– Não. – respondeu ela, dessa vez as lagrimas escorriam por seu rosto, porém as mesmas não seriam suficientes para lavar sua vergonha.

Sonia não podia mais argumentar, quando o próprio acusado não se dava a chance de defesa.

– Beatriz, eu sinto muito em lhe dizer isso, mas a partir de hoje você não faz mais parte do corpo docente desta instituição. – declarou Sonia. – Sinto muito!

– Não sinta! – disse Beatriz se levantando e logo em seguida saindo da sala.

Beatriz saiu da sala, e foi andando em passos lentos pelo cainho que levava ao pátio, enquanto passava pelo pátio. Muitos alunos foram até ela e lhe deram um abraço.

– Professora, a senhora pode ser uma ninfomaníaca. Mas sempre será a melhor professora que já tive. – disse um de seus alunos.

Ela não esperava uma reação daquela de alguns de seus alunos e foi o que amenizou um pouco sua dor. Num canto sentado sozinho. Estava Dimitry e Beatriz foi até ele.

– Dimitry? – chamou ela.

Quando ele olhou pra ela. Ela viu que seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar.

– Me desculpa Beatriz! – suplicou Dimitry, com a voz embargada pelo choro.

– Eu não tenho que te desculpar. – disse ela. – Eu quis correr o risco. E sabe de uma coisa?

– Se você não me contar eu não vou saber.

– Eu não me arrependo de nada do que fizemos.

O garoto se levantou e Beatriz pode ver que não amava aquele garoto, mas o desejava. Gostava de fazer sexo com ele. Gostava da companhia dele. Gostava de ter alguém tão descomprometido quanto ela.

– Vamos continuar nos vendo? – perguntou Dimitry

– Se você quiser. – respondeu ela.

Os alunos faziam círculos em volta deles, havia professores e alunos da janela das salas os observando. Faxineiros, cozinheiras, todos os funcionários da escola os estavam observando. Como quem aguarda o clímax da cena final de uma novela. E Beatriz estava disposta a dar o que eles queriam.

– Me beija! – pediu Beatriz.

_ tem certeza? – indagou Dimitry.

Ela então tomou a iniciativa e o beijou. O seu halito estava com o frescor de bala de morango. Todos os alunos começaram a gritar e aplaudir num alvoroço. Beatriz se afastou do garoto e olhou para janela onde Noah estava. E lá estava ele olhando a cena e ela teve certeza de que o viu sorrindo. Ela saiu da escola com uma pessoa que acabara de perder o emprego. Mas também saiu com a certeza de que havia nascido para correr riscos e o melhor de tudo. Saia dali com a imagem do sorriso de um amigo percebendo quem ela realmente era. Louca, destrambelhada, linda, poderosa, amiga, irmã e apaixonada.