Laura

My Tears Are Becoming A Sea


I’mslowlydriftingtoyou

The stars andplanets are calling me

A billionyearsaway

Fromyou

Raiva.

Um sentimento que acompanhava Laura desde que ela conseguia se lembrar. Raiva por lhe baterem e lhe ensinarem a ser uma arma, raiva por ser trancafiada e observada por trás das grades como um animal, raiva de seus dons e das cirurgias infinitas, raiva dos outros, raiva de si mesma; raiva, raiva, raiva...

“É muita raiva para uma criança”, por muitas vezes, os ouviu murmurarem. Porém, ninguém nunca fez nada para impedir raiva de virar ódio.

Especialmente quando se tratava dos Carniceiros.

— Há algo errado? – Magneto aproximou-se e Jonah o respondeu, sua voz rápida demais para Laura processar o que ele estava dizendo.

Às vezes, a raiva lhe fazia chorar; eram lágrimas sem fim dia após dia, sempre escondidas.

Enquanto mantinha a atenção em Donald Pierce, lembrou-se de cada momento; cada tortura, dor e morte que ele a fez passar, e esperou que sua mente transformasse o sentimento nutrido em um plano de ataque.

Ficou surpresa ao perceber que além de raiva, havia medo também. Muito medo.

Medo?! Ela quis se bater.

Definitivamente não era hora para isso.

— Bom, se não atacarmos agora, vai ser pior. – Joey disse, quebrando seu transe.

— Isso é uma péssima ideia. Vão matar vocês. – Magneto declarou.

— Vão nos matar de qualquer jeito, tem uma ideia melhor?

— O plano sempre foi fugir!— Gideon exclamou incrédulo.

— E olha no que deu!

— Joey, acho melhor não. – Jonah falou. — Aquele ali não é apenas o Pierce, é o grupo dele.

— E nós já derrotamos todos.

— Sim, quando estávamos todos juntos! Eu, você, Delilah, Jamaica, todo mundo! Não sei se notou, mas somos apenas quatro! Quatro de nós contra todos eles. Não dá.

— É incrível como vocês sempre acham uma forma de me excluir da conversa. – Magneto ironizou, cruzando os braços.

Laura o encarou, e ele a ela; algum tipo de conversa silenciosa passando entre os dois.

— Não vamos atacar.

— Por que? – Joey a fitou, surpreso.

Porque estou com medo e admitir isso é humilhante?

— Porque o Rictor pediu. – respondeu, e apesar de ser verdade, ela sentiu uma onda de culpa a engolir. Medo...! Rictor ficaria decepcionado. — Erik?

— Conheço a tecnologia que ele tem.

— Localiza mutantes.

— Sim, e não podemos sair da loja. Mas ele vai entrar, e quando o fizer, deixe-o comigo, vou mantê-lo ocupado. Você mencionou que sabe dirigir?

Laura assentiu. Pegar o carro e fugir dos Carniceiros... Familiar demais para seu gosto.

— Pra alguém que nos subestima, você está colocando bastante fé na gente. – Jonah apertou os olhos. — Isso é meio irresponsável...

Magneto suspirou, um riso sem som escapando de seus lábios, e ele deu de ombros.

— Mas e você? – Laura perguntou.

— Estou contando com um elemento surpresa.

Oh.

— Bom, se eles vierem né? Quer dizer, isso sim vai ser uma surpresa. – ela olhou através do vidro, assustando-se com Donald Pierce atravessando a rua, seus seguidores atrás dele dando ordens uns aos outros. — É melhor se esconder. Agora.

Eles a obedeceram sem hesitar, e ela correu, colocando-se de joelhos por trás de uma estante. Magneto a acompanhou, parando ao seu lado e disfarçando.

— Eu deveria me irritar que você não mencionou sobre os caçadores de mutantes serem os Carniceiros?

— Pelo que notei, já está irritada.

— E com um pouco de medo, sim. – a confissão saiu de sua boca antes que ela pudesse impedir.

Ele a fitou, gentileza em seus olhos.

— Medo é bom, não se envergonhe por isso. Medo te deixa viva, também é um superpoder.

Ela quase sorriu, e então, a porta se escancarou, trazendo um cheiro forte de sabonete caro e cigarro para suas narinas.

Um assovio antes do vendaval começar.

— Ora, ora. Erik Lehnsherr! – e lá estava a voz em tom zombeiro que ela odiava. — Ou devo te chamar pelo outro nome? Sabe como é, alter egos... É meio complicado.

Raiva. Medo. Adrenalina. Luto. Medo de novo.

Por que medo? Por que agora? Se concentra!

Mordeu a própria língua em desgosto de si mesma, as emoções fazendo seu corpo ficar trêmulo.

— Como anda a Irmandade?

— Como se você não soubesse, vive tentando nos encontrar.

Engatinhou, observando o movimento dos dois através das frestas.

— ...ainda é capacho do Xavier? – o Carniceiro se apoiou numa estante, brincando com um pequeno objeto entre seus dedos.

— A única pessoa de quem eu recebo ordens, sou eu.

— Então por que continua fazendo o que ele manda?

Houve uma pausa.

— As crianças, Lehnsherr. Eu sei que esteve com elas, nós temos imagens. Grande confusão. É sempre assim quando você está envolvido?

— Piora de acordo com o meu humor, ultimamente ando bastante estressado. – Erik respondeu ácido. — Eu estive com elas sim, mas como pode ver, estou sozinho agora.

Pierce riu, tirando de dentro do sobretudo um aparelho semelhante a um tablet e mostrando a tela para o mutante.

— Está vendo essa mancha vermelha? É essa energia que elas causaram. Dr. Rice acredita que está no DNA delas agora.

Dr. Rice.

A garota gelou, pondo a mão sobre a boca.

— Eu só acho engraçado que, eu acabei de fazer essa análise lá fora e apontava pra cá. Mas você mesmo disse que estava sozinho, então... ao menos que elas tenham passado isso para você como um vírus de gripe ou sei lá... ou... elas estão aqui.

Avistou Gideon na mesma posição que a dela do outro lado da loja e mexeu os lábios, sem som, perguntando pelos outros. Obteve como resposta um aceno, apontando para os fundos do estabelecimento.

Okay.

Isso vai ser fácil.

— Como você mesmo disse, são crianças. Existem tantos outros alvos maiores, por que não vai atrás deles?

— Ora, e não é isso que eu estou fazendo? Você é um peixe grande muito difícil de ser achado.

— Então veio atrás de mim? Não é muito inteligente.

— Ei, que isso. Só estou juntando o útil ao agradável. – Pierce deu de ombros, amigavelmente falso, e exatamente como Laura se lembrava. Babaca. — A prioridade é que faz a diferença. Não sou eu que estou interessado nos pirralhos, é o Stryker. Você sabe como ele é.

— Sei sim. E você sabe como eu sou.

O mutante mexeu os dedos e de repente, tudo na loja pareceu vibrar. Os poucos clientes presentes pareceram perceber o que estava acontecendo e soltaram exclamações, apavorados.

— Se quer alguma dessas crianças, – cadeiras, canetas, tudo que era de metal dentro e até mesmo fora da loja passou a flutuar no ar. — Vai ter que passar por mim.

— Eu esperava por isso. – sem hesitar em nenhum momento, ergueu o objeto em suas mãos, era um quadrado preto cheio de botões. — O bom é que eu não entro numa festa sem uma boa dose de vodka.

Subitamente, a vidraçaria explodiu.

Laura arfou, colocando os braços sobre a cabeça, sentindo a temperatura subir por alguns segundos. De repente, fogo consumia a entrada do estabelecimento, a fumaça se espalhou em segundos e papel queimado voava e decorava o piso.

O desgraçado havia acabado de explodir uma bomba!

— VASCULHEM TUDO!

Arrastou-se pelo chão, ouvindo a gritaria começar.

Okay.

Talvez não tão fácil assim.

— Aí, garota! – alguém chamou, a levantando do chão pelo braço. — Cadê os seus pais?

Seus olhos se encontraram. Carniceiro, ela reconheceu, as grandes peças de roupa cobrindo seu corpo, cobrindo as próteses tecnológicas que já haviam lhe causado muita dor.

E agora ele perguntava pelos seus pais... Seus pais?!

Raiva e medo transformaram-se num só, e suas garras se expuseram.

— ACHEI UMA! – ele gritou, tardiamente.

X-23 o matou em um movimento.

— TRAGAM AS CORRENTES! – outro Carniceiro surgiu, uma grande arma em mãos.

Tentou usar a fumaça ao seu favor, apesar da vantagem estar totalmente com eles e ela ter apenas segundos antes do próximo ataque. Sentia-se suando frio, o estômago embrulhado. Em agonia, colocou a mão sobre o peito, buscando pelo metal que lhe dava conforto; a dog tag de Logan.

Laura...

Rápido demais, cedo demais, muita pressão e nenhum descanso.

Não seja o que fizeram de você.

Estava a um passo de perder o controle.

— Me desculpe. – chorou, e levou o pingente até os lábios, respirando entre falhas.

Magneto não estava à vista, apenas o som de metal sendo retorcido era ouvido. Joey e Jonah sumiram, e Gideon... gritava de algum ponto.

— Gideon? – gritou de volta, guiando-se pelos gritos dele. — Gideon!

O encontrou na curva de um corredor. Três homens; dois o seguravam enquanto o outro estava para lhe colocar um tipo de algema inibidora. Jogou-se contra ele, suas garras cortando seu braço e o perfurando nas costas. O outro lhe atacou, batendo-lhe contra rosto com sua arma, e a fazendo cair. Girou as pernas se erguendo agilmente e ampliando a garra em seu pé direito, o acertando no tórax.

Gideon aproveitou a distração e pulou nas costas do terceiro homem, mordendo-o no pescoço. Ele caiu, se contorcendo no chão, o veneno do garoto iria mata-lo em segundos.

— Joey ‘tá com problemas. – ele falou, segurando sua mão.

Dois caçadores os surpreenderam logo de cara, ordenando que parassem. Como esperado, os ignoraram e correram, escorregando no chão cinzento. Laura arfou em susto ao sentir o momento que seu braço foi atingido por um dos tiros, mas eles finalmente conseguiram chegar do lado de fora. A rua estava um caos; pessoas tropeçando nos próprios pés, sirenes altas, e tamanha era a gritaria.

Joey estava cercado. Era notável o esforço que ele fazia com sua telecinese, hora erguendo os homens do chão, jogando-os uns contra os outros, e hora usando uma porta de carro como um escudo.

Donde está Jonah?! – Gideon exclamou e a mutante temeu pelo pior.

Viu que Magneto estava cercado também, revezando entre usar seus dons e um combate corpo a corpo. Os soldados que o atacavam mano a mano estavam cobertos de um estranho material de plástico. Droga. Queriam capturá-lo. Pierce bem que disse que estava atrás de um "peixe grande" como Erik. Sabiam exatamente o que usar contra ele.

O que... usar...

Oh.

Abaixou os olhos para o próprio braço, e percebeu que o sangue não estava escorrendo. De fato, o projétil nem mesmo encravou em sua pele agora regenerada.

És caucho. – sussurrou, perplexa.

— De quéhablas?

— É borracha. – repetiu. — Estão usando armas não-letais em nós.

— O que? Por que?

— Não querem nos matar. Querem nos testar! – Laura rosnou. — Idiotas inteligentes...

— Mas por que? Eles não nos conhecem!

— Conhecem sim! Eles têm imagens! – diante do olhar assustado do garoto, ela explicou: — Quando encontramos os militares hoje de manhã, Joey, Jamaica, Erica, eu, usando os poderes, ouvi Pierce dizer. Estão interessados em nós.

— Se vocês foram vistos, nós fomos também.

— Não podemos nem mesmo nos defender, querem testar nossa resistência primeiro e depois nos capturar! Magneto também! Nós temos que-

— Er, Laura-

— ...encontrar o Jonah, pegar o Joey, ir até o carro e- Ah não!

— Laura!

— O carro! Nossos arquivos estão lá! Na minha bolsa!

— LAURA!

— CALA A BOCA, GIDEON. EU PRECISO PENSAR!

Desesperado, ele a virou, fazendo-a dar de cara com um Donald Pierce muito entretido com os dois. — Oiii! – ele acenou, com um sorriso cínico. — Que bonitinhos, são mexicanos. Quantos anos têm?

Gideon gritou, um Carniceiro o agarrando por trás.

Como se o seu sangue tivesse sido trocado por gelo, Laura paralisou, fazendo nada ao colocarem nele uma algema inibidora de poderes. Outros dois homens se moveram em sua direção, com o mesmo propósito e ela recuou.

— Espera! – Pierce os fez parar. — Que isso gente, ela é só uma garota. Desculpe por eles, lindinha.

— Laura, corre! – Gideon se contorcia no chão.

— Laura! Esse é o seu nome? Laura? – a garota permaneceu em silêncio. — Ouvi dizer que você se regenera rápido, chiquita. Não se importaria se eu testasse não é? Dessa vez com armas letais é claro.

Ela até quis o responder, mas temeu abrir a boca e vomitar de tanto nojo que sentia. Pierce suspirou, parecendo decepcionado com seu silêncio, e fez um gesto com a mão.

— Ah, podem leva-la.

Imediatamente, sentiu um chute direto em seu estômago e caiu de costas, sem ar. Um deles segurou seus punhos e a mutante preparou-se para expor as garras quando um raio vermelho passou bem acima dela, repetidamente, acertando os Carniceiros de modo surpreendente. Laura virou-se, um homem de macacão azul e cinto amarelo no peito vinha em sua direção, lentes estranhas tampando seus olhos.

O reconheceu em um segundo.

Oh. Meu. Deus.

— É, eu sei. Pode me chamar de Ciclope.

Era... era o líder dos X-men.

Sem hesitar, ele a tirou do chão, colocando-a em seu colo como se ela fosse uma criança de 3 anos. — Você está bem? Estamos com seu amigo Jonah, ele está seguro. Todos eles estão.

Chocada demais, Laura apenas assentiu.

— SUMMERS! SEU DESGRAÇADO! – Donald Pierce se levantava do chão com parte da roupa chamuscada. — Sempre no meu caminho!

— Você ataca em ambiente público e espera que não façamos nada?

— Essas crianças SÃO MINHAS!

— São CRIANÇAS, Pierce! Você não tem escrúpulos!

O caçador gritou em frustração e ergueu a arma, atirando sem hesitar. Laura fechou os olhos, esperando pelo impacto... que não veio. Ao abri-los, um homem de cabelos brancos estava parado na frente deles.

Talvez ele foi atingido, a mutante pensou, mas não. Debochadamente, ele mostrou a cápsula entre os dedos.

— É melhor correr. – falou e inacreditavelmente, Pierce apressou-se em sair dali. — Devo ir atrás dele?

Sim! Ela quis dizer.

— Não. Pega o garoto, leva ele pra van.

O homem fez como ordenado e de repente Gideon não estava mais lá, um vulto prateado contornando a avenida. Velocista igual o irmão da Wanda, ela percebeu. Scott pôs a mão sobre sua cabeça em conforto, como se quisesse proteger sua visão da guerra que estava acontecendo e em um impulso de carência, Laura o abraçou.

Ele a manteve em seu braço enquanto andava, por algumas vezes usando de suas rajadas ópticas contra os caçadores que se escondiam por trás de carros, dentro de lojas e entre a multidão que corria. Eles estavam num número bem maior do que Laura imaginava, mas pareciam não saber mais o que fazer com a chegada dos X-men.

— Ei! E o telecinético? – Ciclope gritou para alguém.

— A salvo, Erik o levou.

Seus ouvidos captaram um estranho zunido e a mexicana olhou pra cima, boquiaberta entre maravilha e espanto. Era um jato! Bem acima deles, provocando uma enorme sombra.

— Tudo bem, são nossos amigos, está tudo bem. – Scott a avisou, seu tom amigável, tão diferente do de Donald Pierce. — Vamos recuar.

— Scott, eles estão se reagrupando.

Laura espiou quem falava, era uma mulher de cabelos vermelhos presos num rabo de cavalo e expressão concentrada. A garota franziu o cenho confusa, aquela mulher lhe era familiar... de onde?

— Eles têm um campo compressor?

— Sim. Erik disse que estão trabalhando pro Stryker.

— É questão de honra pra eles. – Ciclope preocupou-se. — Não vamos deixá-los terminar, nós precisamos-

Um som animalesco o interrompeu. Era como o rugido de um leão durante a caça, como um lobo uivando em aviso para a alcateia, como o cantar de pássaro; que anuncia um novo dia.

Era uma canção sendo tocada, uma oração sendo atendida.

Era um grito de guerra.

E em seu coração, Laura sabia.

Era o seu pai.

I’monmyway

I’mon

I’mon