Passa-se alguns dias. Daniel é um bebê tranquilo... chora pouco e dorme muito. Laura como mãe de primeira viagem está tendo que aprender a cuidar de seu pequeno filho.... Gertrudes a ajuda em boa parte das tarefas.. Naquele final de tarde, Laura está junto a babá dando banho em seu bebê..

Laura: Bom... vamos ver se consigo banhar esse rapazinho...

Gertrudes: Primeiro teste a água... deve estar morninha... nem muito quente nem muito fria... isso... agora apoia as costinhas e a cabeça dele em seu braço e com a outra mão você lava ele...

Laura: Ai... estou com medo... acho que não vou conseguir fazer isso

Gertrudes: Vai sim, menina Laura... depois que você pegar o jeito vai fazer isso brincando...

Laura ajeita Daniel em seu braço e o coloca na água. Suavemente vai lavando o corpinho do menino. Depois do banho, Laura prepara-se para vesti-lo... ainda não tem muito jeito com a troca de fraldas, mas aos poucos tudo vai se tornando mais fácil. Após vestir e alimentar o bebê, Laura o acalenta e o coloca em seu berço. Olha para o filho adormecido e uma lágrima corre por seu rosto... Dr. Assunção, parado na porta do quarto observa... entra e coloca sua mão sobre o ombro de Laura em sinal de apoio...

Dr. Assunção: O que foi filha?

Laura: Nada... acho que ser mãe me deixou mais emotiva...

Dr. Assunção: Pode ser... mas acho que essas lágrimas tem outro motivo... confessa... está assim por que ele não veio...

Laura: Não vou negar... queria muito que o Edgar estivesse aqui... Pai, sabe o que mais me doi... quando ele recebeu a carta da Catarina ele não mediu esforços... ele atravessou um oceano para ver e buscar a filha que teve com aquela mulher... ele nunca pos em dúvida a paternidade daquela criança... e agora... para o nosso filho... e eu nunca dei motivos para ele duvidar disso.... e que está tão mais próximo dele...não foi capaz nem mesmo de escrever uma frase

Dr. Assunção: Por isso que eu digo que é estranho, Laura... o Edgar, por mais magoado que esteja com você, não faria isso com o Daniel...

Laura: Pai...também... o que eu podia esperar... quando ele foi buscar a menina em Portugal também não me mandava notícias...

Dr. Assunção: Eu vou falar com esse rapaz...

Laura: Não... você me prometeu...

Dr. Assunção: Está bem... eu prometi e vou cumprir... bem... vou dormir... amanhã volto para a capital... Você já está bem... meu neto está ótimo e... se tenho que manter segredo...preciso voltar...senão é capaz da sua mãe aparecer aqui para saber o por que de tanta demora.. vou sair assim que o sol raiar...

Laura: Bom... se é para evitar uma visita da baronesa... boa noite pai

Dr. Assunção dá um beijo na testa de Laura e sai. Laura fica ao lado do berço velando o sono do filho. Pensa no que vai fazer daqui por diante... no momento vai cuidar de seu bebê... quando for mais crescidinho gostaria de voltar a trabalhar... há algumas escolas em Petropolis em que poderia lecionar... mas agora sua atenção está voltada completamente para Daniel...

Passam-se alguns meses... Daniel já está com 5 meses. Já levanta os bracinhos para ser pego no colo, bate as perninhas quando está deitado, balbucia e dá gritinhos para chamar atenção e dá vários sorrisos quando está com quem conhece. Laura está maravilhada com a experiência de ser mãe e emociona-se com cada nova descoberta de seu pequeno. O menino está cada dia mais parecido com seu pai... o que faz Laura lembrar-se todos os dias do ex-marido... não há como esquecer diante de tanta semelhança... só pensa que é uma pena que Edgar não esteja acompanhando o crescimento do filho...

Laura com o tempo decide procurar emprego em uma escola na cidade de Petropolis. Ela é contratada e passa a ministrar aulas no turno da tarde, deixando o menino sob os cuidados de Gertrudes. Durante a manhã dedica-se ao filho e, algumas vezes por semana, continua a ensinar as crianças da fazenda, indo a escola que fora improvisada na fazenda e sempre levando Daniel consigo. Só não passeia com a criança pela cidade pois tem medo que algum empregado da chácara dos Vieira os veja e conte a Edgar sobre Daniel.

Enquanto isto, Edgar continua a trabalhar na cidade do Rio de Janeiro. É um dos advogados mais competentes e remunerados da cidade... e considerado um homem muito solitário, já que sua esposa está a tanto tempo se tratando de uma enfermidade no interior.

Os anos passam. Setembro de 1909. Laura chega em casa aborrecida. Depois de três anos dedicados a escola de Petropolis fora demitida. Tudo por terem descoberto que é uma mulher divorciada. O que irá fazer agora? Precisa trabalhar... tem um filho pequeno que precisa sustentar e depender da ajuda de seu pai para essas despesas além do que ele já lhe auxilia está fora de seus planos... Ela entra no quarto do filho e o vê brincando com a babá

Laura: Oi meu amor... como foi seu dia hoje?

Daniel: Foi supimpa mamãe... a gente brincou bastante hoje...

Laura: Ah, é? E eu posso brincar também?

Daniel: Sim mamãe... você sempre pode brincar... vem... você será a rainha do castelo e eu vou te salvar do dragão...

Laura: E quem é o dragão?

Daniel: A babá...

Eles brincam e Laura se distrai um pouco... Gertrudes percebe que a sinhazinha não está bem... Depois que Daniel dorme elas resolvem conversar e Laura conta o ocorrido na escola

Gertrudes: Sei que está nervosa...mas sei também que vai encontrar uma solução... ah... antes que esqueça... chegou uma carta para senhora... (buscando a carta e entregando a Laura)

Laura: É da Isabel... (lendo) diz aqui que está voltando para o Brasil... deve chegar aqui uns 10 dias... que bom! Minha grande amiga está de volta ao Rio de Janeiro!

Gertrudes: Espero que venha a Petropolis... gostaria de conhece-la... a senhora fala tanto dela...

Laura: A Isabel é incrível... e está voltando... (Laura fica pensativa) Gertrudes... acho que já tenho a solução para meu problema... vamos para o Rio de Janeiro...com certeza lá eu vou conseguir trabalho... Não vai ser nada fácil... mas já está na hora de voltar... preciso enfrentar meu passado...

Gertrudes: E quando a sinhazinha pretende ir?

Laura: Logo Gertrudes... e quero que venha comigo... vou precisar de você para cuidar do Daniel... amanhã mesmo falo com meu pai.... vamos para a Capital...

No dia seguinte, na cidade do Rio de Janeiro, Dr. Assunção é convidado para assistir um match de football... seu filho Albertinho joga no Federal Sport Club, que enfrentará um time de Niteroi... Neste jogo, ele e D. Constância encontram Bonifácio e Margarida que vieram assistir a partida por Fernando participar do time também.

Constância: Margarida... há quanto tempo...

Margarida: Bom dia... como vão?

Constância: Bem...

Margarida: Ah.. com licença... vejo que o Edgar chegou....

Ela vai ao encontro do rapaz. Constância e Dr. Assunção observam Edgar.

Margarida: Filho.. que bom que veio... ultimamente é um custo tira-lo de casa... não gosto de ver você tão sozinho...

Edgar: Vim pelo Fernando e pela a sua insistência, minha mãe....

Margarida: Assunção e Constância estão aqui...

Edgar: Eu vi... vou cumprimenta-los

Edgar vai em direção aos sogros

Edgar: Bom Dia

D. Constancia e Dr. Assunção: Bom Dia

Edgar: Espero que nossa amizade não tenha acabado apesar do término de meu casamento com sua filha...

Constância: Edgar... para mim o que importa é o casamento religioso... sendo assim você sempre será meu genro...

Dr. Assunção: Edgar... se não se importa... gostaria de conversar com você um pouco...

Edgar: Claro... com licença

Eles se dirigem para uma parte do clube onde não há muitas pessoas por perto

Dr. Assunção: Edgar... não disse nada em frente a Constância.... mas estou profundamente decepcionado contigo...

Edgar: Dr. Assunção... eu sei que errei muito com sua filha, mas sou pai também...e precisava tomar uma atitude quanto a saúde da minha menina... foi a Laura quem decidiu pelo divórcio... eu tentei conciliar tudo... ela saiu de casa...eu tentei salvar o nosso casamento... eu fiz o que podia para provar que a amo ... mas ela não quis mais...

Dr. Assunção : Se a ama tanto... por que não respondeu a carta que lhe enviou? Você não recebeu?

Edgar: A carta? O senhor sabe o que tinha escrito naquela carta?

Dr. Assunção (irritado): Sim... e você agora vai me dizer que não sabe...

Edgar: Não... realmente não sei... não pude ler...

Dr. Assunção: Como assim?

Edgar: Isso não vem ao caso... digamos que tive um problema com a carta e ela se extraviou... por favor, me diga... o que Laura escreveu?

Dr. Assunção pensa em dizer a Edgar o conteúdo da carta, mas lembra-se da promessa que fez a filha: Algo que agora já não importa... mas tenha certeza de que ela não vai perdoar isso... ela se arrependeu por ter escrito... talvez um dia você venha a saber o conteúdo... e vai se arrepender por não ter lido...

Edgar: Como não importa? Se o senhor me diz que ela não vai perdoar é porque havia algo muito sério naquela carta... eu pensei em procura-la na época... mas não quis dar a impressão de que estava indo atrás dela...ela me pediu para não procura-la mais...

Dr. Assunção: Mas devia.. pelo menos ter respondido

Edgar: Mas..

Neste momento, alguém se aproxima deles... eles param a conversa... Constância e Margarida se aproximam

Constância: Até que enfim encontramos vocês... o match já vai começar...

Margarida: Vamos Edgar... estão nos esperando...

Edgar e Dr. Assunção se olham... sabem que aquela conversa não terminou mas que não seria concluida tão cedo... e seguem cada um para seu caminho...

Depois do final da partida, em que o time de Albertinho perdeu, Dr. Assunção chega em casa... Luzia lhe traz um telegrama...

Dr. Assunção: É da fazenda de Petropolis... (lendo) preciso ir para lá...

Constância: Problemas?

Dr. Assunção: Não... mas preciso resolver um assunto... peça para prepararem o coche... vou hoje mesmo

No outro lado da cidade, Edgar não consegue parar de pensar no que disse seu ex-sogro..... e toma uma decisão... vai a Petropolis...