JASON TODD

Nós vemos policiais entrando no prédio dos Queens, seguidos por um homem com cara de tatu gigante, usando um sobretudo e botas de combate. Ele joga um cigarro no chão após a última tragada e aperta a mão de um dos policiais. A tal de Laurel Lance da terra dois, ou Sereia Negra como prefere ser chamada em campo, encara a cena com fogo nos olhos, Selina não estava nada diferente, mas talvez não pelos mesmos motivos. Aquele era Ricardo Dias, o desgraçado que vem testando a paciência de toda pessoa com treinamento nível militar que trabalha nas brechas da lei que conheço. Ele olha para os lados e entra depois de um dos policiais entregar a ele um cassetete.

—Não vamos entrar ainda – coloco meu braço a frente de Selina, que já estava perdendo o resto de paciência que possui.

‘Felicity concordou com o plano’ a voz de John sai do meu comunicador. ‘Bruce vai deixá-los na delegacia.’

‘Bobby está trabalhando, com sorte ela pode encontrar os dois antes de qualquer filho da puta corrupto.’ Roy pragueja, nunca os vi tão irados desde que me juntei a esse bando de gente esquisita.

Diggle estava posicionado no prédio a frente, como contingência. Usando uma arma de longo alcance para garantir que Oliver não perdesse a vida nessa porra de teatro. Roy e Thea estavam no bunker, os dois marcados demais para ir a campo em plena luz do dia. Isso vai ser uma merda das grandes, independente de qual plano seja executado. Agora só me resta torcer para que Bobby use o comunicador que a dei, precisa me pedir ajuda.

—Quando eu colocar minhas mãos nesse Dias, ele vai desejar que eu fosse do tipo que mata – Selina diz em uma voz baixa e ameaçadora.

—Quanto tempo acha que ele pode aguentar sem ajuda? – Laurel tinha seus olhos presos a entrada, as mãos apertando seu bastão firmemente.

—Pela quantidade de cicatrizes, ele sabe apanhar – tento soar tranquilizador, mas não sou do tipo que passa tranquilidade, então não vejo efeito algum em nenhuma das duas.

‘Ele aguenta’ Thea responde pelo nosso comunicador. ‘Espero que Will seja melhor ator do que os pais, Felicity e Oliver nunca foram bons mentirosos.’

‘Eles não são bons em mentir para quem se importam, Felicity está furiosa, posso apostar que ela vai ser digna do Oscar.’ John acrescenta.

BOBBY HARPER

A alguns dias tenho mexido em vários vespeiros dentro desse departamento de polícia. Meu instinto de sobrevivência vinha sendo ignorado sempre que havia uma brecha e eu pudesse coletar qualquer prova contra esses policiais corruptos, não sei como não fui descoberta ainda. Estava saindo da sala do novo comissário de polícia, colocando meu celular no bolso. Eu o havia esquecido em uma das prateleiras quando um cara estranho veio fazer uma visita matinal. Agora tenho a prova que preciso de que eles estão sendo controlados pelo Dias. Mas quando estava prestes a sair daqui e pensar em quem poderia ser alto o bastante para receber uma denuncia desse porte, vejo a primeira dama entrando ao lado de seu enteado. Tudo isso passou para segundo plano, precisava tirá-los da vista de qualquer um naquele local.

Agora esposa do prefeito está sentada com os braços ao redor do enteado, na sala escondida que consegui os colocar antes de serem percebidos pelos outros. Nunca fiz coisas como contactar o FBI, mas há sempre uma primeira vez para tudo. Pego um cartão que recebi de uma mulher negra imponente a alguns dias e disco o número.

‘Agente Watson’ atende no segundo toque.

—Aqui é Bobby Harper, nos falamos na semana passada no departamento de polícia de Star City – começo com meus olhos na família Queen, que se consolavam completamente desolados.

‘Em que posso ajudar, policial Harper?’

—O prefeito está sob ataque nesse instante, a família dele está comigo, mas meu departamento está comprometido, não tenho o que fazer. Preciso de ajuda – respiro fundo. – Metade dos policiais em plantão invadiram a residência dos Queens, liderados por um mafioso chamado Ricardo Dias.

‘E como a primeira dama e o garoto escaparam?’ Obvio, a vida de alguém está em risco e fazer perguntas idiotas é sempre o mais importante.

—Por sorte o garoto tinha dentista marcado para essa manhã, o prefeito os mandou uma mensagem para que não voltassem e procurassem ajuda – respondo rapidamente, sem saco. – Pode me ajudar ou vou precisar entrar em contato com o vigilante da cidade? – perco de vez a paciência e Felicity Smoak levanta os olhos me encarando com o que parece ser surpresa.

‘Acredito que o vigilante está sob ataque nesse instante, policial Harper.’ Começo a perder o respeito por essa mulher.

—Bom, então vou entrar em contato com a equipe dele, acho que vão ser de mais ajuda – desligo me contendo para não jogar o telefone na parede, em seguida pego meu comunicador, que o Arqueiro Verde modificou para ter acesso a ele. Mexo rapidamente na frequência e prendo o aparelho na orelha. – Preciso de ajuda – falo assim que escuto o primeiro estalo.

‘Quando e onde?’ a voz modificada já estava se tornando familiar a essa altura.

—Casa do prefeito, de preferência nesse instante – mordo os lábios para conter um palavrão, odeio que eles me passem mais segurança do que agentes da lei. – Pedi ajuda ao FBI, Arqueiro, mas não acho que deva esperar nada, então sugiro que leve reforços.

‘Entendido, já estou a caminho.’

—Mais uma coisa – acrescento rapidamente, antes que ele pudesse encerrar o contato. – A família dele está comigo, diga ao Arsenal que vou leva-los a minha casa, aqui não é seguro.

‘Darei o recado.’

Ou esse cara está cobrindo o Queen, ou o prefeito é mesmo só alguém que passa muito tempo na academia. Não houve nenhuma mudança de entonação ao citar sua suposta família ou o perigo iminente que estão correndo. Não acho que me conheça o suficiente para pensar que sozinha possa garantir a segurança deles.

—Vou tirar vocês daqui – falo ao me aproximar dos dois e checo a munição da minha arma. – Me desculpe, Sra. Queen, mas só consegui ajuda dos vigilantes – a volto para coldre e me viro para Felicity.

Ela faz careta com seu rosto bonito demonstrando cansaço e se levanta levando o garoto junto. Felicity Smoak se mantém sempre fora do alcance das janelas, deixando o filho entre nós duas, não sei se isso é instinto, mas de todos, essa mulher é a que me passa a maior vibe de vigilante e não acredito que ela tenha tamanho ou estatura para ser o Arqueiro Verde, nem mesmo a Canário Negro. Bom, acho que os instintos maternos são mesmo poderosos. Coloco um dedo sobre meus lábios e gesticulo para que se abaixem antes de abrir a porta e colocar a cabeça para fora.

O porco do Morley vinha andando com sua rosquinha gordurosa e ar de superioridade. O idiota tem cerca de um e noventa de altura, a largura de três seres humanos juntos e cheira a presunto. Essa não é a pior parte, por algum motivo o babaca acredita que eu tenho algum interesse em seu rabo fedorento. Sorri cheio de presunção e contenho minha vontade de revirar os olhos, saio e fecho a porta atrás de mim.

—O que está fazendo lindinha? – mordo meus lábios para conter o palavrão, quando seus olhos nojentos percorrem meu corpo cheios de segundas intensões. O idiota está quase completando quarenta anos.

—Precisava de um lugar silenciosos para ligar para meu namorado – minto, mas sinceramente só quero me livrar desse porco.

—Não brinca comigo, querida – dá mais um passo em minha direção. – Sei que não tem nenhum namorado, ainda – pisca com seus olhos pequenos, escondidos atrás das bochechas brilhando de oleosidade.

—Na verdade ele não é um cara com quem você vai querer arrumar problema, Morley – simulo um sorriso inocente. – Mas não estava no meio de algo?

—Nunca estou no meio de nada em relação a você – estende os dedos curvos, cheirando a fritura na direção dos meus cabelos e me esquivo, contendo por pouco o instinto de imobilizar essa montanha de bosta.

—Se afasta, não estou com vontade de levar outra advertência por te bater, não tenho nem um mês ainda – me concentro em respirar.

—Isso só me dá ainda mais vontade, querida – murmura com o rosto próximo do meu. Odeio, odeio esse desgraçado com todas as minhas forças, mas preciso manter a família do prefeito em segurança. – Sou solteiro, você também, vamos sair e deixar esse fogo entre nós queimar.

Odeio o que vou fazer, odeio ainda mais precisar ser validada, mas não tenho muito tempo. Retiro meu celular do bolso com um sorriso mecânico e torço para que meu novo amigo compre a brincadeira, ou não vou conseguir sair daqui hoje ainda. Homens idiotas, se acham a porra dos donos do mundo. Para minha sorte sou atendida no segundo toque.

‘Bobs, não é uma boa hora.’ Algo parece se quebrar no fundo, consigo o visualizar em um boteco, arrumando briga com alguém ainda mais intimidador do que ele.

—Baby, tem um idiota aqui no meu trabalho que acha que você não é real – rio com escárnio colocando o telefone no auto falante. – Desculpe te incomodar docinho, mas prometi que avisaria antes de deixar qualquer cara de olho roxo.

‘Fez bem.’ Contenho um suspiro de alívio ao perceber que Jason havia entrado no jogo. ‘Faz o seguinte, gatinha, chuta as bolas do idiota e se ele tentar revidar, pode deixar com seu homem aqui.’ Prendo o riso, até mesmo por telefone a voz do Todd causa calafrios, posso ver Morley estremecer.

—Você é o melhor, nos vemos a noite – sorrio erguendo uma sobrancelha para o homem de quase meia idade que havia dado um passo para trás.

‘Com certeza!’ mais quebradeira pode ser ouvida antes da linha ficar muda.

—Vai querer que eu siga as sugestões do meu namorado, ou vai vazar da minha frente?

Mais rápido do que julgava ser possível, Morley já havia desaparecido no final do corredor. Abro a porta e deixo que os Queens saiam. Escuto outro estalo e a voz modificada do Arqueiro ressoa em meus ouvidos.

‘Ele sabe que estão aí, tem que sair agora!’ rosna as palavras com urgência. ‘Três minutos, policial Harper.’

Tomo a frente, com William sempre entre nós duas e quando alcanço a saída, vejo um carro parado nos fundos da delegacia e Thea Queen coloca a cabeça para fora, nos chamando e corremos em sua direção. Espero que os dois entrem e me sento ao lado da namorada do meu primo, no banco do carona.

—Roy disse que poderia ser útil – justifica arrancando com o carro. – Ele também me pediu para te convencer a se ausentar do trabalho por uns dias – me olha de lado, fazendo careta.

—É meu trabalho, não posso simplesmente sair – suspiro.

Mas sou obrigada a engolir minhas palavras quando escuto uma explosão dentro da delegacia. Felicity estremece abraçando o garoto no banco traseiro e os olhos de Thea perdem o foco por um instante. Jesus, eles queriam os matar. Tudo vai pelos ares, haviam no mínimo trinta pessoas trabalhando naquele prédio e todas devem estar mortas agora, por mais que odiasse quase todas elas, nunca desejei esse fim. Engulo em seco vendo minhas mãos tremulas se agarrarem ao baco do carro. Dias simplesmente as descartou por uma chance de destruir a família do prefeito, como se não fossem absolutamente nada.

—Ai meu Deus – Thea murmura manobrando o veículo se misturando a uma rua movimentada por precaução. – Você não vai voltar, sinto muito Bobby, mas estou disposta a bancar a louca de Atração Fatal se isso significar que Roy ainda vai ter uma família.

Balanço a cabeça concordando, tomada pelo choque. Nós dirigimos até sair da cidade, na divisa entre Star e Central, Thea para em frente a uma espécie de casa de campo, uma propriedade grandiosa com portões de ferro e uma casa enorme que pode ser vista mesmo à distância. Ela e Felicity trocam olhares e vejo Smoak assentir.

—Ela vai ter que saber – dá de ombros encarando Thea. – Nos salvou por não pensar dentro dos moldes, acho que Harper aguenta.

—Bom, não temos escolha – responde a outra com o rosto cheio de tristeza. – Agora você tem um alvo pintado nas costas – me olha de lado, como quem se desculpa. – Mas obrigada por salvar minha família.

—Não tenho palavras o bastante para agradecer – Felicity acrescenta.

—Não precisa – sussurro com um fio de voz, meu coração a ponto de sair pela boca.

Thea retira o celular do bolso, deixando o carro em ponto morto de frente para os portões gigantes de ferro. Ela digita uma mensagem e depois recebe alguma confirmação. Troca outro olhar com Felicity e os portões começam a se abrir a nossa frente. Minha mente começa a perceber o obvio, provavelmente o prefeito é mesmo o Arqueiro Verde, não encontro outra explicação, mas ao chegarmos ela estaciona diante da casa gigantesca de cercas brancas, com balanço na varanda e um celeiro aos fundos.

Quatro pessoas passam pelas portas para nos receber enquanto saiamos do carro. Reconheço a primeira de imediato, Bruce Wayne. Vivi em Gotham e conheço o playboy da cidade, o Wayne com todos os filhos adotivos que parecem super modelos é o equivalente as Kardashians naquele lugar, só então me dou conta de que Jason foi criado por esse cara. Não que não soubesse antes, mas seu jeito é tão arredio que não deixou minha mente fazer a ligação de fato. Ao seu lado estava dois de seus outros filhos, o mais novo, o único biológico e o que acredito ser o mais velho de todos, era outra celebridade local. Mas com essa aparência fica dificil não atrair uma penca de tietes. Por ultimo uma mulher bonita de cabelos escuros ondulados e um rosto sem expressão.

—Tudo explodiu – Felicity que ainda mantém a cria ao alcance de suas mãos, como uma felina pronta para o atacar, anda na direção dos outros. – O FBI praticamente a ignorou.

—Não ignoraram, mas acreditam que vocês estão mortos – Bruce desligava um telefone, voltando sua atenção para nós. Troca o mesmo tipo de olhar com Felicity que Thea havia trocado no carro, então volta a falar. – Eles apareceram para ajudar, a boa noticia é que acreditaram que seu marido está limpo quando o viram sendo salvo pelo Arqueiro Verde.

—Dias assassinou diversas pessoas e ainda não é nem meio dia, Bruce – Smoak pragueja.

Eles começam a entrar na casa e só os sigo em silencio. Havia uma sala bonita com lareira e três grandes sofás de couro marrons, com mantas xadrez pendendo na lateral e almofadas coloridas. O lugar era ainda mais bonito por dentro, acima da lareira vejo a pintura de um casal, o homem tem o semblante sério, mas os olhos são bondosos e seu sorriso doce, a mulher era linda, muito parecida com o Wayne, seu sorriso era do tipo que iluminava todo o local.

—Pode se sentar, fique à vontade – o filho mais velho me indica um dos sofás, mas não sei se consigo mover minhas pernas.

Todas as pessoas com as quais convivia nesse ultimo mês foram assassinadas, e provavelmente não vão ter se quer corpos para um velório decente. Afasto meus cabelos do rosto abrindo o primeiro botão do meu uniforme, me sentindo sufocada. Odiava os policiais, fato. Todos estavam trabalhando para o Dias, mas existiam funcionários da equipe de limpeza, as garotas da administração e o velho zelador Mateo. Ele se aposentaria no final do ano, isso é absurdo.

—Hum, gente – uma parte da minha mente capta a voz bonita do filho mais velho do Wayne ao meu lado. – Acho que a garota de vocês está em choque.

Mateo era avô, tinha esposa e sete filhas. Sempre me contava histórias sobre suas netas, brincando com o fato de sua família só gerar mulheres encrenqueiras. Meu Deus, elas perderam o pai, avô, alguém vai ter que enterrar o caixão vazio em memória do marido, com sorte podem conseguir uma arcada dentária para colocar dentro, talvez um fêmur. Foi assim com minha mãe, é o que acontece quando se explode pelos ares. Meu pai também teve um caixão fechado com uma foto ridícula dele apoiada na madeira escura. Jim Harper não era do tipo que se deixava fotografar, então precisávamos o pegar de surpresa, o que nunca é uma boa opção, o que nos fez escolher sua foto dos registros dos bombeiros, mas estava com um olho roxo e os lábios inchados, outra coisa que dificultava muito sua aparência nessas ocasiões.

—Bobby? – Thea para a minha frente e segura meus ombros. – Bobby?

—Quase morri como minha mãe – sussurro com o olhar desfocado. – Também não teria um tumulo, e com Roy tecnicamente morto, não teria ninguém para me enterrar.

—Você está bem, está segura agora – ela diz com cuidado, afastando meus cabelos com gentileza. – Acha que pode lidar com isso?

—Não tenho escolha – respiro fundo tentando me recompor. – Acho que nunca tive.

—Eles chegaram! – o garoto mais novo diz, e escuto motores altos do lado de fora da propriedade.

—Ela vai dar conta? – o filho mais velho pergunta a Thea.

—Bobby é durona – soa quase ofendida por ele ter colocado minha coragem em debate.

O barulho de passos se torna mais forte, demoro um pouco para conseguir olhar em direção a porta, mas a primeira pessoa que vejo passar por ela é um homem negro, que parece mais um guarda roupas humano, segurando uma espécie de capacete, um dos vigilantes de Star City, acho que o nome é Espartano. Me recuso a encarar seu rosto, direcionando meus olhos para seus pés. Depois o prefeito é carregado porta a dentro pelo Arqueiro Verde e quem eu acredito ser meu primo, por ultimo uma mulher com roupa de couro e olheira de gato passa pela porta. Ela é outra que é bem famosa em Gotham, Selina Kyle, ex ladra que passou a integrar os morcegos. Ah puta merda!

Olho em volta e tudo parece tão obvio que sinto vontade de me socar por não ter feito a ligação. Bom, em minha defesa, tudo o que mais queria era não dar um rosto a nenhum deles, não queria os ver como pessoas, ou não poderia esperar que salvem a todos sem se importar com as próprias vidas, mas qual o meu problema? Um pai vigilante, um primo e agora o primeiro cara que me interessei... Não, não! Ele é bonito, só isso, não é interesse.

—Acho que ela acabou de fazer a ligação – o filho mais novo diz com voz de tédio, preciso me lembrar dos nomes deles, merda.

—Ela está bem? – escuto a voz de Roy mais perto agora, e pela minha visão periférica vejo os Queens abraçando o prefeito que foi colocado em um dos sofás, fizeram um belo estrago no cara, mal consigo distinguir suas feições.

—Sim, só precisa de um tempo – Thea murmura, mas eu ainda mantinha meus olhos baixos.

—Bobby? – Roy me chama, tocando meu rosto com cuidado. – Sei que não quer saber, mas preciso proteger você, então não tenho outra alternativa se não te deixar a par de tudo, já que decidiu de alguma forma seguir os passos do seu pai.

Levanto meus olhos lentamente e vejo o rosto tão parecido com o do meu pai, Roy fica ainda mais semelhante ao me encarar com toda essa preocupação. Ele afasta meus cabelos como se confirmasse que não estava machucada. Meu celular pesa em meu bolso e me lembro do que estava fazendo antes de tudo explodir diante dos meus olhos.

—Não consegui isso por meios legais, então não tem validade em um tribunal, mas já seria o bastante para desacreditar o departamento de polícia – procuro a gravação e entrego o telefone para ele.

Eles escutam a conversa, nem um som é feito por nenhum de nós enquanto o comissário confirma o valor da propina para a operação em andamento que incriminaria o prefeito. Felicity Smoak se levanta do lado do marido e vem em minha direção me dando um abraço apertado que chega a ser doloroso.

—Obrigada, obrigada! – murmura baixinho enquanto me esmaga entre seus braços finos e incrivelmente fortes.

—Isso pode funcionar – Wayne quase parece animado, mas não saberia dizer ele é bem diferente pessoalmente do que costumava ver nos noticiários. – Claro, se ela estiver disposta a cooperar.

—Bobs, levanta o rosto – reconheço a voz de imediato e congelo me recusando a olhar na direção de onde ela vinha. – Já sabe que sou eu, por que não encara isso de uma vez?

—Bobby? – Roy é mais delicado, posso ver o uniforme verde em alguém bem mais alto que estava parado atrás do meu primo. – Sei que sabe guardar segredo.

—Sei, mas agora me sinto um lixo por esperar qualquer coisa do Arqueiro Verde – bufo com tristeza e finalmente olho na direção do Jason que tinha os braços cruzados sobre o peito e os olhos presos ao meu rosto. Merda, acho que estou mesmo a fim desse cara. – Pensei que estivesse no meio de uma briga de bar.

—É um jeito de interpretar o que acontecia – dá de ombros, como quem conta que foi a padaria comprar pão. – Você está bem? – agora o tom é sério, seu semblante quase sempre ameaçador se ameniza enquanto espera por uma resposta.

—Estou viva, é mais do que meus colegas de trabalho – é minha vez de dar de ombros.

—Legal, depois os dois podem resolver esse... Isso... – nos estuda de um jeito quase engraçado. – Bem, isso aí que vocês têm – o filho mais velho do Wayne diz nos olhando com ar de quem está chocado. Sinto meu rosto queimar e pela primeira vez vejo Todd parecer envergonhado, ele desvia os olhos dos meus como quem é pego no flagra.

—E você é? – Thea se vira para o filho adotivo do Wayne.

—Dick Grayson, nós conhecemos em Arkham e acho que estava presente quando nós ligamos semana passada – responde e por algum motivo ele passa certa tranquilidade ao falar, o rosto de Thea se acende como quem tem uma epifania. – Esse é Damian, Nissa é tia dele – aponta para a mulher bonita que nos recebeu.

—Nissa titia – sorri para a mulher que tenta não retribuir, mas acaba esboçando o mínimo sorriso por reflexo. – Combina com você – pisca para a outra parando ao seu lado.

—O que vamos fazer agora? – Selina Kyle corta o papo furado, andando até estar entre Jason e o Sr. Wayne. – A garota parece estar lidando bem, aposto que pode levar o plano a diante.

—É uma escolha dela – Sr. Wayne acrescenta com sua voz grave.

Percebo o que o Espartano estava tratando dos ferimentos do prefeito, que agora estava sem camisa no sofá. Desvio meus olhos por respeito, mas no meio disso acabo me focando em Todd que também me encarava. Ele é lindo, muito bonito mesmo, apesar do lance ameaçador e a vibe meio psicótica que agora passou a fazer todo sentido do mundo. Mais alto que o Grayson, poca coisa, mais é. Os dois, lado a lado é como ver um anjo ao lado de um anjo caído, Jason com certeza é o caído.

—Qual o plano? – pergunto ainda com meus olhos nele, vejo um sorriso de lado que a algumas semanas me faria ter vontade de encolher de medo, aparecer em seu rosto.

—Você vai ir ao FBI – Felicity me estende um tablet, a voz um pouquinho animada demais para a situação. – Podemos acabar com esse filho... – ela se interrompe no meio do palavrão, desviando os olhos para seu garotinho que estava abaixado segurando a mão do pai enquanto o Espartano cuidava dele. – Vocês entenderam – bufa.

—Estou dentro – suspiro conformada, encarando o dossiê na tela do aparelho.

—Disse que ela é durona – escuto a voz de Jason com uma pitada de orgulho.