Primeiras Cartas

Chegando em Portugal, após duas longas semanas de navio, Edgar instala-se na casa do Sr. Hipolito, tio do pai de Edgar. Este o recebe muito bem. Iniciam-se as aulas. Após alguns dias em Portugal, Edgar escreve uma carta para Laura:

Coimbra, 02 de fevereiro de 1900.

Minha Querida Laura

Espero que esta carta encontre-a bem. Perdoa-me por só agora escrever, mas há apenas 2 dias o navio aportou em Portugal. Ainda estou-me adaptando à vida aqui. Minhas aulas começarão aqui há uma semana, e ontem fui conhecer a Universidade. Tudo aqui me é estranho, tão diferente do nosso país. O tio Hipolito recebeu-me muito bem, tem feito de um tudo para agradar-me e fazer-me sentir como em casa. Mas, a saudade de todos que deixei aperta meu peito... mas, dentre todas, a sua ausência é a que mais doi. Passo horas a fio pensando em ti, em todos os momentos que passamos juntos e felizes. Como queria poder voltar e encontrar novamente em teus braços a força para suportar este castigo que é não poder estar contigo. É no consolo de que irei voltar a ver-te e no amor que sinto por ti que encontro forças para permanecer nestas terras.

Beijos

Teu Edgar.

Após alguns dias, Laura está em casa, lendo como de costume quando Luzia entra com a correspondência da Família e entrega a Constância.

Constância: Obrigada, Luzia. Vamos ver: temos aqui carta da tia Ambrosina, um convite dos Ferreira Barreto para um sarau, convite da Liga Feminina da Moral e Bons Costumes.... oras, Laura, uma carta para você... de Portugal...

Laura ao ouvir falar Portugal larga o livro na mesinha da sala e pega a carta das mãos da mãe

Laura (sorri radiante): É do Edgar (sobe correndo as escadas e vai em direção ao seu quarto)

Lê a carta que seu noivo enviou e emocionada ainda com o que ele escreveu responde

Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1900.

Meu amado

Recebi há pouco sua carta. Não sabes o quanto me alivia que estejas bem. Já estava angustiada pela falta de notícias suas. Aqui, de minha parte tenho que contar-te que, após alguma resistência, meus pais aceitaram que eu assista às aulas do Curso Normal. Estou muito feliz por voltar a estudar. Minha felicidade só não é maior porque estás longe e a saudade que sinto de ti tem-me torturado todos os dias. Não há um só dia em que não lembre de ti e dos dias maravilhosos que passei ao seu lado. Espero que estes anos passsem logo, para voltar novamente a estar contigo e viver plenamente este amor que carrego comigo e que tenho guardado somente para ti.

Beijos

Laura

De inicio a troca de correspondências entre o casal era constante. Mas, com o tempo, os estudos de Laura começaram a lhe tomar tempo e lhe despertar interesse por novas possibilidades... ela começou a pensar em trabalhar quando se formasse, em abrir uma escola junto a sua colega Sandra... e desses sonhos Edgar não fazia parte. Laura começou a pensar que um casamento tal como o de sua mãe não lhe permitiria realizar esses sonhos... e começou a desanimar-se com a ideia do matrimonio....

Por sua vez, Edgar foi-se acostumando com a vida em Portugal. Fez amigos, estudava e nas horas vagas encontrou emprego em um pequeno jornal de Coimbra, onde assinava algumas matérias com o pseudônimo de Antonio Ferreira. Com a vida agitada que agora tinha, mal tinha tempo de lembrar-se de Laura. A vida em Portugal para ele estava muito boa e ele começou a pensar na possibilidade de não mais voltar ao Brasil. Principalmente depois de lhe encomendarem uma entrevista da cantora lírica Catarina Ribeiro, que apresentava no momento um recital em um dos teatros da cidade....