Laura

But Did You See The Flares?


Did you find it hard to breathe?

Did you cry so much that you could barely see?

You're in the darkness all alone

And no one cares, there's no one there

Se continuarem parados, eles vão encontrar vocês. Laura sabia. Laura sentia. E com os olhos pesados, esperava que isso fosse acontecer a qualquer momento. É, você já deixou tanta coisa ruim acontecer hoje que mais uma não faria diferença, não é?

O cheiro do sangue em sua roupa estava começando a lhe deixar doente. Fraca, ela retirou o suéter azul, jogando-o para o lado.

É assim que vai enfrentar seus problemas? Logan voltou a cutuca-la.

— E O QUE VOCÊ ESPERA QUE EU FAÇA? – Laura gritou em espanhol, os olhos fechados e as mãos em punhos contra a cabeça.

Segundos depois, vergonhosamente, percebeu que tinha gritado. Hesitante, abriu os olhos e encarou seus companheiros que lhe encaravam de volta assustados e confusos.

De fundo, Lance riu.

— Essa daí ‘tá maluquinha. – ele girou o dedo em sua têmpora.

A garota respirou fundo, ignorando a todos. Seu pai havia se calado e isso era um alívio.

— Acho que tenho uma solução. — Grace disse em um rouco sussurro, o rosto dela ainda molhado em lágrimas. — Tomás, pode ir lá em cima chamar o Gideon e a Erica?

— Qual a solução? – Rictor perguntou.

— Eu preciso contar uma coisa primeiro, para todos. – ela respondeu, e Laura notou os olhares de Siryn em uma mistura de protesto e tristeza. O que quer que tivessem decidido, não parecia ser uma boa opção.

Gideon e Erica desceram pela toca e todos se juntaram num círculo. Grace suspirou, buscando a mão da filha em apoio. A mulher estava quebrada por dentro, Laura podia ver, pois era assim que estava também.

— Como vocês, eu nasci clandestinamente numa base de operações, dirigida por um homem chamado Stryker. — contou. — Eu, Erik, e alguns outros que morreram, nós fomos uma espécie de protótipo para o projeto que criaria cada um de vocês. O meu gene veio de uma telepata poderosa chamada Emma Frost.

Stryker.

Avise ao General Stryker.” Lembrava-se de ter ouvido algum soldado dizer enquanto se escondia na tenda das garotas. Seria o mesmo Stryker?

E Emma Frost... de onde Laura conhecia esse nome? Era familiar.

— O fato é, a telepatia que eu deveria ter me afeta de maneira diferente. Eu não leio pensamentos, eu não... – nervosa, pôs as mãos sobre os olhos azuis. — Eu posso ver as realidades. Realidades tão similares as nossas que por muitas vezes achei que fosse ficar louca.

— Realidades, como assim? – Rictor perguntou desconfiado.

— Como... outras... linhas temporais. Foi assim que eu encontrei vocês. Eu acordei de um sonho onde, vocês eram perseguidos por militares assim que entravam no Canadá. Eu impedi isso de acontecer, e tal realidade foi apagada.

— O que?! Então, você pode ver o futuro? – Tomás perguntou com os olhos arregalados.

— Não, eu vejo o presente. – Grace balançou a cabeça, perturbada. — O presente de cada mundo que existe. Como se eu estivesse olhando através de um espelho.

— Você sabia que isso ia acontecer? – Laura perguntou, franzindo o cenho. — Alguma dessas realidades te mostrou o acampamento sendo destruído?

Novamente, ela negou.

— Me pegou de surpresa tanto quanto a vocês.

E então Laura entendeu a loucura da mulher ao perder Erik. Ela podia ter impedido aquilo. Assim como Laura.

Isso faz de vocês duas melhores amigas? A voz de Logan reverberou em sua cabeça.

Ah, você voltou, que droga. Laura desviou o olhar, mordendo os lábios com força.

— Não tinha como ter impedido isso. Foi o Unus. Não tinha como saber que ele iria nos trair.

— Siryn, eu sabia que ele não era de toda confiança e sabia que estava com medo. – Grace contrariou rindo sem humor. — Ignorância e idiotice são duas coisas diferentes, eu sei da minha culpa.

— Somos todos culpados de alguma maneira. – Siryn insistiu. — O importante agora é que talvez consigamos achar uma saída daqui.

— Não tem como sair, coroa. – Lance rolou os olhos, sem entender o porquê daquela explicação toda. — Há soldados por todos os lados. Só temos duas opções: Ficar aqui e morrer de fome ou sair daqui e morrer de bala.

Sabe, eu até que gosto dele. Ele é direto.

Ou em seu próprio caso, talvez morrer de loucura, Laura pensou amaldiçoando sua consciência. É por que vocês dois só falam besteiras, agora cala a boca papai!

— Ela não quis dizer sair daqui, da toca. – apesar de tudo, Grace sorriu. — Ela quis dizer sair daqui, dessa realidade.

Todos se entreolharam assustados.

— O que? Não! — Delilah soltou uma risada nervosa.

— Ir pro mundo dos espelhos, mamãe? – Megan perguntou. — Como naquele livro da Alice?

— Eu ainda não ‘tô conseguindo entender, é sério. – Tomás coçou a cabeça.

Diante tantos comentários, Grace resolveu responder o de Ariel, que tinha um olhar cismado:

— Como você iria fazer isso? Você disse que só conseguia ver.

— É aí que eu precisaria da ajuda de vocês. Há algum tempo percebi que em tese, a Wanda pode alterar o tecido da realidade.

— Eu sabia, eu não vou deixar! – Ariel exclamou indignada. — Wanda só tem oito anos, ela não consegue controlar e acabou de perder o irmão.

— Ariel, eu não entendo. – a irmã de Pietro olhou pra mais velha, temerosa. — O que querem que eu faça?

— Vai ficar tudo bem meu amor, eu não vou deixar você se esforçar dessa maneira.

— Espera aí, espera aí! Acho que estou perdendo alguma coisa, alterar a realidade você disse? – Lance apertou os olhos confuso. — Eu sempre vejo essa pirralha falando com coelhos e pássaros, não é isso que ela faz?

— Ela é uma criança, seu idiota. – Laura retrucou, farta do adolescente.

— E daí? Você também é e nem por isso age que nem a esquisitona ali. Eu achei que ela só soubesse falar com animais!

— Oh, mas ela fala. Fala com você. – Rictor cutucou arrancando um sorriso de Laura.

— Essa foi boa.

— Obrigado.

— Podemos entrar em foco, por favor? – Ariel balançou as mãos.

— Rebecca, poderia me confirmar quais são os seus dons novamente? – Grace desviou o olhar para a castanha ao lado de Laura. — Pode influenciar pessoas, não é?

A garota remexeu-se sem jeito diante de todos.

— Err, sim.

— Se eu me focar na realidade mais próxima, onde tudo é bastante similar ao nosso mundo e onde talvez pudéssemos finalmente ser livres, eu... eu poderia me... me esforçar e... — Grace tossiu, nervosa. — Quem sabe enviar ondas psíquicas desse mundo pra Wanda. Ela só tem oito anos mas é provável que com a influência da Rebecca, ela conseguiria abrir uma passagem para nós.

— É como um... teletransporte? – Bobby perguntou admirado.

— É.

— Legal! – o gordinho sorriu. — Mas é perigoso?

Grace sorriu amarelo, assentindo.

— Bom, é tudo em tese. Nunca foi feito. Nós já havíamos conversado sobre isso, Erik e eu, mas não havia como ultrapassar a barreira da realidade. E então veio a Wanda e... talvez, nós achávamos, um dia... quando ela estivesse mais velha.

— E estavam certos. – os lábios carnudos da morena se apressaram em dizer, rispidamente.

— Ariel, entendemos que ela é muito jovem, que não tem controle. – Grace disse a morena. — Só que a influência da Rebecca vai ser o suficiente para tentar.

— Você não entende!

— Eu entendo. – a mulher retrucou sem perder a calma. — Ela é tudo que você tem dele. Sua responsabilidade. Faria de tudo para fazê-la feliz. Mas... se não fizermos isso, certamente morreremos. Seus dons são com a água. Não há água alguma aqui. Como poderia protege-la?

Sereia. – a pequena Wanda segurou a mão da garota. — É o único jeito. Não quero morrer aqui. Eu quero tentar.

Sentindo o coração pesado em seu peito, a jovem assentiu com lágrimas nos olhos, se rendendo a situação.

— A decisão tem que ser unânime e tem que ser agora. – Siryn disse, e Laura pensou que nunca a havia visto tão séria antes. — Se esse exército que está por aí suspeitar do poder que estamos lidando aqui, acreditem quando digo que não vão nos matar e sim fazer algo pior.

Ser cobaia pelo resto da vida, Laura concluiu, com medo e raiva.

— Siryn está certa, e além disso, pode ser outro mundo, mas é tão similar quanto este. Talvez encontrem rostos conhecidos por lá.

Delilah tremeu, o rosto contorcido em nojo.

— Outro Donald Pierce não!

— Sai pra lá, eu não quero nem pensar naquele saco de merda. – Tomás arfou, lembrando-se de cada atrocidade do homem contra as crianças.

— Espera, isso é sério? – Laura a encarou com os olhos arregalados. — Rostos conhecidos... diz nossas versões de outro mundo?

Rictor imitou seu gesto: — Seria no mínimo assustador cruzar com um clone meu.

— É bem simples, na verdade. Vou escolher uma linha temporal em que não nasceram. – Grace disse, e pareceu dizer mais coisas, coisas que Laura não conseguia ouvir, sua voz longe e cada vez mais longe...

Oh.

Muito cedo. Cedo demais.

X-24, volte já aqui!” os gritos do Dr. Rice faziam fundo para seus urros. Ela não conseguia se soltar. Charles estava ferido. Logan estava lutando. A família Munson estava morta.

Todos mortos. X-24. O monstro com a face idêntica ao seu pai. Um clone. Igual a ela.

Um monstro. Uma arma.

Igual a ela.

O toque em sua mão a despertou de seu transe. Os olhos dourados de Gideon lhe fitavam com curiosidade e preocupação. Ela sentiu as próprias bochechas queimarem e assentiu que estava bem, forçando um sorriso.

Ao passo que voltou a atenção à conversa, seus amigos já diziam sim. Acabou por se juntar a eles, de modo quase automático. Esse era o único jeito. Qual a outra opção? Ficar e ver todos morrerem, um a um?

— Bom, parece que vale a pena tentar. – Lance concordou receoso. — Como faremos isso?

— Wanda, pode vir até aqui? – Grace pediu e a menina aproximou-se hesitante. — Primeiro, preciso que você relaxe. É só usar o seu poder, meu amor. Sem pressão, ok? Rebecca, pode se aproximar?

— Claro. – a castanha saiu do lado de Laura que lhe observou preocupada. — Então, eu uso o meu poder na Wanda?

— Isso, faça com que ela não perca a calma.

— Deem as mãos, se abracem se quiserem, é importante que mantenham o contato firme. – Siryn liderou ao ponto que todos fizeram como fora dito.

Gideon enganchou seu braço no de Laura, que fez o mesmo com Jamaica e assim por diante.

— Wanda, eu vou por as mãos na sua cabeça, se você ver alguma paisagem ou cena se formar diante dos seus olhos, não se assuste. Apenas imagine o seu poder se expandir. Imagine um espelho. Imagine-se quebrando-o.

— Ariel? – a menina chamou insegura, e a jovem sorriu falando:

— Wandinha, eu estou aqui. Vai ficar tudo bem. Quem sabe, Pietro não está do outro lado nos esperando... – ela disse, chorando. — Ele sempre foi tão rápido, não é?

Os olhos da pequena Maximoff brilharam em esperança. Rebecca segurou no braço da menina e começou a dizer em voz baixa:

— Respire fundo. Concentre-se no seu poder. – os olhos castanhos dela mudaram e uma aura azul os cobriu, como uma hipnose. — Você pode fazer isso, pode fazer o que quiser. Então não se desespere...

E o processo começou.

Eles costumavam ser 42.

Agora só restavam 19.

E Laura continuava viva. Vendo tudo acontecer. Todos aqueles que morreram, mutantes poderosos, amigos. Teria Logan passado pelo mesmo? Provavelmente. Ela sabia da bala que ele carregava. Perguntou-se até quando suas vidas durariam. Talvez fossem ceifadas ali mesmo.

A mexicana fechou os olhos, sentindo algumas lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Pendeu a cabeça para o braço de Gideon e aconchegou-se no amigo.

Eu te amo, papai. Pensou fortemente, esperando que sua consciência fosse responde-la de volta, usando a voz de Logan, como sempre.

Porém, nada veio.

E simples assim, seu coração foi quebrado mais uma vez.

— Acho que está dando certo, Laura. – Gideon sussurrou admirado ao seu lado.

Uma espécie de fumaça vermelha saia das mãos de Wanda e rodeava a todos. A energia era quente e hipnótica, Laura sentia-se arrepiar cada vez que o escarlate encostava em sua pele.

E então, o cheiro familiar de ferrugem. Sangue. Fresco. E ao procurar de onde vinha, Megan começou a gritar:

— Mamãe! Mamãe, está sangrando! Mamãe!

Uma grande quantidade de sangue descia do nariz de Grace e ela tremia.

— Para com isso! Mamãe! Para com isso! – Megan gritava chorando. — Alguém tira ela de lá!

— Não se soltem, ninguém se mexe! – Siryn ordenou.

— Wanda! – Ariel gritou, temerosa. — O que está acontecendo?

Estava tudo ruindo novamente, Laura pensou assustada, não ia dar certo.

E quando pensou que a confusão fosse piorar, as linhas vermelhas que circulavam pela toca se esvaíram, e Grace, Wanda e Rebecca foram de encontro ao chão.

— Wanda! – Ariel foi a primeira a correr de encontro da menina, que se levantou sem escoriações aparentes. — O que está sentindo?

— Nada, eu estou bem...

— Siryn, mamãe não acorda!

— Rebecca!

— Eu ‘tô bem, Tamara. – a castanha olhou ao redor confusa.

Laura parou, tocando no próprio corpo. Esperava sentir-se diferente, mas não tinha nada.

— Não deu certo. – concluiu, frustrada.

O fracasso foi sentido por todos. A fagulha da esperança que havia nascido em seus peitos estava apagada; congelada.

O desgosto era visto até mesmo em Lance.

— Bom... voltamos à estaca zero.

Subitamente, a toca onde se escondiam estremeceu, e um ruído esganiçado e irritante soou perto; acima, Laura ouviu.

— Isso foi... uma buzina? – Bobby perguntou sem entender.

O modo como todos ficaram imóveis seria até engraçado se a tensão não fosse tão forte.

— Por que buzinariam antes de atacar? – Bobby voltou a perguntar confuso.

Laura manteve os olhos no alto, apurando os sentidos.

— Estranho.

— São os soldados? – Rictor lhe fitou assustado.

— Não. – negou, franzindo o cenho. — Foi um... caminhão.

— O que?!

A mexicana podia jurar que tinha ouvido um pneu derrapando no asfalto.

— Rictor... acho que não estamos mais numa floresta.

Avenida Graymalkin Lane, n° 1407. Salem Center, Condado de Westchester, Nova York.

Ela girava de um lado para o outro, gemendo em lamento. Sentia sua dor. Mesmo distante, mesmo de olhos fechados, perguntava-se como um ser tão pequeno e cheio de luz carregava tanta dor e sangue nas mãos?

— Jean! Jean, acorde. – mãos familiares seguraram seu ombro: Scott Summers, seu querido amor e amigo. — Jean, você está sonhando. Jean!

Não podia abrir os olhos agora, tinha que se concentrar mais. Aquele poder havia sido sentido e ela a encontrou: ela os encontrou. Eram tantos. E precisavam de ajuda. A sua ajuda.

As mãos insistentes de Scott a sacudiram novamente e ela foi obrigada a abrir os olhos, arfante.

— Meu Deus, Jean! Que susto, você está bem? – a ruiva balançou a cabeça, sentando-se na cama. — Está sentindo dor?

— Eu os vi, Scott. Estão aqui. As crianças. Estão aqui. – olhou ao redor, ainda estava escuro no quarto, então não tinha amanhecido. — Wanda... Grace... Laura! Laura!

Seu companheiro franziu o cenho, confuso. E tolamente, ela desejou poder ver seus olhos.

— Laura, quem?

— Eu não sei, eu não... – passou as mãos pelo rosto, agoniada. — Eu não lembro direito...

— Jean, Jean, olha pra mim. Hey. – ele tentava segurar seu rosto, mas a ruiva estava inquieta, lágrimas desciam por sua face sem controle. — Jean, você estava sonhando. Está tudo bem, você acordou. Foi só um sonho.

Ela parou, encarando-o.

“– Foi só um sonho.” o próprio Charles Xavier havia dito há alguns anos, quando ela previu a chegada de Apocalipse. A mutante havia acreditado nele, pois desde que seus poderes despertaram sonhos e pesadelos lhe assombravam.

Mas agora...

— Scott. – segurou sua mão, sussurrando perturbada: — Eu não estava dormindo.

Did you see the sparks filled with hope?

You are not alone

'Cause someone's out there, sending out flares