Edgar continua no jornal... Guerra tenta fazer com que o amigo se distraia...

Guerra: Edgar... e esse movimento que está acontecendo dentro dos navios das forças navais... tenho impressão que pode não terminar bem... eu estou precisando que alguém investigue a fundo o que está se passando na Marinha... me parece que os negros que se alistaram estão sendo tratados como escravos... será que o Antônio Ferreira tem uma vaguinha na sua agenda?

Edgar: Guerra... eu adoraria fazer essa matéria... mas... minha cabeça tá em outro lugar... e preciso voltar a focar meu trabalho... tenho alguns processos no interior que preciso ver o andamento... e tem uma audiência...que vai a juri popular na semana que vem em São Paulo... vou ter de meu ausentar do Rio ainda essa semana... e vou ficar fora por umas duas semanas... e agora isso da Laura...Guerra eu podia esperar isso de qualquer uma... mas dela não... eu não estava preparado para isso...

Guerra: Edgar... vocês estão divorciados... é normal que cada um tente seguir sua vida... agora... Edgar... tem certeza que esse tal Daniel é mesmo um, como direi, "affair" da Laura?

Edgar (emburrado): Se não for, vai ser o que?

Guerra: Sei lá... Edgar... cadê seu espírito investigativo? Você sempre buscou a verdade a qualquer preço... é o meu melhor repórter... use essa sua capacidade para descobrir que é esse homem...

Edgar: Não sei se quero descobrir... Guerra eu vou indo... preciso passar no fórum... quer jantar lá em casa? Sua companhia vai me fazer bem...

Guerra: Está bem... depois de fechar o jornal eu vou para lá... não perderia a comida da Matilde por nada...

Edgar sai. Vai ao fórum e descobre que um dos processos que tinha em andamento em Volta Redonda tem audiência marcada para aqui dois dias... Terá de viajar ainda amanhã...

Edgar: E eu com tanta coisa para resolver aqui... esse tal de Daniel... o Guerra tem razão... preciso descobrir quem é esse sujeito... caso contrário não terei paz... mas por onde vou começar?

O rapaz de repente vê seu colega Freitas no fórum. Lembra-se que Joaquim trabalha no escritório dele... quem mencionou Daniel foi Joaquim... deve saber algo... Edgar sai apressado... e vai de encontro ao emprego do antigo colega de faculdade... entra no escritório e é recebido com surpresa pelo Dr. Castro

Edgar: Boa Tarde

Joaquim: Boa tarde... não esperava ve-lo aqui...há quanto tempo, Edgar...

Edgar: Vou ser breve Dr. Castro... preciso que me responda qual o interesse que tem por minha ex-esposa...

Joaquim: Você disse bem... ex-esposa... nem ela, muito menos eu lhe devemos alguma satisfação... mas... já que quer saber... amo Laura. ... e vou lutar por ela até o fim...

Edgar (tentando se manter calmo): E você me diz isso com essa sua cara de pau tão peculiar... você não tem vergonha... moral...por favor... continua insistindo mesmo ela estando com outra pessoa...

Joaquim: Outra pessoa?

Edgar: Sim... esse tal de Daniel... você o conhece, não?

Joaquim (rindo): Daniel? Edgar... deixe de dizer bobagens...o Daniel e eu somos muito amigos...

Edgar: Assim como você era meu amigo... e agora corteja Laura desavergonhadamente...

Joaquim: Daniel e eu amamos Laura... mas de formas diferentes... nós não concorremos pelo amor dela... E ela... bem... ela jamais irá amar alguém da maneira como ama o Daniel... eles são mais que amigos... mas não são amantes...

Edgar: Me explique isso melhor... afinal o que eles são?

Joaquim: Desculpe... mas não posso explicar... somente a própria Laura pode te esclarecer isso...

Edgar sai confuso do escritório... Não tem outra forma... precisa conversar com Laura e tirar isso a limpo... e hoje ainda... a essa hora o Arquivo Nacional já fechou... vai até a casa em que supostamente Laura mora.... bate com pressa na porta... Isabel o atende

Isabel: Edgar? O que houve? Posso te ajudar?

Edgar: Preciso falar com a Laura... ela já chegou do trabalho?

Isabel: Edgar... a Laura não mora aqui...

Edgar: Como não?

Isabel: Ela nunca morou aqui... se não acredita pode vasculhar a casa...

Edgar: Não estou duvidando de você, Isabel... desculpe se pareceu isso... mas não entendo porque Laura me fez pensar que morava aqui... o que ela está me escondendo afinal?... Onde ela mora?

Isabel: Edgar...sinto muito... mas a Laura me pediu para não contar a ninguém...

Edgar: Eu respeito sua atitude... está protegendo sua amiga... Boa noite Isabel...

Isabel: Boa noite...

Edgar está indo para casa. Lembra-se de tudo que ouvira... em Petropolis... no Arquivo Nacional... o que Joaquim lhe falou no escritório... esses pensamentos tomam sua mente... Guerra chega a sua casa, ele tenta pensar em outras coisas, distrair-se, dar atenção ao amigo que convidara para jantar... estão na sala de estar esperando que Matilde sirva um café após a refeição... Edgar não aguenta mais e resolve desabafar mais uma vez com Guerra

Edgar: Guerra... eu já não sei mais o que pensar... a Laura me fez pensar que morava na casa da Isabel... certamente está se escondendo... ou tentando esconder alguém... aí ela vem aqui e me diz que tem algo para esclarecer sobre isso ... me diz que temos algo em comum... e não me diz nada... vou atrás dela e ouço o que te contei lá no jornal, fora o que já tinha escutado em Petropolis...... vou atrás do Joaquim e ele me diz que não concorre com o tal do Daniel pelo amor da Laura... que ele e esse sujeito são amigos... (Matilde entra e serve café para Edgar e Guerra)

Guerra: Edgar... tudo isso me faz pensar em algo... o que a Laura te escreveu na tal carta que você nem sequer leu... será que a reposta para tudo isso não estava lá?

Edgar: A carta... se eu pudesse voltar no tempo e pudesse ler... mas agora vou ter de encontrar outra maneira de descobrir... pode ser que a resposta estivesse nela... mas pode também não ser nada...nunca vou saber...

Guerra: Edgar... não se aflija tanto... uma hora ou outra a verdade vai aparecer... agora preciso ir... amanhã preciso estar cedo na redação...

Edgar: Eu te acompanho até a porta... vou tentar dormir... amanhã embarco cedo para Volta Redonda.. espero estar de volta para o aniversário da Melissa.... o que mais me angustia é que não vou conseguir fazer nada a respeito disso pelas próximas semanas... pensei em falar com Laura no trabalho amanhã, mas vou embarcar antes do Arquivo abrir... e como não sei onde mora...

Guerra: Viaja em paz... resolve teus assuntos profissionais... e depois dedique-se a essa confusão.... logo tudo irá se resolver.... converse com a Laura... ela vai te explicar...

Edgar: É o que eu espero... Boa Noite...

Edgar volta para a sala e senta-se um pouco no sofá. Matilde entra com algo em suas mãos...

Matilde: Dr. Edgar?

Edgar: Sim Matilde...

Matilde: Desculpe... mas não pude deixar de ouvir sua conversa com o Sr. Guerra... sobre a carta...

Edgar: O que tem Matilde?

Matilde: Naquela ocasião... quando fui limpar o escritório... eu vi que o senhor tinha jogado no lixo...

Edgar: Não sabe como me arrependo disso...

Matilde: Talvez seja tarde, mas... aqui está... (entregando a Edgar) eu guardei para quando o senhor estivesse mais calmo ou quisesse le-la...

Edgar (trêmulo pegando a carta da mão de Matilde): Obrigado Matilde... nunca vou poder pagar pelo que fez...

Matilde: Com licença

Matilde sai. Edgar olha para a carta que tem nas mãos... abre o envelope com o cuidado que deveria ter tido a quatro anos atrás... começa a ler... nas primeiras linhas seu coração começa a bater descompassado...ali diz que seria pai... a cada linha sua expressão vai se tornando cada vez mais desesperada... a emoção toma conta dele... só então se dá conta do que fez... Daniel... é um menino... é seu filho... Laura devia ter contado desde o inicio... mas ela estava com tanta raiva por causa de Catarina... agora entende as visitas frequentes do Dr. Assunção pouco antes de se divorciarem... se tivesse dito antes... talvez tudo teria sido diferente... mas... ela tentou contar depois... e eu, pensa, com esses meus ciúmes absurdos preferi ignorar o que escreveu... e agora? Não tenho como recuperar o tempo que perdi... não vi Daniel nascer... começar a falar... andar... começar a descobrir o mundo... não lhe dei amor.. carinho... não ajudei a cria-lo...não lhe dei tudo o que sempre quis ofertar aos filhos que Laura e eu pensávamos ter quando eramos casados...não sei como ele é... não sei como é o rosto do meu filho... só sei que mora aqui no Rio de Janeiro... mas onde? Preciso resolver isso... preciso conhecer Daniel...e pedir perdão de joelhos a Laura por ter duvidado de seu caráter... de sua moral... ela sempre me foi fiel... e eu retribui assim... trazendo Catarina sem que ela soubesse.... ignorando seus sentimentos e me preocupando exclusivamente com o que estava acontecendo com Melissa... não percebendo que estava esperando pelo filho que tanto queríamos.... e para finalizar não lendo essa carta.. e a fazendo pensar que não me importo com meu próprio filho e com ela..... Meu Deus... como fui estúpido... desgraçado... imbecil... como vou resolver isso? E.... ainda tem essa maldita viagem que não tenho como cancelar... que Deus me ilumine nestes tempo que passarei longe daqui para que ache uma forma de me aproximar de minha família...

Edgar não consegue dormir aquela noite... Está sentindo-se o pior ser que existe na Terra... alegra-se apenas ao pensar que tem um filho com Laura... imagina que deva ser parecido com ela...genioso... inteligente... sagaz... mas a revolta consigo mesmo é tamanha que não consegue acreditar que o ciúme que sente de Laura pôde leva-lo a essa situação... O dia amanhece... Edgar vai a estação ferroviária e embarca no trem que vai para Volta Redonda... dali vai para São Paulo e só retornará aqui algumas semanas...

Passa-se o tempo. É novembro... Edgar volta ao Rio de Janeiro. Está afoito. Mal larga as malas em casa e sai apressado... tem muito o que fazer hoje... precisa ir ao Arquivo Nacional... não vai esperar mais para ter essa conversa... precisa conhecer seu filho...

Na casa do Cosme Velho, Laura e Sandra estão animadas... Laura arruma Daniel para sair com sua madrinha

Laura: E então... onde vocês vão?

Daniel: Não sei... quero ir tomar sorvete... por que você não vai com a gente?

Laura: Eu preciso terminar uma pesquisa que estou fazendo, meu bem... (olhando para Sandra) estou escrevendo um artigo que pretendo enviar para o jornal... estou de folga mas mesmo assim tenho trabalho para fazer...

Daniel: Ah, mamãe... mas sem você não tem graça...

Sandra: Ah... é assim? Quer dizer que não gosta de passear comigo? Que vai ser algo muito ruim?

Daniel: Não... dindinha...

Sandra: Pois é uma pena viu? Nós íamos comprar um presente de aniversário para você... o que você quisesse...

Daniel: Oba! Presente! Isso sim é supimpa!

Eles brincam e Laura termina de arruma-lo... Sandra e Daniel se despedem e vão passear... tomam a rua do Ouvidor...olham algumas vitrines... até chegarem a loja que Sandra pretende entrar... Daniel está muito feliz... enquanto a madrinha se distrai ele se esconde entre as prateleiras cheias de brinquedos....

Edgar vai ao Arquivo Nacional. Lá lhe informam que é o dia de folga de Laura.

Edgar: Mas que maçada... (suspira) vou ter de esperar até amanhã... por sinal... amanhã preciso ver Melissa... nem acredito que vai fazer 6 anos... preciso comprar algo para ela

Edgar vai a uma loja de brinquedos... está procurando um jogo... quando um menininho vem correndo e tropeça em suas pernas e cai... ele estende a mão para a criança erguer-se... após ajuda-lo ele se agacha...

Edgar: Você está bem?

Daniel: Sim... obrigado...

Edgar olha para o rosto daquele menino... Algo lhe parece familiar... não sabe exatamente o que...

Edgar: Onde está sua mãe?

Daniel: Em casa... ela tinha uma "pequisa" para fazer...sabe ela lê muito...

Edgar (achando divertido aquilo) Ah é?... e quem está com você?

Daniel: Minha dindinha... deve estar me procurando...

Edgar (apontando uma moça loira): É aquela?

Daniel: Não... a dindinha Sandra é bem mais bonita que ela... e minha mamãe é mais bonita que as duas juntas...

Edgar: Não me diga... e o que mais?

Daniel: Ah... ela é supimpa... me conta histórias... canta... brinca... mas trabalha muito... eu acabo ficando mais com a "Getudes" que com ela...

Edgar: Gertrudes? (olhando fixamente para o menino... pensa que só pode ser coincidência essa criança ter uma madrinha chamada Sandra e uma babá chamada Gertrudes... começa a reparar mais naquele menino... deve ter o que? 3 ou 4 anos? é muito esperto para idade que tem... e esse rosto..... me lembra minha própria face quando criança... os olhos verdes... os cabelos.. o jeito de sorrir.)

Daniel: Sim... é minha babá... como a mamãe precisa trabalhar eu fico com ela...

Edgar: Como é o nome da sua mãe?

Daniel: Laura... Laura Assunção Vieira...

Edgar (tentando se controlar e não assustar seu filho): e você....

Daniel: Daniel Assunção Vieira... mas pode me chamar só de Daniel... e você... como se chama?

Nisto Sandra chega e fica estaqueada ao ver pai e filho ali... conversando... ela percebe que Edgar está quase chorando...

Edgar (suspirando): Edgar... apenas Edgar... estou muito feliz por te conhecer... Daniel...