Laura E Edgar Em: O Amor E O Tempo

Capítulo 7 - O Baile: Laura e Edgar se conhecem


A família de Laura então chega à festa na casa dos Vieira. A alta sociedade carioca em peso se fazia presente no evento, políticos, damas da elite fluminense, alguns parentes dos Vieira que vieram do interior do estado Rio e alguns vindos até mesmo de São Paulo. Margarida e Bonifácio então vão logo receber os Assunção.

Margarida: - Sejam todos muito bem vindos à nossa casa.

Bonifácio: - Dr. Assunção que honra recebê-lo em minha casa. Afinal não é sempre que recebemos nestes novos tempos republicanos um Barão do Café.

Margarida: - Bonifácio. (Chamando atenção do marido)

Bonifácio: - Me desculpem, sei que os títulos foram proibidos de serem utilizados com o advento da República, não devo mais chamá-lo de Barão da Boa Vista, fato lastimável, mas a modernidade dos novos tempos veio pra ficar. A República prospera. (Diz ele levantando os braços em sinal de comemoração).

Margarida então logo busca cortar a conversa de sentido político do marido, pois sabia que a perda do título de Barão e conseqüentemente de Baronesa da Boa Vista, causava em Constância tremendo mau humor e desconforto.

Margarida: - Constância você está deslumbrante.

Constância: - Nada que ofusque tamanha beleza que vem de você nesta noite, Margarida. Você está linda!

Margarida: - E Laura, como você está linda minha querida, aliás, cada vez mais linda. Incrível como está ainda mais bela desde a última vez que a vi! (diz ela passando a mão no rosto de Laura).

Laura esboça um sorriso tímido e agradece: - Obrigada. Tenho que concordar com minha mãe, a senhora está mesmo linda.

Margarida: - Obrigada minha querida. Quero agora que conheçam meus filhos. (fazendo sinal para que Fernando e Edgar se aproximem).
Este é Fernando, acredito que todos vocês o conheçam, afinal ele e Albertinho são muito amigos.

Fernando: - Boa noite a todos.

Margarida: - E este é Edgar, nosso filho mais velho.

Edgar cumprimenta a todos dando boa noite e visivelmente seu olhar se fixa mais diretamente em Laura. Edgar fica por algum tempo paralisado fitando-a. Como era linda a moça que sua mãe fazia questão que ele conhecesse. De pele alva, longos cabelos castanhos, olhar penetrante, traços delicados, os poucos instantes que pode passar à sua frente, pudera observar apenas um leve sorriso tímido, mas como era encantador este sorriso, a figura de Laura lhe causava as melhores impressões possíveis, sabia que estava de frente a uma moça diferente das outras, não só na beleza reluzente, mas seus olhos eram capazes de transmitir para ele, algo que nem mesmo ele sabia o que significava, mas Laura além de linda, encantadora, era misteriosa e isso despertava seu interesse. Edgar permanece por segundos apenas olhando para Laura e fazendo-a penetrar em seus pensamentos, Laura apenas o olhava, sem esboçar muita reação, estava diante de um belo rapaz, mas não sabia como reagir.

Todos reparam que Edgar ficara encantado com Laura, mesmo que ele viesse a negar, era impossível, seu olhar paralisado em direção a ela, dizia mais que qualquer palavra ou ação.

Margarida então diz:

– Edgar, meu filho. Esta é a Laura, cumprimente-a. Vamos!

Edgar desperta do transe em que se encontrava:

– Claro. Como vai senhorita? (Edgar beija a mão direita de Laura).

Laura: Encantada! Vou muito bem. (Um pouco tímida).

Edgar permanece segurando a mão de Laura e levanta o seu olhar que vai diretamente ao encontro do dela. Agora é Laura que parece se desligar do mundo por alguns minutos, ela se encontrava completamente perdida, mergulhada no intenso olhar de Edgar. Embora em sua mente ainda existisse todas as dúvidas no que dizia respeito a Edgar ser um pretendente arrumado por sua mãe, seus sentidos lhe diziam outras coisas: os olhos claros de Edgar inspiravam confiança, não sabia como, mas tinha certeza que ele não era como os outros rapazes. E seu sorriso? Encantador! A figura de Edgar ali tão próxima a ela, naquele instante, desfazia toda a angústia, a revolta que o plano de sua mãe causaram sobre seus pensamentos durante aqueles dias anteriores à festa. Não sentia mais medo causado pelas inúmeras dúvidas que assolavam seus pensamentos, apenas uma forte vontade de descobrir tudo o que havia por trás daquele olhar fascinante de Edgar.

Constância: - Bom, pelo que pudemos notar, a impressão que um causou ao outro foi das melhores, não é mesmo? (Diz Constância contente, se dirigindo à sua família e à família Vieira, fazendo Laura e Edgar voltarem à realidade e logo ficarem um pouco envergonhados).

Todos riem.

Margarida: - Que bom! Laura é uma ótima e bela moça, faço muito gosto que se dêem bem.

Assunção: - Nós também, dona Margarida.

Bonifácio: - Bom, já que fomos todos devidamente apresentados, inclusive nossos queridos filhos, que tal aproveitarmos esta dignífica festa?! Sintam-se todos à vontade, por favor! (diz ele apontando o salão)

Todos se dispersam pelo salão de festa, fazendo questão de ficarem um pouco afastados de Laura e Edgar. Os dois começam a caminhar vagarosamente lado a lado pelo salão. Estavam curiosos, porém tímidos diante da presença um do outro. Edgar então resolve puxar assunto:

Edgar: - E então, gosta de festas?

Laura: - Não muito. (responde tímida).

Edgar: - É! Esses encontros da alta sociedade carioca costumam ser bem maçantes. (diz em tom de desabafo)

Laura ri com a confissão de Edgar. Edgar fica nervoso:

– O que foi? Eu disse alguma coisa de errado? Me perdoe.

Laura: - Não de forma alguma. Para mim você não disse nada de errado, mas acho que se você fizesse a mesma revelação diante da minha mãe ela acharia um disparate você confessar que acha essas festas maçantes. (rindo).

Edgar também ri: - Meu pai, também com certeza me repreenderia: “Edgar meu filho as festas são a melhor maneira de se promover, festeje, sorria Edgar, mesmo que não queira. O que é um homem sem uma boa posição social?” (diz Edgar tentando imitar a voz do pai e fazendo Laura rir.)

Laura: - Pelo visto, nossos pais têm muito em comum.

Edgar: - E nós também. (Olhando para ela)

Laura sorri envergonhada. Os dois apenas se olham, não sabiam muito bem o que dizer. Neste instante a música começa a tocar e invadir todo o salão.

[Música no ambiente: Capricho da Dançarina (Trilha Instrumental Lado a Lado)]

Edgar: - Dá-me a honra desta contradança, senhorita? (diz ele lhe oferecendo o braço).

Laura: - Ai me desculpe, mas não sei se devo, nunca dancei com um rapaz, a não ser com Albertinho, meu irmão, nas reuniões familiares.

Laura busca o pai que se encontrava perto dos dois os observando.

Laura: - Pai... (sua feição faz menção ao pedido de permissão para dançar com Edgar)

Assunção: - Claro que sim minha filha, aliás, deve. Dance com o Edgar. Vocês têm a minha permissão.

Laura e Edgar sorriem. Laura pega no braço de Edgar e os dois seguem rumo ao centro do salão. Edgar a reverencia, com sua mão direita pega a mão esquerda de Laura, para conduzi-la, a outra mão Edgar coloca suavemente nas costas de Laura e ela apóia sua outra mão no ombro esquerdo de Edgar, permanecem um em frente ao outro, porém mantendo certa distância que a dança exigia e começam a dançar.

Edgar: - E então o estranho rapaz dança melhor que o Albertinho?

Laura ri: - Bom, contando que estamos dançando a menos de um minuto e você ainda não pisou no meu pé, posso pouco comparar, mas meus dedos ainda estão inteiros. Isso já é uma vantagem!

Edgar ri: - Você é mesmo diferente.

Laura se assusta: - Diferente? Como assim? Estranha?

Edgar: - Não! Linda, encantadora...sincera, autêntica, segura de si.

Laura fica um pouco tímida, não esperava se dar tão bem com o pretendente arrumado por sua mãe, e os elogios? Nunca esperara receber elogios além dos referentes à sua beleza física. Edgar conseguia ir além, admirava as qualidades de Laura, tão diferente das moças da mesma idade e fazia ainda questão de expressar todo seu encantamento.

Laura:- Obrigada pelos elogios. (Sem jeito)

Laura agora tenta mudar o assunto tirando o foco de si, para que se sentisse mais confortável:

– O Albertinho para a dança é um desastre, já você... (sorriso tímido)

Edgar: - Já eu...?

Laura: - Já você faz a dança ser diferente, me sinto leve, segura sendo conduzida por você... (sorri)

Edgar abre um largo sorriso, a moça que tanto o encantara desde o primeiro momento que adentrara aquele salão, se sentia bem em sua companhia, cada minuto ao lado dela, o fazia ter vontade de conhecê-la cada vez mais.

A música que agora se faz presente no salão é um pouco mais lenta, se fazendo necessária uma aproximação maior entre os casais que dançavam. Edgar teme ser desrespeitoso com Laura e pede consentimento.

Edgar: - Me permite? (fazendo menção de se aproximar um pouco mais dela)

Laura acena com a cabeça em sinal afirmativo.

[Música: Valsa Brasileira (Luiz Melodia)]

Os corpos então se aproximam ainda mais, deixando os rostos bem perto um do outro. Tornando ainda possível sentir as batidas descompassadas dos corações dos dois jovens. Neste instante não dizem nada, apenas aproveitam o momento. Deixam os sentimentos e as impressões que um causava no outro, adentrarem seus pensamentos. Olham fixamente um no olhar do outro como se buscassem respostas para explicar todo o encantamento que estavam sentindo, afinal mal se conheciam, como seria possível tamanha afinidade? Esquecem por uns instantes que estavam em meio a um salão repleto de outros casais, para eles só os dois existiam ali. Chamavam a atenção dos demais presentes. Como dançavam bem, era visível a sintonia existente entre os dois, pareciam flutuar. Laura e Edgar com certeza foram feitos um para o outro, seus destinos estariam ligados para o resto da vida. A música termina e os dois nem sequer se dão conta disso, permanecem unidos. Então se afastam e ficam perdidos um no olhar do outro novamente, até que todos param para aplaudi-los, fazendo-os ficarem envergonhados ao notarem que não estavam sozinhos como seus pensamentos insistiam em dizer.