Lado Obscuro

Capítulo 10 – Teste de Classificação


Quinta-feira – 03 de Fevereiro ~continua

Kentin estava à beira de um colapso nervoso.

Sentado no seu banco de espera há uma hora, ele olhava para todos ao seu redor. Tinha garotos e garotas, todos ansiosos, alguns apreensivos. Inclusive alguns ainda não tinham recolhido o trambolho das costas. Eram muitos novatos para o teste, aproximadamente 30 alunos espremidos em uma sala circular branca tecnologicamente equipada com luzes de LED azuis. Haviam duas portas. A da entrada e a outra que dá para a sala do Teste. Aqueles que terminavam o teste, saíam por uma outra porta, então todos que ainda precisavam ser testados não tinham contato com os já testados.

Até aquele momento, apenas doze pessoas tinham sido chamadas. E o silêncio chegava a ser incômodo.

— Kássia Lemy! – chamou o autofalante. Droga, pela ordem alfabética, está chegando a minha vez, pensou ele.

A garota que devia ser a tal Kássia Lemy levantou-se tremendo e entrou na sala de Teste. Kentin podia escutar os batimentos cardíacos dela de longe. Ou será que eram os dele?

*

Samara esperou que os paramédicos levassem a Alexia para UTI para depois ir até o quarto em que estava Brenda. Bateu três vezes na porta e abriu suavemente.

— Olá? – sussurrou baixinho. Quando reparou que Brenda estava acordada e acompanhada do Lysandre, ela sorriu e entrou.

— Olá, senhorita Samara. – cumprimentou Lysandre com um aceno. A sua outra mão segurava a mão de Brenda. Ela parecia um pouco corada demais, mas a ruiva preferiu não comentar nada.

— Hum... Oi, Samy. – murmurou Brenda com um sorriso. – Você não devia estar na aula?

— Se eu te contasse você não acreditaria... – disse Samara abaixando a cabeça.

— O que houve? – perguntou Lysandre franzindo a sobrancelha.

— Eu estava vindo aqui ver a Brenda com a Alexia, só que eu estava correndo na frente dela, quando virei, ela... Enfim, está na UTI.

— E-Espera, você está dizendo que Alexia... – gaguejou Brenda, sem acreditar.

— Foi atropelada também. – disse Samara, tristonha. – Os paramédicos disseram que ela não aparenta estar tão ferida, provavelmente só bateu a cabeça no chão e desmaiou, mas por precaução acabaram de encaminhá-la para o UTI, então vim ver você. Daqui a pouco vou voltar para lá ver se ela está bem.

Lysandre estava com uma expressão indecifrável. Já a Brenda parecia em choque. Dois atropelamentos em menos de 12 horas? É sério isso?

— E a culpa foi minha... – sussurrou a ruiva olhando para o chão. Não foi alto o suficiente para que os outros dois escutassem, então nada disseram. – É toda minha...

— Com licença? – disse uma voz masculina vinda da porta. Os três olharam na sua direção e captaram um doutor hesitante com a cabeça para dentro da sala. – Eu... Preciso que o senhor Lysandre venha comigo um instante.

Lysandre assentiu e saiu atrás do doutor em silêncio, deixando as duas garotas na sala. Brenda suspirou levemente, como se se chateasse pela ausência do vitoriano.

— Brenda, está tudo bem contigo? – perguntou Samara preocupada. Brenda deu ombros. – E quebrou algo?

— Diz a enfermeira que sim, mas eu não sinto nada. Bom, só a parte de não conseguir movimentar meu braço me diz que esse quebrou para valer, o resto eu não sei. Sem dor, sem nada. Isso é muito estranho.

— Muito mesmo. Deveria estar doendo pelo menos alguma coisa. – diz a ruiva pensante. – Será que rompeu os nervos sensoriais?

— Não sei nem do que você está falando, de biologia, só entendo “fungo”.

As duas riem e param com o retorno de Lysandre. Ele aparentava serenidade, mas Samara podia sentir algo errado.

— Brenda, eu preciso falar com você em particular. Samara, se importa de ir ver a Alexia? O doutor disse que ela já foi liberada para o quarto 23.

— Obrigada, Lysandre. Vou indo, gente.

Depois que a ruiva saiu, o rapaz olhou seriamente nos olhos de Brenda e suspirou, deixando-a nervosa.

— O que precisava dizer, Lys? – sussurra ela.

— Era sobre o resultado de um exame, mas... Eu posso dizer depois. Agora voltamos para onde estávamos antes da chegada de Samara. – e ele volta a beijá-la como se fosse o fim do mundo, pegando-a de surpresa. Mas logo ela passa a acompanhar o seu ritmo e esquece do mundo.

*

— Sei não.

— Mas ele está demorando demais! Travou os outros testes também?

— Na verdade, outros entraram depois dele e já saíram, só ele que eu não sei onde se enfiou depois do teste.

— Será que se machucou feio e foi parar no ambulatório?

— Pode ser.

Gabi e Armin conversavam na hora do almoço, discutindo onde estava o Kentin. Todos os novatos já tinham terminado o teste e estavam almoçando. Apenas um não estava lá, e era justamente o Kentin. De repente começa a tocar uma musiquinha esquisita (parecia até um hino) e as luzes diminuem de intensidade.

— Olha, vão exibir as notas! – exclamou a garota apontando para o enorme telão. – É de zero a quinhentos, não?

O garoto assentiu e voltou o olhar para o telão. As notas aparecem logo depois dos nomes em ordem alfabética. Armin procura com o olhar o nome Kentin e lê a sua nota. E logo aquela nota chamou a atenção de todos no refeitório. Várias pessoas cochichavam, espantadas. Nem ele nem a Gabi acreditam no que viram. Ambos os queixos foram ao chão. Aquilo nunca tinha acontecido, a única excessão era o caso daquela garota que havia saído de Skyhell.

Kentin Wood Fate – 500.

*

— Certo, Lysandre, para um pouco. – interrompe Brenda sem ar, finalmente. – Eu preciso saber o que você queria me contar a respeito do exame, então pare de me beijar por alguns instantes.

— Precisamos mesmo? – sussurra o garoto, ainda a centímetros da boca dela. – Porque eu não tenho pressa nenhuma.

— Mas eu estou curiosa! Desembucha, vai.

— Ok... – suspira o vitoriano ao se afastar, claramente sem jeito com a assunto. Parecia algo grave, então a garota prendeu o pouco de ar que ainda lhe restava depois de todo aquele amasso. – O doutor me mostrou uns exames e digamos que... Ele descobriu algo mais grave em você que não tem nada a ver com o acidente.

— O quê, exatamente?

— Bom... Você está... – Lysandre hesitava, sem saber como dar aquela notícia péssima. – Você está com uma doença...

— Que doença, Lysandre? – pergunta Brenda, impaciente e extremamente apreensiva.

— Eu não sei como te dizer isso delicadamente.

— FALA LOGO.

— ...Brenda, Você... Você está com aterosclerose.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.