Capítulo 12 - Clube

Após passarem na casa de Carlota... Laura, Edgar, Albertinho e Celinha seguem para o clube. Ao chegarem, Albertinho é o primeiro a desembarcar do coche, desce correndo e entrando no clube logo encontra Teodoro com o pai.

Laura comenta: - O Albertinho está super empenhado em cumprir a promessa que fez ao nosso pai, de cuidar de mim. Olhem nem sequer nos esperou descer.

Celinha e Edgar riem:

Edgar: - Deixe o Albertinho eu cuido de você.

Laura sorri sem graça: - Eu tenho certeza disso.

Edgar auxilia Laura e Celinha a descerem do coche.

Laura fica vislumbrada com o lugar: - Ai eu nunca havia vindo aqui antes.

Celinha: - Muito menos eu, nunca consegui uma companhia.

Edgar sorri: - Então bem-vindas ao Copacabana Sport Club.

Laura e Edgar não conseguem tirar o sorriso do rosto. Laura estava animadíssima querendo conhecer tudo, nunca imaginou receber um convite desses. E Edgar por sua vez não se continha com tanta felicidade afinal conseguira se explicar com Laura e desfazer a má impressão, além do mais ver a felicidade da moça causada pelo seu convite e ainda poder passar uma tarde ao lado dela o deixava muito feliz.

Os três entram no clube. Edgar conduz as duas à beira do gramado em uma área reservada aos visitantes e acomoda as duas em cadeiras disponíveis no lugar. Existiam três cadeiras juntas Laura se senta na cadeira da ponta direita, Celinha ao lado de Laura, deixando a cadeira da ponta esquerda para Edgar, ficando assim no meio dos dois. Edgar fica decepcionado, mas logo dá um jeito de ficar perto de Laura, Edgar puxa sua cadeira, a trocando de lugar e se senta ao lado de Laura:

Celinha: - Ora Edgar, por que trocou de lugar?

Edgar: - É que aqui do lado da Laura tenho uma visão mais privilegiada. (Sorri olhando diretamente para Laura que sorri envergonhada.)

Edgar puxa assunto com Laura:

- E então Laura está gostando do passeio inusitado?

Laura: - Gostando é pouco, Edgar. Eu estou amando. A sua idéia de me trazer aqui, o jeito que você conseguiu convencer a minha mãe que não tem problema algum uma mulher se interessar por esportes. Estou deslumbrada com tudo isso, você é um rapaz sensacional Edgar.

Edgar abre um largo sorriso.

Laura: - Ai, eu sempre quis vir aqui, o papai vem sempre com o Albertinho, mas nunca me trouxe.

Edgar: - Eu já encontrei o Dr. Assunção e o Albertinho diversas vezes por aqui, mas não imaginava que o Albertinho tinha uma irmã tão linda assim.

Laura cora diante do elogio de Edgar. Mas continua com a conversa.

- Mas então como teve a idéia de me fazer este convite?

Edgar: - Na verdade o convite foi meio que uma espécie de plano B, caso você não acreditasse em mim, quando lhe fui pedir desculpas. Achei que lhe trazendo aqui conseguiria lhe convencer que eu não vejo problema algum uma mulher gostar de football, esportes afins e que eu não estava debochando de você, sendo fingido de alguma forma.

Laura: - Que bobagem eu fui pensar. Me desculpe Edgar.

Edgar: - E é necessário algum pedido de desculpas depois de ver este sorriso brilhante em seu rosto, Laura?! Bom, a minha vontade era mesmo lhe levar a uma partida de football já que você queria saber como se joga, mas como tudo ainda é muito novo... uma vez alguns funcionários do meu pai jogaram uma partida em um terreno próximo da fábrica, foi um funcionário inglês transferido de São Paulo para cá que mostrou a novidade, mas foram raras vezes que isso aconteceu, além de não ter uma data certa para acontecer, eu não levaria você para um terreno perto da fábrica, porque seria perigoso e eu nunca lhe colocaria em risco. Ouvi dizer também que algumas partidas já ocorreram em Niterói, mas seria um pouco cansativo irmos até lá ainda mais sem termos certeza com que frequência essas partidas ocorrem. Daí pensei que cricket poderia lhe agradar.

Laura: - E acertou em cheio!

Edgar: - Não é o mesmo que football mas... prometo que um dia eu lhe levo a um jogo de football de verdade, tenho certeza que o esporte ganhará adeptos pelo nosso país e quem sabe times não serão formados?!

Laura: - Promete Edgar?

Edgar sorri: - Prometo. Um dia iremos juntos assistir uma partida de football. Quem sabe eu não me arrisque a jogar também? (Brincando)

Laura: - Você jogando football Edgar? Essa eu pago pra ver. (rindo)

Edgar: - Algum preconceito senhorita? (brincando)

Laura: - Não nenhum, só achei inusitado.

Edgar: - Inusitado? Ah já sei porque afinal é a senhorita que é boa de chute, a vidraça da dona Constância que o diga. (fazendo careta como se ouvisse vidro quebrando)

Laura dá uma alta gargalhada:

- Ai como é bom conversar com você Edgar.

Edgar: - Como é bom estar com você Laura.

Os dois sorriem e se olham por alguns instantes sem dizerem nada, perdidos um no olhar do outro até que Celinha grita, e os desperta do transe. Laura e Edgar se assustam:

Laura: - O que foi tia Celinha?

Edgar: - Está tudo bem Senhorita Célia?

Celinha: - Aquele rapaz que está com um taco, acertou a bola com tanta força que ela foi parar longe. E do nada ele começou a correr, por um instante achei que a bolinha estaria vindo na nossa direção. (Diz Celinha trêmula, devido ao susto).

Laura: - Mas é assim mesmo o jogo, tia Celinha. (rindo)

Celinha: - Mas se aquele bola acertasse uma de nós?

Laura: - Estamos à uma distância segura tia.

Celinha: - Ai como sou tola, me desculpem, mas realmente me assustei.

Edgar se dispõe:

- Que tal um refresco para acalmar os nervos? Vocês aceitam um refresco?

Celinha: - Acho uma ótima idéia!

Edgar: - E você Laura?

Laura: - Neste calor um refresco não é nada mal. (sorrindo)

Edgar: - Eu vou buscar para as senhoritas.

Laura: - Mas e você Edgar?

Edgar: - Mas eu o quê? (Em dúvida)

Laura: - Não vai querer um refresco?

Edgar: - Sim, mas ainda não entendi.

Laura ri: - Mas você só tem duas mãos, como vai buscar três refrescos, o meu, o seu e de tia Celinha?

Edgar: - Trago o de vocês e depois volto para buscar o meu.

Laura: - Não senhor não é justo, eu vou junto com você para lhe ajudar.

Edgar: - Mal posso me conter de tamanha alegria proporcionada pela mais agradável das companhias.

Celinha: - Vá com ele Laura, eu ficarei aqui me recompondo. (Ela se abana com um leque)

Os dois vão juntos buscar o refresco.

Edgar: - Qual você prefere?

Laura: - De laranja. (sorri)

Edgar: - Eu ficarei com o suco de groselha.

Laura: - E pra tia Celinha...

Laura e Edgar falam juntos: - De maracujá. (Os dois gargalham)

Edgar: - De maracujá, claro ajuda a acalmar os nervos.

Laura: - Pobrezinha da tia Celinha quase teve uma síncope.

Edgar: - Ai como é bom ouvir sua risada.Te ver feliz desse jeito.

Laura: - Tudo culpa sua. Nunca imaginei poder vir nesse lugar. Brigada Edgar, eu nunca mais esquecerei esse dia. A primeira vez que assisti um treino de cricket e principalmente...

Edgar: Principalmente...?

Laura: - E principalmente nunca irei esquecer a primeira tarde que passamos juntos. (Sorri meio envergonhada).

Edgar: - Tarde maravilhosa, com a melhor companhia do mundo. Eu também nunca irei esquecer.

Laura: - Do quê?

Edgar: - Desta tarde. E principalmente de você.

Laura envergonhada chama Edgar para voltarem para perto de Celinha:

- Vamos, tia Celinha já deve ter tido um piripaque pelo tempo que demoramos.

Eles se aproximam de Celinha que estava distraída observando o jogo sem entender nada.

Laura a chama: - Voltamos tia Celinha.

Celinha: - Como vocês demoraram fiquei aqui tentando entender este jogo, mas confesso que não fui muito bem sucedida em minha tentativa, continuo sem compreender muita coisa...

Celinha se levanta para pegar o seu suco e esbarra em Edgar derrubando o suco de groselha no colete do rapaz.

Celinha: - Ai como sou desastrada. Me perdoe Edgar. Ai que tragédia manchei sua roupa. (diz ela nervosa, tentando limpar a mancha com as mãos).

Edgar: - Não foi nada senhorita Célia. (Tentando acalmá-la)

Laura: - Espere tia, desse jeito a mancha só vai ficar maior. Com licença, Edgar. (Ela pega o lenço no bolso do paletó de Edgar e começa a secar o colete dele).

Laura : - Acho que evitei uma tragédia maior. (rindo)

Edgar segura na mão de Laura e olha em seus olhos:

- Você tem mãos de fada.

Laura sorri sem graça: - Imagine, eu nem consegui ajeitar muita coisa, sua roupa continua manchada.

Edgar: - Não me importo nem um pouco, se for para passar mais momentos ao seu lado, sua tia Celinha pode manchar todas as minhas roupas, garanto que mesmo assim me seria vantajoso.

Celinha: - Bom depois dessa minha trapalhada acho melhor todos nós voltarmos para casa, além de estar ficando tarde, não quero correr o risco de prejudicar o Edgar novamente, dando um pisão em seu pé, o derrubando no gramado ou coisa parecida. Precisamos devolvê-lo inteiro para a Margarida.

Os três riem.

Celinha: - E o treino também já está acabando, bom pelo menos eu acho que sim, não sou o que se pode chamar de melhor entendedora de cricket.

Edgar: - Está terminando sim, senhorita Célia.

Laura: - E o passeio também. (entristecida)

Edgar: - Não será nosso último passeio Laura, eu garanto.

Laura sorri: - Promete?

Edgar: - Claro. Quero muito poder passar mais momentos ao seu lado.

Eles sorriem e se olham.

Celinha: - Vamos procurar o Albertinho, onde será que aquele rapazinho se meteu hein?

Os três saem à procura de Albertinho e o encontram junto a Teodoro. O treino termina e todos voltam para a casa dos Assunção, onde Constância já se encontrava de volta. Edgar e Laura se despedem perto da porta:

Laura: - Obrigada Edgar, por tudo hoje, sem dúvidas foi a melhor tarde da minha vida.

Edgar: - E a tarde mais marcante da minha.

Laura ri: - Literalmente não é?! Olhe só para o estrago no seu colete.

Edgar: - A mancha fica de lembrança pra esse dia tão especial que eu pude passar ao seu lado. Agora eu preciso ir, mas antes preciso comunicar uma coisa à dona Constância.

Laura: - À minha mãe?

Edgar então volta se dirigindo à Constância: - Dona Constância, minha mãe pediu que eu lhe desse um recado, na verdade um convite. Dona Margarida convidou a senhora e Laura para irem à nossa casa depois de amanhã à tarde, para um chá.

Laura meio desanimada: - Um chá?

Edgar: - É um chá com minha mãe... e comigo!

Laura logo se anima: - É claro que nós vamos!

Constância: - Laura. (a repreendendo). Que adiantamento é esse?! Agradeça o convite à Margarida, Edgar e diga ela que Laura e eu vamos.

Edgar: - Estarei esperando por você. (Olhado para Laura) mas logo se corrige: - Quer dizer... estaremos esperando por vocês.

Edgar pega na mão de Laura e beija se despedindo: - Até mais ver, Laura. Boa tarde dona Constância. (E sai)

Laura sobe as escadas correndo.

Constância: - Onde você vai menina, que modos são esses? Já disse pra não correr dentro de casa.

Laura nem dá ouvidos, chega correndo a seu quarto e se debruça na sacada a tempo de ver Edgar cruzar o portão de sua casa e acenar um adeus para ele. Laura esboçava um largo sorriso e um grande contentamento ao observar os passos de Edgar, sorriso que ele retribuira ao acenar para ela. Laura nunca se sentira tão feliz. Havia desfeito todo o mal-entendido em relação a Edgar, passara uma tarde agradabilíssima ao seu lado. Pudera fazer um passeio um tanto quanto inusitado e nunca pudera pensar receber um convite para um treino de cricket. Edgar era tão diferente de todos e como era bom desfrutar de sua companhia, estar ao seu lado, conversar com ele. Mal podia conter a vontade de estar novamente ao seu lado. Edgar por sua vez no caminho para casa transparecia uma alegria incontrolável. Em seu coração um misto de sentimentos: a calmaria por ter conseguido se explicar com Laura, a ansiedade em revê-la dali dois dias, o nervosismo e a explosão de alegria que a companhia de Laura o fazia sentir.