Ouvindo os pingos da chuva enquanto lê uma revista e toma seu chá de hortelã na biblioteca da mansão da família Assunção, Constância pensa consigo que tudo está encaminhado... Laura voltara a relacionar-se maritalmente com Edgar e o casamento de Albertinho com Manoela está a uma questão de semanas... Alberto, seu esposo, goza de prestígio político, diferente do sogro de sua filha... que desta certamente viu seu nome e reputação jogados à sarjeta... Reflete se isto poderia respigar em sua família, quando Luzia interrompe seus devaneios...
Luzia: Perdão Baronesa... a senhora tem visita... o Sr. Vieira a aguarda na sala de estar
Constância: A esta hora? Deve ser algo urgente... Retire-se Luzia..
A baronesa levanta-se da poltrona que ocupava, dando algum retoque em sua saia de tafetá... Anda altiva pelo recinto, vendo do outro lado do grande cômodo sua visita impaciente, que ao perceber sua presença apressa-se ao seu encontro e entra no assunto que ali o trouxera sem mais delongas...
Bonifácio: Preciso de sua ajuda... A menos que prefira mais um escândalo envolvendo seu nome...
Constância: Primeiramente Boa noite... Ser sogro de minha filha não lhe dá o direito de entrar aqui dirigindo-se a mim desta forma! Como ousa vir até aqui e ameaçar-me com tamanha audácia? Um escândalo envolvendo meu nome... Oras Bonifácio, não blefe!... Já passei por muitos escândalos... mas no momento, o alvo é você!...
Bonifácio: Por culpa de sua filha... Por acaso sabia que o tal Felipe Machado é nada mais nada menos que Laura Vieira?
Constância: Laura? Minha filha é esse jornalistazinho desprezível? Ela passou de todos os limites... Laura não devia trabalhar... e muito menos escrever... para jornal nenhum... Vou conversar seriamente com ela!...
Bonifácio: Claro.. então agora me acompanhe...
Constância: Acompanha-lo? Desculpe... mas não vou até a casa de Laura agora...
Bonifácio: Ela não está em casa....Não tenho tempo para rodeios... Já disse que preciso de sua ajuda...
Constância: Bonifácio.... o que fez com minha filha?
Bonifácio: Acalme-se...
Constância: Se você encostou um só desses dedos sujos na minha filha, eu mato você!
Bonifácio: E se não me ajudar pode ter certeza que amanhã toda sociedade carioca vai saber que a nobre esposa do Senador Assunção mantém um caso furtivo com um jovem advogado da capital da República...
Constância: Como ousa me difamar!
Bonifácio: Oras... pare de fingir! Sabe muito bem do que estou falando... E tenho testemunhas... Por mais de uma vez a vi saindo do hotel onde Humberto Ferraz Pontes reside... E sei muito bem que não é pelos seus préstimos como advogado que mantém encontros com esse moço.. Imagine o escândalo!... Uma mulher de sua idade envolvida com um rapaz que tem idade para ser seu filho!... Por sinal... o que diria Albertinho ao saber que a mãe encontra-se com um de seus amigos?
Constância: Você não faria isso... Ninguém vai acreditar
Bonifácio: Quer arriscar, baronesa? Sabe... para um homem como eu é muito fácil transformar boatos em verdades absolutas... Se não quer que seu nome esteja nas páginas dos jornais e sua reputação na lama... Vais fazer exatamente o que te disser... E agora vamos... Antes que Laura acorde...
Constância: Onde ela está? Você a feriu?
Bonifácio (pegando o braço de Constância e dirigindo-se a porta): Está no automóvel.. E não... Não a feri... Apesar de tudo ela é mãe de meu neto... E trás outro em seu ventre... Está sedada... Vamos... no caminho lhe explico o que vais fazer...
Sem alternativa e com medo de um escândalo envolvendo-a diretamente, a baronesa da Boa Vista acomoda-se no banco traseiro do automóvel, pousando a cabeça de sua filha desfalecida em seu colo... Enquanto o pai de Edgar sai daquele local, no bairro de Laranjeiras, o advogado está um tanto inquieto...Já se faz tarde e a esposa ainda não chegara... Nisto ouve batidas à porta...
Edgar (nervoso): Deve ser ela... Esqueceu da chave...
Celinha: Olá Edgar...
Edgar: D. Celinha... Guerra... boa noite...
Guerra: Desculpe virmos sem avisar... mas Celia insistiu...
Edgar: Por favor... entrem...
Guerra: Espero que não estejamos atrapalhando...
Edgar: De forma alguma...
Celinha: E Laurinha, onde está?
Edgar: Não chegou ainda... mas não deve demorar... Sentem-se...
Guerra: Edgar... se preferir voltamos em outra oportunidade...
Edgar: Guerra... por favor... acomode-se... Laura ficará feliz ao ve-los aqui...
Edgar esforça-se em ser gentil com suas visitas inesperadas, apesar de continuar preocupado com a demora da esposa... Algum tempo passa, e a chuva, que caia torrencialmente, ganha ainda mais força... Raios cortam os céus da capital fluminense quando finalmente Joaquim chega à Tecelagem Vieira... Caminha pelos corredores escuros e silenciosos daquele local e logo está a frente da porta do escritório da presidência, onde Filipa e Manoela colocam em ordem os papeis que haviam retirado daquela gaveta e apavoram-se ao perceber que alguém está forçando a maçaneta..
Joaquim (dando algumas batidas enquanto abre a porta): Pode-se entrar?
Filipa (suspirando aliviada): Joaquim! Você nos assustou!..
Joaquim: Desculpe... Estava preocupado... Preciso falar contigo e como no hotel me disseram que ainda não havia chegado e também não as vi na Colonial... vim para cá... Achei que tinha acontecido alguma coisa...
Manoela: E aconteceu mesmo...
Filipa: Joaquim... diga o que quer falar... depois também temos a algo a contar...
Joaquim: Bem... hoje no clube... quando estávamos no vestiário conversando... Fernando apareceu e provocou o Edgar com uma série de ofensas... Os dois acabaram se engalfinhando ali...
Manoela:Alguém se feriu? Como eles estão?
Joaquim: Apesar de um sopapo ou outro... estão bem... mas o que importa é que não conseguíamos aparta-los... até que Rufino apareceu...
Filipa: Rufino....
Joaquim: Filipa... o tal Rufino falou com tanta intimidade com os irmãos Vieira e eles acataram as palavras daquele senhor de tal forma que me deixou extremamente intrigado!... Então perguntei ao Alberto após o acontecido se ele sabia o por que desse comportamento dos rapazes... E ele me disse que o Sr. Rufino...
Manoela: Trabalhava para o Sr. Vieira... Nesta tecelagem...
Joaquim: Você já sabia, Manoela?
Filipa: Na verdade soubemos hoje... Olhe o que encontramos... (mostrando os papéis ao noivo)
Joaquim: Onde encontraram isto?
Manoela: Creia... aqui no escritório... Na última gaveta desta secretária, há um fundo falso...
Joaquim: Bem... isto põe fim ao mistério.. Bonifácio Vieira é o pai da filha de Catarina Ribeiro... Meu Deus... que ironia!... Edgar estava criando por filha a própria irmã...
Filipa: É muita sordidez, não? Bonifácio viu tudo o que isso provocou... e sem se importar com ninguém além de si mesmo, continuou com sua farsa...
Joaquim: O que pretendem fazer agora?
Filipa: Vamos até a casa do Edgar... a Laura foi na frente para prepara-lo...
Joaquim: A Laura já sabe, então?
Manoela: Ela estava aqui quando Filipa encontrou os documentos...
Joaquim: Eu vou com vocês...
Filipa: Claro... Você também fez parte desta investigação...
Os três advogados saem daquele escritório... Andam pelo corredor e após passarem pela guarita do vigia, percebem que o mesmo não se encontra no local... Pensam que deve ser o momento da ronda... Atravessam o grande portão negro e alcançam a rua... A chuva estiara... Estão a poucos passos do automóvel de Joaquim quando um estampido é ouvido... Um disparo... seguido logo por outro que acerta a mureta da fábrica
Filipa (abraçando Joaquim, enquanto Manoela fica sem reação): Meu Deus... tiros...
Manoela: Ele já sabe... quer nos matar!..
Joaquim: Venham... vamos sair daqui... (apoiando as costas contra a lataria de um automóvel) fiquem aqui... E quando eu disser para correrem... Corram...
O rapaz observa a rua... Tudo está calmo... Sabe que alguém deve estar apenas esperando um movimento deles para realizar outro disparo... Mas é preciso sair dali... Nota que o vigia da tecelagem está voltando à guarida... É o momento...
Joaquim: Agora... Corram!.. E não olhem para trás...
As moças obedecem... Correm em direção ao automóvel do moço, que também principia sua corrida... Subitamente Filipa percebe um vulto... Alguém envolto em sombras escondido junto ao prédio da esquina em frente... A pessoa a vira... Não há como fugir... Filipa estaqueia... Quer correr mas suas pernas não obedecem.... O motorista de Bonifácio tem sua grande oportunidade... Joaquim nota que a noiva ficara para trás... Há algo errado... Volta...
Joaquim (ouvindo um novo disparo): Filipa.... não...
O advogado consegue empurrar a noiva que cai no chão.... Contorce-se ... O vulto some na escuridão... Joaquim sente uma dor lancinante vinda de seu braço e leva a mão ao ferimento... Sente algo como um ferro queimando seus músculos... Aquilo arde... Retira a mão e percebe que a mesma está completamente ensanguentada... Assim como a manga de seu terno que aos poucos vai manchando-se mais e mais de vermelho...
Filipa (levantando-se assustada e chorando): Socorro... alguém ajude aqui...
Manoela (vindo ao encontro dos dois juntamente com o vigia que armado tentara procurar pelo autor do disparo): Vocês estão bem?
Joaquim (com dor): Acho que sim...
Manoela (olhando para Joaquim): Está perdendo muito sangue... Precisamos estancar isso...
Vigia: Doutoras... esse senhor precisa de atendimento médico... Não posso sair daqui para leva-las, mas a Santa Casa fica a poucos quarteirões daqui... Espero que algum coche passe logo
Manoela, corta parte de sua saia e com um galho que pede ao vigia para arrancar de uma árvore faz um torniquete acima da lesão do rapaz... Filipa que tenta acalmar-se, pensa em uma maneira de conduzir Joaquim até o hospital... A rua está deserta.... E não há tempo para ficarem esperando por um coche... Há muito não dirige um automóvel... Mas naquele momento é a única saída que encontra...
Manoela (terminando de fazer o torniquete): Isto deve resolver até chegarmos a Santa Casa...
Filipa: Entrem no automóvel.. Vamos até lá....
Joaquim: Desde quando você sabe guiar?
Filipa: Tem tempo... mas isso não vem ao caso agora... Você não pode e precisa de ajuda...
Desconfiados, Manoela e Joaquim acomodam-se nos assentos do automóvel e Filipa dá a partida naquele veículo com alguns solavancos pela falta de prática e o nervosismo que lhe toma conta... Enquanto isto, em um ponto afastado da cidade, Laura chega a seu destino... O carro após identificação passa um grande portão... Constância desembarca sabendo que terá de seguir todas as orientações que o pai de Edgar lhe dera caso queira manter sua reputação perante a sociedade... Sobe os poucos degraus que separam o gramado da varanda daquele casarão branco rodeado por muros enormes... Percorre os corredores daquele local lúgubre... Apavora-se com tudo o que vê ali... Pessoas vagando... outras apoiadas nas paredes... A maior parte sem noção de tempo... lugar... Gente que veio parar ali... e fora esquecida para sempre... A baronesa anda calada e altiva até a sala no final do corredor, onde é recebida por um senhor, amigo de anos de seu marido e que se prontificara em atende-la àquelas horas...
Constância: Boa noite...
Dr. Amorim: Boa noite, Sra. Assunção... Entre...
Constância: Com licença
Dr. Amorim: O Sr. Vieira telefonou mais cedo dizendo que a senhora viria até aqui... Em que lhe posso ser útil?
Constância: Dr. Amorim... vou direto ao ponto... preciso que minha filha passe alguns dias aqui... A pobrezinha anda muito atacada dos nervos... E já não sei mais o que fazer em casa para acalma-la... Como o senhor deve saber, Laura é uma mulher divorciada... Desde que voltou à capital tem passado por situações, digamos, bastante tensas... Tudo isso alterou muito seu equilíbrio emocional... Tenho medo que acabe por fazer algo que não deve, se o senhor me entende...
Dr. Amorim: Claro.. D. Constância... vou precisar realizar alguns exames para diagnosticar qual a enfermidade de sua filha.. Assim que estiver em posse destes dados poderemos proceder a internação... Além disso, a senhora sabe que é necessária a autorização do pai ou do marido da enferma para isto...
Constância: O senhor não entende... Preciso que o senhor a interne neste momento... Tive de seda-la para conseguir traze-la até aqui... Como disse... Laura é divorciada... Meu marido está em São Gonçalo... Por favor... eu pago o dobro... ou até mesmo o triplo do valor das diárias... Mas interne minha menina
Dr. Amorim (cofiando o bigode): Bem... se o caso é tão grave... E por se tratar da filha de meu grande amigo Dr. Assunção...Eu autorizo a internação... Somente vou ter de escrever que trata-se de uma paciente em crise, com transtorno comportamental e emocional, para justificar a baixa ... E já vamos entrar com medicamentos para tranquiliza-la... Não se preocupe... Ela está em boas mãos...
Constância: Eu lhe agradeço... mas há um porém quanto aos medicamentos... Laura está grávida... Por sinal... Boa parte de sua angústia está exatamente neste fato... Ela reaproximou-se do marido... Engravidou... Mas eles acabaram novamente se desentendendo... E esta é minha maior preocupação... Não quero que nada aconteça com a criança que espera...
Dr. Amorim: Eu compreendo... Vamos usar uma medicação leve, que não cause danos ao feto... Onde ela está?
Constância: No automóvel do Sr. Vieira... Ele gentilmente me prestou auxílio para traze-la até aqui...
Dr. Amorim: Vou pedir a um dos enfermeiros para que a transfira para um dos leitos imediatamente... Para maior comodidade, ela não terá contato com outras pacientes e apenas eu e uma enfermeira cuidaremos dela... Seria importante que a senhora permanecesse aqui até o efeito do sedativo que usaram passar... Certamente sua presença quando restabelecer os sentidos vai tranquiliza-la...
Constância: Agradeço mais uma vez... Oportunamente.... Posso fazer visitas a minha filha nestes dias que passar aqui?
Dr. Amorim: Não faço nenhuma objeção a isso...
O médico, após lavrar e assinar a internação de Laura Vieira, chama uma enfermeira que prontamente com o auxílio de uma maca trás Laura para dentro daquele ambiente sombrio... A professora é conduzida pelos corredores até um dos quartos assepticamente limpos daquela instituição, onde é vestida com um dos aventais dos internos e depositada em um dos leitos... Constância acompanha a tudo enquanto Bonifácio, satisfeito, sai dali... Precisa ir a Gamboa... Espera que o serviço que encomendara esteja feito...
Já no bairro de Laranjeiras, Edgar já não consegue mais esconder sua exasperação com a demora de sua esposa... Em questão de minutos já olhara várias vezes o relógio que traz no bolso, fazendo com que Guerra e Celia percebam que algo errado está acontecendo...
Guerra: Edgar... o que está acontecendo?
Edgar: Desculpem... mas estou preocupado... Laura está demorando demais...
Celinha: Ela deve ter ido à Colonial com as amigas, Edgar... Vai ver... Logo vai estar aqui...
Edgar: Pode ser...
Guerra: Por que não telefona à Confeitaria... Certamente o gerente pode informa-lo se as moças estão lá...
Edgar: É o que vou fazer... com licença...
O rapaz retira-se por alguns momentos e volta com o semblante mais atordoado do que quando saira daquela sala....
Edgar: Elas nem apareceram por lá... Guerra...
Celinha: Deve ter acontecido algum contratempo
Guerra: Ela pode ter encontrado alguma amiga... a Isabel... a Sandra...
Edgar: Eu telefonei para Isabel antes de vocês chegarem... Ela não vê a Laura desde o início da tarde... E pedi para me avisar caso ela aparecesse... E Sandra foi quem deixou a Melissa aqui em casa pois a Laura ia encontrar com a Manoela e a Filipa na fábrica...
Guerra: Será que isso tem a ver com a matéria? Não me perdoaria por isso nunca...
Edgar: Não... todas as precauções foram tomadas... Não há como...
Nisto Daniel desce as escadas... Seu rosto mostra que já estava dormindo...
Daniel: Papai...
Edgar (pegando o menino no colo): Ô meu filho... A gente te acordou?
Daniel: Onde está a mamãe? Ela nem veio me dar um beijo depois da aula dela...
Edgar: A mamãe está na casa de uma amiga, meu anjo... Mas ela volta logo... Não vai demorar, não, tá? Olha... a tia Celinha veio ficar com você... por que não volta para o quarto? Melissa está dormindo... Está na hora de você descansar também...
Celinha: Vamos lá? Vou contar uma história que minha mãe contava quando eu era do seu tamanho... (subindo as escadas conduzindo Daniel)
Edgar: Guerra... Eu não vou aguentar ficar aqui esperando de braços cruzados enquanto a Laura está só Deus sabe onde... Eu vou até o hotel da Filipa... Se não estiverem lá... vou até a tecelagem... Não sei... Estou com um pressentimento ruim...
Guerra: Eu vou com você...
Os dois amigos saem da residência do advogado com a esperança de encontrar a professora pelas ruas da cidade... Apenas avisam Gertrudes que se Laura aparecer não se preocupe... Já na Santa Casa, Joaquim entra sentindo muita dor... Após os procedimentos de praxe para atendimento, o rapaz é conduzido a uma enfermaria, onde é atendido prontamente...
Evie: Boa noite...
Joaquim: Boa noite...
Evie: Bem.... vejamos o que temos aqui... (retirando o torniquete)... Ferimento com arma de fogo... Vamos ver isso...
A médica pega uma tesoura e com cuidado corta a manga do terno e da camisa do advogado... Avalia o ferimento fazendo uma rápida antissepsia..
Evie: Sr. Castro... terei de realizar alguns procedimentos... Vou precisar debridar e estancar...
Joaquim: Faça o que for necessário...
Com a autorização do advogado, a médica, tomando uma seringa, injeta uma dose de anestésico local... O rapaz faz questão de não olhar o que a Dra. Evie está fazendo... Após constatar que não há mais sensibilidade ao toque, com o auxílio de uma pinça, a médica retira todos os pequenos fragmentos do projétil. Novamente limpa o ferimento, cauteriza e em seguida realiza um curativo...
Terminado o procedimento, a médica prescreve alguns medicamentos e solicita sua internação... Sai da enfermaria e procura pelas acompanhantes de Joaquim...
Evie: Por favor... quem está acompanhando Joaquim Castro?
Manoela: Boa noite Dra.... Sou amiga dele, meu nome é Manoela... e esta é sua noiva, Filipa... Nós o trouxemos para cá...
Filipa: Como ele está?
Evie: Fique tranquila... Foi realizado um procedimento de retirada dos fragmentos do projetil e um curativo... Ele está bem.. mas como o rapaz teve perda de líquidos corpóreos, é interessante que faça soro fisiológico par reposição... Ele precisará ficar em observação esta noite... Pode apresentar um pouco de febre... Já autorizei sua transferência para um leito...
Filipa: Posso vê-lo?
Evie: Claro... está no quarto 203..
Manoela: Eu fico aqui...
Filipa: Não precisa Manoela... Vai para o hotel.. Descanse...E por favor telefone para casa do Edgar... A Laura deve estar preocupada com nossa demora...
Manoela: É verdade... Com tudo isto esqueci completamente que íamos até lá!... Vou até a recepção... Espero que me deixem usar o telefone...
Evie: Peça a recepcionista.. Não há problema algum... Com licença...
A médica retira-se.... Filipa vai ao encontro de Joaquim.. Observa o rapaz no leito hospitalar... Pensa que a doutora deve ter prescrito algum fármaco que provoque sonolência, pois o advogado está dormindo... Senta-se em uma cadeira auxiliar.... E ali fica refletindo sobre tudo o que acontecera nas últimas horas... Enquanto isto, Manoela dirige-se ao balcão de recepção... Quando está próxima ao local, avista alguém familiar...
Manoela: Edgar.... como está aqui? Ia exatamente telefonar para você...
Edgar: Manoela... que bom que te encontrei! Fui até o hotel... depois até a tecelagem... O Sr. João me contou o que aconteceu... O Joaquim está bem?
Manoela: Está... vai ficar em observação... A Filipa está com ele...
Guerra: Ainda bem que não houve nada mais grave... O vigia nos disse que quando estavam saindo da fábrica alguém começou a atirar... Isso está parecendo uma tocaia....
Edgar: Mas quem faria isso? Não há motivo...
Guerra: Tudo isto está muito estranho...
Edgar: Manoela... e a Laura? Tem alguma notícia dela?
Manoela: A Laura? Edgar... ela saiu da tecelagem quase uma hora antes da gente e ia para casa... Nós íamos encontrar vocês lá.... (assustando-se com o que acaba de pensar) Ela não chegou?
Edgar: Não... e não tenho ideia de onde esteja... Mas vocês não tinham combinado de fazer compras?
Manoela: Houve algo que fez mudarmos de planos...
Guerra: O que aconteceu?
Manoela: Este não é o melhor momento e nem o lugar para falarmos disso...
Edgar: Guerra... eu preciso encontrar minha esposa... Depois a gente conversa sobre o que for... Aqui me informaram que ela não está também... Essa falta de notícias está me pondo louco...Manoela... Diga a Joaquim e Filipa que sinto pelo que aconteceu e espero pelo pronto restabelecimento dele... Vamos Guerra...
Guerra: Vamos...
Edgar: Manoela... Se souber algo de Laura, me avise... A Gertrudes está em casa... Ela me passa o recado..
Manoela (atordoada): Claro... se souber de alguma coisa te comunico imediatamente...
Edgar: Obrigado... até mais ver...
O marido da professora e seu amigo jornalista saem daquela instituição, indo em direção a outros hospitais da capital fluminense... Manoela fica parada alguns momentos no corredor, um pensamento lhe faz um arrepio percorrer a espinha... Ele sabe... E está agindo... Não há como não interligar o sumiço repentino de sua cunhada e o atentado que ela propria e seus amigos sofreram com a descoberta do pai de Melissa...Teme que algo muito ruim aconteça com qualquer um deles e até mesmo com a criança... Por um momento simplesmente não sabe o que fazer... Isto está perigoso demais... Talvez o melhor que se possa fazer seja silenciar...
Enquanto isto, longe dali, Constância sentada ao pé da cama onde a filha ainda encontra-se sem sentidos, observa Laura...
Constância: Você vai ficar bem... Quando acordar vai ter tempo para pensar no que tem feito... Eu fiz tanto por você... por nossa família...Não posso por tudo a perder... O que pensa que está fazendo ao se tornar jornalista? Você não pode responder, claro... Responder.. Falar... Escrever... Pelo menos por enquanto...Você não pode mais...
Nisto a professora acaba por remexer-se no leito... Vagarosamente abre os olhos... A claridade a incomoda... Aos poucos a turvação da imagem vai ganhando nitidez...
Laura: Mãe? O que aconteceu? Onde estou?