Sentada na sofá da sala, Laura olha atordoada para o rosto sereno e vincado pelo tempo de Gertrudes... a empregada, já com tantos anos dedicados a servir a família Assunção, fita a moça com ternura e prossegue com suas palavras...

Gertrudes: Laura... filha... o que o Edgar quer é tão simples... e... pensa bem... o que na realidade te impede de voltar a viver com o Dr. Vieira?

Laura: Gertrudes... tem certas coisas que nós ainda precisávamos resolver...

Gertrudes: Menina... o que ainda precisam resolver? O Daniel já sabe que o Edgar é pai dele... a Melissa e você estão se entendendo... ele não tem nenhum envolvimento com outra pessoa...aceita que você trabalhe... respeita tuas decisões mesmo não aprovando...

Laura: Por que a gente estava junto mas não morando na mesma casa... a partir do momento em que eu voltasse a morar junto com o Edgar, ele não me permitiria fazer certas coisas...

Gertrudes: Laura... o Edgar foi criado como qualquer garoto da sua época... foi ensinado desde pequeno que o provedor da família é o homem...mas mesmo assim ele tem atitudes que poucos homens hoje em dia são capazes de ter ... ele fez tantas concessões...cedeu tanto... Menina... por favor... está na hora de ceder um pouco em tuas convicções em nome desse relacionamento... e fazer o que ele quer e que eu sei que você também deseja... vocês querem estar juntos... querem compartilhar a vida... criar os filhos de vocês... serem felizes... mas para isso acontecer.. precisa tentar entender e principalmente respeitar os pensamentos e atitudes do teu marido também...

Laura: Agora é tarde...

Gertrudes: Nunca é tarde!.. Pensa no Daniel.. e nesse bebê que está no teu ventre... Pense na felicidade do Dr. Vieira ao saber que vai ser pai novamente.... e que dessa vez vai poder acompanhar isso...

Laura: Gertrudes... tenho medo de falar isso e ele interpretar tudo errado...

Gertrudes: O que, menina?

Laura: Ele pode pensar que eu quero estar com ele apenas por que estou esperando um filho... e eu também... não quero força-lo a retomar um relacionamento comigo por causa de uma gravidez...

Gertrudes: Filha não pensa essas coisas... não esconde dele novamente que está esperando um bebê...

Laura: Eu não vou esconder... mas quero primeiro conversar com ele...

Gertrudes: Está certo... mas não demore muito a falar com ele a respeito disso....e pensa no que te disse... boa noite

Laura: Boa noite

Gertrudes deixa a sala... Laura permanece por algum tempo ali... pensa em tudo o que aconteceu... lembra das palavras de Edgar e das coisas que Gertrudes acabara de dizer-lhe... levanta-se e vai em direção a seu quarto, não sem antes verificar como Daniel está... segue em direção a seu aposento e estaqueia ao chegar em frente a porta... as últimas noites que passara ali estava junto a Edgar... respira fundo e entra... sente-se desconfortável naquele lugar... em vão deita-se e tenta dormir... o sono simplesmente não vem... lembra-se então das cartas que trazia consigo na bolsa... finalmente vai saber o que Edgar lhe havia escrito quando foi buscar Melissa em Portugal...

Neste meio tempo, Edgar chega em casa... abatido, vai em direção a seu escritório... Ao ouvir a movimentação na casa, Matilde vem às pressas à sala, na intenção de oferecer algum de seus préstimos ao morador que acaba de regressar...

Matilde: Boa noite Dr. Vieira

Edgar: Boa noite Matilde... a Melissa... está bem?

Matilde: Sim... dormiu tem algum tempo... antes mesmo da D. Laura...

Edgar: Então Laura esteve aqui...

Matilde: Sim senhor... ela ficou um tempo lhe esperando... a senhora estava bastante angustiada .. estava preocupada com sua demora.. o senhor a encontrou?

Edgar: Sim Matilde... encontrei... obrigado...

Matilde: O senhor precisa de alguma coisa?

Edgar: Não Matilde... pode se recolher

Matilde: Com licença... Boa noite Dr.

Ao ver Matilde se afastar, Edgar entra em seu escritório... tenta trabalhar para esquecer-se um pouco de tudo o que acontecera... porém os processos precisam de atenção e naquele momento isto é quase impossível... mesmo esforçando-se, não consegue parar de pensar na discussão com Laura e na decisão que tomara... resolve tentar dormir... passa pelo quarto de sua filha e logo depois vai para o seu... entra naquele comodo e sente-se como há cinco anos...ali as lembranças que tem da esposa ganham ainda mais vida e cor... para onde quer olhe, sente a presença dela... respira profundamente e deita-se...mais uma noite longa e insone tem seu início ali...

Longe dali, na casa do Cosme Velho, Laura, recostada na cabeceira da cama, principia a leitura das cartas que a ela foram destinadas há cinco anos e que só agora lhe chegaram às mãos... à medida que lê vai percebendo o quanto tinham sido complicados aqueles dias que Edgar havia passado em Portugal... o encontro com a menina... o estado delicado de sua saúde... a demora em falar com o médico... mas... acima de tudo... percebe que o marido estava muito preocupado com ela... com sua falta de notícias... com o porque não respondia suas cartas... imaginando de inicio que ela, Laura, estava zangada... e por fim na última, angustiado por estar longe e imaginar que algo grave estava acontecendo, além de uma demonstração clara de arrependimento por não tê-la levado consigo...todas escritas com palavras cheias de carinho e sempre encerradas reiterando o amor , a saudade que estava sentindo e a promessa de voltar em breve... Laura termina com os olhos congestionados pelas lágrimas... aquelas folhas, já amareladas pelo tempo, lhe fizeram reviver todo o sofrimento e a angústia passados naqueles dias... pensa que muito do que acontecera talvez não teria ocorrido se estas cartas tivessem chegado ao destino... pensa no que ambos sofreram... no quanto foi doloroso o afastamento forçado que culminou no divórcio... no quanto foi difícil suportar anos de distanciamento.. as palavras de Edgar e de Gertrudes ditas naquela noite ecoam por sua mente.. Após muito refletir acaba por adormecer... tem certeza: o que pretende é o certo a fazer.....

Aquela noite tão longa, cede espaço para um novo dia que traz consigo novos acontecimentos... Edgar levantara cedo... pouco ou nada dormira... mal amanhecera já estava de pé... mesmo não tendo o menor interesse nos assuntos laborais que lhe preencheriam boa parte do dia, descera com passos firmes para o escritório, onde já havia algum tempo permanecia trancado... recusara o café preparado por Matilde e retornara às suas atividades, na esperança de que os processos e papéis que ocupam sua mesa tomem também espaço em sua mente...tanto quanto possível para não mais pensar em Laura e tudo o que ela lhe representa...

Naquela manhã, um tanto distante dali, Laura levanta-se e arruma-se para enfrentar a situação que com certeza não tem como fugir naquele dia... os comentários sobre o que acontecera no final de tarde anterior devem estar circulando pela cidade e ela, armada de toda coragem e força que dispõe, está pronta para ir à rua... Vai ao quarto do filho, que ainda dorme, e segue em direção a sala...

Gertrudes: Bom dia menina!

Laura: Bom dia Gertrudes... (sentando-se à mesa) vou tomar apenas um café... tenho muitas coisas para fazer hoje...

Gertrudes: Não senhora... você precisa se alimentar... tem um bebê aí dentro e ele deve estar com fome...

Laura (a contragosto): Está bem... acho que estou com um pouquinho de fome mesmo...

Gertrudes: Ontem, com tudo o que se passou, esqueci de te entregar isto...(mostrando uma correspondência)... estava na caixa postal que me pediu para verificar...

Laura (pegando o envelope e rasgando): É do Guerra! Ele quer que o Paulo Lima escreva um artigo sobre a cultura negra para o jornal...Gertrudes... sabe o que isso significa?

Gertrudes: Não menina..

Laura: Significa que o Guerra gostou do meu trabalho... do meu texto... estou muito feliz.. esse dia começou muito bem... (ouvindo batidas na porta) e pelo jeito com visitas... quem será?

Gertrudes encaminha-se até a porta principal da residência recebendo com simpatia a visita que acabara de chegar...

Assunção: Bom dia Gertrudes... a Laura está?

Gertrudes: Bom dia Dr. Assunção... só um momento... vou avisa-la...

Laura (indo ao encontro do pai): Pai... que bom te ver aqui...

Assunção: Laura... só não vim ontem pelo adiantado da hora... já estou sabendo de tudo o que aconteceu na Confeitaria...

Laura: A mamãe e o Albertinho não deviam ter lhe falado nada...

Assunção: Não fiquei sabendo por eles... Filha... te peço perdão... se eu não tivesse te estimulado a aceitar a proposta do Freitas isto não estaria acontecendo...

Laura: Pai... tu não tens culpa... eu aceitei o trabalho porque quis... assim como o Dr. Freitas não é culpado por ter uma esposa como a D. Iolanda... (nisto novamente batem à porta) quem será agora? (indo em direção a porta e abrindo)

Isabel: Olá amiga! Vim assim que soube... (entrando)Como vai Dr. Assunção?

Assunção: Bem Isabel... Laura... a notícia do que ocorreu ontem está circulando pela cidade inteira...

Isabel: É verdade... ouvi as pessoas falando nas ruas... Como você está Laura?

Laura: Estou bem... já me acostumei a ser motivo de falatório nesta cidade... (ouvindo novas batidas na porta e indo abrir)

Sandra: Oi Laurinha... meu pai contou o que aconteceu ontem na Confeitaria... vim te dar um abraço e todo meu apoio...

Laura: Obrigada querida... entra...

Assunção: Laura... e o Edgar? O que afinal aconteceu?

Laura: Ai pai... o Edgar... ele já não aprovava esse meu emprego...na Confeitaria entendeu que quero ficar sozinha... que tenho orgulho em ser divorciada... tentei explicar, mas nós acabamos discutindo...

Sandra: Laura.. vocês ainda vão se entender de novo... você vai ver...

Isabel: Com certeza... amiga...

Laura: Eu não sei... pretendo fazer algo hoje... mas não sei se vai funcionar...

Assunção:Filha... vocês estavam tão bem... não deixem que essas maledicências afastem vocês novamente...

Laura: Não são apenas as maledicências... há outras coisas...

Isabel: Seja o que for Laura... conversem... exponham seus sentimentos e opiniões...isso é a base para qualquer relacionamento...

Laura: No momento atual meu relacionamento não está pedindo por conversas e sim por ações... (olhando para Assunção) Pai... o senhor vai precisar do carro hoje à tarde?

Assunção: Não... se precisar o motorista está a sua disposição para leva-la onde quiser...

Laura: Ótimo... lhe agradeço desde já... vou precisar muito...

Assunção: E quanto ao trabalho... o que pretende fazer?

Laura: Depois do que aconteceu...imagino que o Dr. Freitas não pretende me manter em seu quadro de funcionários e eu mesma acho que vou me sentir desconfortável se permanecer no escritório... pretendo conversar com o Dr. Freitas hoje...

Sandra: Faz isso Laura... se você permanecer possivelmente os comentários vão aumentar...

Laura: Mesmo saindo eles vão continuar... eu sei disso....mas... falando em trabalho.... Sandra... você não devia estar na biblioteca a esta hora?

Sandra: Eu fui demitida Laura... já havia comentado contigo que as aulas iam ser suspensas na biblioteca por falta de alunos...estou procurando emprego...

Laura: Como é a vida... lembra quando nos formamos? Cheias de sonhos... e agora estamos assim... uma trabalhando em outra atividade sem saber por quanto tempo mais... e a outra procurando emprego...

Sandra: E nós pensávamos em ser sócias na fundação de uma escola...

Laura: Eu continuo pensando... você não?

Sandra: Claro que sim... mas com que dinheiro, Laura? Não tenho nem um vintém...

Laura: Também não... mas ia ser maravilhoso... íamos aplicar novas metodologias de ensino... as crianças iriam aprender sem a imposição de castigos físicos... as turmas seriam mistas... com meninos e meninas... e de preferência sem fins lucrativos...

Assunção: Mas eu posso bancar isso...

Laura: Não pai.. já me deste tantas coisas... isso não posso aceitar...

Isabel: E eu? Não posso ser sócia de vocês?

Sandra: Como assim Isabel?

Isabel: Bem... agora que tenho condições, quero muito ajudar o povo do morro onde meu pai e o Zé moram... e uma escola como essa seria algo que iria melhorar e muito a vida daquelas pessoas... afinal o ensino é um bem que ninguém pode nos tirar... Eu não entendo nada de sistemas de aprendizagem... mas posso financiar uma escola... Eu entraria com o dinheiro... e vocês com o trabalho...

Laura: Isso seria incrível! Eu aceito Isabel!

Sandra: Eu também...

Isabel: Então logo que pudermos vamos ao morro e escolhemos um local para dar início às atividades da escola...

Assunção: Também quero participar desse projeto... já que Laura não aceita que ajude financeiramente... pelo menos deixem que auxilie vocês a legalizar a situação da escola... posso entrar em contato com o Ministério da Educação... auxiliar com os tramites para o funcionamento...

Laura: Bem.. neste caso sua ajuda é muito bem vinda...

Naquela sala, a tristeza do motivo que reunira àquelas pessoas ali, dá lugar a animação pelo novo projeto em que todos, direta ou indiretamente, querem dar sua contribuição... Laura dentre todos é a que se mostra mais animada.... seus olhos brilham como os de uma criança diante de um presente que há muito desejava... após tanto tempo vai finalmente voltar a lecionar... mas principalmente... ministrar aulas de um modo inovador... pondo em prática aquilo em que acredita... e isso será um grande desafio!.. Todo este entusiasmo com a escola lhe dá ainda mais ânimo para prosseguir com seus planos em relação a Edgar...

Enquanto as três amigas e Dr. Assunção definem os passos a serem tomados para a fundação do grupo escolar, Filipa e Manoela chegam a casa de Edgar e são conduzidas ao escritório...

Edgar: Isso é tudo D. Heloisa... e pode tirar a tarde de folga, como me pediu ontem...

Heloisa: Obrigada Dr. Vieira...

Filipa e Manoela: Bom dia..

Edgar: Bom dia... entrem... D. Heloisa... a senhora pode nos deixar a sós uns momentos?

Heloisa: Sim... vou realizar alguns serviços externos... com licença...

Filipa: Edgar... sei que não é um bom momento para procurar-te...

Edgar: Filipa... Manoela... me desculpem por ontem... mas simplesmente não havia condições para realizarmos aquela reunião...

Manoela: Não te preocupes...sabemos que naquele momento havia algo muito mais importante em jogo...

Filipa: E pelo que posso perceber você e Laura não conseguiram entender-se... posso ter ficado anos sem ver-te, mas ainda lembro-me bem deste teu semblante...

Edgar: Acabou Filipa... meu relacionamento com Laura chegou ao fim...

Manoela: Não creio nisto... não os conheço há muito tempo... mas qualquer um percebe que vocês se adoram... A Laura saiu da Confeitaria ontem aflita... não havia quem a segurasse ... dizia que não ficaria tranquila até falar contigo...

Filipa: Edgar... o que ela passou naquele salão foi algo muito duro... nós presenciamos tudo...estava sendo julgada.. injuriada... injustiçada... a única coisa que fez foi defender-se...talvez tenha dito coisas que te feriram... mas garanto... não foi a intenção dela..

Edgar: Filipa... mas não é só o que aconteceu ontem... outras situações pesaram na decisão....

Manoela: Só nos resta dizer que sentimos muito... mas eu ainda creio que quando existe amor... e disso não tenho dúvidas no caso... tudo tem solução....

Filipa: É uma pena... só posso dizer-te que contas comigo.... no que precisares... sempre...

Edgar: Eu sei minha amiga... obrigado... e... quanto às investigações... descobriram alguma coisa?

Filipa: Descobrimos que Catarina se envolveu com um homem muito rico.... fez uma doação polpuda para o teatro... e sabemos onde ela estava hospedada... vamos até o hotel para tentar conseguir mais informações..

Edgar: Façam isso... tenho certeza de que o trabalho está sendo muito bem conduzido...e mantenham-me informado...

Depois das moças saírem, Edgar volta para o escritório...sabe que deveria dar mais atenção à investigação sobre a paternidade de Melissa... mas naquele momento só consegue pensar no que Filipa e Manoela disseram a respeito de Laura... Sobe as escadas mergulhado em seus pensamentos e para em frente ao quarto da filha, onde a menina brinca com uma boneca sem demonstrar muito entusiasmo...

Edgar: Oi meu bem... o que foi? Por que esta carinha?

Melissa: Ai papai... é que é ruim brincar sozinha....

Edgar: Eu sei... mais tarde eu venho brincar com você... agora eu preciso trabalhar...

Melissa: Mas eu queria brincar com o meu irmãozinho.... o Daniel não vai vir aqui hoje?

Edgar: Ah filha... hoje não... mas prometo que combino com a babá dele para vocês brincarem outro dia, tá bom?

Melissa: Tá bom... mas quero brincar com a tia Laura também... ela é supimpa papai...

Edgar: Claro minha filha... agora o papai tem que ir...

Edgar sai do quarto da menina com os olhos marejados...pensa em Daniel... na convivência que haviam mantendo... na amizade que aos poucos se tornava cada vez mais sólida... lhe dói a ideia de não poder mais vê-lo todos os dias....brincar com ele... tê-lo por perto... ouvir sua risada enchendo de alegria aquela casa que agora lhe parecia tão triste...

Enquanto isto, na Mém de Sá, Laura vai até o escritório... no caminho é alvo de olhares curiosos e comentários maldosos por todos os lugares por onde passa... sem dar importância segue até seu destino... entra no prédio onde até então trabalhava e tem uma conversa franca com o Dr. Freitas...

Laura: Dr. Freitas... desculpe não ter vindo antes...

Freitas: Eu que lhe peço desculpas... o comportamento de Iolanda ontem foi lamentável..

Laura: O senhor não tem de se desculpar... vou ser breve... vim até aqui para pedir-lhe demissão...

Freitas: Laura.. são apenas boatos... logo tudo será esquecido...

Laura: Eu sei... mas não me sentiria bem se continuasse a trabalhar aqui depois de ter discutido em público com sua esposa...

Freitas: Iolanda não será minha esposa por muito tempo...

Laura: Como?

Freitas: Laura... eu sempre respeitei aquela mulher... como ela pode sair dizendo por aí que tenho uma amante que tem idade para ser minha filha? Depois de algo tão asqueroso... inadmissível como o que ela fez... não há como manter um casamento... ela manchou minha reputação... e a sua... entendo perfeitamente que não queira mais trabalhar aqui...

Laura: Não é só por esse motivo... como o senhor mesmo disse.. os comentários com o tempo serão esquecidos... Saio daqui pois vou voltar a lecionar...

Freitas: Fico feliz por ter conseguido algo em sua verdadeira área profissional... onde vai trabalhar?

Laura: Na verdade... algumas amigas e eu vamos fundar uma escola...

Freitas: Pois fico ainda mais satisfeito... e de bom grado te libero para este projeto... boa sorte e conte comigo e com o escritório para o que necessitar...

Laura (com um aperto de mão): Foi muito bom trabalhar aqui... obrigada pela oportunidade... com licença..

Laura faz o acerto de contas com o escritório, recolhe seus pertences e sai daquele local feliz... ruma apressadamente para casa... espera que o que pedira a Gertrudes antes de sair já esteja pronto... em pouco tempo está em frente ao portão da residência do Cosme Velho...

Laura: Então Gertrudes... tudo pronto?

Gertrudes: Pronto... e o carro do Dr. Assunção está esperando...

Laura: Eu vi... e Daniel... está pronto?

Gertrudes: Sim... disse onde iam... está muito contente...vou chama-lo...

Laura: Ótimo...

Daniel (entrando correndo pela sala indo em direção à mãe): Vamos mamãe... estou cansado de esperar...

Laura: Vamos... (pegando Daniel pela mão e dirigindo-se ao automóvel) Gertrudes... me deseje sorte...

Gertrudes: Vou ficar torcendo por vocês aqui...

Laura: E se tudo der certo... logo você vai nos acompanhar.. até logo...

Na casa do Dr. Vieira, Heloisa percebe o quanto o advogado está triste... faz seu trabalho em silêncio... a tarde chega... a secretária arruma suas coisas e prepara-se para sair...

Heloisa: Dr. Vieira... o senhor tem certeza que não quer que eu fique?

Edgar: Não D. Heloisa... pode tirar sua folga... imagino que deva ter algum compromisso...

Heloisa: Eu posso desmarcar se o senhor precisar... desculpe o atrevimento... mas notei que o senhor está deprimido... talvez uma conversa o ajude..

Edgar: Não... para o que tenho nada irá resolver... mas obrigado mesmo assim...

Heloisa: O senhor está assim pela dona Laura, não é?

Edgar: Sim... nós terminamos...

Nisto Laura chega a sua antiga residência... pede a Daniel para não fazer barulho... abre a porta com cuidado e entram sem fazer ruído... vão em direção ao escritório... está prestes a girar a maçaneta quando se detém e ouve parte do que se está falando ali...

Heloisa: Dr. Vieira... não sei o que aconteceu... mas tenha certeza... vocês se amam... vão encontrar uma maneira de se entenderem...para tudo existe uma saída... menos para morte...

Edgar: Você amava muito seu marido, não?

Heloisa: Muito... eu ainda o amo muito...mesmo tanto tempo depois de falecido ainda não me acostumei com sua ausência... dói muito.... meu casamento era maravilhoso...

Edgar: Vocês deviam se entender muito bem...

Heloisa: Nós procurávamos nos entender... discutíamos como todo casal... mas é com as discussões que sempre chegamos a um senso comum... por isso lhe digo... por mais que existam divergências... estranhamentos... isso faz parte de qualquer relacionamento...

Edgar: Eu sei D. Heloisa... não sabe como gostaria de encontrar uma forma de entendimento com ela... sei que as feridas abertas com o tempo vão cicatrizar... mas a dor vai permanecer... como uma espécie de luto... se antes de reatarmos doia... agora essa dor já não cabe mais no meu peito... não sei como vou suportar a ausência dela....

Heloisa: O senhor a ama muito...

Edgar: A Laura é minha vida... daria qualquer coisa para que ela estivesse aqui...(ficando em silêncio por um tempo) A senhora vai se atrasar para seu compromisso...

Heloisa: O senhor não quer ir comigo? Vou tomar chá com sua mãe...

Edgar: Hoje não sou boa companhia para ninguém... mas obrigado...

Heloisa: Com licença...

Ao sair, Heloisa encontra com Laura na porta... as duas se entreolham e Heloisa compreende que não deve dizer nada... sai em silêncio e toma a direção da casa de Dona Margarida... enquanto a secretária sai, Daniel aproveita e entra sorrateiramente no escritório... parando em frente a mesa de trabalho do pai...

Daniel: Oi papai...

Edgar: Daniel (abrindo os braços para receber o filho)! Como está aqui?

Daniel: A mamãe me trouxe...

Edgar: A mamãe?

Laura (olhando para os dois parada em frente a porta): Oi..

Edgar: Oi..

Laura: Filho... a Melissa deve estar lá em cima... vai brincar com ela um pouco.. preciso falar com o papai...

Edgar (depois que o menino sai): O que quer me dizer?

Laura: Tem tantas coisas que preciso te dizer... mas talvez as principais sejam que eu não consigo mais ficar longe de você... Edgar... a gente viveu anos separados... eu sofri tanto com a tua ausência... mesmo querendo... eu nunca consegui te esquecer... e agora que a gente tinha reatado... não vou aguentar te perder mais uma vez... não depois de tudo o que a gente viveu... eu preciso de você...

Edgar: Você nunca me perdeu.... mesmo você tentando me obrigar a te esquecer... você continuava aqui... povoando minhas lembranças e pulsando dentro do meu peito... e eu sei que mesmo com o rompimento isso vai permanecer igual...

Laura: Mas eu não quero romper...

Edgar: Você disse que queria ficar sozinha...

Laura: Eu quero ficar com você...

Edgar: Eu também quero... mas a gente não consegue se entender... por mais que eu tente... Laura... tem coisas que eu não consigo aceitar... e se vamos viver brigando ou infelizes por estar insatisfeitos com as atitudes do outro... melhor terminar essa história por aqui

Laura: Edgar... não fala isso... você me disse que é necessário ceder para que uma relação funcione... eu estou disposta a tentar.... eu quero tudo contigo... meu amor... por favor... reconsidera isso...

Edgar: Reconsiderar o que?

Laura: Reconsidera a gente... a gente sofreu tanto separados... (aproximando-se dele) dá mais uma chance para gente tentar ser feliz...

Edgar: Laura... para...(ela se aproxima dele e começa beijar seu rosto) eu não aguento mais...não suporto a ideia de não estar contigo... eu preciso de você...

Laura: E eu estou aqui... eu te amo Edgar (dando um beijo leve nos lábios do marido)

Edgar: Eu também te amo, Laura... (beijando a moça ardentemente, a envolvendo pela cintura)

Laura: A gente nunca mais vai se separar (dando mais alguns beijos no rapaz, enquanto ele acaricia seu rosto)

Edgar: Nunca (beijando Laura) Nunca mais...

Laura então dá a mão a Edgar o conduzindo até a porta da frente da casa...

Laura: Preciso que me ajude.... (abrindo a porta)

Edgar: Ajudar? O que o carro do seu pai está fazendo aqui?

Laura: Eu pedi para ele emprestado... tinha muita coisa...

Edgar: Muita Coisa?

Laura: Sim... me ajuda a trazer?