Edgar volta para a Capital. Chega em casa e Matilde estranha que já tenha voltado. Sua expressão já não lhe espanta... raras são as vezes que vê o patrão contente

Edgar: Alguma novidade Matilde?

Matilde: Não Dr.

Edgar: Eu vou para o escritório...

Edgar vai para o escritório. Pensa que trabalhar um pouco vai fazer esquecer -se dessa viagem.. da carta... de tudo...Tem vários processos para analisar... tem de escrever a defesa de outros tantos... um deles exige uma pesquisa aprofundada do assunto... mas... não consegue se concentrar em nada... Abre a gaveta e retira o retrato de Laura...

Edgar: Meu amor... antes tinha pelo menos o alento de saber onde estava... e agora... onde vou te encontrar?

Na casa do Cosme Velho, Laura e Gertrudes desfazem as malas. Há muito o que organizar. Dr. Assunção está brincando com Daniel.

Laura: Bem... hoje organizamos a casa... assim que terminarmos aqui vamos começar uma boa faxina... e o senhor, rapazinho, pare de correr... seu avô já está ficando cansado para ficar lhe acompanhando...

Daniel: Mas mamãe... eu estou procurando o tesouro que o pirata escondeu... e o vovô é meu ajudante

Dr. Assunção: Laura... deixa ele brincar... só que o ajudante vai descansar um pouco...

Daniel continua sua brincadeira... Dr. Assunção senta-se e começa a conversar com a filha

Laura: Amanhã vou sair para procurar emprego... alguma coisa eu hei de encontrar..

Dr. Assunção: Laura... se quiser posso te arrumar uma colocação.. seu pai é um senador da República... tenho vários contatos... posso pedir para o diretor do Sion ou para a Madre Superiora da Escola Santa Terezinha uma vaga para você...

Laura: Não... não posso aceitar isso, pai... eu vou procurar... inclusive nessas escolas... mas quero entrar por mérito e não por indicação... Amanhã compro o jornal e vejo as vagas de emprego disponíveis...

Dr. Assunção: Está bem... gosto que pense assim... mas se precisar é só pedir... bem... vou indo agora... amanhã não poderei vir aqui... tenho que estar cedo no Senado. Boa noite.

Assunção se despede de Daniel e Gertrudes e Laura o acompanha até a porta. Daniel logo fica com sono e é colocado para dormir. Laura e Gertrudes ficam até tarde fazendo faxina... ela está feliz... tem certeza que sua vida vai mudar com sua volta a esta cidade.

No dia seguinte, Edgar está ainda em seu quarto... há muito tempo não perdia o sono... mas não consegue parar de pensar na ex-esposa...precisa fazer alguma coisa... tem de saber o paradeiro de Laura... precisa saber o que tinha escrito naquela carta... Levanta-se... vai para o banho... enquanto está na banheira, pensa... "quem poderá saber onde foi?... D. Filomena disse que o Dr. Assunção foi busca-la... claro... já sei onde procurar..." veste-se e sai apressado...

Enquanto isso, Laura se despede de Gertrudes. Comprara o jornal e vai começar a procurar emprego. Vai a principio a algumas escolas... conversa com os diretores... todos dizem que ela tem um currículo excelente... mas que o quadro de professores no momento está completo...Depois resolve ir às bibliotecas...recebe outras promessas de chamada caso algum lugar fique vago. Olha para o jornal.. há vagas para babá... cozinheira... não... estas estão descartadas... até que encontra um anúncio... estão precisando de funcionários para o Arquivo Nacional... exige habilidade em pesquisa,conhecimentos históricos, geográficos literários e jurídicos...e que o candidato seja organizado e prestativo. Laura acredita que encaixa-se ao perfil...não tem muitos conhecimentos jurídicos... lembra apenas de coisas que Edgar comentava na época em que eram casados... mas vai até lá com a esperança de ser contratada. No Arquivo Nacional é recebida pelo Sr. Homero dos Reis, diretor daquela instituição, que a entrevista

Homero: Bem... Sra. Vieira... vejo que tem um currículo exemplar.. e além de professora parece ser bastante organizada...a senhora tem algum conhecimento na área de direito?

Laura: Sr. Homero... não tenho muita intimidade com a área jurídica... meu marido era advogado, então sei algumas coisas... mas posso aprender... por favor... preciso desse emprego... tenho um filho pequeno para criar...

Sr. Homero entende que Laura é viúva e que precisa de ajuda: Muito bem senhora... faremos uma experiência .. D. Laura... esteja aqui amanhã de manhã...

Laura (radiante): Obrigada pela oportunidade... até amanhã

Laura sai eufórica do prédio do Arquivo Nacional... Não vê a hora de chegar em casa e contar a novidade...

Já na Rua São Clemente, Constância prepara-se para tomar um chá quando recebe uma visita inesperada

Luzia: Com licença D. Constância... a senhora tem visita

Constância: Edgar! A quanto tempo não vem a esta casa... É um prazer recebe-lo... Sente-se

Edgar: Obrigado D. Constância... mas pretendo ser breve... a Laura está?

Constância: A Laura? Edgar... não vejo minha filha há mais de quatro anos... desde que vocês se separaram ela e eu rompemos relações... que eu saiba ela está no interior...

Edgar: Ela estava em Petropolis... mas fui até lá ontem e me informaram que já não mora mais lá... preciso falar com ela... mas se a senhora não quiser me dizer para onde ela foi eu entendo...

Constância: Gostaria de te ajudar...mas não sei onde está... sinto muito. Sabe.. ainda tenho a esperança de que um dia vocês esqueçam essa bobagem de divórcio e voltem a ficar juntos...

Edgar: Mais uma vez, obrigado...Com Licença...

Edgar sai da casa dos Assunção abatido... tinha certeza que encontraria Laura... ou pelo menos saberia onde estava... a quem iria recorrer agora?

Constância fica na sala pensativa. Lembra da mensagem que Assunção recebeu da Fazenda Rosa Branca há alguns dias... pensa que só podia ser de Laura... mas para onde o marido terá levado a filha? Ela continua pensando... ele voltou rápido demais para cá... longe ela não deve estar... de repente lembra-se da casa vazia no Cosme Velho... Enquanto pensa, Celinha chega estabanada na casa

Celinha: Vamos Constância... o padre não vai atrasar a missa por nossa causa...

Constância: Vamos... mas não para a Igreja... preciso que me acompanhe a outro lugar...

Elas entram no carro estacionado no jardim e tomam a direção do Cosme Velho.

Naquele bairro, Laura chega em casa... está muito feliz

Laura: Bom dia! Vocês estão olhando para a mais nova funcionária do Arquivo Nacional!!!!

Gertrudes: Parabéns menina Laura! Mas o que é o Arquivo Nacional?

Laura: Gertrudes... é um lugar onde são guardados documentos antigos....processos, mapas, documentos históricos... decretos do tempo da monarquia... eu vou ajudar as pessoas que vão até lá para consultar esses documentos...

Gertrudes: Isso parece complicado e importante... quando vai começar?

Laura: Amanhã... é complicado sim... vou ter de aprender muitas coisas para trabalhar lá... mas tenho fé de que tudo vai dar certo...

Daniel: E eu vou posso ir com você? Quero ir junto, mamãe!

Laura: Amor... você vai ficar com a Gertrudes... mas quando puder eu levo você para conhecer...

Nisto batem a porta

Laura: Estranho... papai disse que hoje não viria aqui... Gertrudes... leve o Daniel lá para o quarto... não sei quem está aí...

Laura abre a porta... Constância e Celinha entram na casa...

Laura: Mãe? Tia Celinha? Como souberam? Meu pai...

Constância: Não culpe seu pai... vamos... é assim que recebe sua mãe e sua tia?....

Laura abraça a mãe e depois dá um longo abraço em sua tia.

Laura: Mas como soube?

Constância: O Edgar esteve lá em casa procurando por você... tinha ido à fazenda e disseram que você não estava mais... lembrei do telegrama que seu pai recebeu e cheguei a conclusão que estava aqui... não entendo por que tanto se esconde

Celinha: Laura... por que foi para tão longe? Sei que queria evitar o Edgar...mas precisava evitar a família inteira? Estávamos com tanta saudade sua...

Laura: Tia... também senti saudade... mas precisava me afastar...

Constância: E agora? Você voltou... e sua condição vai se tornar pública... Laura... você tem de voltar ao interior... ou melhor ainda... voltar para o seu marido... ainda mais que ele foi te procurar...

Laura: Isso não... isso está fora de cogitação...

Constância: Mas se você permanecer aqui vão descobrir o divórcio... e sua reputação, que o Edgar e eu conseguimos manter durante todos esses anos, vai estar perdida... filha... isso será péssimo... para você... para seu pai... o que irão dizer de um senador que tem uma filha divorciada?

Nisto Constância ouve barulhos vindos do corredor..

Constância: Tem mais alguém aí com você... quem é?

Laura: Não tem ninguém... é impressão sua...

Constância: Não me engane... quem está aí com você?

Laura: Está bem... não vou mais esconder... não tem mais jeito mesmo... Gertrudes?

Constância: Gertrudes? O que ela está fazendo aqui?

Laura: Traz o Daniel aqui na sala...

Constância e Celinha ficam sem palavras diante do que veem...Daniel entra de mãos dadas com Gertrudes..

Constância (sorrindo): Esse menininho... tão lindo

Celinha: Não pode ser... Laura... por que não nos disse?

Laura: Daniel... venha... quero que conheça a Tia Celinha

Celinha: Mas que rapaz bonito... Laura ele é igual... (Laura faz sinal para Celinha não falar)

Daniel: Igual a quem?

Celinha: Ao seu avô... prazer eu sou a Tia Celinha...

Daniel: E eu sou o Daniel... e ela (olhando para Constância) quem é?

Constância (abaixando-se e abrindo os braços para um abraço): Eu sou mãe da sua mamãe... eu sou sua vovó... vem aqui... deixa te dar um abraço...(Laura faz um sinal com a cabeça para Daniel ir ao encontro de Constância)

Laura: Gertrudes..

Gertrudes: Vem Daniel... vamos para a cozinha... fiz um bolo de fubá que está uma delícia...

Laura: Agora entendem por que me afastei? Precisava protege-lo... tive medo que se o Edgar soubesse pedisse a guarda...

Constância: Quer dizer que o Edgar não sabe?

Laura: Não... e peço que não contem...

Celinha: Mas ele tem direito... é o pai...

Laura: Um pai que não quis saber dele... eu tentei contar...

Constância: Eu não acredito nisso... vocês não deviam ter se divorciado... o meu neto devia ter uma família... vocês precisam consertar isso...

Laura: Mãe... isso já não tem mais conserto.. por favor... atenda um pedido meu uma vez na vida...não conte ao Edgar...

Constância: Está bem... não vou contar... mas você estando aqui não vai conseguir esconder por muito tempo... E seu pai sabia de tudo... e não me contou? Vou ter uma conversa muito séria com o senador Assunção...

Laura: Não fique zangada com ele... ele só fez o que eu pedi... se tivesse contado sobre minha gravidez a senhora teria dado um jeito para evitar o divórcio...

Constância: Com certeza... isso que você fez é inadmissível... esconder uma criança de toda a família e principalmente do pai dela...Laura... você fez tudo errado...mas não vou discutir... estou feliz demais por saber que tenho um neto lindo... Celinha... vamos... até mais ver minha filha...espero que me permita vir visitar o Daniel...

Laura: Sempre que quiserem... Bom Dia.

Aquele dia passa sem maiores novidades. Apenas Constância dá uma bronca enorme em Assunção por não ter lhe contado sobre Daniel. No dia seguinte Laura começa a trabalhar no Arquivo Nacional... tem muito a aprender...mas conta com a ajuda de dois funcionários com mais tempo de serviço... D. Joana e Seu Marcelino... eles a ajudam no que podem e estão sempre dispostos a colaborar com a nova colega de trabalho. Laura se mostra muito competente no que faz e aprende rapidamente tudo o que lhe ensinam, sendo que em alguns dias já sabe onde e como estão guardados os documentos e toda a rotina da instituição....

Passada uma semana, Edgar está em casa com um processo difícil. Precisa de documentos que comprovem a data em que um português imigrou para o país...Não conseguiu a informação no consulado. Para poder argumentar a defesa precisa desse documentos ... ainda do tempo em que o Brasil era uma colônia de Portugal.

Edgar: Preciso fazer isso de uma vez... vou procurar alguma coisa que me ajude a escrever...

Edgar sai e vai até a maior instituição de consulta jurídica do Rio de Janeiro. Chegando lá, encontra o diretor que o cumprimenta

Homero: Boa Tarde Dr. Vieira... que prazer revê-lo

Edgar: Boa Tarde Sr. Homero... novamente preciso recorrer ao banco de dados do Arquivo Nacional...preciso de registros de imigração portugueses do tempo do Brasil-Colônia... o senhor pode me ajudar?

Homero: Claro...vou pedir para uma de nossas funcionárias lhe atender... acho que sei exatamente quem pode lhe ajudar....

Edgar: Geralmente quem me atendia era o Ramiro...

Homero: Ramiro pediu para sair...está com problemas particulares... mas a moça que entrou em seu lugar é muito competente... tenho certeza que poderá ajuda-lo a contento...

Edgar: Está bem...

Eles andam pelos corredores... vão conversando... Sr. Homero vê a funcionária de costas e mostra para Edgar

Homero: É aquela...vamos até ela...

Edgar não acredita no que vê... Laura.. está ali... a poucos passos dele...

Homero: E sua esposa? como está?

Edgar (meio atordoado): Bem... acho que bem melhor do que eu imaginava...

Homero: Que bom... espero que logo esteja de volta... Sra. Vieira... por favor...

Laura se vira e dá de cara com Edgar

Laura fica lívida ao ver o ex-marido... seu coração parece que vai saltar pela boca: Pois não

Homero: Atenda o Dr. Edgar

Edgar (não sabendo ao certo o que dizer... suas mãos estão suadas...seu coração descompassado) Como vai? A quanto tempo...

Laura (constrangida): Muito... muito tempo...

Homero: Vejo que se conhecem... sendo assim me despeço... Dr. Vieira.. nos procure sempre que precisar... a moça agora irá ajuda-lo... Dê lembranças e os mais sinceros desejos de melhoras a sua esposa quando a vir...

Edgar (olhando para Laura): Serão dados... pessoalmente....