SOLUÇO

Foi tão bom ouvir de Astrid que ela me ama. Mas agora estou na delegacia, esperando com minha irmã, meu pai, minha mãe, Mario e até Jack que disse que se sente um membro da nossa família.

Meu primo Matias é advogado, ele vai acompanhar Luane durante a confissão.

– Preparada , Luane? Bocão fala. Ele esteve lá em casa essa manhã e nos explicou que o melhor caminho era fazer uma declaração juramentada na delegacia e depois ela poderá ser processada no sistema. Tudo vai depender da promotoria. Bocão pediu para que escrevêssemos cartas testemunhando sua boa conduta e ele vai anexa-las ao processo.

Astrid ficou o tempo todo do meu lado, me apoiando e isso tem sido o que me mantem de pé durante toda essa loucura.

– Estou preparada. Luane tem demonstrado mais força do que acreditei que ela teria. Não está mais usando preto.

– Bom dia, raio de sol. Meu pai falou para ela nessa manhã quando ela desceu. Pensei que nós estaríamos todos cabisbaixos e tristes. Mas temos nos aguentado firmes. Minha mãe ligou ontem à noite dizendo que queria sair da reabilitação e ficar ao nosso lado durante o processo de Luane. Parece que estamos começando a se curar.

Luane segue Bocão e Matias para a sala. Entregamos as cartas e Astrid tira um papel do bolso. – Toma a minha também. Ela olha para Luane. – Sei que não faz por mim, mas obrigada.

Todos abraçamos Luane e tentamos passar força para ela. Até Jack dá um abraço em Luane e logo depois vira para mim e me abraça. – Te devia essa. Diz ele para mim. – Na verdade te devo muito mais do que isso. Você me deu uma família, coisa que não tinha a muito tempo.

– Me perdoa, nunca quis te machucar, é sério. Luane fala agarrada em Astrid

– Você já se desculpou milhões de vezes. Não precisa mais falar. Aconteceu. Acabou.

– Luane. Mario grita.

– Lembre-se do que eu disse. Ele fala e pica para ela.

Ela levanta a cabeça e sorri para ele. Então olha para Bocão e Matias. – Vamos.

ASTRID

Depois de horas de espera e ansiedade, Luane foi liberada com o pagamento de uma fiança. Ela disse que agora se sente livre por assumir a verdade, apesar de que ela inda pode cumprir pena. Só vai depender do promotor do caso.

A mãe do Soluço voltou para casa e agora tudo parece estar entrando nos eixos, com certo cuidado.

Soluço, Mario e Jack estão se mudando para a casa da senhora Reymond no final de semana e eles três vão trabalhar para o tio do Soluço que é dono de uma empresa de construção civil. Soluço me prometeu que vai fazer o supletivo para tirar o diploma e vai colocar sua vida nos eixos.

Na noite anterior a minha partida, saímos para um passeio pelo parque e chegamos ao carvalho. A aflição percorre o corpo por saber que nosso tempo está se esgotando.

– Eu queria que você pudesse vir comigo.

Ele ri gostoso. – Eu também.

Ele se afasta um pouco passa as mãos nos cabelos. Parece nervoso. – Preciso falar algo que está sufocado. Eu estou surtando pela ideia de você estar partindo. Eu sei que posso continuar minha vida sem você, mas eu não quero. Você já faz parte da minha vida e não seria a mesma coisa sem você.

– O que você quer dizer?

– Quero dizer que te amo, Astrid. Tenho sufocado isso a muito tempo. Eu tinha medo de dizer e parecer que estou fazendo chantagem para você não sair com ninguém no Canadá.

– Eu não quero sair com ninguém.

– Isso é o que todas dizem. Até aparecer algum Canadense bonitão e falar umas merdas românticas e deixa-la toda derretida.

– Isso não vai acontecer.

– E se acontecer?

– O mesmo pode acontecer contigo. Quem me garante que você não vai conhecer alguma garota mais bonita e se interessar por ela?

– Isso não vai acontecer.

Ele não quer me forçar a um compromisso e eu quero que ele seja livre por esse ano. Se formos capazes de superar esse período e continuarmos nos amando, seremos felizes para sempre. – Vamos fazer assim. Digo. – Prometemos um ao outro não procurarmos por outra pessoa nesse período, mas se acontecer, aconteceu e seremos honestos um com o outro.

– Combinado, mas dá para parar de falar sobre esse assunto antes que eu resolva tentar te convencer a ficar.

NOVE MESES DEPOIS

Estou desembarcando no aeroporto, ansiosa pela chegada. Soluço não veio me buscar, quem veio foi minha mãe e ela está acompanhada de Tom. Isso é um bom sinal. Ela ainda não está usando a aliança, mas me perguntou o que eu acho de um casamento no inverno. Meu pai esteve me visitando no Canadá. Conversamos e nos entendemos um pouco. Sei que ele nunca vai ser um pai maravilhoso, mas resolvemos nossas diferenças e é isso que importa.

– Teve um bom voo? Tom pergunta.

– Sim. Estou com muita saudade de casa.

Durante o caminho até em casa, enquanto minha mãe me enche de perguntas e fica se preocupando com minha perna, só penso em onde está Soluço.

O último e-mail dele que eu recebi a três semanas, ele me disse que me encontraria assim que eu chegasse em casa. Muitas coisas podem ter acontecido em três semanas.

– Soube alguma noticia do Soluço? Pergunto tentando não parecer desesperada.

– Só hoje à tarde ele esteve lá em casa e pediu para deixar um bilhete.

– Um bilhete? Ele não falou mais nada?

– Não, só pediu para deixar o bilhete na sua cama e foi embora.

Chego em casa, Tom insistiu em entrar com minha bagagem, então fui direto ao meu quarto. Uma aflição toma conta de mim. Um bilhete, o que será que quer dizer isso? Vou até minha cama e pego o envelope escrito com a letra do Soluço. Astrid.

Abro o envelope e pego o papel, respiro fundo e leio.

Lembra do velho Carvalho? Vai para lá e espere por mim.

Corro para o parque e chego ao carvalho, espero por uns dez minutos. Quando já estou prestes a ir embora ele aparece correndo em minha direção.

Ele para na minha frente, sem folego. Está usando uma roupa surrada e suja, parece que não faz a barba a uma semana e seu cabelo está bagunçado.

– Desculpe, estou atrasado. Ele toca meu cabelo. – Está linda, Asty. Você mudou.

– Obrigada. Você também.

Me aproximo e passo meus braços em seu pescoço, sem me importar por estar sendo ousada. – Estou com saudades.

Ele pega em minha cintura e puxa para mais perto. Estou com saudades também, mas preciso fazer uma coisa.

Penso que vamos nos beijar, mas ele pega uma bandana e venda meus olhos. – Eu ia te beijar.

– E vai, só seja paciente.

Não sou paciente

Nesses nove meses no Canadá eu fiquei ainda mais apaixonada por ele. Saí algumas vezes com minha companheira de quarto junto com alguns rapazes, mas nenhum nunca me despertou interesse.

Soluço me coloca vendada dentro de um carro e me leva a algum lugar. Chegando lá ele me tira do carro e vai me conduzindo me segurando pela cintura e então paramos. – Posso tirar agora?

– Não. Sinto ele me pegar no colo. – A última vez que me pegou assim você me afundou na água.

– Confia em mim.

– Confio. Mas preciso ser honesta contigo. Você está fedendo igual um cara suado de academia.

– Eu estava trabalhando. Prometo que assim que eu te mostrar uma coisa eu tomo um banho.

Finalmente ele me põe no chão. – Pode tirar a venda.

Estamos no gazebo. Ele está cheio de almofadas no chão e luzinhas cintilantes nas laterais e o chão coberto de pétalas de rosas brancas e vermelhas.

– Que lindo. Tiro as sandálias e caminho até as almofadas. – Cadê Jack e Mario? Tom tirou a casa do mercado e considera ela um refugio para o Soluço, Mario e Jack. Contanto que eles trabalhem e se mantenham longe de encrencas, eles tem um teto.

– Pedi para eles dormirem fora para ficar a sós com você.

Nós dois a sós. Pensamentos atrevidos passam pela minha cabeça. – Sério?

– Sim. Eu temia que você voltasse e me dissesse que não gostava mais de mim.

– Eu também pensei o mesmo.

– Você viu o bebê de Kendra e Logan? Pergunto. Ele me falou que sai com o Logan e os caras da escola esporadicamente.

– Sim. A criança é linda, mas acho que ela vai cria-la como uma mini diva.

– E o casamento deles?

– Instável, mas eles estão tentando. A última vez que a vi ela quase não falou comigo. Acho que ela finalmente percebeu que entre nós não rola nada.

– Isso é bom.

– Asty, preciso te dizer uma coisa. Ele diz enquanto nos acomodamos nas almofadas.

– Não, deixa eu falar primeiro. Eu estive segurando até agora. Tenho medo de você me maltratar como meu pai. Você tem poder sobre mim. Eu ainda te amo Soluço e ficar longe esse ano não mudou nada.

Soluço fica olhando para todos os cantos. Parece estar procurando as palavras que vai dizer. – Desde que ficamos presos no sótão eu tenho a sensação de que estive perdendo a oportunidade de conhecer uma garota que se preocupava comigo de verdade e não preocupada só com aparência. Fui um cego.

– E quando eu for para a faculdade?

– Vou te visitar sempre que der. Quero tanto te beijar, mas primeiro preciso de um banho. Espere aqui e não se mexa. É rápido.

Penso em tudo isso que está acontecendo. Eu acho maravilhoso estar em casa e ter o Soluço. Ele tem trabalhado bastante e está economizando para a faculdade. Sei que ele consegue.

Dez minutos depois ele volta limpo e cheiroso. Parece mais musculoso que da última vez, talvez devido ao trabalho na obra.

Noto seu olhar intenso sobre mim. Antes eu achava que o único jeito de receber um olhar desses dele seria se eu estivesse sonhando ou se ele quisesse me manipular. Não sei bem desde quando eu passei a acreditar nesse olhar. Acho que foi quando Kendra ficou até tarde na casa dele e no dia seguinte ele me pediu para confiar nele e depois me pediu em namoro.

– No que está pensando?

– Em você.

– Espero que bem.

Estou ansiosa para beija-lo e agora nem me importo de beija-lo suado e fedendo. Chamo-o para se sentar ao meu lado, mas ele estende sua mão para me levantar.

– Tenho uma surpresa.

Ele me entrega um controle remoto e me leva até atrás da garagem. Ele sussurra.

– Aperte o botão. Ao faze-lo eu vejo que luzes revelam o contorno de um castelo. Soluço construiu uma versão maior daquele castelo do parquinho infantil.

– Você fez um castelo? Ele pega minha mão e me conduz para dentro do castelo. Há mais pétalas sobre o chão de madeira cercando um monte de travesseiros e cobertores.

– Foi você que fez?

– Jack e Mario me ajudaram, mas eu que desenhei.

Soluço se ajoelha em minha frente me fazendo tremer. – Olha, foi muito difícil aqui sem você. Eu pensei que não aguentaria. Tudo o que eu fazia ou via lembrava você.

Passo minha mão em seu rosto. – Você acha que nós daremos certo, Soluço? Acha que nosso amor vai durar?

– Nós passamos por muitas coisas difíceis. E superamos. Eu te amo Astrid Hofferson e sempre vou te amar.

Nos deitamos sobre os travesseiros e nos beijamos. Eu sinto que o meu mundo está completo agora. Estar com o Soluço é a coisa mais certa que fiz em minha vida.

Suas mãos percorrem meu corpo de uma forma delicada fazendo- me arrepiar. Ele beija meu pescoço deixando algumas mordidas bem delicadas. Isso é tão bom que eu quase não aguento esperar. Não perco tempo e retiro sua camisa olhando cada detalhe de seu abdômen e deixando uma trilha de beijos nem um pouco suaves. Soluço geme de uma que me instiga a ir muito além. Tenho uma pequena surpresinha para ele. No Canadá minha colega de quarto e eu andamos fazendo umas comprinhas e passamos em um loja de roupas intimas e resolvi comprar uma que o agradasse. Não poderia decepcionar logo na primeira vez. Comprei um sutiã meia taça de renda preto com uns bordados vermelho, a calcinha bem pequena toda de renda preta com delicado lacinho vermelho. Ele tira minha blusa e fica ohando como se não acreditasse.

– Renda preta é golpe baixo, Asty.

– Isso porque você não viu a calcinha. Digo no seu ouvido o fazendo arrepiar.

Entre beijos, caricias e muitas outras coisas, chegamos ao nosso ápice exaustos. Dormi encaixada em seu corpo e como eu amo isso.

QUATRO ANOS DEPOIS

Muita coisa mudou nesses quatro anos. Minha mãe se casou com Tom no inverno daquele ano. O meu pai também acabou se casando de novo com uma estagiária da empresa. Espero que dessa vez seja para valer. A minha mãe ainda não vai muito com a cara do Soluço, mas aceita nossa relação. Nossas mãe voltaram a ser grandes amigas e isso é ótimo. Minha mãe tem ajudado a Valka a superar. Falando em Valka, ela me aceitou como nora. Ela diz que eu fui a única mulher que conseguiu botar o Soluço na linha. O relacionamento dele com a família melhorou bastante. Depois de alguns rios de lágrimas e muito desabafo de ambas as partes em algumas terapias de família eles se entenderam. Soluço agora almoça todos os domingos na casa dos pais. Luane fez faculdade de moda e abriu uma botique em Berk. Ela e o Mario se casaram à seis meses e compraram uma casinha perto da casa dos pais dela. Ela está grávida de um casal que se chamarão Lara e Luan. Soluço não aceitou bem de inicio, sabe como ele é ciumento. Ele não admiti, mas está babando pelos sobrinhos.

O Jack e a Elsa também se casaram. Eles tiveram um menino lindo. Olhos azuis e loirinho que eles deram o nome de Floyd, ideia do Jack. Eles fizeram uma aposta, Elsa apostou que era uma menina e ele apostou que era um menino. Quem ganhasse escolhia o nome e ele ganhou.

A filha da Heather está com quatro aninhos e é uma gracinha, ela se parece demais com a mãe. O pai saiu da cadeia e não quis assumir e já arrumou outra. A Heather depois acabou namorando um primo da Elsa e se casando com ele que assumiu a menina e ela.

O Felipe e a Bruna vão se casar nesse final de semana e convidaram o Soluço e eu para padrinhos.

Recebo uma mensagem do Soluço.

Me encontre no gazebo às sete horas.

Chego ao gazebo e encontro uma trilha de velas e pétalas de rosas vermelhas. No meio tinha um coração formado de pétalas. Olho para trás e encontro Soluço parado na minha frente com um buquê de flores na mão direita e uma caixinha aveludada vermelha na outra mão. Ele se ajoelha diante de mim. – Astrid, você me deu esperança quando minha vida estava nebulosa. Você transformou em um paraiso uma vida de inferno que eu vivia. Não posso mais dormir nem mais uma noite sem ter você como a última coisa que eu veja. Ele tenta conter as lágrimas que eu já derramo rios. – Astrid, aceita ser minha mulher?

– Sim. Você também é tudo para mim.

– O que você acha de nos casarmos daqui a seis semanas aqui mesmo no gazebo?

– Seria perfeito. Mas agora sou eu que tenho uma surpresa para você.

– É, e o que é?

– Lembra daquela noite a três semanas quando nos empolgamos demais e a cmisinha estourou?

– Sim. Por que?

Mostro um teste de gravidez que fiz essa tarde. – Estou grávida.

Ele me abraça e sinto que ele está tremendo. – Admito que foi inesperado, mas vou amar esse bebê tanto quanto te amo, minha linda.

Passaram-se seis semanas e que correria, as nossas mães fizeram questão de organizar tudo. Não tive paciência para essas coisas. O mais importante para mim era ser esposa do Soluço. Só me preocupei mesmo com o vestido. Escolhi um vestido que fosse confortável devido a gravidez que já começa a modificar meu corpo.

Soluço cuidou da decoração do gazebo e posso dizer que ficou ainda mais lindo que das outras vezes que ele me surpreendeu.

Trocamos nossos votos diante de amigos e parentes e depois viajamos por uma semana.

OITO MESES DEPOIS

Minha barriga está enorme e logo a nossa Ágata nascerá e não há um pai mais babão que o Soluço.

Continuamos nos amando, nossa vida está completa agora com a chegada de nossa filha e sempre lutaremos para seguirmos em frente.

FIM

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.