Laura e Edgar- Um romance desde o Início

A Tecelagem sob nova administração


Mais uma noite chuvosa se passa... Um novo dia começa nublado, mas trazendo o sol, ainda que fraco e encoberto por nuvens acinzentadas ... Na casa dos Vieira, Laura ainda dorme quando os primeiros vestígios de claridade adentram o aposento... O rapaz por sua vez está desperto há algum tempo... Admira-se com a suavidade da esposa enquanto ainda repousa, e com o quanto está formosa agora com o advento da gravidez... Sente-se tão tranquilo ali, junto a ela..Pensa que se possível fosse, nunca mais sairia daquela casa... daquele leito... Mas o mundo lá fora o aguarda... e aquele não será um dia dos mais agradáveis... Movendo-se com cuidado, sai da cama... Vai ao quarto de banhos e ao voltar encontra a moça desperta, recostada à cabeceira da cama...

Edgar: Bom dia...

Laura: Bom dia!.. Não acha que é muito cedo para já ter deixado a cama?

Edgar: Sim, meu amor...mas tenho algo importante.. e não muito agradável para fazer...

Laura (manhosa): É tão cedo ainda... e acho que podíamos continuar com nossa brincadeira...

Edgar: Não sabia que apreciava tanto a Marinha Brasileira...

Laura: Aprecio... mas um oficial em específico... que pelo que vejo não está muito disposto a voltar para estes mares...

Edgar: Juro que se pudesse ficaria mais tempo aqui... Mas preciso redigir uns papéis e ir para a fábrica...

Laura: Ah é... não me contaste como foi ontem na tecelagem...

Edgar: Com as nossas revelações jornalisticas, acabei não te contando... Fernando não assumiu que roubou e deu um golpe na fábrica, mas também não negou.. A situação ficou tensa!Cheguei a pensar por um momento que meu pai iria matar meu irmão!... Trocaram vários insultos e se não fosse por mim e pela mamãe, acho que teriam partido para a violência física.... Quem conseguiu amainar os ânimos foi D. Margarida...Ela conseguiu convencer Fernando a devolver as ações sem que fosse preciso chamar a polícia...

Laura: Vocês iam chamar a polícia? Isso seria um escândalo...

Edgar: Foi exatamente este o argumento que minha mãe usou... Fernando vai passar as ações para ela... e pediu para que qualquer pessoa administre... menos meu pai...

Laura: E como o Sr. Bonifácio reagiu a isso?

Edgar: A principio muito mal... Mas, vendo que seria a única alternativa, acabou acatando... E agora... preciso fazer os papéis da doação das ações... e mais uma procuração de minha mãe para alguém administra-las...

Laura: Certo... Edgar... mas teu pai não vai ter direito às ações se elas forem doadas à sua mãe?

Edgar: A principio sim... mas pelo que lembro existe uma clausula no direito civil que fala que se o doador assim quiser, pode solicitar a incomunicabilidade do patrimônio doado, mesmo que o beneficiário seja casado com comunhão universal de bens...Dessa forma o outro conjuge não tem direito a meação...

Laura: Está certo... Vou deixar o Dr. Advogado trabalhar então e levantar também.... Por hora vou ver como estão as crianças e fazer algumas coisas em casa...E.. à tarde tenho um compromisso que eu diria que será enfadonho....

Edgar: Enfadonho? Do que se trata?

Laura: Pois vou-me às compras!... Não há mais como continuar usando esses meus vestidos... preciso urgentemente de roupas de gestante!... E vou também ver alguns itens do enxoval do bebê...

Edgar: Cuidar disto para você é enfadonho?... Pensei que a vinda de nosso filho te deixasse feliz...

Laura: E estou... e estas tarefas em si não seriam dessa forma se não fosse por um detalhe... minha mãe teima em me acompanhar... e não tive como negar isso... Tinha a esperança que D. Margarida fosse conosco... Quando minha mãe marcou comigo, logo a convidei... Mas com o que aconteceu... não sei...

Edgar: Com tudo o que ocorreu, será uma ótima distração!... Tenho certeza que irá com vocês sim... E agora, Sra. Vieira, com licença... que os documentos me esperam... (dando um beijinho leve na esposa)

Enquanto o advogado desce e dirige-se ao escritório, Laura começa com sua rotina... conversa e brinca um pouco com as crianças, passa orientações a Matilde e Gertrudes sobre alguns afazeres da casa e volta logo após a seus planos de aula e outras tarefas que precisa realizar em função da escola.

Já na casa da Rua do Catete, após muito pouco dormir, Manoela está de pé em frente a janela do quarto que abrigava Laura em outros tempos... Olha para o jardim, onde as flores ainda estão molhadas pela chuva que caíra durante o dia anterior... Sente suas bochechas queimarem só em pensar no que acontecera e na situação que terá de enfrentar quando sair daquele aposento... Termina de vestir-se... Procura manter-se calma e altiva ao descer as escadas... mas interiormente sente o inevitável...ansiedade e medo... E é com o coração aos pulos que chega a sala de estar dos Assunção, onde estão o casal de anfitriões com o semblante grave e Albertinho também com aparência mais séria que seu habitual...

Manoela: Bom dia

Todos: Bom dia

Assunção: Sente-se Manoela... vamos conversar.. (continuando a falar enquanto a moça senta-se em uma das poltronas da sala) O que ocorreu ontem foi um episódio lamentável... e que certamente exige que tomemos providências a respeito... Albertinho teve uma atitude que posso classificar no mínimo como ultrajante...

Constância: Sim... Albertinho passou de todos os limites ontem...Foi desrespeitoso para com nossa hospede... e para com esta casa... e.. neste último caso... devo dizer que a senhorita também é culpada... em menor grau é verdade... mas se tivesse resistido às investidas... nada disso estaria acontecendo agora...

Manoela: Tem razão senhora... fui fraca... Mas lembre-se que minha intenção sempre foi a de voltar ao hotel... A senhora e seu filho insistiram para que pernoitasse aqui...

Constância: E o que a senhorita pretende insinuar? Que lhe convidei a pernoitar aqui com o intuito de que exigisse uma reparação?

Albertinho: Parem com isso! Tudo isso foi por culpa minha... Atentei contra a honra de Manoela e não é preciso que ela exija reparação.... Eu assumo meus erros e me comprometo a reparar o que fiz..

Constância: Então estamos conversados!...amanhã mesmo escrevemos para os pais de Manoela e começamos com os preparativos do noivado...

Assunção: Certo... os proclamas deverão demorar mais tempo devido a terem de ser mandados a Portugal... Imagino que em um ou dois meses poderão estar casados...

Manoela: Esperem aí! Vocês não podem tomar uma decisão dessas assim sobre minha vida! Não vejo motivo para tanta azáfama...

Assunção: A senhorita está dizendo que não quer que meu filho assuma a responsabilidade que tem com vossa pessoa?

Constância: Isso é o que dá essa modernidade toda! Essa história de independência... A moralidade está perdida!

Manoela: Não disse isso D. Constância! Os tempos realmente mudaram e graças a Deus as mulheres estão começando a perceber que têm direito de serem donas da própria vida... mas... isso não me torna mais ou menos moral do que as mulheres que ainda aceitam a imposição e o que é julgado como politicamente correto pela sociedade.. Eu aceito o compromisso... mas não precisamos toda essa pressa!... Isso na verdade só iria gerar comentários por parte das pessoas... Não que me importe com isso...

Constância (pensando um pouco): Oras... vejo que tens um pouco de juízo... Tens razão!... Um noivado marcado assim.. às pressas... pode despertar comentários maldosos... E isso não seria nada bom para nenhum de nós....

Albertinho: Então... se aceita o compromisso... estou oficialmente fazendo-lhe a corte, Srta. Manoela Medeiros...

Manoela: Certamente.. Sr. Alberto Assunção Filho...

Assunção: Ótimo... já que estamos acordados sobre isso... com licença... tenho assuntos a resolver...

Manoela: Creio que já é hora de me retirar também... Agradeço pela hospitalidade... Bom dia

Assunção: E eu peço novamente desculpas pelo ocorrido. E.. Manoela... esta casa está de portas abertas para recebe-la... Começamos de forma um tanto torta, mas pelo que pude observar nestes poucos minutos de conversa, és uma moça de temperamento forte, mas de caráter... Folgo em saber que meu filho irá assumir um compromisso com uma pessoa assim... Até mais ver...

Albertinho: Nós saímos com o senhor... Vou para o quartel e no caminho deixo Manoela no hotel... Bom dia...

Constância: E vão todos deixar-me sozinha a tomar o desjejum?

Assunção: Já se faz tarde, Constância... preciso ir...

Albertinho: E eu também... Vamos Manoela?..Com licença mãe

Enquanto todos saem deixando a Baronesa da Boa Vista aborrecida, na tecelagem a movimentação é intensa... Os operários manejam seus teares com a habilidade de costume, alheios ao que se passa nas salas da direção... Na sala de presidência da fábrica de tecidos, Fernando, ainda sentado à mesa do acionista majoritário, olha com empáfia para tudo a seu redor... Ainda é o presidente... e mesmo que logo deixe de se-lo, só o fato de seu pai não voltar a ocupar aquela posição, já lhe valera cada ato cometido... Logo será um acionista como outro qualquer, isto se seu irmão fizer os papéis conforme o combinado... caso contrário... nada feito... Fernando segue com seus pensamentos até que o estafeta vem avisa-lo... seus pais e seu irmão estão na antessala... Chegou a hora...

Fernando (levantando-se com falando com desdém): Bom dia minha amada família! Não sabem o quanto estava ansioso por vê-los...

Bonifácio: Fernando... não precisamos de suas ironias!... Sua presença em si já é aviltante..

Margarida: Parem com isso! Mal chegamos e já começam as farpas e trocas de insultos...

Edgar: Vamos ser objetivos, sim... Acho que todos aqui têm mais o que fazer...

Bonifácio: Certamente... Eu tenho uma fábrica para voltar a gerenciar...

Fernando: Não me diga!... As ações são minhas... e permanecerão sendo minhas se estes papéis não estiverem de acordo com minhas exigências...

Bonifácio: Suas exigências? Oras... moleque atrevido! Quem pensa que é?

Fernando: Presidente desta tecelagem

Bonifácio: Não por muito tempo!

Edgar: Chega! Vamos fazer isso de uma vez... (andando até a mesa de reuniões e abrindo uma pasta) Redigi o documento como uma doação... nele Fernando Vieira doa as ações que comprou... que somam 35% do capital da empresa... para Margarida Vieira, sendo estabelecida a clausula de incomunicabilidade do patrimônio doado... ou seja... as ações serão de propriedade exclusiva, não fazendo parte dos bens compartilhados pelo regime de comunhão de bens...

Bonifácio: Como é que é?

Edgar: É isso que o senhor ouviu, meu pai... As ações são de minha mãe... e de ninguém mais...

Bonifácio: Isso não tem o menor cabimento!

Fernando: Tem e se não fosse dessa maneira não assinaria isto! Estas ações agora estão em boas mãos..(assinando o documento que logo é assinado por Margarida e conferido por Edgar)

Edgar: Está feito... Minha mãe... agora a senhora detém 41% do capital da tecelagem... Quem irá representa-la aqui?

Bonifácio: Quem mais Edgar? Eu tenho experiência nisto... e quem fundou esta empresa fui eu... Margarida é minha esposa... o mais natural é que eu represente seus interesses...

Fernando: Dependendo do que disser eu ainda posso desistir dessa doação... O documento não está registrado em cartório...

Edgar: Pai... não complique as coisas com seus comentários inoportunos... Mãe... a senhora precisa decidir... Ou pretende administrar a fábrica?

Bonifácio: A Margarida? Edgar.. não me faça rir! Sua mãe jamais teria competência para gerenciar um armarinho... que dirá uma tecelagem...

Fernando: Aí que o senhor se engana! Minha mãe administra muito bem a sua casa... ela cuida de todas as despesas, manutenção e provimento... e se consegue isto... pode muito bem cuidar de uma fábrica!

Margarida: Parem vocês dois! Obrigada pelo que disse Fernando... Mas realmente gerenciar uma fábrica é uma responsabilidade grande demais e não me sinto preparada para isto... Vou acatar seu pedido... seu pai não será meu procurador...

Bonifácio: Mas Margarida...

Margarida (fazendo sinal para que o marido se cale): No entanto, não me disseste nada sobre teu irmão... e sendo assim... nomearei Edgar como meu representante...

Fernando: Sem problemas D. Margarida... em não sendo este senhor que tenho o desprazer de ter por pai... pode nomear a quem lhe aprouver...

Edgar: Mas... eu não tenho como assumir!... Não teria tempo suficiente para me dedicar a isso...

Fernando (desdenhando): Viram? Meu irmãozinho querido... seu filho predileto, meu pai... que o senhor se empenhou tanto para que fosse seu braço direito e sucessor... não pode assumir a tecelagem... Tem assuntos mais importantes...

Edgar: Não são mais importantes... mas são igualmente importantes!... Há muito tempo que meu sustento não depende mais dessa tecelagem... e sim da profissão que escolhi... Se pudesse assumiria... mas não posso!

Margarida (olhando nos olhos de seu filho primogênito): Filho... você é a única pessoa de confiança com quem posso contar... Mesmo que eu assuma a fábrica... Vou precisar de ajuda...

Edgar: Está bem minha mãe... mas como disse... não vou poder ficar aqui... Aceito... mas teremos de contratar um administrador...

Bonifácio: E mais gastos...

Margarida: Pois eu lhe dou carta branca... Faça o que for necessário...

Edgar: Bem... então vou terminar de redigir a procuração... e depois vou falar com uma pessoa.. que tenho certeza que é perfeita para o cargo...

Bonifácio: Está aí algo que quero ver...

Edgar: Se a pessoa aceitar, verá meu pai... verá!...

Enquanto Edgar termina de redigir o documento, Fernando retira-se. Nada tem mais a fazer ali. Anda a esmo pelas ruas... não sabe para onde ir... Entra no bar Guimarães e enquanto aguarda um café apoiado ao balcão, pensa sobre sua vida nos últimos tempos... Antes, apesar de despreocupado, era cobrado a estar presente na fábrica todos os dias, o que lhe era um enfado pois prefeira estar no clube jogando futebol com os amigos... Morava em uma casa, em que apesar de ter de aturar a presença de seu pai, havia conforto e encontrava a companhia terna e os conselhos de D. Margarida... Agora... sua presença na fábrica não é necessária... seus amigos todos estão trabalhando... já não é noivo de Catarina... Catarina, pensa... maldita hora em que conheceu aquela mulher!... Se não fosse por seu despeito em relação a Edgar jamais teria se envolvido com ela! ... Tudo o que fez foi maquinado ou estimulado por ela.... Se não tivesse se deixado levar talvez hoje não estivesse assim...completamente sozinho...

Fernando continua com estes pensamentos a povoar -lhe a mente... Neste ínterim, na casa do bairro Laranjeiras, Laura debruça-se sobre seus planos de aula... Pensa se é melhor utilizar este ou aquele material... Nisto Melissa, carregando uma boneca, e Daniel, trazendo algumas bolas de gude, descem as escadas e correm em direção à cozinha...A professora ao ver seu filho e sua enteada, correndo com a carinha mais sapeca do mundo, para um pouco com suas tarefas e resolve investigar o que os pequenos estão aprontando...

Laura: Mas onde os meu anjinhos vão com toda essa pressa?

Daniel: No quintal... A gente tá cansado de brincar só aqui dentro...

Melissa: É tia Laura.. No quintal a gente consegue fazer uma brincadeira bem bacana... Eu vou brincar de comidinha... e o Dani quer jogar as bolinhas de gude...

Daniel: Pena que a Mel não sabe jogar... e não quer aprender!

Melissa: Mas isso é brincadeira de menino!

Laura: Meus amores... Acho que não vai dar para ir brincar lá fora...

Daniel: Ah mamãe!... Deixa!... A gente vai se comportar... Eu prometo!

Melissa: Sim... e a gente brinca quietinho!...Não vai atrapalhar nem o papai... nem a senhora...

Laura: Queridos... vocês não atrapalham! Não dá para brincar no quintal porque choveu e tudo está molhado ainda... Mas juro que amanhã quando estiver mais seco vocês vão poder brincar lá... Ou combinamos com a Gertrudes e vamos na pracinha, está bem?

Melissa: Está bem... Amanhã vai ser supimpa, não é?

Daniel: Vai sim Mel!... Posso levar minha bola amanhã?

Laura: Claro... E hoje... que tal brincarem aqui na sala?

Nisto ouve-se batidas à porta... Laura deixa as crianças por um instante e vai atender...

Laura: Pai! Que bom que está aqui! Entre!

Dr. Assunção: Olá minha querida...

Daniel (correndo): Vovô!

Dr. Assunção (pegando o menino no colo): Meu garotão! Como você está?

Daniel: Estou ótimo...

Dr. Assunção (vendo Melissa encabulada na outra sala): Olá Melissa! Venha cá... deixa eu te dar um abraço também, mocinha! (abraçando a menina) Trouxe isso para vocês (entregando um pacote para a enteada da filha) É para brincarem juntos, certo?

As crianças concordam com a cabeça e já começam a rasgar sem maiores cerimônias o embrulho colorido... Logo a caixa de madeira pintada com cores vivas aparece dentre o papel de seda...

Laura: Olha... jogos de tabuleiro!

Daniel: Que tipo de jogo é esse?

Melissa: O papai estava me ensinando a jogar isso!... É xadrez, Dani!

Laura: Sim... e tem mais damas, gamão... tem vários jogos que o papai e eu podemos ensinar a vocês... Olha... esse eu acho que vocês dois sabem jogar... é dominó...

Daniel: Vamos ver quem ganha, Mel?

Melissa: Vamos...

Os dois pequenos dão um beijo como agradecimento ao pai de Laura e correndo vão para a sala de refeições, deixando os adultos, que assim podem conversar com mais liberdade...

Laura: Que bom que tenha voltado! Como foi a colheita?

Dr. Assunção: Bem... a safra desse ano foi muito boa... Consegui pagar todos os empregados e ainda tive um bom lucro com a venda das laranjas... Não dá mais tanto dinheiro como antigamente, no tempo dos escravos... mas continua sendo uma boa fonte de renda...

Laura: As pessoas que trabalham agora precisam ser remuneradas... É o correto... e o justo...

Dr. Assunção: Eu sei... Agora... cheguei nesta cidade e fui recebido por uma série de novidades... Encontrei com a Evie no hospital e ela me contou sobre o incêndio... Filha... deviam ter me avisado!

Laura: Para que? Isso só ia lhe preocupar... O senhor estava longe... De nada iria adiantar o senhor saber... O importante é que estamos todos bem... A Dra. Evie foi muito prestativa... sua colega é uma excelente profissional...

Dr. Assunção: Sim... e é bom contar com seus préstimos... tenho plena confiança na Evie... Laura... e a escola... sofreu muitos danos?

Laura: Estamos recomeçando com a obra... Será preciso fazer tudo novamente...

Dr. Assunção: Se precisarem da minha ajuda... estou disposto a colaborar com o que precisarem!...

Laura: Não será necessário... Eu não sabia... mas temos um sócio investidor... que está dando suporte financeiro ao projeto...

Dr. Assunção: Quem?

Laura: O Edgar!... Ele pediu para a Isabel para ajudar sem que me contasse... Mas com o incêndio, acabei por saber... questionei a Isabel sobre a viabilidade de continuarmos pois imaginei que ficaria difícil para ela... e ela acabou me revelando a participação dele como sócio investidor...

Dr. Assunção: Meu genro... não esperava outro tipo de atitude dele!... Então teremos de adiar a inauguração, imagino...

Laura: Imagino que por mais um mês... Até lá saem os papéis liberando o funcionamento?

Dr. Assunção: Eles já estão prontos... deixaram no meu gabinete... Sai com pressa e esqueci de traze-los!... Ai filha... tenho corrido tanto!... Mas a partir de agora quero acompanhar sua situação e deste meu neto que está por chegar... Por sinal... sua mãe me comentou que pretendem ir às compras hoje...

Laura: Sim... realmente preciso comprar algumas coisas... e não tive como fugir da companhia de minha mãe...

Dr. Assunção: Laura... não fale assim!... Sua mãe está tão animada com a chegada dessa criança... Isso é uma tarefa das mais prazerosas para Constância.... apesar de que logo terá mais com que se ocupar...

Laura: Ah sim? Com o que meu pai?

Dr. Assunção: Com seu irmão... Albertinho vai se casar!... Vai demorar um tempo... mas está oficialmente namorando uma moça... Me parece que é sua amiga...

Laura: A Manoela? Oras... que bom! Mas como resolveram isso assim... de repente?...

Dr. Assunção: Digamos que houve um quase acidente de percurso ontem... mas que conseguimos resolver de forma satisfatória...

Laura:Como assim?

Dr. Assunção: Com a chuva, sua mãe achou por bem que a moça, que tinha ido tomar chá com ela, pernoitasse lá... E... bem... você pode imaginar o que seu irmão pensou em fazer...

Laura: Eu não creio que ele teve coragem...

Dr. Assunção: Se eu não tivesse chegado... não sei até onde teriam ido... Só sei que hoje tive uma conversa bastante séria com os dois... Sua mãe queria que logo ficassem noivos... Mas a Manoela a convenceu que isso só despertaria comentários...

Laura: Manoela é sensata, meu pai...

Dr. Assunção: As atitudes dela lembram as suas... para desespero da sua mãe!...Mas tenho para mim que Constância aprovou a moça... Pelo que entendi é de uma família importante de Portugal... E eu também gostei dela... parece ser uma boa moça... Por enquanto estão namorando... mas vão se casar... E não vai demorar muito tempo...

Laura: Bem... preciso logo cumprimentar minha cunhada... Há tempos não converso com ela...

A conversa entre pai e filha segue animada... Enquanto isto, na Rua do Ouvidor, Edgar anda apressado... Precisa conversar com a pessoa que tem em mente para administrar a tecelagem ainda hoje... Pensa em como abordar o assunto e no que irá dizer, quando alguém lhe chama...

Guerra: Edgar, meu amigo! Como vai?

Edgar: Olá Guerra... bem... e você?

Guerra: Bem.. você me parece estar ocupado... Conversamos outra hora!... Passe na redação do jornal... Quero saber suas impressões sobre o Paulo Lima... Ele foi ao encontro, não foi?

Edgar (pensando no que dizer): Sim... foi um encontro... digamos... muito proveitoso...

Guerra: Ótimo... quero detalhes...

Edgar: Conseguiste resolver o assunto que te fez sair ontem?

Guerra: Se soubesse tudo que aconteceu ontem!... Resumindo... vou me casar com a Celia...

Edgar (rindo): Mas isso é uma ótima noticia! Também quero saber como dona Celinha conseguiu convencer um solteirão a assumir um matrimônio...

Guerra: Vai rindo!... Depois te conto o que houve... E na tecelagem... com foi?

Edgar: Estou indo resolver exatamente um assunto ligado a ela... O Fernando passou as ações para a nossa mãe... e ela me nomeou procurador... Estou indo conversar com alguém para que administre a fábrica... Eu infelizmente não tenho como me dedicar a isso...

Guerra: Boa sorte

Edgar: Obrigado... vou precisar... e assim que puder passo no jornal para conversarmos... titio Guerra (rindo)

Guerra: Ei... quer parar de caçoar!... E já que serei seu tio... exijo respeito! (rindo) Até mais ver... Ah... passe no jornal mesmo!... Preciso te contar sobre algo que Jonas descobriu com seus informantes...

Já na casa do advogado, Laura e o pai despedem-se... Laura volta às suas atividades, enquanto as crianças brincam com os jogos que acabaram de ganhar, sentadas no tapete da sala de estar... Novamente batem à porta, interrompendo o trabalho da professora, que levanta-se e vai atender...

Laura: Tia Celinha! Entre (abraçando a jovem senhora)

Celinha: Laura minha querida! Precisava vir aqui... não ia aguentar se não te contasse logo!

Laura: Pelo que vejo a conversa que teve ontem foi proveitosa...

Celinha: Sim! O Carlos me pediu em casamento! Ai Laura... estou tão feliz!

Laura: Sério? Me conte como foi isso...

Celinha: Fomos conversar no Bar Guimarães sobre nossa situação... Lá pelas tantas o Jonas chegou dizendo que precisava conversar com o Guerra... Eles saíram por uns minutos e um homem que estava no local me ofendeu muito... Carlos viu e me defendeu... Disse que eu era sua noiva e que íamos casar em breve!... Depois disso pedi se isso era verdade... e ele me confirmou!... Laura! Eu vou me casar!

Laura: Tia! Fico muito feliz pela senhora!

Celinha: Ele disse que vai comprar as alianças no mês que vem... Será que ele se ofende se eu oferecer as da sua avó? Ela me deixou como herança... Sabe... ele deve me achar uma mulher moderna.. ousada... mas não sei se o orgulho lhe deixaria aceitar isso...

Laura: Bem... talvez aceite... mas acho o Guerra machista demais para isso... Apesar de que ele ter lhe pedido em casamento já é uma mudança e tanto!... Ele sempre foi um solteiro convicto.. Quando pretendem contar ao resto da família?

Celinha: Nem me lembre disso!... Estou com arrepios só em pensar na reação de sua mãe e de Carlota!... Mas deixemos de falar de mim... Conseguiu o que pretendia ontem?

Laura: Sim tia... e tenho muito a lhe agradecer... se não fosse a senhora... não teria conseguido falar com o Edgar sozinha...

Celinha: Eu que preciso te agradecer... Se não fosse teu pedido... não estaria noiva agora...

Enquanto as moças riem e conjecturam sobre o futuro casamento de Celinha, no Hotel da Rua do Ouvidor, outras moças também conversam... Manoela chegara a sua residência temporária e começara a contar os acontecimentos das últimas horas... Filipa tenta ouvir a tudo calada, mas não consegue deixar de rir da situação enfrentada por sua sócia...

Manoela: Você ri porque não foi contigo!... Queria ver o que teria feito se o pai de um pretendente seu te visse em trajes íntimos aos beijos com o cidadão...

Filipa: Iria querer que um buraco se abrisse em minha frente para nele me esconder!... E... deixando as brincadeiras de lado... agora...graças a isso...a senhorita Medeiros é oficialmente a futura senhora Alberto Assunção Filho... Devo te parabenizar ou te dar pêsames?

Manoela: Oras... espero que me parabenize!... Sabes muito bem que não estou aceitando esse casamento como reparação... gosto do Alberto...

Filipa(debochando): Sabes que tenho minhas dúvidas? Estou brincando... claro que sei que não dás atenção para o que a sociedade pode ou não dizer... Não falei isso pelo marido... mas pela sogra... que ao que me conste... se não pode ajudar... atrapalha...

Manoela: Bem... D. Constância ontem me foi muito gentil... Veremos como será dqui por diante...

Nisto um dos funcionários do hotel bate à porta do quarto das moças... Avisa que alguém espera por Filipa no saguão do hotel.. A moça desce e sorri ao deparar com a pessoa que a aguarda...

Filipa: Olá! Que bom ver-te aqui!