Seven

Megan esta por fim olhando para a janela no seu quarto de hotel, devido aos últimos momentos vividos, tudo passou feito um sopro. À noite a cidade vivia, ela não para, tudo parecia estar no lugar. Só parecia. Pegou seu maço de cigarros e tirou um, em vez de fumar ficou encarando-o com atenção.

:- Você não deveria fazer isso! – Ele falou sentado em cima de uma das mesas do quarto, um lugar inusitado para se sentar. Ela deixou de olhar o cigarro e o encarou, assim como ela tinha uma aparência tão cansada.

:- Não é você quem me diz o que eu tenho que fazer. – Ela foi ríspida, tentando se camuflar, mas o alívio de estarem os dois ali sozinhos era palpável para ambos. – Eu poderia agora estar num cativeiro, sabe se lá onde, sozinha! Durante sabe-se lá quanto tempo.

:- Isso não é verdade, Megan. Sua família não deixaria isso perdurar por muito tempo, Jonas não permitiria isso. Eu não permitiria. Megan estranhou ele começar a falar de si com relação aos dois por isso resolveu focar em outro ponto do que lhe foi dito.

:- Dad? Você realmente quer falar dele? Eu quase fui sequestrada hoje Davi, e ele sequer apareceu. Depois de tudo de resolver as questões burocráticas da prisão dos bandidos, ele não falou comigo apenas com você.

Davi suspirando se levantou e foi até ela, desacreditando nas suas palavras, só poderia ser uma forma dela tentar afastar ele agindo dessa forma.

:- Como já sabe ele esta na Espanha com a Verônica e as crianças. Houveram problemas em vários voos por conta do aeroporto esta fechado, e mesmo de longe ele moveu céus e terras para que você estivesse bem, o quanto antes. Se esta nesse quarto de hotel é porque ele te salvou. Para algumas pessoas é complicado expressar o que sentem, ainda mais alguém como Jonas. – Megan ficou o olhando pensando em suas palavras, poderia ele estar falando de si mesmo?

:- Esse é o problema. Eu não estou bem! – Ela desviou o olhar dele e saiu andando pelo quarto o deixando próximo da janela, agora em seu lugar.

Mais um momento de silêncio entre eles desde que ele pediu para entrar e não conseguiu dizer nenhuma palavra. Megan acabou deixando o maço sobre a mesa, como estava de costas não viu que Davi o pegou e tirou os cigarros de lá. Olhou para eles e agora entendeu o porquê dela estar encarando antes mesmo de acender e colocar na boca para fumar. Numa letra pequena de forma tinham algumas mensagens em inglês como “sorry mom”, “i miss you” e outro escrito “I Still Love Him”. E esse ele guardou consigo.

:- O cigarro não vai te fazer ficar melhor, seja lá qual for o conforto que você tenha ao fumar, não vai resolver nada e ainda pode piorar. – Ele a observou se virar para olhá-lo. – Você precisa parar de fugir! De afastar os outros de você. A dor que você carrega precisa ser liberada, você não pode com esse peso. Precisa entender que tem uma família que têm problemas e valores, mas que numa situação difícil eles estarão ali por você. Você conseguiu convencer a todos que estava se recuperando após o luto, que precisaria ficar com Arthur, para seguir em frente.

:- Não. – Ela negou com a cabeça – Se nós estamos afastados não é só minha culpa, no começo eu quis muito me livrar de tudo, eu percebi que estava levando a todos numa espécie de buraco negro. Ás vezes quando perguntamos “Tudo bem?” não queremos realmente saber a resposta, gostamos de quando tudo anda bem para não tenhamos que lidar com o sofrimento. Eu senti que precisava me reerguer, preciso ainda! Mas, isso eu tenho que fazer sozinha. Minhas decisões não me pouparam de passar por decepções por melhores intenções que tivesse.

:- Megan... Podemos te ajudar!

:- Davi, o que você quer de mim? – Megan queria entender o porquê dele estar aqui. - Porque logo você está aqui? Depois de tanto tempo, voltando assim pra minha... Life? – Esse diálogo precisava ter um sentido real para ela, queria tanto desvendá-lo.

:- Soube do seu desaparecimento por Pamela que por essa hora esta vindo para o Brasil, ela me pediu para te encontrar, sabia que eu te encontraria. Estou aqui porque quero... - ele ficou quieto pensando nas suas palavras. – Eu quero ser mais compreensivo com você.

:- Não quero sua compreensão. – ela se negou. – Se quer apenas fazer o seu papel de good boy, go away! – Ela apontou para a porta enquanto via ele caminhar até ela.

:- Megan não é isso.

:- Davi eu estou cansada. Eu sei que sou uma bad girl, mas estou cansada eu já fiz muito para provar que sou mais que uma patricinha de Bevery Hills mimada. Eu sou errada! Passei por momentos muito difíceis e cheguei num estágio da dor do luto que ou fazia algo pra voltar ou seria o meu fim. Eu fugi sim, precisava voltar à vida. Me droguei, bebi muito. Só assim voltei a sentir, foi como voltar a respirar depois muito tempo inerte, sem ar. Fui me dar conta que apesar todo o meu esforço eu nunca vou deixar de amar você. – Ela disse explícita o que guardava ali dentro do coração.

Uma fina lágrima caía dando uma falsa sensação de fragilidade, entretanto era Megan quem estava falando, tinha uma dureza ao mesmo tempo como se a cada palavra dita voltasse à garota decidida que sabia o que queria e conquistaria, que ele conheceu há alguns anos. Davi estava completamente calado com a revelação que tinha escutado, o coração batia com violência contra o peito, diante da falta de palavras dele ela voltou a falar.

:- Como você queria que eu convivesse com você diante disso? Como ir a jantares? Festas? Viagens? Almoços em família? Eu não sei ser hipócrita. Era melhor não ver que você tinha escolhido a nerdestina e estava feliz, depois de tudo o que vivemos, eu não fui suficiente. Eu me entreguei a você de corpo e alma! E ainda assim não foi suficiente. Precisava continuar o caminho no qual eu decidi seguir, estava com Arthur. Porém, as coisas não deram certo, eu fui traída. Emocionalmente, literalmente eu tinha que fugir, entende? Eu vim pra cá. E em algum momento do tempo que estava aqui eu queria, eu desejava viver isso agora. – ela mordeu o lábio se lembrando – Eu te queria aqui comigo. Mas, não o Davi babaca que não me enxergava e só tinha olhos pra Manuela, eu queria o outro Davi que era apaixonado por mim. Tal como sou. – Ela soltou um riso triste. – Então eu comecei a dar pistas.

:- Como assim? – Questionou Davi.

:- Você e meu dad só me encontraram porque que quis que isso acontecesse. – ela deu um sorriso fechado, esnobe. Isso, aquela era a Megan que ele passava a reconhecer cada vez mais. – Eu passei anos e anos vendo meu dad dirigir a Marra, eu vi você participar do concurso Geração Brasil, vocês amantes da tecnologia, por mais que parecesse desinteressada eu aprendi muito. Só quando quis que você me encontrasse, porque eu sabia que de alguma forma você me acharia, passei a usar cartões de crédito, voltei a usar minhas roupas, minha maquiagem forte, a sair a mais lugares se deixar filmar por câmeras de lojas. Ou seja, deixar rastros. – deu os ombros.

Davi deixou brotar um sorriso surpreso e admirado, ela era inteligente, muitos a julgavam mal. Lembrou-se das suas primeiras conversas com Jonas que estava desesperado por não conseguir encontra-la, ela conseguiu fugir de um dos maiores empresários do Brasil que tem a sua disposição diversos recursos. Ao contrário do que pensava, ela não era tão indiferente a ele. Foi complicado encontrá-la, mas tinha conseguido e de agora em diante não a deixaria escapar novamente.

:- Só que você realmente chegou, me encontrou, foi mais rápido do que eu esperava. Mas, ainda esta com Manuela. É uma ilusão minha pensar que veio por outra razão, porque você nunca gostou realmente de mim. Veio fazer o seu papel, cumprir ordens do meu dad, para depois voltar para o Recife, right? – Ela ainda tinha esperança, dava pra ver além de suas palavras, como no olhar borrado de maquiagem.

:- Megan eu realmente amo computadores, aplicativos, programas, a internet. Eu sempre acreditei que daria um novo propósito as pessoas carentes através do meu talento. Eu sou um nerd! E agora estou à frente da Marra, trabalho muito. Eu me perco no tato, em expressar o que eu sinto, é mais fácil me esconder atrás de uma tela de celular, digitar em vez de falar protegido por uma tela de vidro. Só que deixando o homem de lata de lado, eu sou apenas um homem que sente. E muito. – Ele passou as mãos no rosto porque tinha toda a atenção dela voltada para ele, porque os olhos dela estavam muito expressivos poderia passar horas os olhando, sentia o corpo vibrar como há muito não sentia. – Eu sinto pela nossa história tenha acabado como foi; eu sinto muito que você tenha passado pela dor, pelo sofrimento, por decepções; eu sinto porque apesar de tudo eu te esperava em cada jantar, cada almoço de família e me frustrava ao ver que não estava. Que me evitava ao máximo. Eu sinto por ser um babaca com você! Mas, eu precisava viver o meu amor por Manuela. A nossa história é bonita.

:- Davi. – Megan o interrompeu, não queria ouvir aquilo.

:- Me escuta, me deixa terminar. – ele segurou em seus braços e ela percebeu o quanto as mãos dele estavam geladas. – Ela é bonita por ter um começo, um meio e recentemente um fim. – Megan tomou um susto com o que ele disse e passou a respirar mais rapidamente tentando controlar seus pensamentos e impulsos. – Eu amei Manuela, assim como ela do seu jeito torto, mas acabou. E eu me vi perdido por que eu não sabia qual rumo seguir. Justamente nesse momento recebi uma chamada de vídeo de Jonas me dizendo o que aconteceu, como encontraram Arthur e que você tinha desaparecido, antes mesmo de Jonas me pedir qualquer coisa, eu já estava com tudo pronto para ir atrás de você. – ele engoliu saliva - Com desespero e ânsia de te encontrar. Pamela me ligou assim que cheguei ao aeroporto, ela tinha o palpite que você estivesse aqui, mudei minha passagem. Até encontrar Jonatas eu só tinha medo, do que poderia acontecer á você, eu precisava acabar com tudo aquilo que estava sentido. Eu precisava dizer a você tantas coisas. Eu sinto tanto Megan. Eu sinto te desapontar, mas você estava errada em dizer que eu não gostei de você, eu consegui te enxergar sim. Uma garota divertida, que sabe viver a vida impulsivamente, que é maluca pela mãe, que fica linda pensativa ao fazer uma expressão confusa sobre alguma palavra em português, quando escuta música com fones e esquece do mundo a fora, uma garota que faz meu coração agora bater tão forte que parece um ataque cardíaco.

Era então a vez de Megan não saber o que dizer.

:- Há um ano eu queria ter notícias suas, eu não sabia como me aproximar, como não ser rejeitado. Tinha que ser criativo, então eu resolvi fazer algo impulsivo achei que não daria certo, até ter uma resposta.

:- O que você fez? – Megan questionou curiosa.

:- Criei um perfil falso, chamado Golias, ainda que achei que fosse suspeitar pelo nome, decidi ir em frente. Eu era uma espécie de conselheiro, amigo, comentava nas suas fotos, seguia suas notícias, te stalkeava, lhe mandava mensagens. Te defendia de haters. – ele soltou um riso constrangido para depois dar os ombros - Ganhei sua confiança.

:- Oh my God! – ela estava boquiaberta. – Como eu não percebi antes? Você se tornou meu amigo virtual, eu achava que era uma espécie de admirador. Por isso sabia como conversar comigo. Se me contassem isso, eu pensaria ser alguma brincadeira.

:- Juro que é verdade, não minto, se quiser posso lhe mostrar meu celular com o perfil logado. - Ele apalpou um dos bolsos e antes de encontrar seu celular, sentiu o cigarro dela, o pegou e mudou sua expressão para seriedade – Hoje eu tenho muitas possibilidades de aprender como sequer imaginava. Não tenho fluência, mas eu entendi o que aqui está escrito, e o que significa. – mostrou o cigarro. Megan abaixou a cabeça que logo Davi fez questão de levantar com sua mão no queixo. - I still love him - leu em voz alta – eu sou careta, não fumo. Mas, tem algo que eu entendo. – Pegou por fim o celular do bolso de trás do seu jeans e digitou rapidamente algo. –Tenho muito o que aprender da língua inglesa, mas tem uma frase que aprendi desde cedo vendo filmes legendados, porém não sabia o significado até te conhecer realmente. – entregou o celular para Megan que ao ler ficou emocionada.

:- I love you. – Ele disse em voz alta. – Eu sou apaixonado por você, Megan, desde que me conquistou aos poucos por ser turrona. Talvez por isso não tenha dado certo minha relação com Manuela, porque esse sentimento estava intacto aqui dentro, eu estava perdido, até te encontrar.

:- I love you too, so much! – Ela disse antes de beijá-lo com gana. Tão entregue como ela sempre foi com ele, sentido que agora era diferente. Não existia problemas mais. Juntos construiriam um futuro. Em meio ao beijo tão contagiados um pelo o outro, foram parar no meio da cama do quarto. Ofegantes e, sobretudo contentes.

:- Só me deixa te beijar. – ele falava sorrindo enquanto tirava o cabelo loiro do rosto e principalmente da testa dela. – Me aceita de novo em sua vida? Eu prometo que vou me esforçar para não sair dela tão cedo, só velhinho se depender de mim.

Megan deu um sorriso enquanto o abraçava com as pernas para que ele não se afastasse tão cedo e para que eles começassem a se amarem logo. Megan sabia desde menina que as melhores histórias ou começavam ou terminavam com um beijo apaixonado. Sua história com Davi não era nenhum conto de fadas, ela estava bem longe de ser alguma princesa da Disney e ele de ser um príncipe encantado. Ela era a garota má que permaneceria amando o nerd durante muito e muito tempo.

Por isso deu a melhor resposta que sabia dar. Lhe beijou quente e apaixonadamente enquanto lhe puxava os cabelos na busca de algo a mais. Toques. Sussurros. Êxtase. Afinal de contas estava de volta ao seu home.

‘I'm all that you wish for and in nights so cold, combat lover’

Combat Lover

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:- Você não acha que precisamos de uma conversa, Eliza? – Jonatas falou sem rodeios, ansioso. Voltando sua cabeça para o lado e vendo a ruiva.

:- O que? Eu não sei se temos algo que realmente conversar. – Ela falou.

Os dois estavam sentados nos degraus de uma escadaria depois dele a convidar para tomar algum refresco juntos, os dois passaram por momentos tão conturbados que apenas ficar em silêncio e olhando para o céu. Sem estrelas, mas com uma noite de brisa agradável, parecia ser um belo privilégio.

Jonatas ficou a olhando e pensando nos momentos da saída do cinema, tensos. Em como ele apertava a mão dela forte. Juntos tinham passados por poucas e boas e permaneciam ali, um ao lado do outro, não podia ser mais apaixonado pela aquela garota.

:- Você ainda vai ver que eu sou o cara certo para você! – Ele soltou no ar, agora assim como ela voltando a olhar para o céu.

Eliza ficou calada, mas estava impactada pelas palavras dele, tinha muitas vontades, segurar a mão dele, por exemplo, e simplesmente ficar ali. Mas, por estar agora com Arthur isso era errado. Ela abriu a boca para falar, mas os dois foram interrompidos.

:- Eliza? Eliza! Eu estava te procurando por todo o bairro. – Arthur saiu do seu carro vermelho com pressa. Eliza já tinha se levantando assim como o Jonatas decepcionado. – Eu soube do acontecido, deixei a agência nas mãos do Max. – Eles se abraçaram e Jonatas não poderia ficar mais incomodado com a cena que presenciava.

:- Esta tudo bem agora, Arthur. – ela fez questão tranquiliza-lo.

:- Vamos lá para o meu apartamento, você precisa descansar! Depois desse dia turbulento eu vou cuidar de você. – com o braço ele a abraçou por cima dos ombros apertado, como se mostrasse que era sua.

:- Claro. – Eliza estava sem graça, respondeu olhando pra baixo porque se lembrou de ter beijado Jonatas não fazia muito tempo. A situação era constrangedora. – Foi um dia complicado, vai indo para o carro que eu vou me despedir do Jonatas.

:- Certo. – Meio contrariado, Arthur aceitou, olhou de lado com seus olhos azuis e deu um aceno para Jonatas. E então voltou a caminhar para o seu carro.

Eliza caminhava incerta até Jonatas, eles partilharam de um momento bonito juntos, se um fato tivesse dado errado no plano de antes, poderiam estar presos ou machucados, tinha que dar valor aos fatos mais simples. Ela lhe abraçou bem apertado e demorado.

:- Obrigada por este momento. – ele soltou um suspiro com as palavras dela – Você é o meu sapo. – Lhe sussurrou na orelha para então se afastar.

Foi caminhando para o carro de Arthur, sentou ao seu lado, e não voltou a olhar mais para o Jonatas. Mesmo depois do carro ter saído há alguns segundos e para então ele abrir um sorriso grande, o que ela lhe disse podia ter muito significado.

:- Você ainda vai ver que eu sou o cara certo para você! – repetiu num sussurro, quase rezando para que as suas palavras chegassem até ela.

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