“Você já reparou nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada". ASSIS, Machado de. Dom Casmurro, 1899.



A felicidade sorria triunfante no lar de Laura e Edgar Vieira. As sombras do passado deram lugar a luzes de um futuro promissor. A descoberta da gravidez dos gêmeos, o sucesso profissional do casal, a relação saudável com Melissa e o ambiente familiar harmonioso demonstravam que nada mais poderia dar errado.

O advogado e a professora, cada vez mais apaixonados, comemoravam a evolução da gestação dia após dia, compartilhando sua empolgação com amigos e familiares.

No fim de tarde de uma sexta-feira, faltando cerca de três meses para o nascimento dos bebês de Laura, o casal namorava na sala enquanto compartilhavam os desejos e sonhos que tinham em relação aos herdeiros.

Edgar: Quero que eles sejam lindos como você, meu amor! – disse sorrindo enquanto acariciava o rosto da amada.

Laura encarou-o, sorrindo envergonhada: Bobo! Até parece... – beijou-o rapidamente e acomodou-se no ombro do marido – Edgar...

Edgar: Hm?

Laura: Já pensou se forem duas meninas? – sorriu ao imaginar.

Edgar arregalou os olhos: Oh, meu amor! Quatro mulheres e só eu de homem na casa?! Acho que vou enlouquecer!

Laura levantou a cabeça e encarou o marido: Enlouquecer de ciúmes, isso sim! – riu enquanto beliscava-o, brincalhona.

Edgar: Sim! Mais duas Lauras? Ai, eu não vou aguentar!

Laura fez-se de ofendida: Ah é, Dr. Vieira?

Edgar: Brincadeira, meu amor! Já disse que quero que nossos filhos sejam parecidos contigo. Em tudo! Tanto fisicamente quanto na personalidade. Você sabe o quanto adoro teu jeito, não é? – beijou a testa da esposa e prosseguiu – Mas e se forem dois meninos?

Laura sorriu novamente: Hm, se forem como eu e o Albertinho quando éramos crianças, suponho que teremos trabalho...

Edgar: Ih! – riu – Será que serão dois travessos?

Laura afagou os cabelos do amado: Quero que sejam parecidos com você, sabia? – beijou-o e após uma pequena pausa prosseguiu – Só que menos ciumentos, por favor! – clamou levantando os braços.

Ambos riram e antes que o advogado respondesse a “injusta” acusação, ouviram fortes batidas na porta.

Edgar: Ué! Essas horas? Quem pode ser?

Laura: Deve ser importante... Vai lá, meu amor. – disse levantando-se.

O advogado se dirigiu a largos passos até a porta, seguido pelo olhar da professora preocupada e atenta à movimentação.

Edgar virou a maçaneta e, instantaneamente, alterou sua expressão: Você?! – exclamou com desdém e surpresa.