Edgar acorda assustado e desnorteado... não sabe onde está... aos poucos vai percebendo que não está em sua casa...

Edgar (levantando-se com certa dificuldade do sofá): Meu Deus... Como é que eu dormi aqui? Não consigo me lembrar de nada... eu trouxe a Melissa e estava indo para casa...

Catarina: Bom dia Edgar... você tomou um chá e estava tão cansado que acabou adormecendo... fiquei com pena de te acordar...

Edgar: Pois devia... olha que horas são! eu nunca durmo até tão tarde... a Laura deve estar furiosa.... o que deve estar pensando... preciso ir...

Catarina: Ah.. já tinha até preparado seu café... do jeitinho que você gosta...

Edgar: Me poupe Catarina... (saindo todo descabelado e desarrumado)

Enquanto isso, Laura e seu pai estão perto da saida da cidade...

Dr. Assunção: Laura, filha, seria tão melhor para você ficar aqui...

Laura: Pai, entenda.. eu preciso me afastar...

Dr. Assunção: Minha fazenda mais próxima é a de São Gonçalo...

Laura: Se pudesse ia para a do interior de Minas... melhor... acho que sairia do país sem destino certo... pelo menos ia conseguir me sentir segura e em paz...

Dr. Assunção: Mas como você não pode... vamos para lá mesmo... só preciso avisar sua mãe... afinal até chegarmos e instala-la devidamente... só vou conseguir voltar para casa tarde da noite...

Laura: Pai... por favor... não diga nada a minha mãe sobre eu estar indo para São Gonçalo... é capaz dela sair correndo e contar para o Edgar....

Na cidade, Edgar chega em casa. Ao entrar, percebe que Matilde está muito abalada

Edgar: Matilde... o que houve? Por que está com essa cara? A Laura...

Matilde: Ela se foi seu Edgar... D. Laura já não mora mais aqui...

Edgar: O que? (subindo as escadas em direção ao quarto e chamando por Laura)

Edgar procura Laura por todos os comodos do andar superior da casa. Não a encontra em parte alguma. Entra no quarto do casal.. nota a penteadeira vazia... abre o roupeiro e desespera-se ao ver que também está desocupado... lágrimas correm por seu rosto... não acredita que isto está se passando... olha para o vaso de alecrim... como não associar sua amada com aquela planta... com aquele perfume.... vê então a aliança sobre o móvel e sov ele o papel que Laura escrevera... aperta a aliança de Laura em sua mão como se ali estivesse depositando toda sua dor... e pegando o papel lê as seguintes palavras:

Edgar

Quando ler isto, já vou estar longe. Eu tentei. Juro que tentei... mas depois do que ocorreu hoje... desisto. Posso aceitar sua filha, afinal ela de nada tem culpa... mas aceitar essa mulher... aceitar sua outra família...não. Por mais que te ame prefiro me retirar a ser conivente com tudo isto. Para um casamento seguir, amor apenas não basta... é preciso respeito...cofiança... e estes infelizmente já não existem mais. A separação é a única solução aceitável para nossa situação. Não me procure. Meu advogado entrará em contato para acertar todas as condições do divórcio.

Não te desejo nenhum mal. Seja Feliz.

Laura

Edgar chora compulsivamente. Pensa que isto tudo só pode ser um pesadelo. Desespera-se com a ideia de que Laura o deixou. Pensa onde Laura pode ter ido. Desce as escadas depressa

Edgar: Matilde... me diz averdade... onde está minha esposa?

Matilde: eu não sei doutor...

Edgar: Para onde ela foi?

Matilde: eu não sei... o Dr. Assunção veio e eles sairam daqui num coche alugado

Edgar: Está bem Matilde... não tenho tempo para conversar... se souber de qualquer coisa me avise... vou até a casa dos Assunção...

Chegando a casa dos pais de Laura, Luzia vai abrir a porta e se espanta com a aparência de Edgar

Luzia: Bom dia Dr. Vieira...

Edgar: Luzia... preciso falar com o Dr. Assunção... ou D. Constância... com quem for...

Luzia: O Senhor não está... vou avisar a baronesa que o senhor está aqui... com licença

Luzia sai e avisa Constância sobre a presença de Edgar. Ela entra na sala e percebe o quanto o rapaz está inquieto

Constância: Bom dia Edgar... O que houve? O que te traz aqui dessa maneira?

Edgar: D. Constância... se a senhora tem um pouco de piedade... me diga onde Laura está

Constância: Laura? Do que está falando? Há dias que não vejo minha filha...

Edgar: D. Constância... por favor... ela me abandonou...

Constância: O que esperava de Laura? Você voltou de Portugal trazendo sua filha e a mãe dela... Assunção me disse antes de sair apressado até a casa de vocês... Edgar... como ousa? Você devia ter deixado sua filha e aquela mulher no lugar delas... mandasse dinheiro todos os meses para Portugal... mas traze-las para cá... Laura sofreu muito com sua ausência... chegou a adoecer com tanta preocupação... e você em troca faz isso por ela...

Edgar: Eu achei que com o tempo podia consertar tudo isso...

Constância: Consertar? Edgar... você sabe o quanto Laura é impetuosa.. ela não aceitaria isso nunca...

Edgar: Ela escreveu que vai pedir o divócio

Constância: O que? Agora eu vou ter de interferir... tenho que convence-la de que isto não só trará prejuizos para ela mas para todos nós... um divórcio na família... a Laura enlouqueceu... preciso descobrir onde ela está... assim que souber a procuro

Edgar: Me avise por favor se tiver notícias

Constância: Claro... eu não vou permitir que ela se divorcie... prefiro ve-la morta a divorciada. Entendo essa reação dela.... afinal Laura apesar de ensinada a controlar suas emoções, nunca conseguiu domina-las.... mas ela terá de aprender a conviver com essa situação... por bem ou por mal...

Edgar sai da casa dos Assunção e anda vagando pelas ruas... não sabe para onde ir... só sabe que sua esposa está em qualquer lugar... menos em casa...

Laura e seu pai chegam a fazenda "Hortencia" em São Gonçalo. A grande casa branca com aberturas azuis rodeada por várias árvores ornamentais irá abrigar Laura naquele momento difícil. Ao passarem, os trabalhadores das lavouras de cana-de-açúcar da propriedade cumprimentam os patrões. Eles desembarcam. Laura e Assunção são recebidos por D. Gertrudes, empregada da casa há anos... desde os tempos da escravidão... Laura se acomoda nas dependências da residência.... Dr. Assunção decide passar a noite na fazenda... enquanto tomam o café da tarde preparado pela governanta, conversam

Laura: Quanto tempo não venho aqui.. precisou acontecer tudo isso para voltar a essa fazenda...

Assunção: Laura... vou até o povoado... preciso avisar sua mãe que não irei para casa... vou enviar um telegrama...mas não se preocupe... não vou dizer onde estamos...

Laura: Pai... tem como enviar outro telegrama... gostaria que o senhor agendasse uma visita a um advogado... preciso dar entrada com os papeis do divórcio

Assunção: Você vai insistir nisso Laura? Pensa um pouco... não se precipite...

Laura: Não há o que pensar... se o senhor não agendar eu mesma vou a São Gonçalo e contrato alguém...

Assunção: Está bem... vou enviar um telegrama ao escritório do Freitas... mas vou demorar mais... vou pedir para responder e vou aguardar o retorno

Assunção sai e deixa Laura com seus pensamentos. Ela tenta se distrair, mas não consegue... mesmo os livros não a fazem parar de pensar em tudo o que está acontecendo... lembra do marido... pensa em como estará... fica angustiada pensando em qual deve ter sido a reação de Edgar... concentra-se para se livrar desses pensamentos... a aangustia pode fazer mal a seu bebê...

Algumas horas depois seu pai volta.

Laura: E então?

Assunção: Consegui... como me pediu. Amanhã o Freitas estará enviando um de seus advogados...

Laura: Não vai ser ele?

Assunção: Ele não pode... mas estará enviando um rapaz muito competente que está a pouco tempo trabalhando com ele... me parece que veio de Portugal...

Laura: De Portugal?

Assunção: Pois é.... você será representada pelo Dr. Rezende de Castro

Laura: Nunca ouvi falar...

Assunção: Também não... amanhã vamos conhece-lo