Naquela semana chovia e fazia muito frio em Paris.

Parecia que aquele céu cinzento havia trazido as recordações que todos estavam querendo esquecer. Fazia dias que Grantaire não aparecia na casa dos Pontmercy. Gavroche dificilmente saia do quarto, Marius estava cabisbaixo relembrando aquela difícil noite em que Eponine quase morreu e Cosette estava quieta lembrando de seu pai adotivo Jean Valjean.

No hospital as coisas não estavam muito diferentes. Enjolras e Eponine continuavam tendo seus terríveis pesadelos.

Certa noite chovia tanto que Eponine acordou assustada pensando que o som do trovão era o som de uma bala e que ela estava de volta na barricada.

-Não!!!!!!!!!-Ela gritou assustada

Enjolras acordou e a olhou surpreso

-Eponine, você esta bem?

Ela olhou para Enjolras, saiu da cama e foi correndo para o leito dele o abraçando

-Enjolras será que um dia isso vai acabar?!-Disse ela sentindo uma lagrima descendo em seu rosto

-Eu não sei-Disse Enjolras sério a abraçando fortemente.

==============================================

No dia seguinte Marius acordou com o som insistente da campainha

-Quem será essa hora?-Perguntou Cosette sonolenta

-Vamos descobrir amor-Disse Marius se inclinando e dando um beijo em Cosette

Marius se levantou, vestiu seu robe, desceu as escadas e abriu a porta.

-Vovô-Ele exclamou sorridente e dando um abraço em seu vô

-Faz dias que você e a senhora Cosette não aparecem em casa, aconteceu alguma coisa?-Disse o senhor Gillenormand entrando na sala de estar e se sentando no sofá.

-Na verdade aconteceu, lembra da ultima vez que nos encontramos e eu falei para o senhor do menino Gavroche?

-O garoto que esteve na barricada com você?-Perguntou o senhor Gillenormand intrigado

-Sim ele mesmo, ele já recebeu alta e esta aqui, em minha casa.

Gillenormand ficou sério e perguntou:

-A irmã dele ainda esta viva?

-Sim vovô, ela acordou junto com o Enjolras. Os dois já estão fora de perigo

-Enjolras, não foi ele que começou com essa bagunça toda. Não suporto aquele garoto. Onde já se viu desonrar uma família prestigiada como a dele e deixar os amigos morrerem por causa de um capricho .

-Vovô por favor, ele é um dos meus únicos amigos sobreviventes

-Que seja

Nesse momento Cosette desceu as escadas com seu vestido de seda branco indo ao encontro de Marius e do Sr Gillenormand

-Bonjour Monsieur

-Bonjour meu anjo-Respondeu o avo de Marius beijando a mão de Cosette

-O senhor vai nos acompanhar no café da manha?

-Se não for muito incomodo

Cosette sorriu e respondeu:

-É sempre um prazer para nós termos sua companhia, espere um instante. Verei com as empregadas se já esta tudo preparado.

-Como quiser senhora

Cosette saiu e foi em direção a cozinha deixando Marius e seu avo sozinhos novamente.

-Vovô por favor não vamos falar mais nesse assunto, principalmente quando o Gavroche estiver perto, esta bem?

-Claro meu filho, mas afinal onde esta esse garoto?

-Provavelmente ainda dormindo. Você acredita que o pobrezinho nunca teve nada. Ele chorou quando mostramos o quarto dele,disse que era o primeiro quarto que ele já teve na vida.

-Mas onde esta a família desse garoto Marius ?,onde estão os pais dessa criança?

-A mãe morreu e o pai e a irmã foram para a América. Só lhe restou a Eponine. Na verdade ele tem mais dois irmãos pequenos mas um dia eles sumiram e nunca mais foram encontrados. Até hoje não sabemos se as crianças ainda estão vivas.

-Que coisa horrível Marius, pobre dessas crianças. Quando Eponine terá alta do hospital?

-Ainda não sabemos ,os médicos não falaram.- Respondeu Marius- Vovô só um momento que vou acordar o Gavroche para o café. Ele ainda tem pesadelos com a barricada, na verdade todos nós temos. Mas como o Gavroche ainda é uma criança gosto de eu mesmo acorda-lo para que a primeira coisa que ele veja na manha seja um rosto amigo.

-Certo meu filho, pode ir.

Marius subiu as escadas, abriu a porta do quarto de Gavroche e encontrou Gavroche de pé e se arrumando

-Já de pé Vroche?-Disse Marius sorrindo

-É que hoje é dia de ver a Ponine. Grantaire falou que ia me buscar para a gente ver a Ponine e o Enjolras.

-Ué quando você falou com Grantaire?,faz dias que ele não aparece aqui em casa

-Ele me mandou uma carta Marius-Falou Gavroche sorrindo

-Bom, então vamos tomar café e hoje temos uma visita muito especial e que esta louca pra te conhecer

-Quem?

-Meu avô

Gavroche ficou sério

-Calma Gavroche ele vai gostar de você –Disse Marius sorrindo

Os dois desceram as escadas mas encontraram a sala de estar vazia, foi então que eles ouviram risos na sala de jantar.

Marius e Gavroche entraram e encontraram Cosette e o Sr Gillernormand sorrindo

-Gavroche como você esta bonito-Disse Cosette

Gavroche ficou vermelho e sorriu

-Vovô esse é o Gavroche um grande amigo meu

Gillernormand se levantou, foi em direção á Gavroche e estendeu a sua mão para o cumprimentar

-Prazer em conhece-lo

-O prazer é todo meu monsieur-Disse Gavroche educadamente

-Bom chega de apresentações e vamos comer ,antes que o Grantaire apareça e acabe com a comida-Falou Marius alegremente

-Quem é Grantaire?-Questionou Gillernormand

-Eu sou o Grantaire-Disse Grantaire aparecendo na porta e surpreendendo a todos

-Como você entrou?-Marius perguntou

-As suas empregadas já me conhecem, elas me deixaram entrar-Disse Grantaire sorrindo e se sentando na mesa-E aí qual é o rango Cosette?

-Grantaire não sei se você reparou mas temos visita-Disse Marius vermelho

Grantaire olhou para o Senhor Gillernormand e falou com a boca cheia

-Prazer monsieur

Gavroche começou a gargalhar.

====================================================

Eponine penteava os cabelos, ainda com um pouco de esforço mas pelo menos ela já estava conseguindo pentear seus cabelos ondulados sem a ajuda de ninguém. Ela olhou para o Enjolras que estava acordado mas perdido em seus pensamentos. Ela pensou varias vezes se deveria ou não falar com ele. Ela decidiu conversar

-Sabe o que eu tinha vontade antigamente

Enjolras continuou olhando para a parede

-De ler vários livros, assim como o senhor lia no café. Eu sei ler mas leio pouco. Queria mesmo era ler aqueles livros imensos como o senhor.

Enjolras se virou e olhou para ela

-Eu pensei que você nunca tinha reparado em mim no café

-É claro que reparava, adorava seus discursos .Só o achava muito sério. Eu nunca te vi se divertindo como o Grantaire , Courfeyrac e os outros. Sempre que você não estava fazendo seus discursos o senhor estava debruçado em um livro. E eu sempre o invejei por isso-Disse Eponine com um pequeno sorriso

-A minha diversão era outra, era ver o povo francês livre-Disse Enjolras sério.

-Eu sei que isso é importante mas você nunca fez nada que não seja em relação a Pátria?

-Você já fez algo que não seja em relação ao Marius?

Eponine olhou séria para ele e falou:

-Por que você tem sempre que estragar tudo e me deixar confusa?.Uma hora penso que você me odeia outra hora penso que o senhor até tem uma simpatia por mim e que nós poderíamos ser amigos, que tola eu sou.

-Eponine, eu te acho formidável, bom na verdade você é a garota que eu mais conversei na vida. Mas é que eu detesto essa dependência que você tem no Marius. Ontem mesmo eu escutei você chamando o nome dele enquanto você dormia.

Eponine continuou séria e falou:

-O Senhor só fala desse jeito pois nunca amou ninguém

Enjolras olhou incrédulo pra ela e respondeu

-Talvez até tenha amado mas essa pessoa foi muito cega pra perceber.

Enjolras se virou e voltou a olhar para a parede