Não é possível ser bom pela metade (TOLSTOI, Léon).

Seria o contrário, verdade?



O sábado chegou preguiçoso na residência do jovem casal Vieira. Sem os compromissos rotineiros, Laura e Edgar permaneceram ressonando abraçados até a metade da manhã. Sem sobressaltos, tomaram café com Melissa, prometendo-lhe um piquenique o Jardim Botânico durante a tarde. E assim correu o dia conforme planejado.

Já próximos ao destino começaram a procurar a sombra da árvore mais frondosa para acomodarem-se. Edgar com a cesta de alimentos à mão, e Laura com alguns brinquedos para entreter Melissa durante o passeio, estavam encantados com a empolgação da criança.

Divertiram-se assim durante um par de horas, esquecendo-se de todos os problemas do passado.

Melissa: Tia Laura, vamos dar uma volta?

Edgar interviu: Abelhinha, olha o barrigão da Laura... É melhor ela ficar descansando... – disse acariciando a esposa.

Melissa: Ah, por favor! Só um pouquinho... um passeio rapidinho, vai? – fez manha.

Laura: Ah, Edgar... Deixa eu ir com ela... – brincou com o advogado.

Edgar riu: Tá bem, tá bem! Me convenceram... mas eu vou com vocês! Esperem só eu guardar as coisas.

Melissa: Então a gente vai na frente. Vem tia Laura! – puxou a mão da madrasta já determinando qual direção seguiriam.

Laura e Edgar riram enquanto a professora se afastava com a menina.

Estando sozinhas, Laura ensinava à menina sobre a história do Jardim Botânico e algumas peculiaridades da vegetação local.

Laura: Sabe, Melissa, esse lugar foi inaugurado há quase 100 anos!

Melissa surpresa: 100 anos? Isso é muito tempo, né, tia Laura?

Laura riu: Sim! Muito, muito tempo! Foi quando o imperador de Portugal se mudou pro Rio de Janeiro... Ele mandou trazer várias espécies de vegetais exóticas pra cá.

Melissa questionou: Exóticas? O que é isso?

Laura: São coisas que não são originais de um determinado lugar... tipo a noz-moscada, a canela e a pimenta-do-reino que não existiam aqui e vieram das Índias. Sabe aqueles temperinhos que deixam a nossa comida mais gostosa?

Melissa: Hmm, sei sim! E eu sei onde ficam essas Índias! A tia Sandra ensinou na escola já!

Laura: É mesmo? E on... – interrompeu a conversa ao ver quem estava deitada em um dos bancos, próximo a elas. – Melissa, acho melhor nós irmos encontrar seu pai... – Tentou despistar a menina antes que ela visse a mulher.

Melissa: Mas já? Eu não quero ir embora, tia Laura! Por favor, só mais um pouco...

Laura tentou argumentar, mas era tarde demais. Catarina escutou-as e, imediatamente, pôs-se a caminhar na direção da filha que, sem titubear, correu gritando pela mãe assim que notou sua presença.

Melissa: Mamãe! Mamãe!

Catarina começou a chorar: Filha, minha filhinha – abraçou a menina, acariciando seus cabelos.

Laura tentou interromper: Melissa, vamos. Teu pai deve estar procurando por nós.

Catarina não soltou o abraço e dirigiu-se pela primeira vez à antiga rival: Laura, por favor, me deixa ficar um pouco com ela. Eu sei que já abusei da tua bondade, mas é só um pouco, não é minha filha? – soltou-se do abraço e enquanto acariciava a face da criança observou – Como você cresceu, Melissa! Está quase uma mocinha! Linda! – disse apertando-a novamente contra o peito.

Melissa: Mamãe! Senti muita falta da senhora! Por que está usando essas roupas? Por que está suja assim? – questionou preocupada.

Catarina: A mamãe está passando por um momento difícil, mas vai passar.

Laura que permanecera em silêncio até então, interrompeu: Chega, Catarina. Você já viu a Melissa, mas agora precisamos ir – falou inflexível, pegando na mão da menina.

Catarina: Laura, por favor, eu...

Edgar: Você o quê, Catarina? – disse o rapaz, intervindo raivoso – Laura, eu procurei vocês pelo Jardim Botânico inteiro! Por que sumiram assim?

Melissa ainda agarrada à mãe: A tia Laura tava me contando a história daqui, pai! Mas daí a gente encontrou a mamãe e...

Laura olhava preocupada para o marido: Sinto muito, Edgar. Eu tentei, mas...

Edgar pegou a mão da menina: Tudo bem, mas agora temos que ir, não é minha filha? – puxou-a, delicadamente para perto de si.

Catarina insistiu: Edgar, por favor! Eu quero, eu preciso...

Edgar: De quê? Você teve todas as chances para...

Laura interrompeu: Chega! Isso não é conversa para ter na frente da Melissa.

Edgar voltou a si: Tem razão, meu amor. – abaixou-se ficando na altura da filha – Florzinha, vai com a tia Laura que eu já encontro vocês, tá bem?

Laura: Mas...

Edgar: Por favor, Laura – disse paciente enquanto trocavam um profundo olhar de cumplicidade.

Laura suspirou: Está bem. Vamos, Melissa?

Após as duas se afastarem o suficiente para que não ouvissem a conversa que teria, o advogado parou de observa-las e dirigiu-se, finalmente, à ex- amante.

Edgar: O que você quer?