Laura está nervosa. Sabe que deve ser o marido quem deve estar se aproximando. Não sabe o que fazer... antes que pudesse esconder aquele envelope Edgar entra no quarto

Edgar: Boa noite meu amor

Laura: Boa noite

Edgar: O que você tem? Estou te achando tão agitada... algo a ver com essa correspondência (apontando para o envelope na mão da esposa) Más notícias?

Laura entrega a carta ao esposo: Leia...

Edgar abre o envelope sem ver o destinatário e o remetente... seus olhos percorrem o papel assustado... senta-se... uma lágrima corre por sua face... fica alguns minutos em silêncio... minutos que parecem uma eternidade para Laura... de repente Edgar levanta-se... Laura vê a raiva e indignação em seu rosto

Edgar: Como você pôde? Você abriu uma correspondência que não era sua

Laura: Não fui eu... quando ela chegou às minhas mãos já estava aberta...

Edgar: Como assim?

Laura: Eu encontrei na casa da minha mãe... já tinha sido violada...

Edgar (com olhar ameaçador): Mas como foi parar na casa da sua mãe se o endereço é o da casa da minha mãe?

Laura: eu não sei... juro... não sei meu amor

Edgar: Mas você leu o que dizia... claro... antes de mim!!! O que pretendia fazer... ia esconder... rasgar....não ia me contar...

Laura (chorando): Não... eu sei que não devia ter lido... mas a carta estava aberta... e era daquela mulher....

Edgar: sim... daquela mulher... dizendo que eu tenho uma filha...

Laura: uma filha... será que você tem idéia do que isso fez comigo? Eu ia te entregar a carta... é o certo... mas estava com tanto medo...

Edgar: Medo?

Laura: Sim... você tem uma filha do outro lado do oceano... Edgar... tenta me entender... aquela mulher conseguiu te tornar pai, coisa que eu ainda não pude... isso muda completamente a nossa vida...

Edgar: Me tornou pai... mas o que isso muda para nossa vida? Eu tenho uma filha mas isso não vai interferir na nossa relação... Laura... isso não justifica o que fez... você leu uma carta que não lhe pertencia sem autorização!

Laura: Ah... agora eu é que estou errada e você tem de me exigir todas as explicações... não sei se você percebeu.. mas quem se envolveu com outra pessoa estando comprometido e teve uma filha não fui eu....

Edgar (para um pouco, respira e mais calmo fala): Desculpa...ter lido essa carta ou não agora não tem a menor importância.... estou muito nervoso... me perdoa

Laura: tudo bem... mas o que pretende fazer a respeito disso tudo?

Edgar: Não sei ainda... por enquanto vou enviar uma mensagem a Catarina... preciso comunicar que recebi a carta... como você leu... e quero me interar sobre o estado de saúde de minha filha...

Laura: Sua filha? Edgar... você nem sequer duvida da palavra dessa mulher...

Edgar: Laura até provarem o contrário a menina é minha filha e ela está doente... e eu vou ter de consertar as coisas

Laura: Consertar? E tem conserto pra isso?

Edgar: Eu não sei... por agora vou mandar o telegrama... até depois

Edgar sai e vai ao correio. Quando volta encontra Laura novamente chorando

Edgar: Meu amor... por Deus... te ver chorar me deixa pior do que já estou...

Laura: E o que quer que eu faça? Edgar... você me traiu... e agora sua traição teve frutos...

Edgar: Achei que tinha me perdoado...

Laura: E perdoei... mas não sabia da existência dessa criança... e agora, Edgar, me diga, o que vai acontecer?

Edgar (tentando abraçar a esposa): Meu amor... quanto a criança.. eu vou me encarregar de sustenta-la... se sou pai dela não posso me eximir da responsabilidade que tenho... mas, quanto a nós isso não vai mudar nada... eu amo você e é contigo que eu vou estar... tudo vai se resolver... eu juro...

Ele se aproxima de Laura... seca suas lágrimas... a abraça.... Laura se sente confortada e segura nos braços de Edgar... o marido beija sua testa e toca seus lábios levemente nos dela... a beija... ela reluta a principio, mas depois acaba retribuindo... Edgar demonstra claramente que quer mais do beijos da esposa.... apesar de tudo o que ocorreu durante as últimas horas, ambos se dispõem ao amor... é uma forma de esquecerem um pouco o problema que ainda está longe de terminar... se amam com paixão e até com certa violência... Laura se entrega completamente ao marido, como se pressentisse que aquilo era uma despedida...

No dia seguinte, logo cedo, enquanto tomam café, Edgar recebe um novo telegrama

Edgar: É de Catarina...

Laura vê o semblante sereno do marido desaparecer dando lugar a preocupação... quer saber o que diz o telegrama, mas tem medo de ser invasiva e acabar discutindo novamente com o esposo

Edgar: Laura... aqui diz que minha filha não está nada bem... preciso fazer alguma coisa... vou para Portugal no primeiro navio...

Laura: É tão grave assim?

Edgar: Sim... a vida da menina está em risco... seu estado de saúde se agravou muito desde que a carta foi postada...

Laura: Bem... e quando partimos?

Edgar: Não Laura... essa situação toda é minha culpa..... eu vou sozinho

Laura: Não vou deixar você viajar para Portugal e encontrar aquela mulher sem que eu esteja presente...

Edgar: Eu vou ver minha filha... não a Catarina

Laura: Edgar... a criança é pequena... se quer ver a menina vai ter de ver a mãe dela...

Edgar: Laura... no estado de animo que você está a sua presença só vai piorar as coisas... está decidido... somente eu vou para Portugal... não fique zangada... é o melhor... eu vou a Lisboa, resolvo a situação da melhor forma que for possível e volto logo para casa...

Laura: Amor... por favor... não vai...

Edgar: Eu preciso... não insista com isso...

Em alguns dias, Edgar e Laura estão no porto... o navio para Portugal está a ponto de zarpar..Laura está resignada quanto a ida do marido a além-mar.... a companhia marítima avisa que a hora do embarque chegou...

Laura: Edgar... pensa bem... ainda está em tempo de desistir dessa viagem...

Edgar: Amor.. eu não posso... tenho que resolver isso... assim que puder eu volto...

Laura: Eu vou morrer de saudade... não sei mais viver sem você...

Edgar: Eu também... esses dias vão ser difíceis pra mim... tenho uma situação complicada para resolver e vou ficar sem ter você do meu lado...

Laura: Então porque não posso ir junto... te apoiar com isso...

Edgar: Eu já te expliquei meus motivos... agora tenho de ir... adeus meu amor (beija Laura)

Laura: Boa viagem... me escreve assim que chegar...

Edgar: Pode deixar... te amo

Edgar mistura-se aos outros passageiros... Laura o vê embarcar... e chorando copiosamente diz: Volta logo, meu amor...