Enquanto Laura conversava com sua amiga, Edgar dava início às suas tarefas diárias levando a filha à escola. Não encontrando sua esposa preparando-se para dar suas aulas, como de costume, e não vendo também Isabel, tranquilizou-se imaginando que estivessem juntas.

Resolveu, assim, passar no Correio da República e desabafar com Guerra. Apesar de ser a fonte, mesmo que involuntária, da descoberta de Laura na noite anterior, o jornalista era seu melhor amigo e seus conselhos fariam bem naquele momento.

Chegando ao edifício, encontrou Matilde, que o cumprimentando envergonhada, partiu em direção à casa de Isabel. Edgar não teve tempo de perguntar de Laura, mas reparou que a moça se afastara de Neto.

Edgar: Você conhece a Matilde?

Neto indiferente: Matilde? Que Matilde?

Edgar: A moça que você estava conversando.

Neto: Ah, Matilde! Matilde, sim... Não, não conheço a moça... Quem é?

Edgar franziu o cenho: Ela trabalhava lá em casa, agora está na casa da Isabel... É uma ótima empregada. E, principalmente, uma ótima amiga... Torceu sempre por mim e por Laura... – disse tristonho lembrando da situação que vivia com a esposa – Mas sobre o que vocês falavam?

Neto: Nada, nada. Ela estava apenas me pedindo uma informação.Nada demais, Edgar.

Edgar sorriu: Sei... Sei... Bom, preciso falar com o Guerra. Com licença;

Neto: Até mais então.

Edgar subiu as escadas e dirigiu-se à redação, seu amigo estava sentado escrevendo uma matéria que sairia como capa na manhã seguinte, mas não hesitou em levantar-se ao reparar a presença do advogado.

Guerra: Edgar! Como está? Compliquei sua vida ontem à noite?

Edgar: Ah Guerra! Um pouco... Sim... – fez uma pausa e encarou-o – Na verdade está tudo bem complicado...

Guerra: Senta, então! Já que eu ajudei a causar essa tempestade no seu casamento, talvez consiga ajudar a acalma-la...

Edgar: Por isso vim aqui... Preciso desabafar e ouvir sua opinião – sorriu torto – Não posso negar que seus conselhos valem ouro...

Guerra: Mas então me conte! Laura está furiosa.

Edgar: Está... Mas ao mesmo tempo nossa briga foi diferente de todas as outras vezes...

Guerra pôs-se a ouvir atento às inquietações do rapaz. Edgar contou sobre as acusações de Laura em relação às namoradas que ele teve durante os anos de separação. Ela se sentia traída e de certa forma ele a traiu... Quando se separaram Edgar beijou-a e disse que ela nunca deixaria de ser sua mulher. Ele nunca tirou a aliança, viveu de lembranças, mas tentou substituí-la e se sentia culpado por isso, de certa forma.

Guerra: Olha Edgar, eu vi teu sofrimento durante esses anos... Eu sei o quanto você ama a Laura e até eu insisti e, confesso, torci pra que você encontrasse alguém pra reconstruir sua vida...

Edgar: Guerra, pro favor...

Guerra: É verdade, Edgar, é verdade! Mas vocês dois tão ligados de uma forma que não sei explicar... Se você se sente culpado por ter se relacionado com essas mulheres durante a separação, fale com sua esposa. Explique o que você estava sentindo e, principalmente, reafirme o que você sente por ela agora. – fez uma pausa – Aliás, o que nunca deixou de sentir, por mais que tentasse e dissesse o contrário.

Edgar ouvia tudo em silêncio: Eu vou fazer isso, meu amigo! Obrigado! – falou levantando-se da cadeira. – Mas tem uma coisa que você disse ontem que me preocupa... Me tira do sério!

Guerra: Ih Edgar! Lá vem você...

Edgar: Para, Guerra! É sério...

Guerra: Hm. Diz. Com o que você tá preocupado? O que está te tirando do sério? – disse gozador.

Edgar: Será que a Laura teve alguém durante esses anos?

Guerra: Ah, meu amigo... Isso você só vai saber falando com a Laura... Sugiro que vá pra casa e resolva essa situação!O advogado despediu-se do amigo e rumou pra casa. Não sabia se sua esposa já estava lá mas a esperaria avidamente. Precisavam colocar os pingos nos is. Edgar estava morrendo de saudades da amada.