Enquanto isto, no Brasil, Fernando e Catarina conversam sobre quais serão os próximos passos a serem dados para que o irmão de Edgar seja sócio majoritário da empresa...

Catarina: E então Fernando, como está o plano? Já não aguento mais tanta espera...

Fernando: Meu Rouxinol! Acalme-se... já está tudo acertado... eu combinei para que a carga de tecidos saia da fábrica às 4 da manhã, mas todos pensam que sairá às 6... já contratei os homens que vão roubar o caminhão e o atravessador também já sabe que amanhã receberá os tecidos... o comprador já depositou o sinal em minha conta... assim que receber a carga depositará o restante...

Catarina: E então já teremos dinheiro suficiente para fugir do país...pois se descobrirem é o que vamos ter de fazer...

Fernando: Catarina! Não será assim... amanhã meu pai saberá do roubo... eu provavelmente vou passar o dia todo com ele na delegacia... mas não vamos deixar rastro... eu sei que as pessoas que contratei fazem o serviço bem feito.. depois só vou precisar convencer o todo poderoso Bonifácio Vieira a abrir o capital da fábrica... essa encomenda de tecidos não entregue vai gerar uma multa que vai colocar a tecelagem em concordata.... e... com o dinheiro do roubo vou comprar as ações...

Catarina: Certo... mas acho que seu pai não vai aceitar assim... você vai precisar de ajuda.... e sei bem quem vai conseguir convence-lo.... Edgar

Fernando: Claro... o filho querido há de convencer o pai... é difícil admitir... mas vou precisar de Edgar para meus planos darem certo... sei que vou conseguir fazer o Edgar me ajudar...

Longe dali, Laura e Edgar chegam ao Cosme Velho... entram na casa e são recebidos por Matilde e pelo filho, que pelo adiantado da hora já está de pijamas...

Edgar e Laura: Boa Noite!

Daniel (correndo em direção deles sendo pego no colo por Laura): Papai... mamãe... que bom que chegaram... achei que iam me deixar sozinho...

Matilde: Boa Noite... eu tentei faze-lo dormir, mas ele disse que ia esperar a mamãe chegar...

Laura: Oh meu amor... eu só estava conversando com o papai... mas agora nós dois estamos aqui para ficar com você...

Edgar: Filho... nunca diga isso... a mamãe e o papai nunca vão te deixar... e então... como foi o seu dia?

Daniel: Bom... brinquei bastante...

Matilde: Dona Laura... eu já dei banho nele e servi o jantar...

Laura: Obrigada Matilde...

Daniel: Papai... vamos brincar? (bocejando)

Edgar: Meu anjo.. acho que está na de ir para cama... vem... eu te conto uma história

Laura: Ah não... dessa vez quem conta sou eu!

Daniel: Mamãe... não fica brava... mas eu quero a história do papai... pode me contar Simbad o marujo?

Edgar (por um instante a palavra marujo lhe faz lembrar da Marinha e fica com o semblante soturno... mas ao olhar para o filho com os olhos brilhando esperando pela resposta muda rapidamente de feição... em seu olhar a única coisa que se pode ver é ternura): Claro meu filho...essa e todas as outras histórias que quiser que eu conte...

Eles se encaminham para o quarto do menino... Edgar conta parte da história, mas nem bem chega a segunda viagem, o menino adormece... Edgar arruma os cobertores do filho, passa a mão em seus cabelos loiros, apaga a luz e sai do quarto... na sala Laura o espera para jantar...

Laura: E então... dormiu?

Edgar:Sim... dessa vez até que foi rápido...

Laura: É.. ele deve ter cansado... vamos jantar?

Edgar: Está com fome?

Laura: Bem... na verdade não... mas te faço companhia...

Edgar: Amor... ficar sem comer não vai te fazer encontrar um emprego... e nem passar essa tempestade que nós estamos atravessando... mas te confesso que também estou sem fome...comi antes de você chegar lá em casa...

Laura: Tudo bem... mas você também está com problemas né...

Edgar: Sim... falando no nosso problema... leu hoje o Correio da Republica? O Guerra publicou um artigo sobre divórcio...

Laura (tentando demonstrar desinteresse): Sim... vi alguma coisa... o que dizia?

Edgar: Olha... o autor... um tal de Paulo Lima... retratou muito bem a situação... gostei muito do que li... tem uma argumentação muito sólida a respeito do assunto... e o texto é dinâmico... muito bom...

Laura (disfarçando o contentamento que aquelas palavras lhe causaram): Bom... eu já acho que o Antonio Ferreira é muito melhor... tudo o que esse homem escreve é incrível...

Edgar (debochando de seu pseudônimo : Incrível? Ele faz boas denúncias.. mas não é isso tudo não... Ele não chega aos pés de muitos jornalistas...

Laura: Para mim ele é ótimo...

Edgar (tentando mudar o assunto): E a Matilde?

Laura: Já foi...

Edgar: bem... já que a Sra. Vieira está sem fome e eu também estou sem apetite... tem algo que alguém me prometeu antes... (aproximando-se de Laura e a puxando para um beijo)

Laura: Não me lembro de nenhuma promessa...

Edgar: Ah é? Então vou refrescar sua memória... vem cá.. vem (beijando Laura com ardor)

Laura: Sabe... de repente lembrei que tenho algo maçante para fazer no quarto...

Edgar: Maçante? Está bem... então neste caso vou embora... ( soltando Laura e indo até a porta)

Laura: Amor... eu estava brincando...

Edgar: Não sei... talvez realmente seja maçante...

Laura: Vem (puxando Edgar até seu quarto).. vamos descobrir...

Laura beija Edgar que corresponde com intensidade... ela o ajuda a retirar o paletó e o colete e entre beijos desfaz o nó da gravata e a retira.. eles se movem até a cama... Laura derruba Edgar no leito e começa a desabotoar sua camisa... a cada botão aberto beija o tórax e abdômen do marido que começa aparecer dentre o tecido... Edgar geme... quer beija-la... senti-la... mas ela levanta-se... ainda está completamente vestida... aos poucos vai abrindo a blusa... a deixa cair no chão... retira a saia... peça por peça vai deitando ao chão... ele está sentado a sua frente... a puxa para si...beija sua barriga e levantando-se percorre um caminho de beijos até encontrar sua boca... volta a beijar seu queixo e descer até seu pescoço enquanto suas mãos acariciam a pele alva e macia de Laura... ela deita-se e o chama... quer ser sua... ele a tortura beijando todo seu corpo... ela geme alto... já não aguenta mais... até que Edgar aninha-se entre suas pernas... e a faz sua...

Após amarem-se Edgar acomoda Laura em seu braço... e adormecem abraçados...

Na manhã seguinte, Edgar levanta-se cedo...veste-se... Laura ainda está dormindo... ele olha para sua mulher e sorri... escreve rapidamente um bilhete, deixando na mesa de cabeceira e sai... passa pelo quarto do filho e vê que o menino ainda dorme pesadamente... sai daquela casa e toma a direção da sua... tem algo importante a fazer... precisa escrever a matéria encomendada por Guerra...

Edgar entra em casa... está se dirigindo ao escritório quando batem a porta... é o carteiro... Edgar recebe a correspondência e a abre imediatamente...

Edgar: É da Filipa... vamos ver o que diz...

Coimbra, 12 de dezembro de 1909

Prezado Dr. Edgar Vieira

Foi com surpresa e estranheza que ontem recebi sua carta. Espero que esta também o encontre bem, apesar de tudo o que me foi mencionado. Edgar, meu amigo, como poderia eu me negar a prestar-te este favor? Não apenas pela estima e admiração recíproca, mas também por partilhar desta mesma dúvida que te assola. Diferente do que pensas, também me vi envolvida nesta história, pois logo que nos formamos, acabei por ficar noiva e pouco antes do dia que iria casar-me descobri, por uma carta, que meu noivo tivera um relacionamento com esta senhora, e que desta relação havia restado uma filha, que estava com a saúde muito debilitada. Na época, a atitude que tive foi de romper meu compromisso e exigir de meu noivo a reparação a esta mulher e a sua filha. Ele não o fez, dizia que não poderia ter certeza de que aquela criança realmente era sua e desde então não tenho mais notícias dele. Cheguei a investigar algumas coisas sobre o caso, mas ao saber que tu tinhas assumido a menina, acabei por não seguir com isto. Agora que se emoldura esta nova situação, retomo com prazer este caso e já me tens a postos para tentar descobrir ao menos se um de vocês dois é o pai da menina, afinal tanto tu quanto eu sabemos que ela teve outros amantes na época. Por certo não hei de cobrar-te nenhum honorário, afinal o assunto também me interessa, e muito. Com as informações que me passastes, eu e minha colega Manoela Medeiros, iniciaremos as investigações. Cordialmente

Dra. Filipa Borges

Edgar: Bem... por essa não esperava.. a Filipa foi noiva de um dos amantes da Catarina... que também recebeu uma carta com o mesmo conteúdo que a que Laura me entregou.. já somos três...(parando e pensando) Espere aí... essa história está muito parecida com a que o Joaquim contou... será? Não... deve ser só coincidência...

Edgar deixa de pensar um pouco sobre esse assunto ruma para o escritório... tem outros pensamentos para serem colocados no papel...agora sim... finalmente irá escrever... começa a rabiscar as ideias principais de sua matéria... está preparando-se para datilografar o artigo... nisto toca o telefone...

Edgar (irritado): Mas é hoje! (pegando o telefone) Alô? Edgar Vieira..

Bonifácio: Edgar! Preciso que me acompanhe a delegacia...

Edgar: Pai? O que houve? Por que tenho de ir contigo na delegacia?

Bonifácio: Roubaram uma carga de tecidos da fábrica... bateram no motorista que estava levando para o porto... me encontre na delegacia... lá o Fernando e eu te explicamos... vamos prestar queixa...

Edgar: Está bem... estou indo para lá...

Ele sai apressado... tem tanto a fazer e ainda mais isto... um roubo de carga... sua mãe havia comentado que seu pai estava bastante nervoso por aqueles dias devido a um pedido de tecidos que Fernando negociara com uma empresa inglesa... se algo desse errado a fábrica poderia ir a falência...

No Cosme Velho, Laura acorda.. procura o marido pela cama mas já não o encontra. Levanta-se... na mesinha de cabeceira vê um papel dobrado... abre-o e ao ler sorri...

Meu amor..Desculpe sair assim, sem me despedir, mas tenho muito trabalho pendente e como estavas dormindo tão tranquila não quis te acordar. Espero que teu dia seja tão doce quanto a noite passada. Vou passar o dia contando as horas para te ver novamente. Beijos Edgar.

Laura faz sua toilette e veste-se enquanto pensa que seu amado tem um dia cheio de compromissos profissionais para cumprir, enquanto ela... terá de novamente sair às ruas para procurar um novo ganha pão... lembra-se de seu pai por um instante... hoje é aniversário do senador Assunção... a casa deve estar num corre-corre para o almoço perfeito oferecido pela baronesa da Boa Vista aos convivas mais distintos da sociedade carioca... e ela, filha do casal, nem ao menos poderá dar um beijo de felicitações no rosto de seu pai...

Ela termina de arrumar-se... toma café com seu filho e sai... pensa por onde começar... lembra-se de repente de Sandra... talvez a amiga saiba de alguma vaga disponível... sendo assim, toma o rumo da biblioteca...

Já na delegacia, Edgar encontra o pai e o irmão... esperam o motorista do caminhão, que acabara de deixar a enfermaria do hospital para prestar depoimento... Edgar acompanha o pai durante a queixa e após o depoimento do caminhoneiro... nisto passa a manhã...

Bonifácio (nervoso): Minha fábrica! Como vamos viver agora? Tudo por culpa de sua incompetência, Fernando!

Fernando: Minha culpa? Oras... que culpa tenho de que tenham roubado a carga?

Bonifácio: Tem a culpa de assumir um compromisso muito maior do que poderíamos suportar... contávamos com o pagamento dessa carga para pagar as máquinas novas... os funcionários... agora vou ter de hipotecar o prédio e não sei se não até a casa para pagar todas as dívidas... e ainda tem a multa contratual... acho que vou enlouquecer!

Edgar: Pai... vamos encontrar uma maneira... não se desespere assim... e minha mãe... como está com isto tudo?

Bonifácio: A Margarida ainda não sabe de nada... resolvi não falar nada por enquanto... pretendo falar com ela com calma hoje à noite... avisei apenas que estava com um problema na fábrica e que não poderiamos comparecer ao almoço dos Assunção...

Fernando: Pai... na verdade acho que já sei como podemos reverter essa situação...

Bonifácio: Não me venha com suas ideias malucas Fernando... estamos nesta situação por ter levado uma delas em conta... com licença... vou para fábrica estudar os números e ver o que podemos fazer... (saindo exasperado da delegacia)

Edgar: Fernando... que ideia tem?

Fernando: A única forma seria abrir o capital da fábrica a terceiros...

Edgar: Ele não vai concordar com isso nunca... mas é uma saída viável...

Fernando: Se pensa assim... me ajude a convence-lo... ele ouve muito mais você do que a mim...

Edgar: Vou tentar... mas não agora... deixa ele se acalmar um pouco... amanhã eu falo com ele...

Eles saem da delegacia e cada um toma seu rumo. Edgar volta para casa e retorna para seu artigo... e Fernando vai para casa de Catarina... comemorar o triunfo que até agora conseguira...

Na casa da Rua São Clemente, os convidados começam a chegar para o almoço em comemoração ao aniversário do pai de Laura... a casa está finamente decorada e as pessoas ostentando seus melhores trajes formam pequenos grupos pela sala principal debatendo os mais diversos assuntos .. os serviçais circulam pela casa servindo os convivas, enquanto Constância e Assunção como anfitriões fazem as honras da casa...

Assunção (entre dentes): Isso está monótono... Constância... para que tanta ostentação... eu preferia uma comemoração simples... só para nossa família...

Constância: Assunção... precisamos demonstrar que o escândalo não nos afetou... olhe... todos estão encantados com a festa que estamos oferecendo...

Assunção: Sim... mas mesmo dessa forma estão veladamente comentando sobre nossa filha...

Constância: Faça ouvidos moucos e continue sorrindo... viu como foi bom que ela e Daniel não tenham vindo?

Assunção: Ainda bem.. pois esse é o tipo de almoço que Laura simplesmente detesta... ostentoso e hipócrita .. graças a Deus isso logo termina e à noite vou ver minha menina e meu neto...

Já na Rua do Ouvidor, Laura chega à biblioteca.... Sandra está terminando de ministrar uma aula e quando dispensa os alunos fica feliz por ver sua amiga

Sandra: Laura... que bom te ver! Como está meu lindo?

Laura: Oi Sandra... o Daniel está bem... você precisa nos visitar mais vezes

Sandra: Assim que tiver um tempo... essa vida de professora é corrida...

Laura: Como eu queria que a minha vida estivesse assim... Sandra... eu perdi meu emprego... vim aqui com a esperança de que você soubesse de alguma vaga...

Sandra: Ai Laura... vi vagas em algumas escolas... você já tentou passar pelo Liceu?

Laura: Sim... mas toda as escolas me fecham as portas no momento que descobrem meu estado civil... coloquei no meu currículo .. resolvi que não vou esconder... ou me aceitam pelo que sou... ou então...

Sandra: Eu sei... amiga... a sociedade é preconceituosa... você sabia que seria assim... mas você vai encontrar alguma coisa...

Laura: Vou ao correio... vou mandar curriculos para escolas do interior... não gostaria de ir agora... logo agora que o Edgar e eu estamos reatando...

Sandra: Como é? Quer dizer que você e o Edgar estão juntos? Laura isso é ótimo... eu sabia que vocês ainda se amavam... só bastava apararem as arestas... mas como vão fazer se você voltar para o interior

Laura: Devagar estamos fazendo isso... e está sendo tão bom... ele tem sido tão companheiro durante esses dias... não sei como faremos se eu for embora... mas a gente há de achar uma solução...

Sandra: E o Daniel? O que está achando disso... vendo o amigo querido namorando a mãe.... ou ele não sabe?

Laura: Sabe... e mais... ele já sabe que o Edgar é pai dele

Sandra: Jura? Me conta essa história direito...vamos.. no caminho você me conta...

No caminho Laura avista um letreiro em uma loja de sapatos... precisam de vendedoras...

Laura: Sandra... eu vou tentar...

Sandra: Mas Laura... você é professora...

Laura: Uma professora precisando de emprego... e sem condições de ficar escolhendo... eu vou lá... me deseje sorte...

Laura entra na sapataria. Um senhor de feições agradáveis a recebe. Conversam por algum tempo... logo Laura sai da loja...

Laura: Sandra... eu começo amanhã...fui contratada...

Sandra: Que bom amiga! Mas você contou sobre seu estado civil?

Laura: Sim... e ele disse que para demonstrar e vender sapatos isso é o que menos importa... Estou tão feliz... não vejo a hora de começar... mas tenho medo da reação do Edgar... tenho impressão que ele não vai gostar desse meu novo emprego...

Sandra: E se ele não gostar?

Laura: Se ele quiser continuar comigo vai ter de entender... durante esses anos que estávamos separados eu aprendi a andar com minhas próprias pernas... e não vou abrir mão disso...

Sandra: Está bem... boa sorte amiga... espero que tudo saia bem...

Laura: Obrigada... vou precisar...

Já em Coimbra, Dra. Filipa e Manoela acabam de voltar a seu escritório...

Filipa: Bem... foi complicado... esta senhora mora num final de mundo... mas enfim temos o depoimento da parteira... tomaste nota de tudo, Manoela?

Manoela: Sim... não deixei escapar nenhuma vírgula do que aquela mulher nos contou... vais mandar esse depoimento para teu colega?

Filipa: Não...vou entrega-lo em mãos... vou ao Brasil... e a senhorita vai comigo..

Manoela: No Brasil? Mas o que temos a fazer lá?..

Filipa: temos muito a investigar ainda... e tenho certeza que lá terminaremos de desvendar esse mistério...