Naquela sala ampla e de mobiliário simples, uma réstia de sol atravessa a janela ignorando as grades de proteção... Edgar contorce as mãos demonstrando com este ato toda sua ansiedade e impaciência... Anda alguns passos de um lado a outro do comodo, parando abruptamente quando a fechadura é forçada
Dr. Franklin: Bom dia... Sou o Dr. Augusto Franklin...
Edgar: Bom dia Dr. Franklin... Sou Edgar Vieira
Dr. Franklin: Por favor sente-se!... Imagino que tenha vindo aqui para buscar informações a respeito do quadro clínico da Sra. Laura...
Edgar: Em primeiro lugar... como o senhor foi o responsável pela internação...
Dr. Franklin: Desculpe... mas a internação foi autorizada por outro colega, o Dr. Amorim.. Infelizmente ele está enfrentando um problema pessoal que o fez afastar-se da instituição... Desta forma, tornei-me responsável pela Sra. Vieira...
Edgar: Eu vim busca-la...
Dr. Franklin: Perdão... mas ela está sob tratamento...
Edgar: A minha mulher não é louca! Não vou permitir que ela continue internada nesta instituição!.. Assino o que for necessário... Me responsabilizo pela saída dela!...Quero que saia daqui agora mesmo!...
Dr. Franklin: Vejo que o senhor não está a par da condição nervosa da Sra. Vieira... Ela está muito transtornada...
Edgar: Quem não está a par da situação aqui é o senhor!.. A minha esposa foi internada aqui de forma absolutamente irregular... Os únicos que podiam fazer isto seriam meu sogro, que se encontra no interior do estado, ou eu...
Dr. Franklin: Sr. Vieira, acalme-se!.. Sua esposa foi internada às pressas... Como seu estado denotava cuidado... abriu-se uma exceção...
Edgar: Se o senhor não lhe der alta, eu processo essa instituição!... Processo o médico que internou, que convenientemente afastou-se, afinal deve ter recebido uma boa quantia para coloca-la aqui... E processo o senhor! O senhor está sendo conivente com tudo isto!
Dr. Franklin: Posso lhe garantir que sua esposa sofre de histeria... Está sendo tratada da forma como podemos no momento devido a gestação... Mas assim que possível... Iremos utilizar a medicação adequada...
Edgar: Eu não quero saber do seu diagnóstico! E se minha esposa não aparecer por aquela porta eu casso a sua licença... E mais... Se algo aconteceu com ela ou com o meu filho... Não vou descansar até coloca-lo em uma penitenciária!
Dr. Franklin: Tudo bem... (dirigindo-se a porta): Enfermeira!... Traga a Sra. Vieira..
Alguns minutos se passam... Enquanto aguarda, Edgar assina um documento confeccionado pelo médico onde ele responsabiliza-se pela saída de Laura daquele local... Enfim a enfermeira abre a porta... A professora, ainda com os braços imobilizados, é amparada pela moça, mal conseguindo caminhar pela tontura proveniente da medicação...
Edgar: Deus! O que vocês fizeram com ela?
Enfermeira: É pelo remédio...
Edgar (tentando desatar a camisa de força ao mesmo tempo que ampara a esposa): Me ajude!... Tire isso dela!...
Enfermeira (ajudando a desatar): Sim senhor!
Edgar (pegando a professora no colo): Meu amor... vem... vamos sair daqui!... O pesadelo acabou!...
O advogado, carregando a esposa, anda rápido fazendo o caminho de saída do sanatório... Quer estar fora daquele lugar o mais rápido possível... Ainda não consegue compreender o que terá feito sua sogra tomar essa atitude!... Vai ter de conversar seriamente com ela!... Uma última conversa... Mas no momento, o importante é levar Laura para casa... O rapaz deposita com cuidado a moça no banco carona de seu automóvel, partindo em seguida rumo ao bairro de Laranjeiras...
Enquanto isto, em outra parte da capital fluminense, pelo largo corredor da Santa Casa, Dra. Evie caminha com passos firmes... Adentra um e outro quarto dos pacientes que estão sob sua responsabilidade, demorando-se o tempo necessário para verificar como cada um deles evoluiu... Chega finalmente ao leito de Joaquim, onde o advogado já se encontra exasperado por ainda estar naquele hospital
Dra. Evie: Bom dia
Joaquim: Bom dia..
Dra. Evie: E então? Como passou a noite?
Joaquim: Bem... eu acho que já posso ir embora...
Dra. Evie (caminhando até o leito): Pelo seu prontuário vi que apresentou febre durante a madrugada... o que é absolutamente normal devido ao processo inflamatório decorrente da lesão... Sente muita dor?
Joaquim: Nada que não possa suportar!... Doutora... Estou falando sério!... Preciso que me dê alta... Estão precisando de mim lá fora!...
Filipa: Joaquim! Quem vai decidir se você está em condições de deixar o hospital é a doutora!.. Sei que queres ajudar, meu amor... Mas no momento é preciso garantir que estejas bem... Acho que mesmo que saia daqui será melhor que fiques em repouso...
Joaquim: Eu sei... mas estou dizendo que estou me sentindo muito bem... Não há necessidade de permanecer...
Dra. Evie: É o que vamos ver... Vou examina-lo...
A advogada sai por alguns instantes do quarto, deixando o rapaz com a médica para que esta possa averiguar qual o seu real estado físico... A doutora faz a anamnese de rotina para estes casos, verificando que realmente Joaquim reagira bem durante a noite e não há mais necessidade de sua permanência no ambiente hospitalar...
Filipa (voltando): E então doutora?
Dra. Evie: Joaquim evoluiu bem esta noite... O inchaço do ferimento é normal... mas logo vai ceder... Não há sinal de infecção... Fiz um novo curativo que deve ser trocado uma vez por dia... Vou prescrever alguns analgésicos e anti-inflamatórios e o paciente pode ir para casa...É necessário que mantenha o braço imobilizado... Vou prescrever o uso de uma tipoia... Apenas por alguns dias... E quero voltar a vê-lo dentro de 5 dias...
Joaquim: Certo Doutora... Em cinco dias...
Filipa: Pode deixar que cuidarei para que faça tudo o que a senhora prescrever!..
Dra. Evie (terminando a prescrição e entregando a Filipa): Se ocorrer algo imprevisto neste intervalo me procurem...
Manoela (entrando): Bom dia... pelo que vejo cheguei a tempo com esta camisa...
Joaquim: Sim... Obrigado por ter ido buscar... Desculpe doutora... Mas não aguentava mais ficar aqui...
Dra. Evie: Eu compreendo...Tenham um bom dia..
A médica despede-se do paciente e de suas acompanhantes e prossegue com as visitas aos enfermos que encontram-se sob seus cuidados naquela instituição. Joaquim com a ajuda de Filipa levanta-se e da forma como pode veste a camisa que Manoela fora buscar na casa do advogado, saindo daquele local logo em seguida...
Filipa (acomodando-se no automóvel em frente ao volante): Bem... eu vou leva-lo para casa e depois pretendo voltar a casa do Edgar... Precisamos notícias...
Manoela: E temos que contar nossa descoberta de uma vez por todas a ele...
Joaquim: Não vamos a minha casa coisa alguma! Vou com vocês!...
Manoela: Joaquim... É melhor que repouse... Depois do que passamos esta noite...
Joaquim: Eu repousei o bastante no hospital.... Preciso ajudar de alguma forma...Quero estar presente quando contarem o que sabemos... E precisamos ajudar nas buscas...
Filipa: Manu... Tu tens os documentos que retiramos da tecelagem, não é?
Manoela: Sabia que havia esquecido algo! Acabei deixando na casa do Joaquim!...
Joaquim: Que remédio!... Vamos até lá...
Filipa: Isso! Vamos... e o senhor já fica...
Joaquim: Sem gracinhas Dra. Borges!... Isto está fora de questão!.. Eu vou com vocês...
Enquanto o trio dirige-se à casa de Joaquim, na casa do bairro Laranjeiras, D. Margarida e Celinha, no andar superior, tentam disfarçar sua apreensão diante dos últimos acontecimentos e distrair Daniel quando ouvem batidas na porta principal da residência, que Matilde, também ansiosa por conta de tudo, atende rapidamente...
Edgar: Matilde... me ajude!...
Matilde: Sim senhor... Que bom que a encontrou! Como ela está?
Edgar: Vai melhorar... Matilde... Vá na frente!...
Celinha (descendo a escada): Edgar! O que houve com minha sobrinha?
Edgar: Depois eu explico D. Celia... Onde está Daniel?
Celinha: No quarto dele... brincando com D. Margarida...
Edgar: Melhor... D. Celia... preciso que me ajude... Diga para minha mãe distrai-lo... Cuidem dele... Não quero que veja Laura assim...
Celinha: Certo... seria chocante para ele ver a mãe dessa forma...
Laura (despertando um tanto tonta): Edgar... Estou em casa?
Edgar: Está... Está tudo bem agora... (olhando para Celinha) Preciso que ligue para a Dra. Evie... Peça que venha aqui...
Laura: Não...
Edgar: Meu amor... É preciso ver ser está tudo bem com você e com o bebê...
Laura: Quero um banho!... Me sinto imunda... O cheiro daquele lugar parece impregnado em mim...
Edgar: Matilde... me ajude com a senhora... Procure uma roupa confortável... Vamos banha-la...
Laura: Eu posso sozinha...
Edgar: Amor... você pode ter vertigens pela medicação... Deixe-me ajuda-la...
A professora não argumenta... Não tem forças e nem vontade para isso... Apenas se deixa levar pelo esposo até o quarto de banho... Enquanto isto, Matilde avisa a mãe do advogado que resolve jogar uma partida de xadrez com o neto para distrai-lo... A empregada vai então ao quarto do casal Vieira e separa o que o advogado pedira... Já no andar inferior da residência, após conseguir o telefone da Santa Casa no escritório com Heloísa, tia Celinha entra em contato com Dra. Evie, que prontamente se põe a caminho da residência de Laura...
Neste interim, próximo ao Senado Federal, Bonifácio aguarda escondido em seu carro... O tempo parece não passar... Até que avista alguém...
Bonifácio: Já não era sem tempo... Fez o que pedi?
Homem: Sim senhor... Entreguei para o secretário do Senador Assunção...
Bonifácio: Ótimo!... Aqui tem o que prometi... E já sabe... Nem uma palavra!... (acionando o motor do automóvel) Bem... e agora... é esperar... Sei que logo estarei perdido... Minha candidatura tão próxima terá de aguardar... Serão tempos difíceis... Mas não vou para o fundo do poço sozinho... Mas não vou mesmo!
Já na casa do bairro de Laranjeiras, Dra. Evie desce do coche que a trouxera apressada... Sobe rapidamente os poucos degraus que separam o jardim da varanda daquela residência e nem ao menos precisa bater pois Celinha já estava à porta assim que ouvira o veículo parar...
Celinha: Dra. Evie... que bom que veio rápido!...
Dra. Evie: Bom dia...Vim assim que pude!... Como está a Sra. Vieira está?
Celinha: Não sei dizer ao certo... Edgar chegou com ela nos braços... Parecia tão fraquinha... indefesa!... Não sei o que fizeram com minha menina, doutora!...
Dra. Evie: Com licença (indo em direção ao andar superior)
A médica sobe os degraus rapidamente e encaminha-se ao comodo onde Laura se encontra. Pede licença para entrar e é recebida por Edgar
Dra. Evie: Bom dia Dr. Vieira...
Edgar (fechando a porta e ficando um tempo do lado de fora com a Dra): Bom dia Dra. Evie...
Dra. Evie: D. Celia não soube me dar detalhes ... O que aconteceu?
Edgar: Ela não voltou ontem para casa... A procurei por todos os lugares... Hoje pela manhã descobri que estava internada em um sanatório... A encontrei ainda um tanto sedada e presa com uma camisa de força!
Dra. Evie: Um sanatório? Mas... por que isso? E quem a internou?... Pelo que me diz não foi o senhor... e até onde sei o Dr. Assunção não está na capital...
Edgar: Não sei o motivo... mas foi minha sogra...
Dra. Evie: Isto viola completamente o procedimento!.. Bem... deixe-me ver como ela está... (entrando e vendo que Laura está acordada) Bom dia Laura... Como está se sentindo?
Laura: Dra. Evie... me sinto... confusa... estranha...
Dra. Evie: Laura... o Edgar me contou tudo... Preciso que colabore comigo para sabermos se o bebê está bem, certo?
Laura: Tudo bem... Confio em você
Dra. Evie: Eu vou fazer alguns exames... mas antes... me diga... o que lembra disso? Fizeram algum medicamento em você?
Laura: Me fizeram inalar alguma coisa... Doutora... preciso contar algo que não contei ao Edgar...
Dra. Evie: Prossiga
Laura: Eu estava saindo da tecelagem da família de meu marido... Fui detida por meu sogro... E ele me fez inalar algo... Que depois me aplicaram novamente no sanatório... Depois das inalações não lembro de nada... Tudo ficou vago... Nem sei como minha mãe estava lá...Só lhe peço para que não comente ainda com ele... No momento oportuno falarei a Edgar sobre isso...
Dra. Evie: Tudo bem!... Vou avalia-la agora... (tomando o pulso)
A médica verifica pulsação, pressão, temperatura e respiração da professora além de outros procedimentos de praxe. Tudo parece normal, apesar de um tanto mais lento, devido ao medicamento que ainda não fora eliminado completamente da circulação. A doutora verifica então o estado gestacional de Laura... Com o auxilio de um estetoscópio de Pinard ausculta os batimentos cardíacos do bebê e sorri... Tudo parece bem...
Dra. Evie (sorrindo): Por isso eu não esperava...
Laura: O que foi? O que tem meu bebê?
Dra. Evie: Espere um instante... vou chamar seu marido... Ele deve saber disso também (indo a porta e pedindo a Edgar para entrar)
Edgar: Doutora... o que foi? Algo errado?
Dra. Evie: Absolutamente... Sua capacidade cognitiva logo será restabelecida... É tão somente o tempo para eliminação do medicamento...tudo está bem com D. Laura e com os bebês...
Edgar: Ainda bem... Graças a Deus!
Laura: Espere aí!... A senhora disse os bebês?
Dra. Evie: Sim... Sua gravidez é gemelar!..
Edgar: Como é? São dois?
Dra. Evie: Sim Dr. Vieira... Parabéns!... Vocês terão gêmeos!...
Laura: Por isso estava achando que minha barriga estava grande demais para o tempo que tenho de gravidez... E agora?
Edgar: E agora... eu estou duplamente... triplamente... infinitamente feliz!...Primeiro por tudo estar bem com você... e agora... por isso!... Vamos ter dois bebês!... Uma família grande... como eu sempre quis!
Laura: Sim meu amor! Agora serão quatro crianças a alegrar essa casa... Quatro filhos!...
Edgar: Dra. Evie... E dessa forma... que cuidados precisamos tomar?
Dra. Evie: Os mesmos de uma gravidez normal... Só é necessário um pouco mais de repouso...
Laura: E minhas aulas?
Dra. Evie: A senhora poderá ministra-las por mais algum tempo... Mas recomendo que nos últimos meses diminua o ritmo... Mas isso é para mais adiante!... Vou acompanhar com mais frequência seu quadro... Imagino o quanto seu pai ficará feliz ao saber que ajudará a trazer dois netos ao mundo!... Creio que ele fará o parto...
Laura: Juntamente com a senhora!... Como tem cuidado de mim sempre que precisei... faço questão de sua presença!...
Dra. Evie: Fico honrada!.. E por agora... vou deixa-la descansar... Bom dia
Edgar acompanha a médica até a porta e volta... Senta-se a beira da cama... Sorri... Dá um beijo na mão da esposa e acaricia seu rosto antes de aplicar um beijo leve em seus lábios...
Edgar: Não sei nem o que dizer... Não sei o que faria sem você... Essas horas que passei sem saber onde estava só me deram a exata dimensão do quanto preciso de ti... do quanto sinto tua falta...
Laura: Não teve um minuto enquanto estava consciente em que não pensei em você e nas crianças... Só pensava em estar com vocês de novo... Em poder abraçar você... e os nossos filhos...
Edgar: Nossos?
Laura: Sim... A Melissa não é minha filha de sangue... Mas é minha filha de coração... Somos uma família... Nós dois... Daniel... Melissa... e esses dois aqui no meu ventre... Quem diria... dois! Será que a gente dá conta?
Edgar: A gente vai dar conta sim!... E por agora.. imagino que a senhora e os bebês estejam com fome... Vou pedir para Matilde trazer algo... Não demoro...
Laura: Edgar... antes disso me diga uma coisa... Você falou com a Filipa e a Manoela?
Edgar: Falei por alto... Aconteceu algo com o Joaquim... Mas agora não é o momento de falarmos disso, está bem? Descanse... Mais tarde eu conto...
Laura: É algo grave? Ele está bem?
Edgar: Ele está bem... Mais tarde, Laura...
Laura: Sei que nem adianta eu tentar fazer você falar... Posso pedir uma coisa?
Edgar: Claro...
Laura: Diz ao Daniel e à Melissa para virem aqui... Quero um abraço dos meus pequenos...
Edgar: O Daniel vem sim... Está aqui no quarto brincando com minha mãe... A Melissa está na escola... Assim que voltar tenho certeza que vem correndo te ver...
Enquanto o advogado vai até a cozinha à procura de Matilde, no Morro da Providência, na escola, o recreio é decretado pela professora... As crianças vão ao pátio em frente ao portão principal da instituição e principiam o lanche e suas brincadeiras e algazarras costumeiras... Melissa, diverte-se jogando cinco marias com suas colegas, não com a alegria de sempre, quando ouve alguém chama-la...
Catarina: Melissa..
Melissa: Mamãe! Que bom te ver!
Catarina: Minha filha... que saudade de você!
Melissa: Por que sumiu?
Catarina: A mamãe precisou resolver umas coisas...
Melissa: Como a tia Laura? Ela também está resolvendo alguma coisa...
Catarina: Pelo jeito você está tristinha...
Melissa: Sim... o papai está triste... preocupado... Ele não diz nada... Mas sei que não está feliz... Onde será que a tia Laura está? Estou sentindo falta dela!...
Catarina: Minha abelhinha!... Que bom que goste tanto de sua professora e se preocupe com seu papai!... Sabe que eu acho que sei o que podemos fazer para deixar seu pai feliz? Vamos procurar a tia Laura!... Eu vou te ajudar...
Melissa: Mas eu não posso agora!.. Tenho aula!...
Catarina: Filha... o que é mais importante? Achar a Laura e deixar seu pai feliz ou estar na escola? Você tem que estudar sim... mas no momento... temos que encontrar sua professora... Ela pode estar precisando de você... De sua ajuda...
Melissa: Está bem... Tem razão mamãe!... Por onde vamos começar a procurar?
Catarina: Vem comigo... Sei de um lugar que sua tia Laura pode estar...
A menina sem desconfiar das intenções de sua mãe dá-lhe a mão... Catarina finalmente conseguira o que queria... Tendo posse da filha, sabe que poderá barganhar o que for com Edgar para que Melissa volte para a casa paterna... É sua chance!... Tudo o que tem de fazer é esconder-se e cuidar por uns dias da menina... E exigir um bom resgate para sua volta a casa dos Vieira...
Já na casa do bairro Laranjeiras, Edgar conversa com Celinha e Guerra, que viera em busca de notícias no piso inferior... O jornalista ouve todo o relato do amigo abismado... E pensa em como tudo aquilo acontecera...
Guerra: É inaceitável essa situação! Como uma instituição que sempre foi considerada séria, com credibilidade, fez isso?
Edgar: Guerra, meu amigo... O que o dinheiro não faz?... O médico fora comprado!...
Guerra: Edgar... isso precisa ser denunciado!
Edgar: Sim... e vou faze-lo!... Assim que Laura estiver melhor...
Celinha: E pensar que foi a Constância...
Guerra: Mas afinal... O que terá levado essa senhora a internar a própria filha?
Edgar: É o que gostaria de saber... e mais... Se Laura estava na tecelagem... Como D. Constância a levou para o sanatório?
Guerra: Talvez estivesse esperando do lado de fora...
Edgar: Mas por que?
Heloisa (entrando): Dr. Vieira... Desculpe, mas não pude deixar de ouvir... Há algo que preciso contar-lhe...
Edgar: Diga, D. Heloisa
Heloisa: Ontem à tarde seu pai esteve aqui à sua procura... Quando o deixei sozinho por uns momentos, percebi que lia os papéis que D. Laura deixara sobre a mesa... Quando terminou... Saiu daqui como um pé de vento...
Edgar: Deus! Meu pai descobriu que Laura assinou a matéria...
Celinha: Mas se fosse assim... por que ele mesmo não fez algo contra a Laura? Desculpe Edgar... sei que é seu pai... Mas ele é capaz de qualquer coisa...
Edgar: Não se preocupe D. Celia... O que estou pensando é que de alguma forma meu pai deve ter convencido D. Constância... Ele não conseguiria interna-la... Mas a mãe de alguma maneira... poderia conseguir...
Guerra: E quer motivo melhor para ela do que uma mulher estar escrevendo para um jornal? Já disse mais de uma vez... Existe preconceito... E para a baronesa isso deve ter sido a última gota d'água!...
Celinha: Não quero nem pensar na reação de Assunção quando souber!... Edgar... tomei a liberdade e ontem quando vocês voltaram pedi que Carlos enviasse um telegrama a ele avisando sobre o desaparecimento de Laura...
Edgar: A senhora fez bem... Eu com tudo isto sequer havia lembrado...
Guerra: A estas horas ele já deve ter recebido... E provavelmente deve estar vindo para cá...
Enquanto isto, no andar superior, Daniel após convencer a avó vai com esta até o quarto onde Laura repousa...
Margarida (dando leves batidas na porta): Perdão Laura... mas tem um rapazinho ansioso por ver a mamãe...
Laura: D. Margarida... eu já estava esperando por ele!... (olhando para o menino) Vem aqui, meu bem... Me dá um abraço bem forte!...
Daniel: Mamãe! (subindo na cama e abraçando Laura)... Que bom que voltou! Senti saudade! Onde você estava que te deixou dodói?
Laura: A mamãe estava num lugar longe daqui... mas agora estou de volta... E vou cuidar de você, mocinho... Como se comportou enquanto eu não estava?
Daniel: Muito bem... não é, vovó?
Margarida: Sim... ele é um encanto!... Não dá trabalho algum!.. Só quando Edgar me disse que queria vê-lo, não sossegou até que pudesse vir aqui...
Daniel: Mamãe... posso ficar aqui com você?
Laura: Claro meu amor... o tempo que quiser...
Daniel: Então agora eu vou ser o seu doutor... e vou cuidar do seu dodói (abraçando a mãe com força)
Já no palacete do bairro da Boa Vista, Constância anda de um lado a outro de seu aposento... Precisa tomar uma atitude... Pega sua bolsa e chapéu e pensa em ir falar com Edgar... É preciso tirar Laura daquele lugar...
Albertinho: Se está indo até o sanatório onde internou sua filha, vai perder seu tempo... Edgar já a levou! E disse que a senhora não poe mais os pés na casa deles!
Constância: Graças a Deus! (parando um pouco) Como disse, Albertinho?
Albertinho: Mãe... como teve coragem?
Assunção (entrando): Albertinho... o que disse?
Constância: Assunção?
Assunção: Sim... vim assim que recebi o telegrama avisando que Laura estava desaparecida... E agora entendo por que não fora você quem o enviou... Constância... eu exijo uma explicação! Com que direito você internou Laura em um sanatório?
Constância: Com o direito que uma mãe tem de proteger sua filha dela mesma! E o médico que me recebeu entendeu isso!
Assunção: Você é louca!
Constância: Laura está desequilibrada... reconheçam isso! Já não bastava essa mania de aulas... de independência... Sabe qual a última novidade de sua filha, Alberto? Agora ela escreve para o pasquim de Carlos Guerra!... Uma mulher... que deveria estar cuidando de sua casa... seus filhos... tendo esse tipo de comportamento... Isso é doença... Loucura!
Assunção: Loucura é o que vou atestar para interna-la se continuar com seus desmandos! Já estou cansado!... Mais um ato seu e não vou pensar duas vezes para coloca-la no mesmo sanatório onde internou Laura... Tem sorte de não fazer isso agora por que pretendo ver como está minha filha...
Constância: Espere... quero vê-la também...
Assunção: Você é surda? Albertinho acabara de dizer que Edgar não a quer lá... E imagino que Laura muito menos... Passar bem...
Albertinho: Eu o acompanho, meu pai... Quero ver minha irmã... E minha mãe precisa ficar só... Refletir sobre o que fez...
Assunção: Vamos...
Enquanto o senador e seu filho se dirigem a casa de Edgar, na escola do Morro da Providência, Sandra começa um novo turno de aulas. Repara que Melissa não voltara do recreio... Preocupa-se... Onde estará a menina?
Sandra: Crianças... alguém sabe onde está a Melissa?
Alunos: Não professora..
Tião: Professora... eu vi a Melissa brincando no recreio... Mas depois de um tempo... não vi mais ela no pátio... Será que ela saiu da escola?
Sandra: Eu não sei!... Crianças... Façam o exercício que vou passar... Vou procurar a Melissa pela escola... Assim que eu voltar corrigimos...
A professora escreve na lousa alguns exercícios de matemática e sai da sala a procura da menina... Verifica em todas as dependências da escola... Por sorte vê Zé Maria passando em frente ao estabelecimento e pede que a ajude a procurar pelo Morro... Volta a sala e, passando mais um exercício como dever de casa dispensa os demais alunos passando a dedicar-se exclusivamente à busca... Cada um por um lado, Zé Maria e Sandra vasculham de cima a baixo o Morro da Providência... e nem sinal da menina...
Zé Maria: Nem sinal dela!... Não teve um barraco em que não tenha procurado por ela...
Sandra: Eu também... Zé... e agora... o que vamos fazer?
Zé Maria: Vou descer para a cidade... Vou procurar aqui pelas imediações... Depois vou até o centro... Ela não pode estar tão longe...
Sandra: Pobre Edgar!.. Primeiro a Laura... agora isso!... Vou até a casa dos Vieira... preciso avisar...
Zé Maria: Vá sim... Eu passo por lá mais tarde... Espero que com a menina...
Sandra: Deus queira!... Até depois Zé!
Já na casa dos Vieira, enquanto Celinha e Margarida tomam chá e Edgar e Guerra conversam, ouve-se a porta novamente... O advogado dispensa as empregadas e ele mesmo vai atender...
Filipa, Manoela e Joaquim: Boa tarde...
Edgar: Boa tarde... Entrem
Manoela: Alguma novidade?
Edgar: Sim! Laura está em casa...está bem...
Joaquim: Graças a Deus! Onde ela estava?
Edgar: É quase inacreditável... Mas estava em um sanatório!... E quem a internou foi minha sogra...
Filipa: Sua sogra? Mas como?
Manoela: Isso não faz sentido... Tinha certeza que tinha sido...
Joaquim: Manoela!
Edgar: Pode falar suas desconfianças, Manoela!... Também imagino que meu pai esteja por trás disto... Só não sei como convenceu D. Constância...
Filipa: Então já sabe?
Edgar: Saber o que?
Manoela: O que sabe Edgar?
Edgar: Que meu pai esteve aqui e descobriu que Laura escreveu a matéria sobre o desvio de verba da prefeitura... Tem mais alguma coisa?
Filipa (silenciando e logo voltando a falar): Edgar... Eu preciso falar com a Laura... Posso?
Edgar: Claro... Está no quarto...
Guerra: Enquanto isto... Joaquim... agora nos conte... Como conseguiu esse ferimento?
Joaquim: É uma longa história...
Margarida: Estamos dispostos a ouvir... Fiquei sabendo do atentato que sofreram na tecelagem... Fico aliviada por ver que estão bem...
Celinha: Nossa... tantos acontecimentos em tão pouco tempo...
Manoela: E pelo jeito não vão terminar tão cedo... Com licença... Vou conversar com Laura junto com Filipa... (encaminhando-se para escada)
As duas investigadoras andam pelo corredor deixando todos naquela sala curiosos e param em frente ao quarto de Laura... Como a porta se encontra aberta, pedem licença e entram...
Filipa: Laura... que bom te ver bem!
Manoela: Estávamos tão preocupadas!.. Com tudo o que aconteceu...
Laura: Estou feliz por vê-las bem, também... Pensei que Bonifácio tivesse feito algo com vocês...
Filipa: Ele tentou... Graças a Deus foi mais o susto do que outra coisa..
Laura: O que aconteceu?
Manoela: Sofremos um atentado ao sair da tecelagem... Joaquim foi atingido por uma bala... Passamos a noite no hospital... Mas já está bem... Está aqui na sala...
Filipa: E eu passei boa parte da noite aqui... Esperando por notícias suas... E pela chegada do Edgar... Ia lhe contar tudo... Mas não consegui... Precisei voltar para Santa Casa antes que ele retornasse!...
Laura: Isso já foi longe demais!... (levantando-se) Ajudem-me a vestir... Vamos contar tudo de uma vez...
Manoela: Tem mais pessoas na sala...
Laura: Vou pedir a tia Celinha para ficar com Daniel, apesar de confiar nela... Guerra pode ouvir.... e D. Margarida merece saber... afinal... foi tão enganada quanto Edgar...
As moças ajudam a professora a colocar uma roupa para descer até a sala onde encontram-se os outros... Após alguns minutos, Filipa, Manoela e Laura encaminham-se para o andar inferior...
Laura (nas escadas): Tia... por favor... preciso que fique com Daniel por uns momentos...
Celinha: Claro... com licença
Edgar: Laura... devia estar em repouso...
Laura: O que temos para te contar e à D. Margarida, já não pode esperar...
Guerra: Se quiserem posso voltar outra hora...
Filipa: Fique Guerra!... Você tem total confiança de todos aqui...
Nisto batem a porta com rapidez....

Edgar: Sandra?

Sandra: Laura! Que bom que está em casa! Estava tão preocupada!
Laura: Sandra! Fico feliz por te ver!
Edgar: Mas no meio do período de aula...Aconteceu algo?
Sandra: Não sei nem como dizer isso para vocês... Estou desesperada... A Melissa... Desapareceu...