Megan de alguma maneira estava reconhecendo por onde passaram, ainda que fosse o centro da cidade e que este tivesse algumas ruas bem parecidas umas com as outras. Algo lhe parecia familiar, deve ter passado por aqui quando tudo o que queria fazer era caminhar, somente caminhar para longe de seus fantasmas e problemas. Além de tudo, estava com uma estranha sensação de ser seguida, essa sua espécie de sexto sentido que costumava não falhar. Já não se surpreendia quando antigamente saia em manchetes sensacionalistas uma voz dentro de si lhe dizia quando haviam paparazzi atrás dela, seguindo seus passos esperando qualquer deslize.

Todavia, essa era uma sensação diferente que ela não sabia explicar, deu uma olhada para os lados buscando por algo que nem sabia o que era. Eliza não percebeu o momento tenso que Megan estava, tanto que ela parou e a loira ainda estava desconfiada.

:- O que foi? – Eliza encarou a loira esperando que ela comentasse algo já que estavam paradas tinham alguns segundos e nem trocarem nenhuma palavra.

:- Nada. – Megan negou com a cabeça, tentando esquecer aquela bobagem não estavam sendo seguidas, não seria encontrada tão rapidamente então tratou de acalmar seu coração e deixar de dar ouvidos para ele. – Então chegamos?

:- Sim, este é o lugar. Esta pior de quando eu vivia aqui porque houve um incêndio. Ainda assim quero que conheça. – Eliza foi à frente e entrou por um lugar que mais parecia um buraco do que uma entrada.

:- Se fosse alguns anos atrás eu faria uma careta e não entraria aqui nem com muita insistência ou acharia este lugar alternativo e misterioso, tinha um lugar assim na pré-adolescência ia com o pessoal do colégio. – Megan foi falando enquanto acompanhava Eliza.

:- Sério? Onde ficava esse lugar?

:- Era uma pequena ilha. – Megan deu os ombros sem se importar muito com o olhar assustado de Eliza.

Passada a surpresa com a naturalidade na qual Megan falou de sua vida, Eliza pensou em como as duas eram diferentes, financeiramente falando, mas havia algo que as igualavam. A confusão de sentimentos, o começo da vida adulta pode ser complicada onde ás vezes o que se tem é a saudade de ter menos idade e responsabilidade. Algo a ligava a Megan, porque independente da vida diferente que elas tinham, ambas passaram por sofrimentos, o que ela mais queria era ajudar Megan a encontrar um novo recomeço, lhe dando confiança assim como quando Jonatas fez com ela.

Queria tirar o medo e no lugar dar conforto de que ela não estava sozinha, tinha alguém ao seu lado.

:- Quando eu cheguei no Rio de Janeiro após minha fuga de Campo Claro, estava assustada, era a primeira vez nessa cidade que além de maravilhosa também tem seu lado feio. – Eliza começou a falar enquanto via Megan observando o que restou do velho cinema abandonado. – A primeira pessoa que me estendeu a mão foi o Jonatas. – Megan deixou de olhar as paredes negras e encarou a ruiva vendo a expressão dela mudar, depois voltou a observar o que era o seu lar não queria que ela parasse de falar porque agora era o momento dela de se abrir. – Apesar de eu não uma das pessoas mais amigáveis dessa Terra, ele soube como me conquistar, me deu este lugar, me ensinou a vender flores, dividiu seu tempo entre me ajudar e seu trabalho. Pode não parecer talvez você não entenda como este lugar foi importante pra mim.

Era Eliza que agora caminhava olhando o velho cinema como se tivesse com sua memória viva, alguns dos momentos que ela passou ali. Estava nostálgica e também triste por ver como estava o local.

:- Aqui foi o meu recomeço. E fico triste de ver como esta agora. – Eliza deu uma pausa olhando para o lugar onde estavam empilhado alguns filmes antigos dos quais ela passou horas assistindo com Jonatas. – Aqui eu consegui me reerguer e esquece um lado ruim do meu passado.

:- O que aconteceu de ruim para você ter que fugir de casa e deixar sua família? – Megan olhava para Eliza assim como há horas atrás a ruiva fazia o mesmo, em seu quarto de hotel.

Eliza virou de perfil, por mais que não quisesse falar sobre esse assunto, sabia no fundo que Megan precisava saber. Aquele era o seu voto de confiança.

:- Quando eu era criança e minha mãe me apresentou meu padrasto, não imaginava o pesadelo que estava por vir. Ele era um cara legal comigo, até demais, conforme fui crescendo e entendendo que havia maldade nele. No olhar. Nas intenções. No jeito dele comigo... – Eliza ficou em silêncio olhando para cima por uma fresta de luz do sol que entrava no cinema e iluminava a poeira em excesso do chão. – Havia maldade no toque dele. – Eliza engoliu saliva com uma careta de nojo, e saiu uma lágrima fina de alívio também. – Eu fugi porque a situação ficou tão insustentável que ele tentou me atacar e num momento de defesa fiz com que ele batesse a cabeça, tinha muito sangue eu estava num estado de desespero. Com a ajuda da minha mãe sai de Campo Claro e vim parar aqui com a promessa que um dia juntos com os meus irmãos a tiraria daquele lugar para longe daquele homem nojento e doente. Naquele momento Megan eu senti medo, quando sai de lá, quando eu cheguei aqui, mas assim que conheci o Jonatas meu medo ficou pequeno porque eu o tinha do meu lado.

:- O que quer dizer? Que se eu tiver o Jonatas do meu lado meu medo vai embora? – Megan levantou uma das sobrancelhas num tom sarcástico e Eliza soltou um riso porque trazer ela aqui foi uma excelente decisão.

Ela caminhou até onde Megan estava sentada numa das poucas cadeiras daquele lugar que não só sobreviveu ao incêndio como ainda estava firme.

:- Quero dizer que você me tem ao seu lado para te ajudar. – Ela disse agachada em sua frente e com a mão em cima da garota americana. Megan colocou a outra mão em cima da Eliza.

:- Thanks! – O olhar dela foi expressivo, perto do que Eliza poderia definir como profundo. Desde a primeira vez que a viu, sentiu isso, ela estava sendo agradecida. – My friend. – Megan completou com um sorriso de canto para a sua nova, especial e inusitada amiga. – Podemos fazer um novo trato?

:- Qual? – Eliza estava curiosa.

:- Temos que dar um novo rumo para nossa vida, decidir um rumo que só nos leva a algo muito feliz. Porque eu sei que aí dentro existe um dilema – Megan pincelou o nariz de Eliza que só riu como resposta positiva as palavras dela.

O clima bem-humorado entre as duas foi cortado quando elas escutaram um barulho estranho. Imediatamente Megan se levantou e ficou em alerta junto a Eliza, o olhar de ambas era de confusão, só que elas não estavam preparadas para o que viria. Olhando pelo mesmo caminho escuro que elas vieram surgiram sombras e delas surgiu à presença de dois rapazes, não por acaso, os corações das duas tremeram por motivos diferentes, sobretudo surpresa.

Então se fez um silêncio incomodo para todos.

:- Quem é esse Jonatas? – Eliza foi a primeira a se pronunciar indecisa se estava nervosa ou irritada pela presença dele e ainda mais acompanhado. De alguma maneira tinha uma parcela de ciúmes porque aquele era um lugar dos dois, ainda que se fosse pensar ela também tinha feito o mesmo com Megan. Antes de Jonatas lhe responder Megan se adiantou dando um passo para trás chamando a atenção de todos.

:- Davi! – Ela não conseguia falar mais nada, assim como ele que estava sem reação ao ver ela. Eles não se viam depois de tanto tempo mesmo estando na mesma família.

:- Megan. – Ele respondeu aliviado por fim encontra-la. Os dois pareciam estar num mundo só deles e nada ao redor não existiam parecia que uma força os atraiam.

:- Eu o conheci hoje de manhã, tudo aconteceu muito rápido ele parecia um maluco andando olhando pra cima, para os lados, quando lhe ofereci ajuda. Me explicou sua história. Eu tinha que ajuda-lo a encontrá-la. – Jonatas finalmente respondeu Eliza. – Eu conheço muito bem a cidade, andamos muito buscando pistas atrás dela.

:- Eu precisava te encontrar! – Davi disse ainda encarando Megan que parecia fazer perguntas com o olhar. Ele deu um passo para frente em sua direção e isso a fez despertar de um transe ao que parece, porque deu outro na direção contrária dele.

Davi assim como Jonatas ficaram sem entender a atitude de Megan, mas Eliza olhando para todos passou a perceber que aquele não seria o momento ideal para ela rever Davi.

:- Megan? – Davi deu mais alguns passos em sua direção.

:- Stop Davi, fique onde esta. – Megan indicou o lugar onde ele estava para que não se aproximasse. Ainda assim confusa. – Você usou uma das suas invenções para me rastrear? O que acha que eu sou um bicho de estimação seu? – Ela usava um tom irritado.

Agora Eliza ficou confusa sem entender o que acontecia. Jonatas indeciso olhava para a cena agora entendeu como depois de tanto tempo tentando, encontraram a muito rápido. Quando encontrou Davi ele parecia a primeiro instante perdido, depois que se aproximou viu que ele na verdade olhava muito para o céu e depois para vídeo game portátil, pensou que seria só um amante de jogos com realidade aumentada. Mas, ao se dar conta que algo estava errado resolveu se aproximar.

Davi tinha uma aparência cansada, olheiras, roupas amassadas, suado parecia ter corrido uma maratona. Jonatas primeiro o levou a uma padaria para comer algo, e então com jeito conseguiu fazer com que ele se abrisse. Não tinha entendido como aquela câmera maluca bem parecida com um helicóptero de criança era na verdade como ele procurava por Megan no Rio. Quando se ofereceu para ser seu guia, não estavam tendo bons resultados e isso a cada vez frustrava mais a Davi, até que ele resolveu tentar anima-lo e distrai-lo, ele tinha que ajudar a encontrar ao perceber o quanto era importante para afinal mesmo sem dar muitos detalhes de sua vida Davi queria consertar um erro se isso resultaria na sua felicidade por que não ajudar?

Passaram horas pelo bairro da Gambiarra até que de repente o celular de Davi começa a apitar por conta de um aplicativo, não entendeu muito bem, até chegar num tempo recorde aqui, no seu antigo lar.

:- Ele conseguiu rastrear ela por conta um anel, algo assim. – Jonatas explicou o que tinha entendido por Davi. Eles buscavam pistas de Megan.

A jovem americana por sua vez, abriu a pequena bolsa que tinha e lá dentro buscou o tal anel. O encontrou e tirou da bolsa, e ficou o olhando, era prata grande como gostava, eu dad havia lhe presenteado. Só poderia ter sido ele que avisou Davi e por isso ele a rastreou, dad e sua mania de colocar ship em objetos inusitados, ás vezes parecia mais um espião do que um empresário.

Isso explicava a sensação de que estavam a seguindo até aquele cinema abandonado. Mas, ela não entendia a presença de Davi isso era confuso ainda, porque ele deveria estar no Recife com a nerdestina.

:- Não é isso. Quando souberam que você sumiu, todos estão a sua procura, mas foi difícil te achar, tivemos que usar outros métodos. Eu te procuro desde ontem por aqui. O que aconteceu com você?

:- O que te faz achar que eu queria ser encontrada por você Davi?

:- Seus olhos Megan, se pudesse se ver! – O tom dele foi começando a se alterar pela atitude dela.

:- Pois bem, já me encontrou viu que estou bem, pode voltar e dizer a todos não ficarem preocupados e seguirem com a vida deles, melhor, você seguir com sua vida. – Ela falou de forma tão ríspida e indiferente que afetou a ele.

:- Eu não tenho paciência com seus joguinhos. — Davi falou num tom baixo, mas todos ali sentiram a sua raiva em cada palavra. – Pensei que já tivesse passado da fase imatura e garota mimada, mas você não muda não percebe que todos estão preocupados com você. – Ele foi até ela e dizia cada palavra sem filtro, sem paciência.

:- Meça suas palavras comigo Davi, porque você se manteve distante o suficiente da minha vida para que não saiba um terço do que aconteceu durante todo esse tempo. Não me julgue como se fosse o dono da verdade. – ela o encarou de frente e de peito aberto estava tão nervosa que o coração batia fortemente contra seu peito. – Não sabe de nada do que aconteceu para eu ter tomado minha decisão.

:- Então porque você não me conta no caminho. – Ele pegou o braço dela e tentou puxa-la para que eles fossem embora.

:- Não vou sair daqui com você! – Ela se sentou irritada. – Garoto de recados do meu dad.

:- Megan! – Davi exclamou irritado diante da provocação dela e isso fez com que Eliza e Jonatas se manifestassem.

:- Calma, vocês dois precisam se acalmar nesse momento, precisam conversar e não é assim que acontecer. – Jonatas estava já do lado de Davi e colocava uma mão em seu ombro tentando ajudar a voltar a ficar calmo.

:- Isso, não precisam sair daqui agora, não nesse estado de nervos. – Eliza concordou pensando mais em Megan que imediatamente ficou do lado da amiga como se fosse uma fonte de proteção.

Antes que qualquer um pudesse ter alguma reação um estrondo interrompeu o momento trazendo medo à tona novamente, estilhaço de vidro da antiga janela que ficava ao alto do prédio antigo se espalharam pelo chão. Deu uma pausa de alguns segundo e outro estrondo outra janela a que antes Eliza olhava enquanto conversava com Megan, os quatros correram para a direção oposta na busca de alguma proteção, depois disso uma gritaria várias vozes masculinas e passos pesados se fizeram presentes e o então por onde os quatro entraram no cinema.

Entrou um grupo de alguns de jovens, todos armados, olhando na direção dos quatro assim que passado o primeiro momento de surpresa e o último a entrar, estava rindo e escondido. Ele veio à frente tirou o capuz da cabeça e assim seu rosto se fez presente, com a arma na mão direita apontou na direção dos quatro e sorriu antes de falar.

:- Surpresa! Sentiram minha falta?