Laura E Edgar Em: O Amor E O Tempo

Capítulo 10 - O Baile: Desentendimento


Laura: - Como eu me enganei! Pensei que o senhor fosse diferente dos outros rapazes, achou interessante eu gostar de ler, concordou comigo a respeito das festas serem maçantes, disse que admirava meu jeito minhas idéias, mas foi só eu virar as minhas costas para você demonstrar todo o seu machismo e preconceito, pra debochar de mim, não é mesmo Edgar?!

Edgar só agora se dá conta da presença de Laura:

- Laura?! Pelo amor de Deus não entenda errado, o Albertinho estava me contando que vocês dois estão de castigo porque quebraram uma vidraça, jogando football...

Laura: - Pois sim eu já entendi, ouviu a história do meu irmão e estava aí debochando de mim, junto deles.

Edgar: - Laura, não é nada disso...

Laura: - Vamos, Alice, vamos sair daqui agora, quero encontrar meu pai para pedir pra irmos embora. Me decepcionei demais, acreditei que um certo rapaz pudesse ser diferente dos outros, mas não, nunca me enganei tanto.

Laura sai em disparada puxando a mão de Alice.

Edgar: - Laura?... Laura... (tenta correr atrás de Laura, mas Albertinho o alerta):

Albertinho: - Deixe Edgar.

Edgar: - Deixar? Não posso deixar a Laura sair daqui assim, não posso deixá-la pensar mal de mim. Ela ouviu apenas o final da minha declaração, se eu estava rindo era encantado pensando como é linda, e seu jeito brincalhão me desperta interesse. Eu não estava debochando dela.

Albertinho: - Eu conheço a Laura, Edgar. Ela não vai te ouvir, tem um gênio muito difícil. Enquanto esta raiva dela não passar, nada que alguém lhe diga servirá de alguma coisa. Espere, até amanhã ou depois e converse com ela...

Edgar: - Até amanhã? E se ela nunca mais quiser falar comigo? Logo agora que estávamos nos dando tão bem, que eu estava descobrindo mais sobre ela, eu preciso encontrá-la, explicar-lhe o que aconteceu! (Edgar sai em disparada atrás de Laura e não dá a mínima para os conselhos de Albertinho)

Já dentro do salão, Laura encontra Assunção:

Laura: - Pai?!

Assunção: - Pois não minha filha. Onde está o Edgar? Achei que estivesse com ele.

Laura: - Pai, por favor vamos embora daqui!

Assunção: - Ir embora Laura? O que foi que aconteceu minha filha? Você parecia tão contente ao lado do Edgar ainda pouco quando dançavam.

Laura: - Não quero dizer o que houve, mas por favor vamos embora? (Suplicando)

Assunção: - Minha filha, não podemos ir agora, não fica de bom tom. Daqui a pouco nós vamos, mas temos que esperar um pouco, está certo?

Laura: - Mas pai... (reclamando)

Assunção: - Laura você é uma moça inteligente e compreensiva, seja o que for que tenha acontecido sei que você é capaz de esperar mais um pouco antes de irmos, não é mesmo?!

Laura se decepciona, mas obedece ao pai. Edgar então a encontra no salão e tenta falar com ela.

Edgar: - Laura...

Laura esnoba Edgar e se dirige a Alice: - Alice vamos um pouco mais pra lá procurar a tia Celinha. Me sinto um pouco sufocada perto de muitos machistas que debocham de moças que brincam de football.

Alice: - Laura! (Incrédula)

Laura tenta se afastar indo procurar Celinha.

Edgar segura no braço de Laura:

- Laura, por favor, me ouça, você entendeu tudo errado. Não ouviu tudo.

Laura: - Ah, pois tinha mais então? O senhor disse mais o que, que a mulher deve sempre ser submissa ao homem... que meu castigo foi pouco que minha mãe deveria queimar todos os livros?

Edgar: - Claro que não que idéia, me ouça, por favor.

Laura continua enraivada:

- Pode soltar meu braço por favor, o senhor está me incomodando.

Edgar então percebe que Albertinho tinha razão, Laura tem um gênio difícil, enquanto a raiva que sentia não passasse ela seria incapaz de ouvir suas explicações e solta o braço dela:

- Está certo, me perdoe. Eu espero o tempo que for até que possa me ouvir. Você há de entender tudo Laura, vai sim.

Laura então passa o resto da festa sempre acompanhada de Alice, se coloca ao lado de Celinha e algumas vezes até mesmo de Carlota, uma maneira de se manter na defensiva garantindo que Edgar não se aproximaria tanto dela. Mas Edgar sempre se mantinha por perto, a olhando e ela desviando o olhar do dele, visivelmente enraivada. Porém esse comportamento dela por mais que deixasse Edgar temeroso de nunca conseguir se explicar, só o deixava ainda mais encantado por ela, pensava ele muitas vezes rindo sozinho:

- Mas que gênio ela tem. Fica ainda mais linda brava deste jeito. Ela vai me ouvir e poderei explicar o que de fato aconteceu, porém terei que ter paciência.

O momento dos Assunção se despedirem chega, o clima entre Laura e Edgar fica perceptível.

Constância: - Laura se despeça do Edgar!

Edgar se apronta para pegar na mão de Laura para se despedir, mas ela se esquiva.

Laura: - Boa noite senhor. (Responde seca e logo ruma para fora da mansão)

Constância: - Me desculpem a falta de compostura de minha filha, deve ser o cansaço que a deixou assim.

Margarida: - Nós entendemos Constância. Foi uma noite muito agradável para nós todos. Esperamos conviver muito com Laura e com todos vocês, é claro.

Edgar toma iniciativa: - Sr. Assunção, Dona Constância gostaria de aproveitar e pedir permissão para visitar a Laura algumas vezes, nos demos tão bem, gostaria de estender a amizade com ela.

Constância não esconde a alegria e se antecipa: - Claro Edgar, pode visitar a Laura quando quiser.

Assunção ri da pressa da esposa: - Você será muito bem vindo em nossa casa, assim como todos vocês, claro.

Todos se despedem. A família de Laura segue para casa em duas carruagens. Em uma estão ela, Constância, Albertinho e Assunção e na outra, Carlota, Celinha e Alice.

No caminho para casa Constância repreende Laura:

- Mas que maneira arrogante foi aquela que você se despediu do Edgar, Laura? Onde estão seus modos?

Laura: - Por favor mamãe! Já fiz o que a senhora queria, não fiz? Não vim a esta bendita festa, não conheci o Sr. Edgar? (falando mais alto e com raiva). Pois então me deixe...

Constância: - Menina... (A repreendendo). O que houve pra estar assim? Você e o Edgar pareciam estar se dando tão bem, formam um belo casal. Vocês não acham? (se dirigindo Assunção e Albertinho).

Albertinho não se contém: - Parecem tanto um casal que até já brigaram (caçoando).

Laura furiosa: - Mas você tem mesmo uma língua que não lhe cabe dentro da boca, não é Albertinho?!

Constância: - Brigaram? Não acredito Laura!

Albertinho: - Por bobagem mamãe, Laura acha que Edgar é machista.

Laura: - Eu não acho que Edgar é machista... ele é.

Albertinho: - Mas Laura o Edgar nem é machista.

Laura: - Albertinho me poupe dessa solidariedade masculina, não venha defender o seu amiguinho Edgar.

Constância: - Mas do que vocês estão falando?

Assunção impaciente: - Vocês querem logo parar com essa discussão, estamos todos cansados já é tarde.

O coche que trazia a família Assunção então chega à mansão.

Laura impaciente: - Ai chegamos, não via mais a hora.

Laura desce logo da carruagem e se apressa para entrar em casa.

Constância a chama: - Laura volte aqui, Laura.

Laura não dá ouvidos à mãe e entra correndo em casa, sobe as escadas e se tranca em seu quarto.

Laura vai logo tirando suas luvas, a presilha do cabelo e atira tudo ao chão com raiva, estava mexida, se sentia enganada por seus próprios sentimentos, por suas impressões, aquela festa mexera tanto com ela, aliás Edgar mexera demais com ela. Era um misto de emoções tão grande, passara a semana inteira cheia de dúvidas, de incertezas, se sentia até mesmo sem saída, afinal se via obrigada pelos pais a conhecer Edgar com claro propósito de firmar um compromisso com ele mais adiante. Um compromisso arranjado para ela parecia ser tão absurdo, ainda mais sendo tão nova daquele jeito. Mas ao ficar frente a frente com o pretendente arrumado pela mãe, tudo caira por terra, Edgar parecia tão diferente dos outros rapazes, era bem humorado, educado, compreensivo, moderno, parecia ser tão livre de preconceitos, como era boa a sua companhia, como era bom poder conversar com ele, se sentiu tão bem ao seu lado, mas que doce ilusão, toda a boa impressão que Edgar lhe causara aquela noite se desfizera em segundos ao perceber que ele era como todos os outros, ou até mesmo pior pensara, pois escondia seus verdadeiros sentimentos para tentar se aproximar melhor dela. Como pudera debochar dela junto aos outros garotos? Laura que saíra para festa desanimada em conhecer o tal pretendente voltara para casa com as emoções a flor da pele, estava decepcionada com Edgar, estava decepcionada consigo mesma, como pudera acreditar tanto em um rapaz que ela nem conhecia? Como pudera acreditar que alguém arranjado por sua mãe poderia ser tão diferente desta? Se a Baronesa da Boa Vista fazia tanta questão de um compromisso entre ela e Edgar, no mínimo o que Laura poderia pensar é que o pretendente tivesse ideias parecidas com as de sua mãe. Pensava consigo mesma...como pudera ser tão ingênua ao ponto de deixar seus sentimentos e impressões a enganarem daquele jeito a fazendo pensar que Edgar poderia ser diferente? Depois de muito pensar no que acontecera na festa acaba dormindo sem ao menos trocar o vestido de festa.