Enquanto esperam pelo momento de flagrar Catarina com o jornalista Osvaldo, escondidos na coxia do teatro, Isabel, Laura e Edgar decidem, em voz baixa, quais os passos a serem seguidos... Quequé, o contrarregra do teatro, pede passagem para ir a frente do palco, quando Edgar tem uma ideia...

Edgar: Rapaz... precisamos de um favor seu...

Quequé: O que o doutor quer?

Edgar: Só preciso que tenha coragem de denunciar algo que vai acontecer aqui... preciso que seja testemunha... para tanto, fique aqui conosco e ouça tudo o que vai se passar...

Quequé: O que que é? Eu... testemunha... Deus me livre...

Edgar: É importante... por favor... nos ajude a colocar um jornalista mal-caráter e sua fonte na cadeia...

Isabel: Isso, Quequé... eles nem vão saber que foi você...

Quequé: Está bem... se é só ouvir um palavreado e depois contar para polícia... eu topo...

Isabel: Ah... preciso dizer... falei com o dono do Bar Guimarães.. é um grande amigo de meu pai e do Zé...ele me disse que viu a Catarina e o Osvaldo conversando e ela lhe entregando um envelope... e que está disposto a ajudar...

Edgar: Isso é ótimo... mais uma testemunha...

Nisto, escutam os passos do jornalista do Diário Fluminense... após algum tempo, ouvem que Catarina acaba de ingressar no local...

Catarina: Seu Osvaldo... o que faz aqui?

Osvaldo: Recebi seu recado... era para estar aqui às 18:30hs...

Catarina: Não mandei recado algum...

Osvaldo: Como não? Se recebi hoje pelo meio-dia... estranhei o local pois sempre diz para ir à sua casa... mas...achei que tivesse mais alguma pauta... as últimas deram o que falar...

Isabel (saindo de trás da cortina e aparecendo no palco): Boa noite... fui eu que mandei o recado...

Catarina: Sim... para agendamento das próximas recitas... mas não entendo por que a presença deste senhor...

Osvaldo: Não estou entendendo nada do que está se passando aqui...

Isabel: Pois vou lhe por a par: vou sugerir uma pauta... sobre uma dançarina imoral que comete atentado aos bons costumes...

Laura (entrando): Ou então sobre a filha de um senador que mostra as modas e a elegância da mulher divorciada...

Catarina: Laura... se acha que com esse teatrinho vai conseguir afastar o Edgar da filha dele...

Laura: Nunca vou afastar o Edgar da Melissa... o que quero é que pare de usar o jornal deste senhor para expelir toda a podridão que tem dentro de si!

Catarina: Laura... para que tanto rancor? O Edgar e eu não temos nada... você estava presente quando o Fernando e eu contamos a ele sobre o nosso casamento...

Laura: Sim... e como te disse.... há muito tempo que sua relação com o Edgar saiu de meus pensamentos... (olhando para Osvaldo) e quanto ao senhor... ela deve lhe pagar muito bem para escrever tantas barbaridades... deve vender muito jornal publicar calúnias e insultos...

Osvaldo: Não sei do que está falando... e tenho um compromisso... com licença...

Isabel: O senhor não vai a parte alguma... ainda não terminamos aqui... (saindo do palco e barrando a passagem do jornalista)

Catarina: Que calúnias foram publicadas? A opinião sobre um espetáculo de dança trazida pelos escravos.. num país que decretou a abolição há poucos anos..e que está escandalizando a sociedade...acho que um jornalista tem liberdade de imprensa para escrever o que pensa a respeito disso... e que eu saiba, Laura, o seu divórcio não é nenhuma mentira.... realmente este senhor me procurou para algumas pautas... sobre música clássica... mas daí a dizer que tudo o que ele publica tem minha interferência...

Isabel: Não... mas você atiça rumores... e nós ouvimos este senhor falar de pautas sugeridas por você que deram o que falar... música clássica não é o tipo de assunto que cause polêmica... tenho certeza que você pagou para ele escrever esse artigo contra mim e meu espetáculo... tenho testemunhas que te viram dando dinheiro para este senhor... assim como tenho certeza que você é responsável pela nota com a foto da Laura...

Catarina: Isabel eu só convivo com você por ter um contrato assinado com este teatro... para minhas recitas de música... O que afinal de contas eu ganharia com a publicação destas notas? Para que me daria ao trabalho?

Isabel: Para que meu espetáculo não tivesse público e o teatro tivesse mais dias disponíveis para suas recitas...

Laura: E para que eu fosse demitida... desrespeitada... você pensou que com isto eu não conseguiria emprego em lugar nenhum e logo iria embora... levando a ameaça que existe só na sua cabeça, de que o meu filho iria tirar o que pertence a Melissa... mas principalmente pelo prazer de me humilhar... sabe... cheguei a uma conclusão sobre você... sua carreira como cantora lírica é uma falácia... não culpe a menina por ter interrompido sua carreira na Europa... culpe-se a si mesma... você simplesmente não tem talento...

Catarina: Não sei como fico aqui ouvindo besteiras...você nunca me ouviu cantar

Isabel: Nem precisa... você é oca por dentro.. sabe... quando não se tem alma... a música é vazia.... não emociona

Catarina: Suponho que o contrato...

Isabel: Vai ser cumprido integralmente... até acabar... não se preocupe a cada apresentação sua o teatro é defumado para retirar qualquer rastro do seu fel...

Laura: E acho muito bom que faça vários recitais... assim.. quanto menos tempo você fica com a Melissa... melhor para sanidade dessa menina...

Catarina: Chega... já não aguento mais tantas bobagens...

Osvaldo: E eu não tenho nada com isto... com licença

Edgar (entrando): O senhor não vai a parte alguma... e sim... o senhor tem muito com isto... até onde sei corrupção, suborno, calúnia, difamação e violação de privacidade são crimes.. e depois de tudo o que presenciei, não tenha dúvidas que vou denunciar o senhor...

Osvaldo: O senhor não tem nenhuma prova de que eu tenha cometido estes delitos... com licença

Edgar: O senhor tem certeza que não tenho?

Osvaldo fica lívido com a insinuação de Edgar... olha atordoado para Catarina...

Catarina: Edgar... não sei como você se presta a este tipo de coisa... nunca pensei que pudesse se envolver em algo tão vil...

Edgar: Catarina... algo vil foi o que você fez... manipulando... aproveitando-se da falta de ética e pagando para este senhor que se intitula jornalista anunciar algo que só tinha por propósito caluniar e expor outras pessoas à humilhação para favorecimento próprio...

Catarina: Pois é... esqueci que você entende tudo sobre ética em jornalismo... Antonio Ferreira deve ter lhe ensinado muitíssimo a respeito...

Laura: Antonio Ferreira?

Catarina: Ah... perdão... pelo jeito você não sabe da relação do Edgar com esse jornalista, desde quando morava em Portugal... peça a ele...

Edgar (interrompendo): Não mude de assunto... confesse... você está por trás disto tudo...

Catarina: Se eu estiver... com que dinheiro teria pago? Afinal vocês estão dizendo que eu paguei pelas publicações...

Edgar: Isso nós logo vamos descobrir... eu sei que você fez isso... confessa... se ainda quer conviver com a Melissa... e com o dinheiro que eu dou para sustentar aquela casa...

Catarina: Seu dinheiro já pouco me importa... e você não pode me tirar a Melissa...

Edgar: Posso... sou o pai dela... sou o responsável por ela... tenho pátrio-poder...e isso me dá todo o direito...

Catarina: Fiz... fiz sim... e agora... vão me bater? Eu estava defendendo meus interesses e de minha menina...

Edgar: Interesses torpes seus... e não ponha Melissa em meio a isto.. como um dia me deixei envolver por você?

Laura: Edgar... eu sei... ela é uma ótima atriz... se eu não te conhecesse bem, Catarina, até acreditaria na sua inocência...

Catarina: Não vou falar nada a respeito... e agora com licença... (empurrando de vez Isabel e saindo porta a fora do Teatro, seguida por Osvaldo)

Laura: Isso... vá... nos prive de sua companhia...

Isabel: Bem.. já temos o que precisávamos... ela admitiu que fez...

Edgar: Quequé?

Quequé: Sim...

Edgar: Você ouviu tudo.... eu te aviso quando vamos na delegacia... vou começar hoje mesmo a elaborar um processo...

Laura: Então, vai dar para processar esses dois?

Edgar: Sim... plágio, deturpação maliciosa, calúnia, injúria, difamação e suborno em troca de publicação ou omissão de notícia em favorecimento próprio são crimes previstos em lei.... Laura... você me acompanha?

Laura: Claro... boa noite Isabel... Quequé... e muito obrigada pela ajuda

Isabel: De nada amiga... eu também agradeço...principalmente ao Edgar... se não fosse a ideia dele de fazer alguém testemunhar essa conversa... é bom ter um advogado por perto...

Edgar: Bem... vamos agora... boa noite...

Isabel: Boa noite... e eu vou me preparar para o espetáculo... Quequé... os acompanhe e já fique pela bilheteria...

Laura e Edgar saem do teatro e dirigem-se para casa... Isabel começa a preparar-se para a apresentação que fará dentro de pouco tempo... enquanto isto, Catarina chega em sua casa... está colérica com o que acabara de acontecer...

Fernando: Meu rouxinol... o que foi?

Catarina: O que foi? Você ainda me pergunta? Uma emboscada... só isso...

Fernando: Emboscada? Não entendo...

Catarina: O bilhete para encontrar a Isabel... ela e a Laura armaram e quando cheguei no teatro dei-me de cara com o Osvaldo...

Fernando: O que? E aí... conte-me

Catarina: Elas tentaram arrancar uma confissão de que eu era responsável pela publicação das notas... me insultaram... mas isso vai ter volta... ah se vai!

Fernando: Mas tenho certeza que você é mais esperta... deve ter conseguido escapar ilesa disso...

Catarina: Claro que vou sair ilesa disso.. mesmo o Edgar estando lá também... apareceu de repente... me ameaçou... disse que se eu não falasse a verdade não iria mais conviver com Melissa... a Isabel disse ter testemunhas que me viram dando dinheiro ao Osvaldo... e eu acabei falando...

Fernando: Não creio que fez isso... eles podem te acusar legalmente agora...

Catarina: Não Fernando...se fizerem isso, vai ser minha palavra contra a deles... ninguém mais ouviu a conversa...

Fernando: Tem certeza?

Catarina (titubeante): Claro que sim.... e Melissa? Já dormiu?

Fernando: Catarina... quando cheguei a empregada me disse que o Edgar esteve aqui...e levou a menina para dormir na casa dele...

Catarina: E a incompetente deixou? Onde ela está?

Fernando: Já foi...

Catarina: Vamos até a casa do Edgar.... quero minha filha...

Fernando: Acalme-se... a menina só vai ficar lá hoje... amanhã o Edgar a traz de volta...

Catarina: É... não vou me preocupar com isso... ele ameaçou... mas duvido que tenha coragem...

Fernando: Você sabe que o Edgar não faria isso... agora venha... vamos aproveitar que hoje a casa é só nossa...

Catarina: Fernando... não estou com humor...

Fernando: Ah... venha... já vou fazer o seu humor melhorar.... venha meu rouxinol (dando a mão para Catarina e subindo com ela as escadas da casa)

Enqnato isto, na casa de Edgar, já de pijamas, as crianças lutam contra o sono, que insiste em ganhar a batalha... mas... ao verem o pai e Laura chegarem correm ao encontro do casal...

Daniel: Mamãe..

Melissa: Papai...

Edgar: Oi meus amores... se divertiram muto?

Daniel: Muito... a Melissa é supimpa...

Melissa: O Daniel que é... gosto muito de brincar com ele...

Laura: É... mas parece que essa brincadeira toda cansou vocês... e já está tarde... está na hora de vocês dois dormirem...

Daniel: Ah... mas eu não estou com sono (bocejando)

Edgar: A Laura tem razão... está na hora de criança estar na cama...

Melissa: Mas a gente nem brincou com vocês hoje...

Edgar: Princesa... amanhã a gente brinca...

Daniel: Tá... mas então quero uma história...

Melissa: Eu também...

Laura: Está bem... vamos lá para cima... eu conto uma história para vocês...

Laura se encaminha para o quarto onde as crianças vão dormir... enquanto isto, Edgar dirige-se ao escritório... pega o código penal e se dirige ao quarto... deixa o livro na mesa de cabeceira e ruma para o quarto de banho... enquanto banha-se pensa sobre tudo o que aconteceu nos últimos dias e no que ainda vai acontecer... Já no quarto das crianças Laura começa a contar uma história... Branca de Neve e os Sete Anões

Laura: Então a Rainha Má pede ao espelho... espelho, espelho meu, existe alguém mais bela que eu?

Daniel (interrompendo): Mamãe... a Rainha Má... é bonita?

Laura: Sim meu filho...

Melissa: mas a Branca de Neve é mais... é bonita como você, tia Laura

Daniel: Então a secretária do papai é como a Rainha Má... e você é a Branca de Neve...

Laura: A D. Heloisa é bonita?

Daniel: Sim...

Melissa: Ela é bonita, jovem e simpática...

Daniel: Eu não gostei dela...

Melissa: Eu gostei...

Laura: Crianças... deixa eu terminar a história...

Pouco tempo passa e os pequenos dormem... Laura sai do quarto das crianças e dirige-se ao quarto de banho... entra na banheira e também se põe a pensar em tudo o que acontecera nos últimos dias enquanto banha-se... tenta desviar a atenção do que Daniel e Melissa acabaram de lhe dizer... a secretária é jovem e bonita... isso a intriga.. sente uma pontinha de ciúme brotar em seu peito... por que Edgar não lhe falara isso? E a tal história do Antonio Ferreira... o que Catarina sabe que ela, Laura, não sabe? Sai do banho e encaminha-se para o quarto... Edgar já se encontra na cama, recostado..... lê o código atentamente buscando artigos para enquadrar Catarina e Osvaldo enquanto espera Laura vir se deitar... ela pensa que depois do dia que tiveram, aquele não é o momento de falarem sobre isso... entra e senta-se em frente a penteadeira começando a escovar seus cabelos...

Edgar: E as crianças?

Laura: Dormiram...

Edgar: Estou tentando achar os artigos para montar o processo...

Laura: Ah...

Edgar: Laura... o que foi? Algo errado?

Laura: Não... nada errado... (indo para cama e deitando-se, dando as costas para Edgar)

Edgar: Vamos... me diz o que está acontecendo...

Laura: Nada amor... só estou cansada...

Edgar: E precisa me dar as costas? Você me parece zangada... não quer nem conversar...

Laura (suspirando): Não Edgar... não estou... e se te deixa mais feliz... eu converso com você... como foi o primeiro dia da sua secretária?

Edgar: Bem... ela me surpreendeu...por ser o primeiro dia e ela não ter nenhuma experiência.. se saiu muito bem... consegui até deixa-la sozinha hoje à tarde... e isso me deixou tranquilo... amanhã vou precisar sair novamente.... pelo jeito ela dá conta...

Laura: E que tal é ela? Você ainda não me disse... é simpática? bonita?

Edgar: Laura... eu já te disse.. é uma senhora.. viúva....não reparei se é bonita.. feia... .. simpática..antipática...não tenho que me deter nisso... escolhi uma secretária... não uma namorada..

Laura: Era só o que faltava mesmo... escolher uma namorada... não tem vergonha de me falar isso...

Edgar (rindo): Olha... ainda desperto ciúme em você... com esta ganhei o dia...

Laura: Ciúme eu? Edgar... isso é tão século dezenove... não acha?

Edgar: Claro... também não sou ciumento...

Laura (rindo): Você? Jura?

Edgar: Não sou ciumento, não... só cuido do que é meu...

Laura: Pois então digo o mesmo... (parando um pouco) Edgar... que idade ela tem, mesmo?

Edgar: Já vi onde quer chegar... tudo bem... ela é viúva... mas ainda é jovem... não sei quantos anos tem... Laura... ela faz e vai fazer exatamente as mesmas coisas que você faz no escritório do Freitas... se desconfia de nós... então deveria pensar que vocês quando estão sozinhos....

Laura: Edgar...

Edgar: Laura entende uma coisa... eu te respeito... não tenho e nem pretendo ter nenhuma relação que não seja profissional com esta senhora.... e agora, vamos mudar de assunto, sim?

Laura: Está bem... mas já que começamos... agora vamos até o fim...

Edgar: O que foi?

Laura: Edgar... o que a Catarina quis dizer sobre você e o Antonio Ferreira?

Edgar: Nada Laura...(parando uns instantes pensando no que vai dizer) Nós apenas nos conhecemos há bastante tempo...

Laura: Vocês são amigos? Por que se são... não vou te perdoar por essa sua cisma em criticar tudo o que ele escreve... e mais... por não ter me apresentado...

Edgar: Digamos que não somos exatamente amigos... sou o maior crítico ao trabalho dele... só isso... e quanto a conhece-lo... não sei se seria uma boa ideia... ele é muito tímido... não tem muitos amigos.. prefere ficar sozinho...

Laura: Edgar... como uma pessoa tão envolvida com os problemas sociais pode preferir ficar sozinha? Não ter contato com pessoas... ter amigos.

Edgar: Ele é assim.... recluso... o que posso fazer? E sabe... não estou gostando dessa sua insistência quando a este jornalista... agora vamos dormir... amanhã terei um dia cheio (arrumando o travesseiro para deitar)

Laura: Está bem... há que horas vai buscar a tua amiga?

Edgar: Ela me disse que o navio chega pela manhã... vou pelas 8:00hs... busco... deixo no hotel e depois tenho algo inadiável para fazer... vou comunicar para Catarina que a Melissa a partir de agora mora aqui...

Laura: Amor isso não vai ser fácil... e se ela falar alguma coisa?

Edgar: Pois que fale.... depois dos últimos acontecimentos... não há outra coisa a ser feita... eu sou pai daquela menina... posso até não ser de sangue.... mas legalmente sou responsável por ela... é minha obrigação proteger a Melissa...

Laura: Você diz com tanta convicção que não é pai biológico dela...

Edgar: Posso estar enganado, claro... mas algo me diz que o pai é outro... amanhã a Filipa vai confirmar ou negar essa suspeita...

Laura: Ela falou para todos os envolvidos estarem presentes... pretende chamar...

Edgar: Se está pensando no Dr. Castro... estou em dúvida... mas acho que vou participar a ele... se quiser comparecer... afinal isso pode tirar um peso de suas costas... ou impor de uma vez responsabilidade sobre a menina... apesar de que seja qual for a resposta... a Melissa é minha...

Laura (um pouco incomodada): Claro...

Edgar: Amor... espero que a presença dele não te incomode... se for assim eu desisto disso e se for necessário depois a Filipa e eu damos um jeito de falar com ele..

Laura: A situação de reencontra-lo é incômoda... mas necessária... poderia acontecer em qualquer momento... em qualquer lugar... se é para ser, melhor que seja com você por perto...

Edgar: Claro... qualquer coisa dou mais uns sopapos nele...

Laura: E eu cuido dos seus machucados (beijando o marido)... onde pretendem fazer essa reunião?

Edgar: Acho que aqui em casa mesmo... no escritório... mas.. (olhando sedutor para Laura) no momento estou mais interessado em um outro tipo de reunião... particular...

Laura: Hum... particular?

Edgar: sim... o assunto a tratar só diz respeito a nós dois...

Laura (maliciosa): Ah é? E que assunto será tratado nessa reunião de última hora? (puxando-o para si)

Edgar: Ah... temos uma pauta seríssima... é (indo sobre ela e encaixando suas pernas entre as dela)..... vou te mostrar todos os pontos que serão debatidos... (dando vários beijos em seu pescoço e descendo por seus ombros)

Laura: Pensei que quisesse dormir...(devolvendo as caricias e os beijos)

Edgar: Queria... mas preciso sanar algumas dúvidas suas....acho que não ficaram bem esclarecidas apenas com minhas palavras...(voltando a beija-la intensamente)

Laura: Eu acredito em você Edgar Vieira (beijando-o de volta) mas já que quer me reafirmar o que já me disse...

Edgar: Quero... preciso... (beijando Laura)

Eles amam-se e após saciarem seus corpos, adormecem aconchegados... A terça-feira amanhece... ambos acordam e após tomarem um rápido desjejum e despedirem-se de seus filhos, rumam para suas obrigações... Edgar deixa Laura próximo ao prédio onde trabalha e segue em direção ao porto... no cais, as horas passam devagar... há muito tumulto.. pessoas indo e vindo... trabalhadores passando com cargas trazidas pelos navios ou então levando mercadorias para serem carregadas... gente esperando para zarpar e outras esperando por alguém que irá desembarcar...Edgar olha para o relógio... até que ouve alguém lhe chamar...

Filipa: Meu caro Dr. Edgar Vieira...

Edgar: Dra. Filipa Borges! Que bom te ver aqui... (dando um grande abraço na colega que há tanto tempo não vê)

Filipa: Há quanto tempo não nos avistamos, pois não? Mas tu não mudaste nada... continuas o mesmo rapaz que junto comigo frequentava a faculdade...

Edgar: Bem... já eu não posso dizer o mesmo... o tempo te fez bem, Filipa.. está ainda mais bela...

Filipa: Sempre galante, Edgar... quero te apresentar... esta é minha colega... Dra. Manoela Medeiros...

Edgar: É um prazer conhece-la (beijando a mão de Manoela)

Manoela: Encantada... Filipa falava-me muito de vós...

Edgar: Espero que tenha falado bem...

Manoela: Certamente... um colega exemplar... e um grande amigo..

Edgar: Bem... a recíproca é verdadeira... só acrescento que ela é muito corajosa... em uma sociedade como a que vivemos formar-se em direito, única mulher entre tantos homens...

Filipa: Obrigada... sofria preconceito fora da faculdade... mas em sala... sempre fui muito respeitada por todos... assim como Manoela.... Ainda existe muito machismo...mas a sociedade em si com o tempo acabará tendo que se adequar a essa realidade

Edgar: Minha esposa vai gostar muito de vocês... compartilha as mesmas ideias...

Filipa: Então te casaste?

Edgar: Sim... com Laura...

Filipa: A famosa Laura... finalmente irei conhece-la... Sabes, Manoela... Edgar me contava que a noiva estava fazendo curso Normal à época... tinha planos de lecionar.. para desagrado da família...

Manoela: Algo que temos em comum...

Filipa: Edgar... tu precisavas te ouvir naquele tempo... eras tão orgulhoso de tua noiva tão impetuosa... lutando por independência...E como era formosa... lembro bem do retrato dela... imagino que deve continuar sendo uma mulher muito bonita

Edgar: Ela é linda Filipa... e continua com esse desejo de independência... liberdade...e mesmo que eu não concorde com certos pontos dessa sua visão de mundo... ainda me sinto muito orgulhoso dela...

Filipa: Isso faz parte... pelo menos não a reprime pelas ideias que tem...

Manoela: Que acham de sairmos deste tumulto?

Edgar: Certamente.. vou leva-las ao hotel onde estão hospedadas... imagino que após uma viagem tão cansativa desejam repousar...

Manoela: Nem imagina o quanto... ainda tenho a impressão que algo se move sob meus pés...

Filipa: Sim... é bom repousarmos...mas quero conversar com tua esposa e contigo ainda hoje... temos muitas coisas a contar... e dependendo do que me disseres... temos ainda muito a investigar...