Laura olha para o chão e percebe a bagunça que fez com os papéis de Edgar. Abaixa-se para junta-los e depara-se com a foto de uma mulher... um pouco mais velha que o proprio Edgar, cabelos negros... bonita... olha o verso e lê a seguinte dedicatória: Para Edgar, de sua cantora predileta. Saudades. Catarina... Rio de Janeiro,abril de 1903.

Laura: 1903? Mas isso foi ano passado... não acredito tenha tido tanto cinismo assim... traidor...

Laura está indignada. Seu rosto está enrubescido de raiva. Tranca-se no quarto e procura organizar a bagunça que fez, mas não consegue parar de pensar no retrato que encontrou... os piores pensamentos povoam sua mente a respeito de Edgar... chora... De repente batem a porta... Laura fica paralisada... pensa que pode ser o marido...

Matilde: D. Laura...

Laura (tentando conter o choro):

Sim

Matilde...

Matilde: Tem visita para a senhora... a D. Isabel está lhe esperando...

Laura (limpando os olhos): Isabel? Avise que já desço...

Laura tenta se recompor. Lava o rosto. Pensa que conversar com sua amiga pode faze-la distrair-se... Laura desce e encontra Isabel angustiada

Laura: Olá Isabel

Isabel: Laura... desculpa vir aqui... mas você é a única amiga da mesma idade que tenho e preciso desabafar...

Isabel conta tudo o que se passou com ela nos últimos tempos... a prisão do noivo... o envolvimento com outro homem (que não revela ser o irmão de Laura)... e seu desespero ao saber que foi enganada... Laura tenta consolar e aconselhar a amiga... depois de mais calma, Isabel percebe que Laura também não está bem...

Isabel: Laura... vejo que você também está com problemas... o que está acontecendo?

Laura: Nada Isabel... (ela põe as mãos no rosto e tenta não chorar)

Isabel: Como assim? Você está quase chorando... o que houve amiga?

Laura: Eu vou te contar... encontrei entre as coisas do Edgar um retrato de uma mulher com uma dedicatória escrita no ano passado... Isabel... o Edgar me traiu... olhe... tenho aqui o retrato...

Isabel: Laura.. você é tão mais racional que eu... não

tire

conclusões precipitadas... talvez seja apenas um retrato autografado de uma cantora para um fã... e olha... aqui diz Rio de Janeiro

Laura: Sim... mas nessa época o Edgar estava em Portugal... ou será que veio para o Brasil sem avisar ninguém?

Isabel: Laura conversa com ele... garanto que vocês vão conseguir se entender...

Laura: Com a raiva que estou... não quero ver o Edgar na minha frente tão cedo...

Isabel: Bem... essa cantora estava no país nessa época... podemos tentar descobrir alguma coisa sobre ela...

Laura: Tem razão... estou lembrando que ano passado uma companhia portuguesa estava se apresentando no Teatro Municipal... vamos até lá? Você pode me acompanhar?

Isabel: Claro... mas já está tarde... é melhor irmos amanhã...

Laura: Está certo... amanhã de manhã

Isabel: Certo... agora tenho que ir... Madame deve estar esperando...

Elas se despedem.

Laura: Matilde... vou para meu quarto. Não quero jantar.

Laura tranca-se no quarto e fica remoendo os acontecimentos... pensa em tudo que viveu com o marido... as lágrimas lhe correm pelo rosto... pensa em Edgar com aquela mulher... só de pensar seu sangue ferve...

Batem a porta

Edgar: Laura? Você está bem?

Laura: Me deixa em paz... estou com muita dor de cabeça...

Edgar: Quer que chame seu pai?

Laura: Não.

Edgar estranha a atitude ríspida da esposa. Mas não quer contraria-la.

Após jantar e ler um pouco Edgar sobe com a intenção de dormir. Bate a porta

Edgar: Laura... me deixa entrar...

Laura: Quero ficar sozinha...

Edgar: Amor... o que está acontecendo?.. abre essa porta ou eu vou por ela abaixo...

Laura: Vá dormir no outro quarto... não quero te ver...

Edgar: Não te entendo... juro que não te entendo... mas tudo bem... pelo menos você pode me deixar pegar um pijama e uma muda de roupa?

Laura vai até o roupeiro e pega as coisas que Edgar pediu. Abre a porta

Edgar: Pensei que não ia me deixar te ver...

Laura (sem conseguir encarar Edgar): Aqui estão suas coisas (batendo a porta na cara do marido)

No dia seguinte, Laura sai de casa bem cedo... Edgar ainda está dormindo. Marcou de encontrar-se com Isabel em frente ao Teatro Municipal às 8:00hs da manhã... mas sua ansiedade é tanta que não agüenta esperar em casa... fora isso teria de encarar Edgar e não quer fazer isso antes de ter certeza do que está pensando...

Edgar acorda. Desce para tomar café.

Edgar: Matilde... onde está a D. Laura?

Matilde: Ela saiu bem cedo senhor...

Edgar: Será que tinha alguma aula? Mas tão cedo... Obrigado Matilde

Edgar resolve não ir à fábrica. Vai esperar sua esposa voltar.

Enquanto isso, no teatro:

Laura: Bom dia

Atendente: Bom dia

Laura: Gostariamos de informações sobre uma cantora que apresentou-se aqui no mês de abril do ano passado...

Atendente: sim... e qual o nome dela?

Laura: É .. C(sem conseguir dizer o nome)

Isabel: Catarina

Atendente: Catarina Ribeiro? Ela veio apresentar-se junto a Ccompanhia Lisboeta de Canto Lírico...

Laura: Deve ser essa..

Atendente: Vou buscar o programa do teatro para confirmarem

Ele sai e busca vários programas. Está confirmado... é ela mesma...

Atendente: É uma cantora magniífica... brasileira... Conversavamos muito... mas voltou antes do resto da companhia para Portugal...

Laura: Por que?

Atendente: Estava perdidamente apaixonada por um rapaz... estudante de Direito...

Laura (olhando para Isabel): Edgar

Atendente: Sim... esse era o nome do rapaz

Isabel: Obrigada...Com licença

Laura quase não se contem em si de tanta raiva. Entram no bar Guimarães...

Laura: Traidor... sem-vergonha.. isso explica aquela história de terminar o noivado... os presentes não mandados... deve ser tudo por causa dela...

Isabel: Acalme-se... Tente conversar com ele..

Laura: Conversar? Não há nada o que falar... ele me traiu... só vim para esse bar pois não quero voltar para casa e dar de cara com ele...

Isabel: Laura... essa hora ele deve ter ido para fábrica... vá para casa... pense no que vai dizer... e no que vai fazer...

Laura concorda. Vai para casa. Entra na sala e está indo em direção às escadas, quando ouve Edgar..

Edgar: Será que agora podemos conversar? Onde estava? O que, afinal de contas, está acontecendo?

Laura (voltando-se): Ah... você não sabe? ... Catarina Ribeiro... o que esse nome quer dizer para você?