Na sala de estar da casa dos Vieira, Edgar olha com desconfiança para o jornalista, de pé a sua frente... Laura, a poucos passos do marido, também fica pensativa, tentando perscrutar o que vai pela mente de Carlos Guerra...
Guerra: Laura... nós precisamos conversar...
Laura: Pois bem... o que tem a me dizer... além do que eu já ouvi?
Guerra: De início... vim me explicar...
Edgar: Você veio só se explicar?
Guerra: Sim... Edgar...eu pretendo logo me casar... com a tia de vocês!. Pela primeira vez o jornal está saindo da banca rota... eu não posso ameaçar..
Laura: A Credibilidade? Se eu ouvir essa palavra outra vez em relação ao meu texto... ou melhor... ao meu nome... eu nunca mais falo com você!
Guerra: Laura... procura me entender!... Eu admiro muito o seu texto!... Paulo Lima e Antônio Ferreira são meus melhores jornalistas!..
Edgar: Então eu temo que você vá ficar sem seus dois melhores jornalistas... pois o Antonio Ferreira vai parar de escrever em solidariedade ao Paulo Lima...ou melhor... à Laura Vieira
Guerra: Eu não posso perder os dois ao mesmo tempo!
Edgar: Está perdendo por que quer!.. Laura e eu adoraríamos continuar escrevendo para seu jornal
Guerra: Edgar... já publiquei uma vez uma matéria escrita por uma mulher... desconfiaram das informações!... O descrédito é uma desgraça!..
Laura: Descrédito?..Tudo o que escrevo é muito sério!
Guerra: Eu sei... mas os leitores podem questionar
Edgar: Eu não entendo!... Você luta todos os dias contra as injustiças... e não percebe essa... Você é a favor do preconceito?
Guerra: Claro que não!... Eu sei que a Laura é capaz.... Mas e as mulheres no geral?
Laura: Guerra... o problema não é a credibilidade e o questionamento dos leitores... O problema é você...
Edgar: O mundo está mudando... As mulheres estão estudando... se mostrando competentes tanto quanto ou até mais que os homens... Olha o caso da Laura... da Filipa...da Manoela... da Dra. Evie.... Se você não percebe... pode retardar o processo... mas não impedir...Num futuro não muito distante você verá locais que eram destinados apenas a homens serem ocupados por mulheres... E você terá ficado no passado com suas ideias retrogradas...
Guerra: Não exagere! (parando um pouco e pensando)... Bem... diante de tais argumentos... Laura... te faço uma proposta...
Laura: Sou toda ouvidos...
Guerra: Eu tenho duas pautas a serem escritas para os próximos dias... Uma sobre economia... e outra sobre segurança pública... Assuntos com fonte quente!..E quero que assine as duas matérias...
Laura: Bons assuntos...
Guerra: Porém... preciso apresentar Laura Vieira como jornalista, e preciso de tempo para preparar os autores.... O que te proponho é o seguinte: Como me disse que tem um segundo pseudônimo para a matéria já escrita... publicamos essa primeira com esse nome fictício... A matéria seguinte você escreve como Paulo Lima...Eu escrevo um editorial te apresentando, pois pelo que entendi quer que saibam que o Paulo Lima é você... E as matérias subsequentes saem com seu nome...
Edgar: É uma boa forma de resolver...
Laura: Você me garante? Dá sua palavra?
Guerra: Claro!.. Não posso ouvir meu melhor amigo me chamando de retrógrado...
Edgar: Até que enfim... voltou a seu juízo, meu caro amigo progressista!... Agora... o Antônio Ferreira vai ficar com ciúme... Não sobrou nenhum assunto para ele...
Guerra: Quem disse que não? Comentei contigo tem uns dias sobre o descalabro que estão fazendo com os marinheiros que participaram da Revolta da Chibata... Como foi o Antonio Ferreira quem escreveu na época
Edgar: É verdade... preciso averiguar...
Guerra: Ótimo... (virando-se para a professora) E então, jornalista Laura Vieira... posso contar com suas matérias?
Laura: Já estou pensando em como escreve-las...
Edgar: Quando pretende publicar a de desvio de dinheiro?
Guerra: Podemos publicar Laura? Pretendo que esteja no jornal amanhã...Por isso disse que D. Margarida vai precisar mais ainda de seu apoio ..
Laura: Podemos... Vou buscar a pasta com a matéria...
Edgar: Bem... vou fazer o que disse... ligo para minha mãe... E... vamos ao noivado!... Seria uma falta de consideração com meus sogros, meu cunhado e Manoela se não comparecêssemos nem que seja para um cumprimento...
Guerra: Também vou... Só levo a matéria para a redação, digo ao Jonas para tipografar e me encaminho para lá...
Após Edgar ligar para casa paterna, tentando dessa maneira oferecer algum consolo a sua mãe, o advogado e Laura deixam a casa juntamente com Guerra, que acaba tomando a direção do Correio da República. Chegando lá, o editor lê com calma o artigo escrito por Laura... Admira-se... Como pode escrever tão bem e ter levantado tantos dados para pautar a matéria? Não há outra coisa a fazer... A reportagem precisa ter o devido destaque!... E, orientando Jonas para tipografar com urgência aquelas laudas, sai apressado para a residência dos Assunção... Enquanto isto, longe dali, no Rio Comprido, Catarina, contando os parcos vinténs que ainda lhe restam lamenta-se e pensa no que deve fazer...
Catarina: Uma gravidez que praticamente destruiu a minha vida.. que me fez ficar dependente de homem casado... e agora o ingrato foi incapaz de reconhecer o que fiz pela menina!... Não se importa!.. A saudade que sinto da Melissa... dá e passa... mas a falta de dinheiro... Tenho no máximo para sopa da noite!... Estou demorando demais.... Preciso agir de uma vez... Uma oportunidade...É só o que preciso!... Edgar é um dos advogados mais bem remunerados do estado... e eu aqui... contando moedas...
Enquanto isto, na mansão dos Assunção a festa segue... Garçons circulam com suas bandejas de prata repletas de taças de champanhe francês...As mulheres seguem com seus assuntos tipicamente femininos, enquanto os homens travam uma discussão acalorada mas amistosa sobre os progressos do Rio de Janeiro... Edgar e Laura chegam sem fazer alarde, sendo recebidos pelos pais da professora...
Assunção: Edgar... filha... que bom que chegaram..
Constância: Sim.. esperávamos que chegassem mais cedo... Mas chegaram a tempo... Manoela logo deve descer...
Laura: Tivemos um contratempo...
Assunção: Nós imaginamos.. Edgar... sinto pelo que está acontecendo...
Edgar: Obrigado Dr Assunção....
Laura: Nós realmente só viemos por consideração...
Constância: Como está Margarida?
Edgar: Foi um golpe duro... mas minha mãe é uma mulher forte... Nestas horas é que se percebe que mesmo as pessoas que tem a aparência mais frágil podem ser as mais firmes...
Assunção: Bem... entrem!... Nem preciso dizer que a casa é de vocês...
O casal adentra a sala... Cumprimenta os presentes... Edgar é chamado por Joaquim e Humberto, iniciando com estes uma conversação... Já Laura troca algumas palavras com Celinha, que expressa sua indignação diante da atitude de Guerra com a moça. A professora então conta-lhe sobre a decisão tomada a pouco pelo jornalista e retira-se...Deixa sua tia em companhia do noivo que acabara de chegar, recebe um recado da mãe e dirige-se ao andar superior
Laura: Boa noite senhoritas!
Filipa: Olá Laura... que bela estás! E esse bebê, como vai?
Laura: Obrigada Filipa... O bebê está bem... cada dia maior... mais pesado! Sabe... não lembro do Daniel ter pesado assim em tão pouco tempo... Minha barriga demorou mais a crescer... mas dizem que cada gravidez é diferente, né? (fazendo uma pausa)... Manoela... como está linda...
Manoela: Linda e nervosa... Como está tudo lá embaixo?...
Laura: Pelo que percebi... está tudo bem...
Filipa: Laura.. como vocês estão?
Laura: Bem Filipa... na medida do possível... Mas não vamos falar disso agora que a noite é de festa!.. Manu... acho que está na hora... todos estão esperando por você...
Manoela: Sim... meninas... antes de descermos... queria agradecer às duas pela delicadeza e pelo carinho... Logo Laura e eu seremos cunhadas...
Laura: Não sabe o quanto isto me deixa contente!... Meu irmão e você serão muito felizes... (dando um abraço na moça)
Manoela (abrindo um dos braços e a chamando a participar): Filipa... sabes que é uma irmã... que desde que aqui chegamos... tu és minha única família...
Filipa: Queres parar com isto? Se continuares, logo estaremos todas aos prantos e toda maquiagem vai se esvair... (abraçando as duas)
Laura (rindo): Tem razão! Vamos descendo, Dra. Borges? (enganchando o braço da advogada)
Filipa e Laura descem e juntam-se aos convivas, deixando a moça sozinha por alguns instantes... Manoela dá uma última conferida no vestido em frente ao espelho... Respira profundamente... Chegou a hora!... E sem olhar para trás dirige-se ao corredor que leva às escadas daquela casa...
Enquanto isto, no salão, Edgar avista o noivo...Albertinho está nervoso....Entre um gole e outro de champanhe e uma palavra ou outra com um amigo ou parente, olha para as escadas...
Edgar: Alberto!
Albertinho: Edgar... tudo bem?
Edgar : É... vamos dizer que sim... Imagino que saiba o que aconteceu...
Albertinho: Sei sim... e me desculpe... Fernando é meu amigo.... é seu irmão... mas se teve algo a ver com o incêndio... vai pagar caro!... Ele quase matou minha irmã e meu sobrinho..
Edgar: Ele quase conseguiu tirar o que de mais importante tenho na vida, Albertinho!... Se ficasse cara a cara com ele neste momento... não responderia por mim...
Albertinho: Imagino o que está passando... Obrigado por ter vindo...
Edgar: Laura e eu não poderíamos faltar.. Também imagino o que te passa neste momento... Nervoso?
Albertinho: Muito!... Essa espera está me matando...
Assunção (cumprimentando Filipa e Laura e aproximando-se da escada): Senhoras... senhores... aqui está Manoela!...
A moça desce as escadas... Seu belo porte e o vestido rosa bordado que usa causam a admiração de todos... Entre tantos, o olhar de seu noivo é o mais encantado... Albertinho sorri... Vai ao encontro de Manoela... Está genuinamente feliz por firmar um compromisso formal com uma moça tão encantadora...
Manoela: Boa noite
Albertinho (dando um beijo na mão de Manoela): Boa noite... Estás linda...
Manoela: Obrigada cavalheiro.... Também estás muito garboso!... Vamos nos juntar aos demais?
Albertinho: Claro...(dando o braço para a moça)
A festa decorre normalmente... Após alguns cumprimentos e mais alguns momentos de conversa amena entre amigos e familiares, a anfitriã anuncia que o jantar, à francesa, será servido... Após a refeição, aos poucos todos dirigem-se ao salão principal... A prosa animada, recheada de gargalhadas e bom humor entre os convivas é interrompida pelo anfitrião... Chegara o momento...
Assunção: Senhoras... Senhores... gostaria de alguns minutos de vossa atenção... Todos sabem o motivo que nos reuniu aqui... Só lamentamos a ausência dos pais de Manoela

Constância: Mas o importante é que consentiram com o pedido...mesmo que por carta...
Albertinho: Em sendo assim... Manoela... (retirando uma pequena caixa de seu bolso e abrindo) com este anel reafirmo nosso compromisso e peço que se torne minha noiva e futura esposa...
Manoela: É lindo!... Sim... aceito...
Albertinho coloca delicadamente a joia, em ouro e brilhantes, no dedo anelar direito da noiva, sob os aplausos dos convivas... O casal sela o compromisso com um beijo casto... Sorri... Brindes são propostos.... E agora... formalmente noivos... a festa volta a seu percurso... Todos naquela sala estão emocionados e felizes.... Filipa e Joaquim, Celinha e Guerra... casais recém formados pensam quando será sua vez... Laura e Edgar sorriem comovidos e olham-se com cumplicidade... Sem chamar atenção, saem por uns momentos, indo em direção ao jardim... Aquilo tudo os leva de volta há anos atrás, quando um dia, naquela mesma casa, o advogado, prestes a sair em viagem, firmara seu compromisso com a professora...
Laura: Sabe... tudo isso me fez lembrar do dia em que noivamos... Eu era tão menina... tão cheia de sonhos!... Nós tínhamos essa mesma confiança.... Por que será que ela se esvaiu?... Por que quando estava no altar estava com tantas dúvidas?
Edgar: Talvez pelo afastamento... pelos maus-entendidos... pelas descobertas que fizemos nesse período... pela angústia em pensar que o outro já não queria... Eu fui para aquela igreja pensando que você não queria casar.!.. Você pensava que eu iria tolher sua independência... e eu... pensava que minha permanência no país iria impedir que eu continuasse a trabalhar como jornalista... Mas...bastou algum tempo na mesma casa... convivendo todos os dias... para acontecer...
Laura: O que?
Edgar: Nós dois...
Laura: Quase que a gente não se casa...
Edgar: Quase...
Laura: A gente ia conseguir não ser casado, Edgar?
Edgar: Não sei... mas você quis assim por quase cinco anos...
Laura: Casa comigo?
Edgar: Que?
Laura: É o que ouviu... estou lhe pedindo em casamento!... Casa comigo?
Edgar: Mas a gente já é casado...
Laura: Não!... Nós reatamos... mas nós continuamos divorciados...
Edgar: Nós não podemos casar de novo...
Laura: Está recusando meu pedido, senhor advogado?
Edgar: Claro que não meu amor!.. Só estou dizendo que por lei a gente não pode casar mais...
Laura: Eu sei.. sou uma mulher bem informada!... Mas a gente pode...
Edgar (sorrindo ao constatar onde a esposa quer chegar): Revogar o divórcio..
Laura: Você ainda não respondeu...
Edgar: Repete o pedido
Laura: Edgar Vieira... aceita se casar comigo?
Edgar: Deixa eu pensar.... sim...
Laura: Meu amor... (beijando o marido com urgência e intensidade)
O casal namora mais algum tempo no jardim e volta ao interior da casa...Os homens e mulheres ali formam grupos de assuntos afins... Os noivos agora são cumprimentados pessoalmente por cada um dos convivas... O champanhe continua circulando pelo salão... Em um canto, Humberto, talvez o único solteiro presente, já um tanto embriagado, conversa com Joaquim
Humberto: E mais um logo deixa o time dos solteiros... E justo o Albertinho...
Joaquim: Pois eu o invejo.!.. Espero logo estar nesse grupo...
Humberto: Deus me livre! Não pretendo me amarrar tão cedo...
Joaquim: Sabe, Humberto, chega um momento em que a gente sente que está na hora de dar adeus às farras... e formar uma família... E quando se encontra a pessoa certa..
Humberto: Ah claro... depois de tudo o que aprontou... é lógico...
Joaquim: Do que está falando?
Humberto: Oras, Joaquim... não queira se passar por santo!...
Joaquim: Realmente... e você menos!... Diga-me... quantas viúvas e esposas mal amadas tens consolado nos últimos tempos? Perto de você... eu sou um anjo...
Humberto (gritando e chamando a atenção de todos): Anjo, você? É a anedota do ano! Aliás... aqui só há anjos... principalmente o noivo... você e o Edgar... Todo mundo sabe aqui que vocês dois aproveitaram... e bem... os braços de uma certa dama....
Assunção: Humberto... Cale-se!
Edgar: Não se preocupe Dr. Assunção... Humberto... Você bebeu demais!...
Constância: Cavalheiros... não se exaltem!... Todos sabemos que os jovens... e até os homens maduros, comentem seus pecadilhos..
Humberto: Uns mais que outros, não? Fernando, por exemplo, envolveu-se com a amante do irmão.. por pura hipocrisia... apaixonou-se... noivou... e agora... por causa dela... está na cadeia... E vocês ainda falam que apaixonar-se é bom?
Albertinho: Chega Humberto!... Já passaste muito dos limites...
Humberto: E o renomado Dr. Vieira ... aqui... nesta festa comemorando conosco.... enquanto seu irmãozinho querido jaz numa cela!!! Por sinal... Senhores... ergamos um brinde... ao Fernando... que por inveja ao irmão foi parar na prisão!
Assunção: Basta com isso! Ou será convidado a se retirar desta casa!
Humberto: Está me expulsando, Senador?
Laura: Pai... não se perturbe... Deixe Humberto com seus desvarios... Já está tarde.. Edgar e eu temos mesmo que ir...
Assunção: Albertinho... desculpe... mas... acompanhe seu amigo até a cozinha... Luzia... prepare um café forte e amargo para este senhor... e depois providencie um coche que o leve para casa... E quanto a vocês, meus filhos.... É cedo... fiquem um pouco mais...
Edgar: Laura tem razão, Dr., já se faz tarde.. Ficamos mais do que pretendíamos... Agradecemos... mas precisamos realmente ir...
Assunção: Bem.. a pressa é de vocês.... Antes que esqueça... Amanhã estarei indo para a fazenda... Qualquer coisa... sabem a quem recorrer...
Laura: Espero sinceramente que não seja necessário!.... Boa noite e boa viagem meu pai...
O casal despede-se dos convidados, principalmente dos noivos, e toma a direção de casa... Já na delegacia, Fernando, pela janela de sua cela, observa a noite iluminada pela lua cheia... Pensa em como pôde descer tanto... Estar entre aqueles homens, todos carregando suas culpas, menores ou maiores, trancafiado entre aquelas paredes úmidas e frias, enquanto que a verdadeira culpada só Deus sabe onde andaria... Sabe que não vai conseguir dormir... Remói seus pensamentos... Apenas esperando o novo dia amanhecer...
Já no Bairro de Laranjeiras, o casal Vieira após o trajeto de volta, entra em sua casa sem dizer palavra pelo adiantado da hora, subindo para o andar superior e logo entrando em seu quarto... Laura procura por sua roupa de dormir, enquanto observa Edgar, pensativo em frente ao espelho enquanto desfaz o nó da gravata...
Laura (aproximando-se e pousando a mão no ombro do marido): Um vintém por seus pensamentos
Edgar: Meu amor...
Laura: O que foi?
Edgar: Não tenho como te enganar, não é? Estou pensando em tudo isso... no Fernando preso... na Catarina foragida... No escândalo que vai ser publicado amanhã e que envolve meu pai... No que minha mãe tem e ainda vai ter que passar... O que o Humberto fez na festa foi só uma amostra de como a sociedade está reagindo... Laura... é muita coisa...
Laura: Eu sei que está preocupado... mas acredite... tudo vai ficar bem... por pior que as coisas possam parecer...
Edgar: Eu só me pergunto quando tudo isso vai acabar?
Laura: Eu não sei... mas pense que pelo menos a gente está passando por tudo isso juntos...
Edgar: É verdade.... Sra. Vieira... minha... o que mesmo nós somos agora? Depois do pedido que me fez?
Laura (rindo): Legalmente continuo sendo sua ex-esposa... Pelo pedido seria sua noiva...
Edgar: Preciso entrar com esse pedido de revogação o quanto antes... para mim você não é nem uma... nem outra...
Laura: E o que eu sou para o Sr. Advogado?
Edgar: Pode acontecer o que for... para mim você sempre vai ser minha mulher... mas acima de qualquer coisa... o meu amor.... (dando um beijo de início calmo e que vai ganhando intensidade aos poucos)
O casal, a passos lentos, entre beijos e abraços, anda em direção a cama... As roupas são afrouxadas e retiradas com a facilidade de quem faz isso cotidianamente, mas não sem perder o encantamento e admiração ao ver e sentir cada parte do corpo desnudada como se fosse a primeira vez... Amam-se... sem pensar em todos os problemas que os cercam... e muito menos imaginar o que está por vir...
Aquela noite tão agitada dá lugar a uma manhã sombria... O sol encoberto por nuvens prenuncia um dia chuvoso na capital fluminense... Na delegacia da rua do Ouvidor, Fernando, pensando em como seria bom naquele momento poder desfrutar de um bom banho e de uma cama limpa, é chamado por um dos guardas e levado a sala do delegado Praxedes...
Praxedes: Bom dia...
Fernando: Não sei o que tem de bom...
Humberto: Seu Habeas Corpus... o juiz permitiu que responda o processo em liberdade...
Praxedes: Exatamente... Tiveste muita sorte...
Fernando: Não é sorte... isso se chama ter posição social... Ou o senhor delegado pensou mesmo que uma pessoa como eu iria ficar desfrutando das confortáveis acomodações deste local e da gentileza e hospitalidade dos guardas?
Humberto: Fernando!
Praxedes: Mais uma palavra e o senhor volta para as acomodações por desacato... Aviso que não poderá deixar a cidade durante os tramites... Tenham um bom dia
Humberto: Bom dia
Fernando: Au Revoir, monsieur...
Humberto: Vamos Fernando...
Enquanto o irmão de Edgar e seu advogado saem daquele local, no bairro de Laranjeiras, Edgar acordara mais cedo que o habitual... Está sentado a mesa já posta para o desjejum quando Laura desce para a refeição matinal...
Laura: Bom dia meu amor.. (dando um beijo leve no marido) Não te vi acordar...
Edgar: Estava ansioso para ver isso aqui!... A matéria do Felipe Machado
Laura: Nossa... na primeira página!
Edgar: Sim.. um assunto relevante... e muito bem escrito... pela brilhante Laura Vieira.!.. Pena não poderem saber disso... Mas o seu dia vai chegar... vai ver....
Laura: Estou confiante com isso
Edgar: Pode confiar... O Guerra é um homem de palavra!.. Logo todos vão saber que por trás do grande Paulo Lima está você...
Laura: Bem... hoje preciso passar na redação... me inteirar do assunto da próxima matéria...
Edgar: Eu também preciso sair..... vou à casa de minha mãe... Não quero nem imaginar a reação de meu pai ao ver sua matéria!..
Laura: Diga que mandei um beijo e que conte comigo para o que precisar... Você volta para o almoço?
Edgar: Não...Provavelmente só volto à noite... Tenho uns processos para ver no fórum... E Albertinho ontem me convidou para jogar uma partida de foot-ball... resolvi aceitar...
Laura: É bom... assim você espairece um pouco... Eu também... depois da aula marquei de encontrar com Filipa e Manoela na tecelagem... De lá vamos comprar algumas coisas para o enxoval de noiva...
Edgar: Um programa tipicamente feminino!... Bem... talvez te veja... Vou passar na tecelagem também... Filipa me pediu para ver umas contas... (terminando o café e levantando-se) Bom dia meu amor...
Laura: Bom dia...
O advogado dirige-se a porta principal da residência e toma a direção do centro da cidade... Não falara nada para não preocupar a esposa, mas pretende ir fazer uma visita que não pode mais adiar... Enquanto isto, na casa de Bonifácio Vieira, o mesmo termina também, por sua vez, o desjejum... Levanta-se e vai em direção à sala de estar... Quando pega o jornal dobrado sobre a mesinha e pensa em abri-lo, avista Margarida, entrando naquele comodo um tanto abatida...
Bonifácio: Bom dia... Por que esta cara?
Margarida: E como queria que estivesse? Não consigo crer que podes estar tão tranquilo com teu filho na cadeia...
Bonifácio: Se está lá é por que fez por merecer....
Margarida: Faça alguma coisa, por favor!.. Eu te imploro...
Bonifácio: Margarida... Há muito que Fernando deixou de ser meu filho... Ele não passa de um traidor... e agora... praticamente um assassino!...
Margarida: Não foi ele!..
Bonifácio: Por favor Margarida... sejamos realistas... Fernando nunca prestou... Sempre teve um gênio ruim... (abrindo o Correio da República e lendo a manchete) Avenidas Abertas e Milhões Desviados! Não pode ser! Mas afinal... o que é isso?????
Margarida: O que foi?
Bonifácio (lendo rapidamente o conteúdo do artigo, largando o jornal na mesa e saindo apressado): Leia você mesma... Preciso resolver uns assuntos...