Laços

Capitulo 1 x 9




Noah
Marcar uma social em plena terça feira, era incomum para qualquer grupo de amigos normais, porém ali estava a chave da questão. O grupo de amigos de Noah, não tinha ninguém normal. Eram todos loucos e aloprados. Ele se lembrou do dia em que sua mãe havia decidido fazer um churrasco para conhecê-los. Ela tinha esse costume de querer saber com quem seu filho andava. Mas ele sempre deixou bem claro que seu antro de amizade tinha de tudo.
O dia do churrasco chegou, foi feito num sábado no sitio de sua família, seus tios e primos estariam lá. Pelo visto toda família queria conhecer a galera. Os carros foram chegando e ali estavam os quinze amigos de Noah. O pessoal caiu na gandaia, brincando, falando merda, colocaram até a dona Sandra pra dançar naquele dia. Noah ficou surpreendido com uma coisa que sua mãe havia dito pra ele no final daquele dia. Ele estava na varanda lendo enquanto alguns de seus amigos estavam jogando vídeo game ou futebol de mesa. Quando sua mãe lhe abraçou e disse: Deus deve ter olhado para cada um de vocês e dito: vou criar o grupo de amigos mais miscigenado de todos os tempos. Você tem ótimos amigos filho. E ela tinha total razão.
As cervejas já estavam na geladeira, torradas estavam frescas, pastas comestíveis de vários sabores, salgadinhos. Noah estava satisfeito com o que iria oferecer para aquela social daquele dia, como também estava ansioso para ver os amigos. Nem todos estariam ali naquela noite, pois Konrad, Bruno, Vitor, Laura e Felipe... Estavam muito longe no presente momento. Enquanto não dava a hora do pessoal chegar, ele decidiu ir tomar um banho. Quando estava prestes a entrar no banho, ouviu seu celular tocar. Ele então correu para atender. Era um numero desconhecido, mesmo assim atendeu.
– Pronto. – disse Noah
– Noah? – indagou a voz do outro lado
– Sim, é ele mesmo.
– Mano sou eu, Flavio.
Noah, quase havia se esquecido de que iria encontrar Flavio e Mariana, na quarta para almoçar.
– O que você manda cara? – perguntou ele passando a mão nos cabelos.
– To ligando apenas para dizer a hora e o local do almoço de amanha. Então o almoço será aqui na casa dos meus pais as 12hrs. – explicou Flavio. – Você ainda sabe onde fica a casa dos meus pais, certo?
– Sei sim, lhe encontro ai amanhã. – falou Noah e dessa vez um pouco assustado.
– Então ta. Abraços! – se despediu Flavio
– Abraços!
Noah conhecia a família de Flavio. Eles eram uma família de católicos praticantes. E aquilo dificultava ainda mais a chances de Flavio e sua família aceitarem sua opção sexual. Ele queria contar a verdade para o seu melhor amigo, porém ele ainda não havia descoberto como iria fazer isso. Mas ele não queria pensar naquele assunto, não naquele instante. Ele então foi para o banho e deixou que á água quente que deslizava por seu corpo. Trouxessem-lhe, nem que fosse por alguns minutos, um pouco de serenidade.
Ele terminou seu banho e optou por colocar uma roupa de ficar em casa mesmo. Já que a social seria feita em sua casa e não pretendia sair depois, pois André iria dormir lá hoje. Já eram 18hr e 30min, quando alguém bateu em sua porta. Ele chegou a pensar que fosse um de seus amigos que haviam chegado mais cedo. No entanto era apenas o zelador Seu Chico.
– Boa Tarde Noah! – Saudou o homem com toda a simpatia e educação que alguém podia demonstrar.
– Boa tarde Seu Chico! – retribuiu Noah a gentileza.
O zelador começou a juntar uma série de correspondências, que parecia pertencer a Noah.
– Suas correspondências, aqui estão elas. – disse o homem as entregando a quem lhe dizia respeito.
Ele estendeu as mãos para pegar as cartas.
_ Obrigado!
Seu Chico se despediu e seguiu para as portas dos outros condôminos, a fim de fazer seu trabalho. Noah fechou a porta e ali estavam, conta de água, luz, telefone, internet, TV a cabo, condomínio, cartão de crédito. Contas que faziam parte de sua vida adulta. Ele gostava de pensar o quanto era independente. Ele colocou as contas em cima de seu notebook, pois pagaria aquelas contas ainda naquela noite via internet.
Enquanto aguardava seus amigos, decidiu deitar no sofá e pensar um pouco, eram tantas coisas para se pensar. Mais nenhuma solidão que lhe aprouvesse poderia acabar com aquela onda de pensamentos. De repente ele se viu olhando para a foto que seu irmão havia lhe enviado. Noah havia passado anos se perguntando quem estaria com aquela foto. Era uma fotografia que representava o melhor dia de sua vida. Foi o dia em que ele decidiu se assumir que era gay para seus pais e sua família no geral.
Ele havia passado anos, tentando encontrar coragem para dizer aos seus pais que era gay. Mais naquele dia tudo parecia propicio para falar e foi. O modo como seus pais lhe abraçaram lhe dando todo apoio que os pais poderiam dar. A maneira como seus irmãos lhe ofereceram compreensão, claro, nem todos da família foram a favor, mas isso não importava. Aqueles que o haviam criado, moldado o seu caráter, lhe ensinado os padrões éticos de uma vida moral justa e digna. Estavam bem ali do seu lado lhe dando todo o apoio possível. Naquele dia Noah entendeu o significado de família.
Seu devaneio de pensamentos e recordações de lembranças foi interrompido por uma súbita onda do ressoar de sua campainha. Ele deu um pulo do sofá e foi abrir a porta, quando a abriu. Lá estavam eles. Sophie, Beatriz, Helena, Pierre, Gustavo e Alex. Eles pareciam estar ansiosos por aquela visita. O que o deixou animado.
– Olá pessoal! – disse ele.
Foram entrando um a um, o único que parou na porta para lhe cumprimentar fora Gustavo.
– Se prepare meu amigo, pois a situação ta feia. – disse Gustavo lhe dando uma afagada no cabelo.
Noah não sabia o que dizer, só podia esperar para ver do que se trataria aquela social. Quando fechou a porta e olhou para sala, viu que não havia ninguém na sala. Estavam todos na cozinha em um aglomerado. Alex e Beatriz já estavam com suas cervejas nas mãos e se deliciando com alguns salgadinhos.
Sophie e Gustavo estavam num outro canto da cozinha. Noah notou algo estranho nos dois, alguma coisa estava acontecendo, porém não queria saber. Era problema deles e não seu. Pierre e Helena estavam sentados em um dos banquinhos da bancada. Apena trocando olhares, como se estivessem esperando alguém tomar alguma iniciativa. A questão era iniciativa pra que?
– Noah, estamos preocupados com você. – falou Gustavo cortando o silencio que já estava se tornando insuportável.
– Preocupados... Como assim? – perguntou Noah, completamente perdido.
– Eles sabem que André está de volta. – falou Beatriz, pousando sua cerveja sobre bancada. – E que vocês estão saindo de novo.
– Achamos que você, pode acabar se machucando de novo. – explicou Sophie. – lembra como você ficou há três anos, quando ele partiu sem dar nenhuma explicação?
Noah respirou fundo antes de responder, pois uma ira já começava a tomar conta dele como também uma ponta de compreensão ao porque deles estarem preocupados.
– Eu sei muito bem como fiquei, lembro o quanto deixei vocês preocupados e do quanto eu mesmo me feri, porém eu superei e estou aqui hoje. E isso aconteceu há três anos eu tinha 23 anos naquela época. E vou fazer 27 esse ano. Acho que já sei me cuidar.
– Será que você sabe mesmo Noah? – perguntou Gustavo abrindo a geladeira. – Porque me parece que não sabe, pois qualquer pessoa em sã consciência, não faria o que você esta fazendo.
– Então podemos dizer que eu e Sophie, estejamos no mesmo barco. – disse Noah
Ele olhou para onde Sophie estava, e viu que ela o olhava com um olhar de incredulidade nas palavras que ele acabara de dizer.
– Deixe meu relacionamento fora disso. – falou Sophie com punhos serrados.
– Eu deixo... É só vocês fazerem o mesmo. – sugeriu Noah
– Galera a vida é dele... Se ele quer sofrer. Deixe-o sofrer. – falou Alex. – Ele é quem vai sofrer as consequências de seus atos.
– Cala a boca Alex! – o exortou Pierre. – Noah, queremos o seu bem!
Noah ainda estava na porta da cozinha, estava se preparando pra falar, quando alguém falou atrás dele.
– A questão galera é que o seu amigo, parece querer insistir em ser um completo imbecil.
Todos na cozinha pareceram ficar congelados. Quando viram Diogo surgir atrás de Noah. Como se fosse uma aparição do além, mas naquele caso Diogo estava ali em carne e osso. Com toda a sua arrogância, protuberância e seu ego exagerado.
Noah sentiu todo seu corpo congelar, quando ouviu a voz de seu irmão e ficou ainda mais tenso. Quando o mesmo passou do seu lado o olhando de banda. Como quem diz: Agora somos apenas eu e você. No entanto dessa vez eles teriam plateia.
– Até você Diogo? – perguntou Noah incrédulo da situação que estava passando.
– Sim até eu, sou seu irmão e tenho que zelar por seu bem estar. – disse Diogo.
– Disse tudo irmão. Você tem que zelar pelo meu bem estar. MAIS ISSO NÃO TE DAR O DIREITO DE ME TRATAR COMO UMA CRIANÇA.
Os olhos de todos se arregalaram assustados pela raiva que Noah deixou transparecer. Exceto Diogo que o olhava com uma frieza de dar medo.
– Alterar o tom de voz não o torna mais homem e nem menos patético. – comentou Diogo enquanto tirava o celular e chave do carro do bolso e os colocava sobre a bancada.
– Eu não sou uma criança.
– ENTÃO PARA DE AGIR COMO UMA!
E ali estava o sentimento de total impotência tomando conta de todo o seu ser. Noah nunca conseguiu se impuser contra seu irmão. Ele sempre chorava e ali estava ele chorando e dessa vez na frente de seus amigos.
– Quero que você assuma a postura que na qual a mamãe e papai lhe direcionaram pra seguir e ser quem você é. Mas pra isso você precisa se desprender do passado e deixar que o presente se torne as linhas sobre a qual você vai escrever seu futuro. – disse Diogo cruzando os braços.
– E se eu quiser incluir André no meu futuro? – perguntou Noah deixando escorrer uma lágrima pelo seu rosto.
Diogo respirou fundo antes de responder.
– Vai ser uma decisão sua só não quero que você me culpe. E nem que espere palavras de conforto de minha parte.
Gustavo nunca havia presenciado uma discussão entre Noah e Diogo. E presenciar aquela cena, a forma com que Diogo havia posto a realidade e a verdade a frente de Noah. O fez pensar como seria bom ter um irmão com quem se preocupar e até mesmo brigar.
– Acho que Noah já fez sua escolha, agora vamos comer, pois ele comprou muita coisa boa. – disse Beatriz na intenção de quebrar o clima que havia tomado conta do recinto.
Um por um foram passando por Noah seguindo até a sala, Beatriz levava a bandeja com os salgadinhos e Pierre as cervejas. Sophie deu um beijo na bochecha de Noah quando passou por ele em quanto Gustavo deu uma piscadela com um dos olhos. Como quem diz: To contigo sempre. Diogo ainda estava encostado na bancada com seus braços cruzados o olhando severamente.
– Pare de chorar irmãozinho! – pediu Diogo em meio a um suspiro descruzando os braços
– É tão difícil assim pra você? Acreditar nem que se seja um pouco, que eu posso ser feliz ao lado do André? – perguntou Noah, com a voz ainda meio ainda que embriagada por causa das lágrimas.
– Sim. – respondeu Diogo. – O que me deixa tranquilo, é saber que você tem ótimos amigos, que vão estar do seu lado, mesmo que você erre novamente. Você realmente tem os melhores do seu lado,
– Você tem razão!
– Eu sei que tenho! Agora vem cá e me da um abraço.
Diogo estava de braços abertos e um sorriso estampado no rosto. Ele envolveu seu irmão mais novo num abraço forte. Noah sabia que aquilo era amor, seu irmão o amava de uma maneira inexplicável. A maneira Diogo.
– Obrigado Diogo! – sussurrou Noah ainda preso aos braços de seu irmão.
– Pelo que?
– Por ser o melhor irmão do mundo.
***
Antes de seguir para casa de Noah. André havia decido passar em sua casa e tomar um banho. O seu banho havia sido rápido. Ele optou por vestir uma calça taquitel e uma camisa malha de manga comprida e sandálias. Enquanto seguia a pé para a casa de seu namorado. Ele foi reparando nas vitrines das lojas, dando uma olhada em roupas que fizessem o seu estilo. Em 7min, ele estava na portaria do prédio onde Noah morava. André viu que a portaria já estava vazia, o outro porteiro ainda não havia chego.
Ele chamou pelo elevador e esperou por 55seg, já que o elevador estava no décimo andar. André gostava do elevador do prédio de Noah, pois as pessoas podiam ouvir musicas tocando pelos pequenos altos falantes que estavam na parte superior do elevador e naquele momento em que o elevador chegou estava tocando Simplesmente Aconteceu da cantora Ana Carolina. Aquela musica o fez pensar vários momentos de sua vida. No entanto seus pensamentos foram interrompidos pelo seu celular que tocava. Retirando o celular do bolso para ver de quem se tratava viu que era um numero que não constava em sua agenda e que ele não conhecia.
– Alô! – disse ele esperando uma resposta.
Uma voz feminina brotou do outro lado da linha.
– Olá André, já sabe o que vai fazer com a nossa primeira vítima? – perguntou a voz feminina.
André foi tomado por uma onda de medo. Desde o dia em que havia conhecida essa mulher um ano atrás em Dallas, ela vinha fazendo da sua vida um inferno. Ela queria que ele fizesse algo. Que na qual ele não sabia se teria coragem de fazer.
– Ainda não tive tempo para pensar em algo. – ele respondeu.
– Acho bom você se apressar, pois eu odeio ter que ficar esperando. – o ameaçou a voz.
André mal teve tempo de se defender, pois a mulher já havia desligado o telefone. Ele se lembrou do dia em que a conheceu. Ele estava em um bar bem frequentado em Dallas com uns amigos, e essa mulher estava o paquerando desde a hora em que ele havia chegado, mesmo tendo convicção de sua homossexualidade. André deixou se levar por uma aventura com o sexo oposto. A mulher era linda por sinal, com seus cabelos castanhos encaracolados e um sorriso de dar inveja a qualquer um. Ela se apresentou com o nome de Luciana e falava português fluentemente o que tornou a paquera ainda mais fácil. Tudo foi perfeito naquela noite, do papo até o sexo, porém no dia seguinte sua vida começou a se tornar um inferno. E agora ele estava nas mãos dessa mulher, que ele nem sequer sabia qual era o seu verdadeiro nome e nem onde morava mais ela havia tomado algo de muito importante dele. E ele queria aquilo de volta desesperadamente.
Ele estava tão distante no passado que teve, de ser trazido de volta ao presente, por uma sacudida nos ombros, por um morador do prédio. André já havia ido ao ultimo andar e voltado ao primeiro umas duas vezes. Por sorte o elevador dessa vez havia parado no andar em que ele iria sair.
Noáh havia dado a ele, uma cópia da chave de sua casa. Para que ele pudesse ficar a vontade e André havia feito o mesmo. Ele então pegou a chave e abriu a porta, quando a abriu ficou surpreso por ver todo àquele pessoal. Quase todos os amigos de seu namorado reunidos em um único local e o fuzilando com olhares de repulsa e até mesmo de raiva.
– Boa noite! – cumprimentou ele, não aguardando resposta.
– Boa noite André! – respondeu Beatriz.
Ele sabia que ela não havia respondido por gostar dele, mais sim pelo fato de ser muito educada. Gustavo estava sentado em um dos sofás com os braços em volta de Sophie, mais assim que o viu se levantou e foi para o quarto de Noah... Provavelmente para a sacada.
André sabia que muitos ali tinham raiva dele, por causa do que ele havia feito com Noah no passado. Ele não os criticava, pois sabiam que eles estavam apenas querendo o melhor para o seu amigo. André sentiu alguém o agarrar por trás. Ele sabia quem era então se virou e viu que estava certo. Ele deu um pequeno selinho em Noah. Mas tudo ficou sombrio quando viu Diogo saindo da cozinha logo atrás de seu namorado.
– Boa noite Diogo! – André estendeu uma das mãos para cumprimenta-lo.
André viu Diogo estender uma das mãos para cumprimenta-lo, e sentiu o forte aperto de mão dele. Parecia que ele queria mostrar quem tinha mais força naquele momento.
– Sophie, onde está Gustavo? – perguntou Diogo
– Está no quarto do Noah. – respondeu ela. – Quer que eu o chame?
– Só avise a ele que marquei uma reunião amanha, 14hrs, com todo o setor de produção pra ele. Peça pra ele me procurar amanhã, assim que chegar a fábrica.
– pode deixar, vou avisá-lo.
Diogo deu uma olhada para o seu irmão, depois deu um aceno para o pessoal que estava na sala.
– Tchau gente!
André se sentiu um pouco aliviado ao ver Diogo indo embora.
– Galera! Acho que vou fazer uma macarronada, Que tal? – perguntou Noáh todo empolgado.
– Eu e Sophie te ajudamos na cozinha! – disse Beatriz
– Então vamos! – Noah as apressou.
Enquanto eles foram para a cozinha preparar a macarronada. Pierre, Alex e Helena decidiram ligar o vídeo game e jogar um pouco. Eles escolheram um jogo de luta, o que seria divertido de se ver. Mas André queria falar com alguém em particular e então ele seguiu para o quarto de Noáh.
Gustavo estava debruçado sobre a amurada da sacada. Ele olhava fixamente para baixo, vendo algumas pessoas andando pela calçada do outro lado da rua e os carros que iam passando numa velocidade razoável.
– Noite agradável. – disse André também se debruçando na amurada ao lado de Gustavo.
Gustavo estreitou os olhos e viu quem estava ali.
– Sim, muito agradável.
– Eu sei que você tem todos os motivos para ter raiva de mim, mas...
– Mas o que? – interrompeu Gustavo. – Você achou que todo mundo iria te receber de braços abertos, depois de ter sumido por três anos e deixado o meu amigo do jeito que você o deixou.
– Eu sei que ele sofreu demais;
– Não. Você não sabe o quanto ele sofreu, as noites em que o pessoal teve que fazer rodízio para dormir com ele, por medo dele fazer uma loucura. As noites que passamos em claro, enquanto o ouvíamos chorar, por sentir sua falta. Por te amar, além do que devia.
Agora os dois estavam se olhando e Gustavo exalava ódio, raiva, arrependimento e um profundo desgaste emocional. Ele queria dar um murro na cara de André, mais não iria fazer aquilo por respeito ao seu amigo.
– Tudo o que eu quero, é uma segunda chance para provar a vocês o quanto eu amo o Noah. – disse André não se deixando intimidar, mas também tendo a consciência de que não podia ser confiante demais.
Gustavo deu um sorriso com o canto da boca e logo em seguida deu as costas para André.
– Eu não acredito que você o ame. – falou Gustavo.
– Por quê?
– Porque se você o amasse do jeito que você diz que o ama. Você não estaria pedindo uma segunda chance. Você estaria fazendo valer a pena a primeira. – disse Gustavo,_ pense nisso André.
Gustavo fechou a porta de vidro que separava a sacada do quarto e deixou André ali pensando um pouco; Já que ele já havia dito aquilo que pensava ao seu respeito.
André ficou parado por um bom tempo sobre amurada. Ele pegou a foto de um bebê que estava em sua carteira. Era um bebê lindo com as bochechas rosadas e os poucos cabelos que tinham era um negro como uma perola negra. Ele beijou a foto e a guardou novamente na carteira. E ficou olhando para o céu, como quem olha esperando uma estrela cadente passar para fazer um pedido.
***
O dia amanheceu e o céu estava completamente nublado, caia aquela neblina, o que dava uma imensa vontade de continuar na cama. Noáh estimou que estivesse fazendo uns 16 °C, naquela manhã de quarta feira. André ainda dormia como um anjo, encolhido na cama. Ele foi até a cozinha já que tinha que lavar a louça da noite anterior.
Apesar da discussão que havia tido com seus amigos e com seu irmão no começo da noite. No final a noite tinha acabado de uma maneira agradável. – Certo que a maioria de seus amigos tratou André com cordialidade, por respeito a ele. Com exceção de Alex que conversou com André com um tamanho interesse em tê-lo como amigo.
Noah começou a lavar a louça, seu celular tocou, era uma mensagem de Sophie lhe desejando bom dia e agradecendo pela noite. Ele lavou a louça rapidamente. Para o café da manha, ele sempre optava por uma tigela de sucrilhos, granola, mel e leite desnatado. Para comer ele se debruçou sobre a bancada e ficou ali comendo e no intervalho entre uma colherada e outra ele dava uma fofocada no celular;
– O que você está fazendo mexendo ai nesse celular cedo, cedo? – perguntou André, dando um beijo na nuca de Noah.
Noah ficou meio que surpreso com a chegada de mansinho de André. Ele não esperava que o namorado fosse levantar tão cedo, além do mais com aquele tempo.
– Nada de mais. – ele respondeu. – Apenas dando uma olhada nos e-mails, dentre outras coisas.
André deu uma espreguiçada a fim de afastar um pouco o sono que ainda se manifestava.
– O que vamos fazer hoje?
Noah terminou de beber o leite que havia ficado no fundo da tigela, entes de responder.
– Você eu não sei amor. Mas eu tenho um almoço com meu amigo Flavio na casa dos pais dele hoje. Então...
Ele sabia que o dia estava perfeito, para ficar em casa com André debaixo das cobertas, ver filmes, fazer sexo, dormir a tarde toda de conchinha dentre outras coisas que aquele frio proporcionava.
– O meu almoço é só daqui a duas horas, creio que temos algum tempo ainda. – comentou Noah, fazendo uma cara de quem não precisava dizer mais nada.
– Sabe que não nego fogo. – falou André coçando a barba que estava por fazer.
– E você sabe que, eu jamais lhe pediria isso.
Os dois começaram a se beijar ali mesmo, Noah com uma doçura que o mel deixara em sua boca, selando a boca de André a sua.
– Eu preciso tomar um banho! – gemeu Noqh
– Eu esfrego suas costas. – sussurrou André.
Os dois foram se despindo das roupas pelo caminho que dava ao banheiro. Ambos com uma fome insaciável pelo corpo do outro. Eles estavam seguindo um caminho libidinoso onde o retouco era constante entre ambas as partes.
Noah se lembrou da escolha que havia feito de deixar André fazer parte do futuro que ele começaria a escrever. Ele sabia que poderia não dar certo. Mas o que ele queria naquele momento era se entregar aquela paixão duvidosa, perigosa, talvez suja, mas principalmente... Eloquente.