A imposição de continuar

Edgar arruma-se para ir ao jantar que Constância organizou. Seus pais e Fernando estão na sala o esperando. Desce às escadas.

Edgar: Vamos.... quanto antes chegarmos, mais rápido isso irá terminar

Bonifácio: Filho... até parece que este jantar está te incomodando.... aconteceu alguma coisa?

Edgar: Logo vocês vão saber... vamos?

Na casa dos Assunção, Constância entra no quarto de Laura, que está reconstada em sua cama, sem a menor intenção de sair dali...

Constância: Filha... que está acontecendo... ainda não se trocou? Aqui há pouco seu noivo e os Vieira vão chegar...

Laura (com ironia): Meu noivo....

Constância: Sim.. seu noivo... houve alguma coisa, Laura?

Laura: A senhora deveria desconfiar, não?

Constância: Desconfiar?

Luzia bate à porta e avisa que os Vieira acabaram de chegar...

Constância: Apresse-se... você não deve deixar os nossos convidados esperando... principalmente o Edgar... Vou para a sala com seu pai fazer as honras da casa... não demore...

Constância sai. Laura está atônita... como Edgar teve coragem de vir ao jantar depois do que ocorreu à tarde? Tenho maus pressentimentos quanto a esse jantar... Ela coloca um vestido verde que havia separado no dia anterior para a ocasião e desce para a sala...

Na sala, Edgar tenta se manter calmo....

Assunção: Mas então, Edgar, como está Portugal?

Edgar: Bem... é um país maravilhoso para se viver... gosto muito de lá...

Albertinho: E as moças portuguesas? Muito bonitas?

Assunção: Albertinho... isso não é coisa que se pergunte a um jovem comprometido... ainda mais sendo a sua irmã a noiva... por sinal... aí está ela....

Laura desce as escadas em direção à sala... Edgar fica admirado ao ver o quanto ela está linda... Laura vai ao encontro de Margarida, sem ao menos olhar para Edgar.

Laura: D. Margarida! Que bom reve-la.

Margarida: Querida! Ficamos muito felizes com o convite que vocês nos fizeram... obrigada...

Constância: Filha... esse camafeu ficou maravilhoso com este vestido

Laura (ironica): Sim.... o Edgar tem muito bom gosto, não é D. Margarida?

Edgar chega próximo a Laura

Edgar: boa noite

Laura (tentando segurar a raiva): boa noite

Edgar chega mais perto e diz baixinho: Precisamos conversar... me acompanha até o jardim?

Laura acente com a cabeça e eles saem... Bonifácio observa... junta o comportamento estranho da noiva de seu filho com as palavras que Edgar disse antes de sair de casa e, dando uma desculpa a Assunção segue os noivos até o jardim... Constância percebe a movimentação e vai atrás deles também

Edgar: Laura... antes de falar para todos naquela sala a decisão que tomei precisava falar contigo...

Laura: eu já sei a sua decisão e tenha certeza que é a mesma que a minha

Edgar: você ainda está muito zangada?

Laura: Não vou negar... estou me sentindo traida... enganada... e pela minha propria mãe....

Edgar: Eu sei... também estou me sentindo assim... as nossas mães nos fizeram acreditar que éramos apaixonados...

Laura: Você não me ama... não tem razão para continuar sendo meu noivo...

Edgar: Eu gosto de você... mas no momento tenho outros planos... quero voltar a Portugal... e não pretendo voltar....

Laura: Também tenho outros planos... e eles não combinam com casamento....

Edgar: Então está certo? Vamos realmente terminar esse noivado?

Neste momento, Bonifácio e Constância que ouviam tudo escondidos aparecem

Bonifácio: Vocês enlouqueceram de vez????? Como assim, vão terminar o compromisso que tem?

Constância: Vocês não pensam no escandalo que isso será? Filha... pense no seu futuro... o que vão dizer de uma moça que termina um noivado quase às portas da Igreja?

Edgar: Mas nós não nos amamos...

Bonifácio: Ninguém aqui está falando em amor... estamos falando de reputação... de nomes a zelar... dos negócios das duas familias... da minha carreira polítca... vocês não podem e não vão desfazer esse noivado!!!!

Constância: Claro que não vão desfazer... com o casamento vocês vão ver que o amor virá com o tempo... fora isso, Edgar, minha família pode pedir uma retratação... você não pode fazer isso com a Laura....

Laura: Mãe... mas eu também não quero mais me casar...

Constância: Enquanto você estiver sob o teto desta casa, vai ter de me obedecer! Você vai se casar...

Edgar: Eu não vou voltar ao Brasil.

Bonifácio: Vai sim....se no dia do seu casamento você não estiver aqui eu vou pessoalmente a Portugal e trago você pelas orelhas...além de casar eu preciso que você esteja na fábrica... o combinado foi esse... E agora, vamos para a sala... devem estar dando por nossa falta.

O jantar é servido, mas o clima é tenso. Constância, Bonifácio e os noivos tentam manter as aparências diante das outras pessoas presentes. Por fim, Edgar e sua família se despedem e vão para casa.

Edgar vai para seu quarto e fica pensando em tudo o que aconteceu... pensa em sua vida em Portugal... em tudo o que terá de abandonar.... seu futuro promissor como jornalista... para viver aqui, trabalhando ao lado de seu pai e casado com uma mulher que não o ama...mas pela qual agora sabe que daria a vida por amor...

Laura não está em uma situação muito diferente em sua casa... também reflete sobre o acontecido... e sobre o que vai ter de deixar para trás... o sonho de independência... de trabalhar... de poder se manter as suas próprias custas... para se tonar uma dona de casa, com a unica e exclusiva função de cuidar dos filhos e do marido... um marido que ama profundamente... mas que provavelmente não entenderia seus sonhos...